segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

Mais um

Pois é, está a acabar-se. Felizmente não é o vinho! É o ano!
Feliz 2008, com boa comida e bom vinho!

tuguinho e Kroniketas, enófilos e mainada!

P.S. - este blog está mesmo, mesmo a ultrapassar o Krónikas Tugas no número de visitas e em metade do tempo! Se um de nós assinasse como "cínico encartado" até podia dizer que afinal isto era um país de bêbados sisudos, mas nem quero acreditar nisso. Os tugas não são sisudos!

sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

No meu copo, na minha mesa 155 - Moinhos do céu, Cabernet Sauvingon 2005; O Fuso (Arruda dos Vinhos)










Num fim-de-semana de vindimas meti-me no carro com a família e fomos passear pela Estremadura, à descoberta de lugares desconhecidos. Primeiro objectivo: Arruda dos Vinhos para almoçar no Fuso.
Lá chegados encontrámos logo num balcão a famosa posta de bacalhau de que já tínhamos ouvido falar. Mas encontrámos também uma volumosa e apetitosa costela de boi tamanho-gigante!
Entrámos numa sala de grande dimensão, que foi enchendo com o avanço da hora mas que mesmo assim ainda ficou com lugares livres. E ainda há outras salas ligadas à primeira, pelo que mesmo em dias de grande afluxo de clientes, como era o caso, é possível que se consiga arranjar lugar sem marcar mesa.
Outro aspecto que me chamou a atenção logo na entrada foi a existência de armários de vinho, onde este é guardado a temperatura controlada. Uma raridade nos restaurantes portugueses, que evita que venha para a mesa vinho morno...
Perante a vasta oferta gastronómica, os olhos do cliente balançam entre as postas de bacalhau e as costelas de boi. Como sou mais carnívoro consegui convencer a família a escolhermos a costela de boi grelhada. E veio uma peça enorme, muito alta e mal passada (só eu é que a consegui comer assim, o resto voltou para trás para passar melhor), em cima duma tábua donde se corta directamente para o prato. A carne é de altíssima qualidade, deliciosa e suculenta. Ideal para comilões. Deu para quatro e ainda sobrou.
O serviço é bastante expedito para a dimensão do restaurante, a confecção boa. Ficaram-nos ainda no olho as travessas de bacalhau assado na brasa, com batatas e regado com azeite, que também parecem dar para umas 4 pessoas. É um lugar a revisitar quando se tiver tempo para uma refeição longa e despreocupada.
Para beber pedi um vinho da região, da região de Arruda. Chamou-me desde logo a atenção a existência dum Cabernet Sauvignon (como sabem sou fã destes vinhos) e resolvi experimentar. Chama-se Moinhos do Céu e não me desiludiu. Aliás, os vinhos de Cabernet normalmente não me desiludem. De cor granada, mostrou o aroma ligeiramente vegetal que normalmente está associado a esta casta, mas sem sombra dos famigerados pimentos de que tanto se fala. Mostrou fruto bem maduro, taninos redondos e uma boa estrutura na boca sem deixar de ter alguma elegância, com um final de persistência média. Um vinho tranquilo mas suficientemente pujante para se bater bem com a carne grelhada. Estagiou 7 meses em barricas de carvalho francês e 4 meses em garrafa.
Terminada a refeição, demos uma volta pela localidade antes de nos fazermos de novo à estrada, em direcção a Sobral de Monte Agraço. Pelo caminho fomos passando por diversas vinhas situadas junto à estrada, numa zona profusamente preenchida por esta cultura. Estávamos, portanto, no coração da região vitivinícola da Estremadura, tendo passado à porta de propriedades conhecidas como a Quinta de Chocapalha, a Quinta do Gradil e a Casa Santos Lima. Mas fomos seguindo até encontrar a Quinta do Monte d’Oiro. Chegámos à porta e tocámos à campainha. Era sábado. Ninguém respondeu. Estava tudo fechado. Mais tarde, no Encontro com o Vinho, tive oportunidade de perguntar ao próprio José Bento dos Santos se a quinta estava mesmo fechada ao sábado, e fiquei a saber que só mesmo com marcação prévia é que poderia encontrar lá alguém ao fim-de-semana, ou se estivessem em vindima. Portanto, para lá voltar só durante a semana.
Voltámos assim à estrada e dirigimo-nos para Alenquer. Pelo caminho deparámos com uma placa a indicar a Quinta de Pancas e resolvemos entrar. Encontrámos uma propriedade que parece meio degradada e abandonada. Ao que nos explicaram dois estagiários que lá estavam, a empresa passa por dificuldades financeiras, pelo que depois do capital da quinta ter mudado de mãos (adquirida pela Companhia das Quintas) estão a ser feitas remodelações a vários níveis, pelo que de momento está-se numa fase de transição. De qualquer modo esperava encontrar um espaço um pouco mais bem cuidado. Ainda vimos uma cuba de fermentação onde repousava um lote de uvas Syrah e uma cave de armazenamento, mas acabou por ser um pouco decepcionante o panorama que encontrámos, tendo em conta que é uma casa com vinhos conceituados.

Kroniketas, enófilo esclarecido

Restaurante: O Fuso
Rua Cândido dos Reis, 94
2630-216 Arruda dos Vinhos
Telef: 263:975.121
Preço médio por refeição: 25/30 €
Nota (0 a 5): 4

Vinho: Moinhos do Céu, Cabernet Sauvignon 2005 (T)
Região: Estremadura (Arruda)
Produtor: Adega Cooperativa de Arruda dos Vinhos
Grau alcoólico: 12,5%
Castas: Cabernet Sauvignon
Preço no restaurante: 10 €
Nota (0 a 10): 7,5

segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

É Natal, é Natal...

(acho que já usámos este título...)

Pensavam vocês que iríamos postar um cartão de natal por aqui? Pois pensaram mal porque, fazendo jus ao nosso cognome de diletantes preguiçosos, só o postámos no Krónikas Tugas...
Vá lá, não custa nada, é mesmo aqui ao lado...

Boas Festas para todos!

tuguinho e Kroniketas, os tal e tal, é escusado repetir

sábado, 22 de dezembro de 2007

Gala de Aniversário das Krónikas

Os episódios da festa estão nas Krónikas Tugas.
Depois não digam que não foram avisados...

tuguinho, enófilo certinho

Krónikas do Alto Alentejo (VII)

No meu copo, na minha mesa 154 - Monte das Servas, Escolha 2005; Adega do Isaías (Estremoz)
Num trajecto de fim-de-semana para Portalegre, parei em Estremoz para almoçar na Adega do Isaías. Era sábado e antes do meio-dia telefonei para marcar uma mesa para 6, mas já não havia, o que diz bem da procura por este local emblemático da cidade. Arriscámos à mesma e fomos procurá-lo. Fica numa rua estreita perto do centro turístico e é relativamente fácil lá chegar a pé (e o Mappy dá uma ajuda). Quase não se dá por ele quando se encontra um local com gente à porta e lá está escrito o nome.
Não havia mesas nem lista de espera, mas resolvemos ficar. Era tarde para tentar outro local. Quando finalmente nos sentámos, após quase uma hora de espera, já havia uma fila na rua. À entrada um grelhador junto á montra. O acesso faz-se por uma passagem estreita. A sala é ao fundo, com mesas corridas e bancos corridos de madeira. Não há janelas nem ventilação. Todos os cheiros dos grelhados ficam impregnados na sala, que começa a ficar com fumo. Dá ideia que era uma taberna que começou a servir petiscos e foi crescendo até se tornar um restaurante com serviço à carta. Mas o estilo continua a ser de adega.
Para o repasto escolhemos migas de espargos com carne do alguidar, burras de porco (o mesmo que as bochechas só que com todo o osso junto) com batatas assadas e depois ainda foi necessário mandar vir um reforço com plumas de porco preto.
As burras não eram muito fartas, pois metade era osso, mas estavam saborosas. Acabaram-se depressa. As migas com carne também apaladadas, mas as plumas que vieram no fim estavam salgadas.
Nas sobremesas, dois clássicos do Alentejo: encharcada e sericaia. Eu optei pela encharcada, um dos meus doces favoritos. Irrepreensível.
O serviço de vinhos também está próximo da taberna. Pedimos um Monte das Servas Escolha, ali de perto, mas os copos eram quadrados, iguais aos da água. Ainda pedi copos para vinho e trouxeram outros iguais. Desisti, não valia a pena explicar o que queria, apesar de haver mesas à volta a beber vinho em copos decentes.
Este Monte das Servas, que há alguns anos conheci com outro rótulo, parece agora mais estilizado. Mais frutado, com mais especiarias, mais taninos e persistência. No entanto, aparece como mais um vinho carregado de álcool. Bateu-se bem com os pratos deglutidos, mas temo que se torne um pouco cansativo.
Quando bebi este vinho pela primeira vez, era muito carregado, muito encorpado, com aromas mais fechados, pujante e com boa persistência mas sem ser agressivo. Agora o álcool abafa quase tudo. Confesso que começo a ficar um pouco saturado destes vinhos com 14 graus, o que no Alentejo é corriqueiro. Felizmente, parece que a tendência está a desaparecer, para que voltemos a ter mais aromas e mais vinhos diferenciados. Com tanto álcool, tanta concentração e tanta fruta, começo a não conseguir distingui-los uns dos outros.
Acabámos por sair sem perceber bem as razões de tanta fama para este restaurante. A comida não é nada de extraordinário, o serviço tão-pouco, e as condições de segurança deixam muito a desejar. Não há portas de emergência, não há janelas, toda a gente está acantonada no fundo da sala, donde se houver um acidente não se consegue sair, pois o único acesso é estrangulado. Pode ter sido uma casa muito típica que fez o seu nome assim, mas actualmente não me pareceu que marque a diferença.

Kroniketas, enófilo itinerante

Restaurante: Adega do Isaías
Rua do Almeida, 21
7100-537 Estremoz
Telef: 268.322.318
Preço médio por refeição: 14 €
Nota (0 a 5): 3

Vinho: Monte das Servas, Escolha 2005 (T)
Região: Alentejo (Estremoz - Borba)
Produtor: Herdade das Servas
Grau alcoólico: 14%
Castas: Aragonês, Touriga Nacional, Alicante Bouschet, Cabernet Sauvignon
Preço em feira de vinhos: 4,48 €
Nota (0 a 10): 7

quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

No meu copo 153 - Reguengos Garrafeira dos Sócios, 96 e 2000

Há muitos anos, no Edmundo de Benfica (na esquina da Estrada de Benfica com a Avenida Gomes Pereira), estávamos nos primórdios das incursões vinícolas, eu e o Mancha pedimos um Esporão para acompanhar um naco na pedra ou uma costeleta de vitela grelhada. Na altura havia, basicamente, quatro regiões conhecidas: Borba, Redondo, Reguengos e Vidigueira. De Portalegre pouco se falava, de Évora ainda menos e os produtores mais conhecidos eram sobretudo adegas cooperativas. No Douro havia uma meia-dúzia de vinhos de mesa, no Ribatejo era carrascão e na Estremadura havia muito... e mau. Dão, Bairrada e Península de Setúbal eram zonas vitivinícolas de referência.
O Esporão era já um vinho de referência e um dos melhores do Alentejo, senão mesmo o melhor da época. Mas não havia... O chefe sugeriu-nos um outro que disse ser parecido. O seu nome: Garrafeira dos Sócios, da Cooperativa de Reguengos de Monsaraz. Aceitámos com alguma relutância mas em boa hora o fizemos, porque nos deu a conhecer um vinho que, à época, nos encantou. Uma suavidade extraordinária, um bouquet profundo, um certo aroma floral e um corpo de grande elegância. Imediatamente o equiparámos ao Esporão em qualidade!
Durante vários anos este tornou-se o nosso vinho preferido. O Mancha dizia que este vinho era veludo, e de facto era. Merecia sempre nota máxima. Lendo o contra-rótulo ficámos então a saber que era uma produção especial para os sócios da cooperativa, com uvas seleccionadas, e só depois de estes se terem abastecido o restante era colocado no mercado. Até hoje continua a ser assim.
Com o tempo fomos conhecendo muitos outros vinhos, as referências foram aumentando e o gosto foi-se alterando, o próprio perfil do vinho foi-se alterando, acompanhando um pouco as tendências da moda, e o Garrafeira dos Sócios deixou de ter o protagonismo nas nossas preferências que antes tinha, mas nunca perdeu um lugar de destaque. É certo que hoje o bebemos muito menos vezes do que há 10 anos mas ele está sempre lá, nas nossas garrafeiras, e voltar a degustá-lo é como reencontrar um velho amigo que não se vê há muitos anos, ou ouvir uma daquelas músicas antigas dos grupos que fizeram as delícias da nossa juventude.
Há algum tempo tive oportunidade de provar a colheita de 2000. Voltou a encantar-me. Continua com aquela suavidade que lhe conhecia, uma bela cor rubi carregada, um leve amadeirado sem ser em excesso, final longo e sedoso, tudo muito equilibrado e harmonioso.
Mas a grande surpresa aconteceu precisamente esta noite, num jantar em Portalegre, no restaurante A Gruta, de que darei conta qualquer dia (há vários artigos para publicar antes...). Em exposição estavam, entre vastas dezenas de garrafas, algumas garrafas de Garrafeira dos Sócios de 96. Ficámos na dúvida. Um vinho com esta idade... Perguntei ao chefe se achava que o vinho estaria bebível. Experimentámos num copo de prova. Começou por apresentar um tom acastanhado, sinal de evolução avançada que muitas vezes não augura nada de bom. O primeiro aroma mostrou os mesmos sinais, de que já tinha passado o ponto óptimo. Resolvemos esperar pela decantação e deixá-lo respirar enquanto fomos bebericando em copos de boca larga. Aos poucos os aromas foram-se libertando e ficando mais limpos. A melhoria foi evidente e passada cerca de meia-hora ele aí estava em todo o seu esplendor. Era este o Garrafeira dos Sócios que eu conhecia há 10 anos. Macio, aromático, suave, verdadeiro veludo. Até chamámos o chefe Felício para o provar e o veredicto foi o mesmo: fantástico.
Um vinho que se impõe pela diferença. Enquanto outros (a maioria) primam pelo frutado, pela pujança, pelo corpo e pelo álcool, este prima pela elegância, pela delicadeza, pela suavidade, sem perder os traços marcantes de um vinho alentejano. Um dos raros vinhos que actualmente se destacam dos demais, por isso é um vinho que continuamos a beber com verdadeira paixão.
Só me espanta que seja tão pouco falado, pois é dos poucos onde ainda se podem procurar traços que não sejam só de fruta, especiarias, álcool ou madeira. Não é um vinho da moda, e ainda bem. Oxalá continue assim.

Kroniketas, enófilo esclarecido

PS: Para tranquilizar os espíritos mais inquietos, o vinho branco que se vê nos copos não é, definitivamente, o Garrafeira dos Sócios... :-)

Região: Alentejo (Reguengos)
Produtor: Carmim (Coop. Agrícola de Reguengos de Monsaraz)
Castas: Aragonês, Castelão, Trincadeira
Preço em feira de vinhos: 9,95 €

Vinho: Reguengos Garrafeira dos Sócios 96 (T)
Grau alcoólico: 13%
Nota (0 a 10): 9

Vinho: Reguengos Garrafeira dos Sócios 2000 (T)
Grau alcoólico: 13,5%
Nota (0 a 10): 8,5

domingo, 16 de dezembro de 2007

Krónikas do Alto Alentejo (VI)

No meu copo, na minha mesa 152 - Dom Martinho 2004; Restaurante Poeiras (Portalegre)
Mais uma visita gastronómica em Portalegre. Desta vez não foi nenhuma escolha preparada, tratava-se apenas de encontrar um local para jantar. Passando à porta de alguns, olhando lá para dentro e para a ementa, escolhemos um em pleno centro histórico, ao lado do Governo Civil, na Praça da República, local de esplanadas, bares e estudantes, talvez o local mais movimentado na pouca animação nocturna da cidade.
Franqueadas as portas de vidro, deparámo-nos com um restaurante de aspecto mais ou menos comum, onde duas televisões transmitiam um jogo de futebol do campeonato, de dimensão média, sem grandes sofisticações mas acolhedor.
A ementa não é muito vasta mas a oferta é simpática. Comecei por uma cremosa sopa de feijão generosamente servida no prato fundo, enquanto esperava por umas bochechas de porco estufadas com batatas salteadas. A carne estava tenríssima e muito saborosa, separada dos ossos, em dose avantajada que ainda dava para outra refeição.
Para sobremesa havia a tentação da encharcada, mas foi escolhido um caseiro Doce São Bernardo, feito à base de amêndoa, ovo e canela. Um doce muito consistente, algo enjoativo como acontece muitas vezes com os doces de amêndoa, mas agradável de comer se não for em quantidade exagerada.
Em resumo, outro restaurante onde se pode almoçar ou jantar com qualidade, ter um bom atendimento e não pagar um preço excessivo.
Para acompanhar continuei nos vinhos norte-alentejanos, desta vez descendo um pouco até Estremoz, concretamente à Quinta do Carmo. Escolhi o parente mais pobre do Quinta do Carmo, um Dom Martinho de 2004, que deve o seu nome a uma parcela da Quinta do Carmo com o mesmo nome.
É um vinho frutado e com algum aroma floral, com corpo e final médio. Não apresenta nenhuma característica que se destaque, pelo que se fica pela mediania. Bebe-se com facilidade, não desagrada e também não encanta.

Kroniketas, enófilo itinerante

Restaurante: Poeiras
Praça da República, 9 a 15
7300-109 Portalegre
Telef: 245.201.862
Preço médio por refeição: 12 €
Nota (0 a 5): 3,5

Vinho: Dom Martinho 2004 (T)
Região: Alentejo (Estremoz - Borba)
Produtor: Quinta do Carmo
Grau alcoólico: 13,5%
Castas: Aragonês, Alicante Bouschet, Cabernet Sauvignon, Syrah
Preço em feira de vinhos: 5,54 €
Nota (0 a 10): 6,5

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

No meu copo 151 - Monte dos Cabaços 2003

Começou por uma vinha que vendia as uvas. Filha de pai alentejano da zona de Estremoz, Margarida Cabaço regressou da Holanda, onde estudava, aos 16 anos, para junto da família que voltava a Estremoz. Aí viria a casar com um proprietário local que possuía uma vinha. O tempo que sobrava do tratamento da vinha começou a ser aproveitado para organizar uns almoços e jantares para os amigos, mais tarde casamentos e baptizados, e daí até um restaurante foi um pequeno passo. Assim viria a nascer o São Rosas, um dos actuais ex-libris gastronómicos da cidade.
A seguir ao restaurante veio o vinho próprio para servir no restaurante, e assim as uvas que eram vendidas passaram a ser usadas na produção do Monte dos Cabaços, tinto e branco. Tive oportunidade de adquirir por 5,95 € uma garrafa do tinto de 2003 com a Revista de Vinhos.
De cor muito carregada e aroma marcado por notas minerais, muito cheio na prova de boca com predominância de fruta e especiarias, é um daqueles vinhos chamados de “perfil moderno”, com muita fruta, muita concentração e muito álcool, que alguns dizem que é o que vai ao encontro do gosto do consumidor actual. Apetece-me sempre perguntar: será mesmo isto que o consumidor quer, ou é o que estão a tentar impingir-lhe? É que, a mim, estes vinhos cansam-me. Bebem-se bem algumas vezes mas depois começam a saturar, porque se tornam todos iguais. Nada os diferencia, e os que tenho provado ultimamente deste género acabam por ser “mais do mesmo”. Por isso é que acabamos sempre por voltar aos clássicos que já conhecemos há muito tempo..

Kroniketas, enófilo esclarecido

Vinho: Monte dos Cabaços 2003 (T)
Região: Alentejo (Estremoz - Borba)
Produtor: Maragarida Cabaço
Grau alcoólico: 14%
Castas: Aragonês, Touriga Nacional, Cabernet Sauvignon, Syrah
Preço em hipermercado:9,99 €
Nota (0 a 10): 7

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Efeméride



Escrevemos estas linhas completamente sóbrios... só para que conste.
Faz hoje 2 anos que foi criada esta excrescência das Krónikas Tugas, dedicada às libações báquicas e ao “pecado” da gula. Foi com prazer (de que outra forma havia de ser?) que a vimos crescer e ter as suas primeiras relações. Neste momento, temos a certeza de que quem caiu neste post de pára-quedas já pensa de nós o pior, que somos voyeurs ou mesmo sócios do Sporting! Mas não, não somos sócios do Sporting (só do Benfica). E as relações de que falamos são as deste blog com outros da mesma laia e não aquilo que estavam a pensar…
E foi no cimento dessa troca de impressões que este blog se alicerçou, quais sapatinhos de cimento que nos prendem a este mundo dos apreciadores de vinho. Por vezes torna-se difícil este fito de escrever sobre vinhos, principalmente depois de os provarmos muito, mas soubemos ultrapassar esses obstáculos e, com a ajuda de correctores ortográficos e gramaticais, botar sempre prosa não obnubilada pelos vapores etílicos. A nossa intenção é pois continuarmos por cá, provando uns, deglutindo outros e terçando conversas com os nossos comparsas dos outros blogues vínicos.
Concluindo, muito obrigado aos que nos lêem (descontando alguns chatos sem remédio), que de uma coisa podem ficar certos: nunca nos armaremos em detentores absolutos da verdade, mas também não seremos nunca politicamente correctos. É uma coisa que se chama liberdade.

tuguinho e Kroniketas, os diletantes preguiçosos

sábado, 8 de dezembro de 2007

Krónikas do Alto Alentejo (V)

No meu copo, na minha mesa 150 - Altas Quintas Crescendo 2005; O Abrigo (Portalegre)
Uma das incursões gastronómicas em Portalegre incluiu uma visita ao restaurante “O Abrigo,” no centro histórico da cidade. Trata-se de um espaço que fica um piso abaixo do chão, embora com acesso directo para a rua, não muito amplo, de características eminentemente regionais. Descendo as escadas após a entrada, deparamo-nos com um pequeno átrio onde já estão algumas mesas e um balcão de acesso à cozinha. Em exposição encontram-se também algumas garrafas de vinho da região. A sala propriamente dita fica depois duma porta rotativa do tipo saloon.
E quanto aos comes? Seguindo algumas sugestões, houve uns deliciosos miminhos de porco grelhados e uma fantástica costeleta de novilho. Os acompanhamentos são variados, mais ou menos à vontade do freguês, mas o grande destaque vai para a miolada de couve, uma espécie de migas de couve envolvidas em ovo, absolutamente irresistível. É de comer e chorar por mais, tanto assim que teve de se pedir mais do que um reforço.
Nas sobremesas a escolha recaiu noutro doce típico alentejano, a sericaia, acompanhada com a ameixa em calda. Estava boa, apesar de já termos encontrado melhor na origem.
Da oferta vinícola optámos novamente por continuar na região, cujos vinhos se encontram em destaque nos expositores, e escolhemos um dos vinhos da moda: o Altas Quintas Crescendo 2005. Feito com Aragonês e uma pequena percentagem de Trincadeira, fermentou em balseiros de carvalho tendo depois estagiado 12 meses em barricas de carvalho, as mesmas que são primeiro utilizadas para estagiar o Altas Quintas. Encontrei um tinto muito concentrado, bastante frutado e com 14% de álcool, taninos muito presentes, dando-lhe um perfil robusto mas que me pareceu algo agressivo. Não lhe encontrei a frescura que se anuncia para estes tintos alentejanos em altitude. Talvez precise de amaciar algum tempo na garrafa.
No entanto temos de considerar que a garrafa veio para a mesa com uma temperatura algo elevada, pelo que houve que pedir um “frappé” para arrefecer o vinho, o que pode ter prejudicado a prova mesmo depois de se ter baixado a temperatura. Certamente justificará uma segunda prova, pois estou em crer que esta não terá sido conclusiva.
O serviço é simpático e atencioso, fazendo-se com eficácia. O maior senão é a excessiva temperatura do restaurante e a pouca ventilação, o que torna o ambiente um pouco pesado, com o cheiro dos cozinhados a ficar entranhado na roupa. Este restaurante é muito frequentado sobretudo aos almoços, sendo uma aposta simpática para comer bem sem ser por preço excessivo. Poderá, no entanto, ser aconselhável reservar mesa atempadamente.

Kroniketas, enófilo itinerante

Restaurante: O Abrigo
Rua de Elvas, 74
7300-147 Portalegre
Telef: 245.331.658
Preço médio por refeição: 15 €
Nota (0 a 5): 4

Vinho: Altas Quintas Crescendo 2005 (T)
Região: Alentejo (Portalegre)
Produtor: Altas Quintas
Grau alcoólico: 14%
Castas: Aragonês, Trincadeira
Preço em feira de vinhos: 7,95 €
Nota (0 a 10): 7


Outras provas deste vinho em: A Adega (6,5 em 10), Pingas no Copo (15 em 20) e Vinho da Casa (16 em 20).

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

O cair da folha em Portalegre

Cenários quase irreais

Na Praça da República...


...na Quinta do Seixo...


...e na Tapada do Chaves.


Kroniketas, enófilo itinerante

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Os grandes tintos do Douro... e os outros

Há cerca de um ano (Novembro de 2006) a Revista de Vinhos publicou um painel de prova de grandes tintos do Douro, daqueles topos de gama. Agora em Novembro de 2007 voltou a publicar outro painel, com notas entre os 16 e os 18,5 e preços que vão, literalmente, dos 8... aos 80! Euros...
São 51 vinhos provados, com uma média de preços de 30 €, e com 36 acima dos 20 €, 21 acima dos 30 € e 11 acima dos 40 €. E ainda há 5 acima dos 50 €, sendo que 2 custam mais de 80 €: 85 € e 88,5 €. Um luxo!
Ainda recentemente dois comparsas bloguistas, o Pingas no Copo e o Vinho da Casa, apresentaram algumas provas de grandes vinhos da Niepoort, da Quinta do Vale D. Maria, da Quinta do Crasto e da Quinta do Vale Meão. Grandes vinhos, sem dúvida, a merecerem apreciações entre os 15,5 e os 19 pontos! Mas... quem os pode comprar? Diz o Vinho da Casa que “beber vinhos de classe mundial por menos de 80 euros não é fácil”. Pois não... E o Pingas no Copo diz, acerca do Charme, “censuro, apenas, o preço que é pedido, simplesmente porque não tenho dinheiro para o comprar as vezes que gostaria.” Também eu...
Acredito que estes vinhos, que custam os olhos da cara, sejam os melhores do país, mas também continuo a achar que não são estes que representam o valor médio da região, e quando falamos de vinhos até 10 € a experiência que tenho tido, em muitos casos, mostra-me que em grande parte estes são inferiores aos de outras regiões. Há algum tempo, Cristiano Van Zeller, produtor da Quinta do Vale D. Maria, fazendo uma comparação entre os vinhos do Douro e do Alentejo na Hora de Baco dizia que nos vinhos médios o Douro é inferior a outras regiões.
Neste painel o vinho mais pontuado é o Quinta do Crasto Vinha Maria Teresa, com 18,5 pontos e um preço de 88,50 €. Mas há poucos dias provei o Quinta do Crasto normal, que não é assim tão barato, e achei-o vulgar. A pergunta que faço é esta: como é que um produtor pode fazer um vinho de topo e outro com uma qualidade algo questionável? E a diferença de qualidade, será que justifica que o preço daquele seja 10 vezes superior ao deste?
Falar de grandes vinhos que não estão acessíveis à maioria das pessoas torna-os, de facto, vinhos virtuais como uma vez referiu João Portugal Ramos. É um bocado como os Ferraris: são para ver na montra e nas fotografias. E pagar 40 ou 50 € por um vinho é só para alguns, ou então para quando se perde a cabeça. Mas é só uma vez por acaso... Quando passamos ao mundo real, o panorama é bem diferente deste mundo sublime que nos é apresentado neste painel. Por isso é que acabamos por nos refugiar naqueles que já conhecemos e que nos dão todas as garantias, como os 3 Douros de 2001 que provámos há alguns dias. Esses são reais, são bons e são acessíveis.

Kroniketas, enófilo esclarecido

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Pouco “show” e ainda menos “gourmet”

No passado dia 24 de Novembro desloquei-me pela primeira vez ao Convento do Beato para visitar o Porto e Douro Wine Show e Lisboa Gourmet. Nos claustros do convento (sim, o mesmo local onde os Scorpions gravaram o memorável concerto acústico a que não fui assistir) estavam montadas as bancas dos expositores, ocupando todo o espaço. Em volta mais algumas bancas com aquilo que deveria ser a parte gourmet do evento.
Descontando o facto de que a parte gourmet pressuporia apenas a existência de alguns petiscos para provar e pouco mais, a verdade é que não esperávamos tão pouco. O que havia para provar eram rebuçados de ovo, bolachas de chocolate, Água das Pedras com sabor a limão e pouco mais. Depois lá havia um exíguo espaço onde se confeccionava uns pratos de arroz e noutra sala o chefe Rui Paula, do restaurante DOC em Folgosa do Douro, fazia uma demonstração de confecção de chamuças de alheira que depois deu a provar aos que assistiam, acompanhando com um vinho de Domingos Alves de Sousa. E por aqui se ficou o Lisboa Gourmet. Os próprios expositores se queixavam de que, tendo de estar lá até às 10 da noite, não tinham onde comer nada.
Não deixa de ser estranho que num evento daqueles se descure completamente a parte gastronómica, que não só manteria os visitantes mais entretidos como permitiria aconchegar os estômagos de modo a poder fazer mais provas. Assim, de estômago vazio e com duas crianças a acompanhar, ao fim de uma hora e meia demos o fora e dirigimo-nos a casa para jantar.
Quanto ao Porto e Douro Wine Show, embora estivessem representados muitos produtores importantes, como Sogrape, Ramos Pinto, Real Compahia Velha, também estranhei a ausência de nomes de peso no sector do Vinho do Porto: Symington, Taylor’s, Fonseca, Niepoort e todos os outros “Douro Boys” primaram pela ausência. Será por perceberem a pouca expressão do evento?
Requer-se mais cuidado na organização para que o público não se afaste e o evento não morra. Pelo que vi, não ficou grande entusiasmo para voltar.
A meio do percurso, como já vem sendo habitual, voltei a encontrar o “casal Chapim”. Não estamos combinados mas lá vamos frequentando os mesmos lugares onde decorrem eventos gastro-etílicos. Será que um dia destes nos vamos encontrar numa visita ao novo espaço do Wine O’Clock em Lisboa?

Kroniketas, enófilo esfomeado