segunda-feira, 27 de fevereiro de 2006

No meu copo 23 - Casa Cadaval, Cabernet Sauvignon 1999

A Herdade de Muge, situada na margem esquerda do rio Tejo e não muito distante de Lisboa, é uma propriedade muito antiga, estando na posse da família Álvares Pereira de Mello (Cadaval) há quase 400 anos.
Com uma longa tradição na produção vinícola, este Cabernet Sauvignon da Casa Cadaval depois de vinificado estagiou em meias pipas de carvalho americano e francês. O vinho apreciado era da colheita de 1999 e foi com algum receio que se abriu a botelha, comprada nos idos de Setembro de 2001, na Feira de Vinhos do Continente desse ano. Os receios revelaram-se infundados pois o vinho estava ali para durar, com uma estrutura impressionante. Sendo um vinho estreme de cabernet, após estes anos as notas vegetais já tinham desaparecido, como é óbvio, mas o que as substituiu foi uma profundidade de sabor que não se encontra nos vinhos novos desta casta.
De cor profunda e opaca, pouco exuberante de aroma mas espesso na boca, de sabores mais ligados ao couro que à fruta, revelou um surpreendente fim de boca e uma ligeira adstringência quando circulado na boca, o que indica que a sua vida ainda estava longe do fim. Apesar disso, esta é uma óptima altura para o beber, se por sorte ainda tiver umas garrafitas desta colheita.
Foi consumido com umas singelas bifanas de porco preto grelhado, que em nada obstaram à fruição do fermentado, bem pelo contrário.
Aconselha-se o arejamento atempado deste vinho antes do seu consumo – esta garrafa foi consumida em duas etapas, recorrendo a uma rolha de vácuo, e mostrou-se muito mais aberto na segunda ronda.
Em conclusão, este Regional Ribatejano recomenda-se, sendo um dos vinhos que convém manter sempre na nossa garrafeira – com rodagem frequente, claro!

tuguinho, enófilo esforçado

Vinho: Casa Cadaval Cabernet Sauvignon 1999 (T)
Região: Ribatejo (Regional)

Produtor: Casa Cadaval - Muge
Grau alcoólico: 13%

Casta: Cabernet Sauvignon
Preço em feira de vinhos: 8,47 €
Nota (0 a 10): 7,5

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2006

No meu copo 22 - Casa de Santar tinto 2003; Casa de Santar branco 2004

Uma prova interessante: quase coincidentes no tempo, um Dão Casa de Santar tinto e um branco. Nem um nem outro são vinhos de topo, mas são ambos muito fáceis de beber.
O branco é aberto, macio, de cor citrina, com um toque floral no aroma, adequado para pratos delicados de peixe (óptimo com peixe no forno, pouco adequado para bacalhau). É um vinho que apetece beber e que se vai consumindo quase sem dar por isso. Os seus 12,5% de álcool não se sentem. Penso que pode fazer boa figura numa tarde verão a acompanhar umas entradas não muito condimentadas. O tinto tem um perfil semelhante. Sente-se macio na boca, com um final médio, aromático e encorpado quanto baste, sem ser agressivo. 13% de álcool bem diluídos. Nos tempos que correm, esta graduação não é nada de extraordinário, pois a tendência é para termos vinhos cada vez mais alcoólicos. Também vai bem com pratos delicados de carne, sem serem muito condimentados, pois corre-se o risco de os aromas do vinho ficarem abafados pelos temperos. Moderação, é o que se recomenda.
Dado o nível de preços, são vinhos perfeitamente acessíveis para um consumo corrente oferecendo uma qualidade bastante aceitável. Por isso justificam claramente a sua presença nas nossas sugestões. Dentro destes preços verá que não é fácil encontrar muito melhor.

Kroniketas, enófilo esclarecido

Região: Dão
Produtor: Dão Sul, Sociedade Vitivinícola - Soc. Agrícola de Santar

Vinho: Casa de Santar 2003 (T)
Grau alcoólico: 13%

Castas: Touriga Nacional, Tinta Roriz, Alfrocheiro
Preço em feira de vinhos: 3,86 €
Nota (0 a 10): 6,5

Vinho: Casa de Santar 2004 (B)
Grau alcoólico: 12,5%

Castas: Encruzado, Cerceal, Bical
Preço em feira de vinhos: 3,29 €
Nota (0 a 10): 6,5

terça-feira, 21 de fevereiro de 2006

No meu copo, na minha mesa 21 - Nero d’Avola 2002; La Campania
















Hoje vamos falar duma experiência um pouco diferente. Uma refeição italiana e um vinho italiano.
Não se trata duma dessas pizzarias que há por aí aos pontapés, muito menos a Pizza Hut. Trata-se dum restaurante digno desse nome, bem no coração de Lisboa (na Rua da Artilharia 1, junto ao famigerado túnel do Marquês), com um ambiente acolhedor e uma ementa a preceito. A sala não é muito grande mas está bem aproveitada, conseguindo albergar cerca de 60 pessoas. A iluminação é discreta e suave.
Passando à ementa, as escolhas são vastas, a começar pelas sugestões do chefe logo na primeira página. Depois vêm as inevitáveis massas, pastas e antipastas, numa variedade que passa pelas pizzas, lasanhas, spaghetti, canelloni, fetuccine, tagliatelle e “tutti quanti”. Além destes mais tradicionais ainda há várias alternativas em que se incluem uns “scalopini alla crema”, “osso buco” (uma especialidade), bifes do lombo e chateaubriand e, imaginem, até um bacalhau!
Vieram para a mesa umas lasanhas normais e verdes, um fetucine verde bolognese, um “scalopini alla crema” e um das sugestões do chefe, “scalopini alla marsala”. Depois de se provar estas variedades, ninguém mais tem vontade de encomendar lasanhas na Pizza Hut! As massas estavam excelentes, assim como os dois pratos de “scalopini”.
Na sobremesa comi bolo de chocolate recheado com camadas de chantilly, o que o torna extremamente fofo e apetecível, misturado com gelado de chocolate e baunilha. Experimentei misturar os dois e o resultado foi óptimo. Da próxima vez que lá for tenho que me lembrar desta! As escolhas também são variadas, não faltando o inevitável tiramisu, além de algumas tartes e bavaroises.
Para acompanhar a refeição optámos por vinho italiano. A oferta era enorme em termos de vinhos alentejanos, mais do que todos os outros vinhos portugueses, enquanto dos italianos havia apenas 6 ou 7 marcas, de que só reconheci o Chianti, o Barolo e o Valpolicella, que já tinha provado naquele mesmo local. Na dúvida pedimos ao mestre de serviço à mesa que nos aconselhasse um vinho italiano, ao que ele, curiosamente, torceu o nariz, “com tantos vinhos bons que temos cá”. Mas a refeição era para ser italiana em tudo, e depois de perguntar se tínhamos a certeza que era mesmo isso que queríamos aconselho-nos um vinho da Sicília, de seu nome Nero d’Avola, do ano 2002, por cerca de 10 euros.
Como é habitual nos vinhos italianos que tenho bebido, revelou-se um vinho aberto, de cor rubi clara, pouco encorpado e com pouca acidez, apesar dos 13% de álcool. Bebeu-se bem com os pratos italianos, ligando melhor com as massas que com os pratos de carne. Tal como também tenho notado, parece que falta a estes vinhos alguma estrutura que os torne mais cheios. Não se pode dizer que são vinhos maus, mas até hoje ainda não provei um vinho italiano que me encantasse, nem sequer que batesse claramente os vinhos portugueses. Pode ser que nos topos de gama isso aconteça, mas em termos de qualidade média, até prova em contrário, estou convencido que os vinhos portugueses são melhores.
Em resumo, um restaurante com um serviço rápido, atencioso e eficiente, onde vale a pena voltar para comer pratos italianos bem confeccionados, e uma carta de vinhos extensa onde os vinhos portugueses estão bem representados. O preço também não é nada de assustar, se não se exagerar nas entradas e nos digestivos come-se por cerca de 15 a 20 € por pessoa.

Kroniketas, enófilo esclarecido

Vinho: Zonin, Nero d’Avola 2002 (T)
Região: Sicília (Itália)
Produtor: Casa Vinícola Zonin - Gambellara
Casta: Nero d'Avola

Grau alcoolico: 13%
Preço no restaurante: cerca de 10 €
Nota (0 a 10): 6

Restaurante: La Campania (italiano)
Rua da Artilharia 1, 30 - Lisboa
Telef: 21.385.03.45
Nota (0 a 5): 4

domingo, 19 de fevereiro de 2006

No meu copo 20 - Quatro Regiões 1997

O tempo é lixado! Coisas que pareciam perfeitas há algum tempo manifestam agora debilidades nunca achadas. Vem isto a propósito da contra-prova que este sábado fizemos ao Quatro Regiões, vinho de mesa da Sogrape devido à sua peculiar forma de produção.
Este vinho é constituído por 4 lotes de uvas vinificadas em separado, provenientes de quatro emblemáticas regiões vinícolas do país: do Douro, a casta Touriga Francesa; do Dão, a casta Touriga Nacional; da Bairrada, a casta Baga; e do Alentejo, a casta Trincadeira. Depois de fermentados a temperatura controlada e sujeitos a maceração prolongada, os mostos estagiaram 8 meses em barricas de carvalho. Após o estágio, os quatro vinhos foram loteados para formarem este Quatro Regiões, vinho de mesa apenas, porque a lei portuguesa não prevê estes casos de vinhos de qualidade “trans-fronteiriços”, aproveitando o melhor de cada região.
Da colheita de 1997, este era um vinho de 9 quando o provámos pela primeira vez, há cerca de três anos. Mas como disse, o tempo não perdoa: há algumas semanas tínhamo-lo provado e decidimos não atribuir nota sem uma contra-prova, que fizemos este sábado, suportada por um singelo entrecote com alho.
O vinho, embora continue com um nível excelente como se depreende pela nota atribuída, já não é o vinho de topo que foi. Perdeu uma boa parte dos aromas e o sabor simplificou-se, detectando-se por vezes um certo fundo de decadência que pode indiciar o declínio total dentro de pouco tempo.
Portanto, em conclusão, se possui garrafas destas na sua garrafeira, beba-as agora todas, porque o vinho ainda é um bom vinho. E não há necessidade de o deixar estragar.

tuguinho, enófilo esforçado

Vinho: Quatro Regiões, 1997 (T)
Região: Vinho de Mesa
Produtor: Sogrape
Grau alcoólico: 12,5%

Castas: Baga, Touriga Nacional, Touriga Francesa, Trincadeira
Preço em hipermercado: 12,77 €
Nota (0 a 10): 7,5

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2006

Rectificação de valores

Depois dum aturado debate interno acerca das classificações aqui atribuídas e dos critérios usados, e tendo em conta a comparação entre os diversos vinhos provados, foi decidido rectificar a nota do Duas Quintas 2003 de 7,5 para 8 e do Vinha da Defesa 2003 de 7 para 7,5.

Kroniketas, enófilo esclarecido

terça-feira, 14 de fevereiro de 2006

Aviso às leitoras

Em boa verdade vos digo que poderão sempre classificar os vinhos como o Kroniketas afirma, mas em termos práticos a única diferença será na saturação da cor, porque o método de produção é quase sempre semelhante e os produtores usam os dois termos indiferenciadamente. Não estou nada preocupado em que o vinho referido fosse clarete ou rosé - morreu na mesma!
Vejam o exemplo do Conde de Vimioso Rosé, analisado anteriormente, e que tem cor mais escura do que o Quinta do Monte D'Oiro Clarete.
Um conselho: marimbem-se para o nome e bebam-nos a todos!

tuguinho, enófilo esforçado

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2006

Aviso aos leitores

O post anterior gerou uma discordância interna nas Krónikas Vinícolas. Na minha opinião o Tuguinho misturou dois termos que designam produtos diferentes, e como neste blog ninguém muda o texto escrito por outro sem a sua prévia concordância (senão já tinha alterado o que ele escreveu), quero avisar que considero que clarete e rosé não são uma e a mesma coisa. O vinho em apreciação foi chamado clarete pelo seu produtor, certamente por boas razões. Logo, não se deve chamar-lhe rosé.
Rosé é um vinho de cor marcadamente rosada, enquanto o clarete é um vinho tinto mais leve e de cor muito mais aberta que um tinto normal. Mas em todo o caso, ainda próximo do tinto. Daí a ser rosé ainda vai alguma diferença.
Após algumas trocas de galhardetes via Messenger, acabámos ambos por chegar à conclusão que pode haver alguma confusão na nomenclatura usada, pois parece que existem vinhos designados como clarete e como rosé cujas características não permitem distingui-los, o que no meu entender é errado. Eu já bebi alguns claretes anteriormente (lembro-me dum das Caves Velhas) e não tinham qualquer característica que permitisse confundi-los com um vinho rosé. Para mim rosé é o Mateus Rosé, que é mesmo cor-de-rosa. Sendo assim, foi decidido superiormente (por ambos) entrar em contacto com a Quinta do Monte d’Oiro via e-mail para tentar esclarecer este quiproquó.
Bem hajam.

Kroniketas, enófilo esclarecido

domingo, 12 de fevereiro de 2006

Reincidências - No meu copo 19 - Quinta do Monte D'Oiro Clarete 2003

Nem todos se recordarão do que vou referir a seguir: em tempos que já lá vão, as tabernas (espécie de antecessor do Café como ponto de encontro do povo, em que o mais servido era o copo três de vinho e não a bica) vendiam também carvão e petróleo. Este último alimentava máquinas manuais a vácuo, que serviam para cozinhar quando os fogões a gás não eram tão prosaicos como nos dias de hoje.
Perguntar-se-ão: e porquê este arrazoado aqui, nas Krónikas Vinícolas, que deviam tratar apenas de gargantas e estômagos e sua estimulação? Ora bem, tudo isto se deve ao facto de vos querer ilustrar correctamente a cor do vinho que foi vítima ao almoço deste dia nobre: o dito cujo era da cor do referido petróleo para consumo doméstico, uma cor vermelha aguada, mas de grande impacto visual.
O vinho em causa era nem mais nem menos do que o magnífico clarete da Quinta do Monte D’Oiro, situada na Estremadura, e produtora de alguns dos melhores vinhos de Portugal, incluindo o Homenagem a António Carqueijeiro 1999, a quem já teceram loas que cheguem do outro lado do Atlântico.
Este clarete, da colheita de 2003, referia no contra-rótulo que devia ser consumido de preferência nos 2 primeiros anos, o que significaria que eu já estaria atrasado um ano! Mas não. O vinho mostrou-se em plena pujança, com a magnífica cor já referida, uma ligeira sugestão gasosa e um sabor fresco, livre de taninos, mais do que adequado para o prato com que o consumi: a quase célebre cataplana de robalo e gambas!
Este vinho é proveniente da casta francesa Cinsaut, e foi sujeito a uma curta maceração de forma a manter a tal cor adequada a um rosé. Mas não se iludam! O néctar possui 13,5º e uma estrutura de fazer inveja a muitos tintos!
Em conclusão, “caiu que nem ginjas” com a tal cataplana, não abafando os sabores do prato e jogando muito bem com a sua leveza condimentada.
Fechou-se o repasto com uns morangos ao natural acompanhados por um LBV filtrado da Graham’s, de 1998, servido nos estupendos cálices desenhados por Siza Vieira (vá lá, deixem-me ser “gabarolas” só por um momento!).
O final verdadeiro tinha de ser executado por um café expresso, com açúcar, obviamente – aos puristas que só bebem café sem qualquer adoçante só digo uma coisa: não sabem o que perdem! –, secundado por um magnífico chocolate puro Solitaire da Guylian. Depois disto aquela história do paraíso e até as suas variações que incluem virgens e assim deixam de fazer muito sentido…
Tenham uma boa vida.

tuguinho, enófilo esforçado

Vinho: Quinta do Monte D'Oiro - Clarete 2003 (Rosé)
Região: Estremadura (Alenquer)
Produtor: José Bento dos Santos - Quinta do Monte D'Oiro
Grau alcoólico: 13,5%

Castas: Cinsault
Preço em feira de vinhos: cerca de 6 €
Nota (0 a 10): 8

sábado, 11 de fevereiro de 2006

No meu copo 18 - Dão Caves Velhas branco 2003

Após uma longa digressão pelos tintos alentejanos, finalmente “something completely different”. Um vinho do Dão e logo um branco, que é coisa que por estas bandas não nos passa muito pelo estreito.

Este Dão Caves Velhas 2003 foi uma garrafa de branco que veio como oferta na compra de duas de tinto. Experimentei-o ao longo de vários dias com diversos pratos: massa com carne (tipo massa italiana), com pescada com molho e com bacalhau no forno. Foi com este que casou melhor. É um vinho de cor citrina, com alguma estrutura, encorpado e que por isso fica melhor com pratos de peixe com algum peso, mas não demasiado. Por exemplo, com a massa italiana o vinho abafou o sabor do prato.

Não é um vinho com grandes pretensões. Não encanta, mas também não envergonha. Mas é preciso escolher bem o prato com que é servido. Em todo o caso, pelo preço que custa não se pode exigir muito mais.

Kroniketas, enófilo esclarecido


Vinho: Caves Velhas 2003 (B)
Região: Dão
Produtor: Caves Velhas
Grau alcoólico: 12%

Preço em feira de vinhos: cerca de 2 €
Nota (0 a 10): 5,5

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2006

No meu copo 17 - Esporão, Aragonês e Trincadeira 98

Isto é como a lei do eterno retorno: acabamos sempre por voltar ao ponto de partida. Voltar aos vinhos da Sogrape e do Esporão é, para nós, uma inevitabilidade tão natural como o nascimento do sol todos os dias. Depois do regresso à Sogrape na Herdade do Peso, regressamos mais uma vez à Herdade do Esporão, agora para revisitar dois monocastas guardados na garrafeira há uns anos: duas garrafas de meio-litro de Aragonês e Trincadeira de 1998 (os últimos exemplares desse ano), um formato que foi utilizado durante alguns anos para os varietais do Esporão e que entretanto já foi abandonado.
Desta vez houve o tempo e o cuidado para decantar as duas garrafitas, pois um vinho com esta idade já tem os aromas fechados há muito tempo, o que se revelou plenamente avisado pois assim evitou-se o despejar para dentro dos copos do depósito entretanto formado.
Como era de esperar, nenhum deles nos desiludiu, até porque também no Esporão só se sabe fazer vinho bom.
São ambos muitos encorpados, de grau alcoólico elevado mas com uma acidez correctíssima que disfarça completamente a eventual agressividade do álcool. Aromas exuberantes e uma estrutura que nos enche a boca e fica lá. O Trincadeira é mais suave, mais aveludado, um pouco mais delicado, enquanto o Aragonês, como é típico no Esporão, é mais robusto, mais vivo, com os taninos mais presentes.
Estamos a falar duma colheita que já foi ultrapassada pelo tempo, pois agora estão no mercado as colheitas de 2002 e 2003, mas o perfil destes vinhos mantém-se. O passar dos anos apenas os amacia mas não os deturpa. São vinhos acima dos 10 euros, mas são dos tais em que vale a pena não olhar para o preço. Naturalmente, têm lugar cativo nas nossas sugestões e presença obrigatória na nossa garrafeira. Para quem quer brilhar com o vinho que leva à mesa.

Kroniketas, enófilo esclarecido

Região: Alentejo (Reguengos)
Produtor: Herdade do Esporão

Vinho: Aragonês 98 (T) (garrafa de ½ litro)
Castas: Aragonês

Preço em feira de vinhos: 11,95 €
Nota (0 a 10): 8

Vinho: Trincadeira 98 (T) (garrafa de ½ litro)
Castas: Trincadeira

Preço em feira de vinhos: 10,95 €
Nota (0 a 10): 8

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2006

No meu copo 16 - Herdade do Peso, Alfrocheiro e Aragonês 2000

Voltamos ao Baixo Alentejo e paramos na Vidigueira para voltar a visitar a Sogrape, a maior empresa produtora de vinhos em Portugal e uma referência permanente deste blog.
Da Herdade do Peso sai o Sogrape Alentejo Reserva, de que já demos conta noutro post. Mais recentemente começaram a sair também vinhos com o próprio nome da herdade. Aqueles de que agora vos damos conta são os monocasta Alfrocheiro e Aragonês de 2000.
Começamos pelo Alfrocheiro, uma casta com pouca divulgação quando comparada com o Aragonês e a Trincadeira. A primeira prova deste vinho deixou-nos... esmagados! Um aroma extraordinário, um corpo que se mastiga, uma estrutura, um paladar e um fim de boca que nunca mais tem fim... É difícil encontrar palavras para descrever as sensações que este vinho nos provocou... E só bebemos uma garrafa! Fiquei na expectativa sobre o que seria este vinho se decantado com tempo suficiente para libertar todos os aromas que lá estão guardados! Um espanto, merecedor de nota máxima! A Sogrape ao seu melhor nível, como estamos sempre à espera (aqui para nós que ninguém nos ouve, acho que a Sogrape nos devia dar uma comissão pela publicidade que lhe fazemos...).
Claro que entrou directamente para a nossa lista de sugestões, na secção dos sublimes, porque o é de facto. Apesar do preço elevado, é daqueles vinhos que merece uma pequena extravagância e comprá-lo tapando a etiqueta com o preço.
Naturalmente que, ao pé dum vinho de excepção, o Aragonês fica prejudicado. Comparado com um vinho que nos encantou, este parece vulgar. Sendo um bom vinho (até porque a Sogrape, como sabemos, só sabe fazer vinhos bons), não tem a exuberância aromática e de corpo do seu irmão Alfrocheiro, daqueles grandes, grandes vinhos que se revelam ao primeiro trago na boca. Este Aragonês tem tudo no sítio certo, mas já não é sublime, e deste modo é difícil considerá-lo merecedor do gasto de mais de 13 €. É um vinho bem feito e correcto mas que, ao mesmo preço do Alfrocheiro, se torna caro para o que nos proporciona.

Kroniketas, enófilo esclarecido

Região: Alentejo (Vidigueira)
Produtor: Sogrape

Vinho: Herdade do Peso, Alfrocheiro 2000 (T)
Grau alcoólico: 14%

Castas: Alfrocheiro
Preço em feira de vinhos: 13,89 €
Nota (0 a 10): 10

Vinho: Herdade do Peso, Aragonês 2000 (T)
Grau alcoólico: 14%

Castas: Aragonês
Preço em feira de vinhos: 13,95 €
Nota (0 a 10): 7