domingo, 31 de maio de 2009

No meu copo 243 - Ribamar Garrafeira 96

Este vinho foi escolhido numa ida a Sintra após uma prova no Hotel da Penha Longa. Num restaurante local onde um dos convivas é cliente habitual, para uma refeição despretensiosa, ao olhar para a carta de vinhos deparei com um nome que há mais de 10 anos foi, durante algum tempo, presença frequente à mesa das nossas refeições: António Bernardino Paulo da Silva, produtor da região de Colares (em Azenhas do Mar, para ser mais preciso) que actualmente assina o Colares Chitas. Mas nessa altura descobrimos por acaso, num restaurante entretanto desaparecido (Adivinha quem vem jantar, em Alcântara), um vinho chamado simplesmente Paulo da Silva, com o rótulo gravado no próprio vidro da garrafa. Ficámos encantados e durante uns 5 anos sempre que podíamos comprávamos e bebíamos os vinhos deste produtor. Entretanto descobrimos outra marca, Colecção Privada, e num restaurante do Bairro Alto descobrimos um chamado Beira-Mar.
Pois agora vi um vinho chamado Ribamar e, com algum receio e alguma renitência dos outros comensais, resolvi pedi-lo. Era um garrafeira de 96 cujo estado suscitou algumas dúvidas, mas lá se experimentou.
Não se mostrou já de perfeita saúde mas ainda se conseguiram encontrar ali alguns aromas frutados, algum corpo, uma certa persistência e um resto de estrutura que em tempos terá tido. Depois de decantado ainda se libertou de um certo cheiro a mofo e conseguiu apresentar-se com os aromas mais limpos. No fundo, foi uma prova mais para matar saudades. Agora teremos de nos virar para o Colares Chitas que ainda anda por aí.

Kroniketas, enófilo saudoso

Vinho: Ribamar Garrafeira 96 (T)
Região: Colares
Produtor: António Bernardino Paulo da Silva
Grau alcoólico: 12,5%
Preço no restaurante: 12,50 €
Nota (0 a 10): 6

quarta-feira, 27 de maio de 2009

No meu copo 242 - Quinta do Peru branco 2008; Dão Borges, Touriga Nacional 2005

Uma surtida com o tuguinho e o Politikos levou-nos aos Arcos, já um lugar obrigatório pela excelência do serviço e da culinária, para repetir o saboroso robalo no capote e o bife Wellington, desta vez complementados com um delicioso e suculento bife pimenta. Tal como nas visitas anteriores, 5 estrelas.
Para os líquidos, com uma vasta escolha à disposição, estivemos algo indecisos. O objectivo, como fazemos muitas vezes nestas ocasiões, era experimentar vinhos que não conhecêssemos, e assim acabámos por seguir a sugestão do escanção de serviço, quer para o acompanhamento do peixe quer da carne.
Deste modo travámos conhecimento com um Quinta do Peru branco de 2008, produzido em Azeitão, que fomos bebericando enquanto esperávamos pacientemente pela confecção do robalo no capote. Apresentou-se um vinho com bom aroma como é habitual nos brancos da península de Setúbal que, apesar dos seus 13,5 graus de álcool, não se mostrou pesado nem com o teor alcoólico excessivamente marcado. Uma pouco habitual combinação de duas castas que começam a impor-se um pouco por todo o lado, Viosinho e Verdelho, resultou neste branco em que uma acidez correcta, boca fresca, corpo e final medianos, cor entre o citrino e o palha e algumas notas de frutos brancos foram as características mais evidentes. Acompanhou com agrado o robalo e os entreténs-de-boca, de tal modo que ainda tivemos que pedir um reforço antes de passarmos aos substanciais bifes.
Para os bifes, seguindo novamente a sugestão do escanção, apontámos ao Dão para um Touriga Nacional da Borges de 2005 que foi uma belíssima revelação. Era um vinho debaixo de olho há muito tempo mas ainda não tinha calhado cruzar-me com ele. Veio na melhor altura, batendo-se em grande estilo com os bem temperados bifes. Tivemos aqui um exemplar da Touriga Nacional ao melhor nível, fugindo um pouco ao habitual floral e marcado por uma evidente robustez e taninos bem firmes. Ganhou com a decantação e foi-se revelando em aromas frutados ao longo da refeição, mantendo sempre uma admirável persistência. Ficámos rendidos a este belíssimo representante do novo fôlego do Dão.
Ainda deixámos umas gotas para o misto de sobremesas que encerrou o magnífico repasto, onde fomos reencontrar algumas já provadas nas anteriores visitas. O preço foi bem puxado (53 € por cabeça), mas caramba, para aquele nível até não se pode considerar chocante.

Kroniketas, com tuguinho e Politikos em trânsito pela marginal

Vinho: Quinta do Peru 2008 (B)
Região: Terras do Sado
Produtor: Sociedade Agrícola Ribeira da Várzea
Grau alcoólico: 13,5%
Castas: Viosinho, Verdelho
Preço em hipermercado: 9,46 €
Nota (0 a 10): 7

Vinho: Borges, Touriga Nacional 2005 (T)
Região: Dão
Produtor: Sociedade dos Vinhos Borges
Grau alcoólico: 13,5%
Casta: Touriga Nacional
Preço em hipermercado: 22,90 €
Nota (0 a 10): 8,5

sábado, 23 de maio de 2009

No meu copo 241 - Porto Ramos Pinto LBV 2000; Porto Graham’s LBV 2003



Voltamos ao registo dos vinhos do Porto, desta vez com dois LBV. Depois da excelente impressão causada pelo Vintage da Graham’s, este LBV a bom preço despertou-me a atenção e resolvi experimentar. Quanto ao Ramos Pinto, é já um clássico nas nossas escolhas.

Dois exemplos de LBV bastante diferentes, diria mesmo contrastantes. Se o Ramos Pinto manteve o perfil que dele se esperava, com a suavidade habitual, uma predominância adocicada e algumas notas a frutos maduros, já o Graham’s mostrou que, ou ainda não estabilizou e precisa de casar melhor os aromas, ou não foi um produto muito bem conseguido, apresentando-se algo agreste no copo. Talvez precise de tempo na garrafa para mostrar o que vale.

Kroniketas


Região: Douro/Porto

Vinho: Porto Ramos Pinto LBV 2000
Produtor: Ramos Pinto
Grau alcoólico: 19,5%
Preço em hipermercado: 12,35 €
Nota (0 a 10): 8

Vinho: Porto Graham’s LBV 2003
Produtor: Graham’s Port
Grau alcoólico: 20%
Preço em hipermercado: 11,99 €
Nota (0 a 10): 7

quarta-feira, 20 de maio de 2009

No meu copo 240 - Grand’Arte, Touriga Nacional rosé 2007



Como habitualmente por esta época, começam a surgir as oportunidades a pedir
vinhos frescos que substituam os habituais tintos das grandes comezainas. Este rosé foi adquirido o ano passado com a Revista de Vinhos de Julho.

À semelhança do rosé feito de Touriga Nacional da Quinta da Alorna, que me encheu as medidas, este Grand’Arte apresenta um aroma frutado com predominância a morangos e framboesas, complementado com algum floral típico da casta.

Com um grau alcoólico moderado que se saúda neste tempo a caminhar para o quente, o que o torna mais apelativo, apresenta-se muito equilibrado nas suas componentes e muito fresco na prova. Uma boa companhia para dias de verão ou para entradas ou refeições leves. Muito agradável.

Kroniketas, enófilo esclarecido



Vinho: Grand’Arte, Touriga Nacional 2007 (R)
Região: Estremadura
Produtor: DFJ Vinhos
Grau alcoólico: 12%
Casta: Touriga Nacional
Preço com a Revista de Vinhos: 5,95 €
Nota (0 a 10): 7,5

domingo, 17 de maio de 2009

No meu copo 239 - Porto Graham’s Vintage 94

Continuando no registo dos Portos, temos aqui outro Vintage que fez sucesso entre os degustantes cá do grupo. Com um perfil completamente diferente do Taylor’s Vargellas referido no post anterior, e também com mais idade, este Graham’s é marcado pela suavidade e elegância, sem deixar de mostrar alguma robustez.
Na prova apresenta uma predominância a frutos secos com um final longo e marcado por um toque amendoado. É um Vintage em plena maturidade que parece ter entrado num patamar estável de evolução, que dá uma prova muito agradável. Não é fácil encontrá-lo nem é barato, mas pelo prazer que dá é uma aposta inteiramente ganha e que merece uma abertura dos cordões à bolsa.

Kroniketas, enófilo esclarecido

Vinho: Porto Graham’s Vintage 94
Região: Douro/Porto
Produtor: Graham’s Port
Grau alcoólico: 20%
Preço em hipermercado: 55,80 €
Nota (0 a 10): 9

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Perdizes por um, perdizes por mil

No meu copo 238 - Hexagon 2000; Cartuxa 2006; Porto Taylor’s Vargellas Vintage 2005

Os Comensais Dionisíacos, braço político gastro-etilista que integra os escribas das KV, além dos repastos “oficiais” entre membros celebra também refeições não menos bem regadas, mas mais alargadas em termos de mastigantes, sendo estes supranumerários geralmente os familiares mais próximos.
Sendo caçador um dos associados, é normal que por vezes nestas refeições intervenham como mastigados espécimes das nobres raças abatidas pelo dito cujo ou pelo grupo de caçadores a que se junta na função, geralmente perdizes, lebres ou javalis. Fomos portanto reunidos em casa do Kroniketas (que não é o membro caçador – é mais deglutidor) para degustar um grupo de perdizes incautas, cozinhadas pela consorte do caçador de formas simples mas saborosas: umas com um molho à base de natas e whisky com cogumelos, outras envolvidas em couve lombarda acolitada por tirinhas de bacon.
Outro objectivo que se mantém nestes repastos alargados é acompanhá-los de bons néctares – também conhecido no meio como “desbaste da garrafeira”! Para este em particular escolheram-se, além de alguns brancos sortidos e fresquinhos – provenientes da sempre bem recheada garrafeira do anfitrião (Alvor 2007, Quinta de Camarate branco seco 2007, Murganheira 2007) – para acompanharem as entradas, um Esporão Reserva de 2006, um Hexagon de 2000 em formato magnum (o tal vinho das 6 castas e 6 gerações) e um Cartuxa de 2006 que apareceu à última hora pela mão de um dos convivas. Para as sobremesas abriu-se um Porto Taylor’s Vargellas Vintage de 2005.
Coleccionando as reacções dos presentes, poderá dizer-se que o Esporão Reserva, após a recente experiência, re-deslumbrou, depois de uma travessia do deserto em algumas colheitas anteriores, com o Alicante Bouschet a dar-lhe um toque muito especial. Definitivamente um regressado aos mais altos lugares da nossa consideração vínica. O Hexagon, completamente diferente do anterior, mostrou-se um vinho de alto gabarito, com um perfil austero, ainda mais depois da festa que o Esporão tinha provocado no nariz e na boca dos beberrões, mas com uma estrutura extraordinária e a deixar-nos desconfiados de que ainda havia por ali muita coisa escondida. Comprem e bebam, porque é assim que um vinho excelente deve ser (uma das maneiras de o ser, como é óbvio). (Mete aqui a colherada o Kroniketas para ser mais generoso mas sucinto nos encómios. Só uma palavra: extraordinário!).
Ficou o Cartuxa para o final – uma ou outra ordem teria sempre justificação ou recusa – e não se deixou diminuir perante os outros dois. Sendo mais novo que o Hexagon e da mesma colheita que o Esporão, justificou-se plenamente a vivacidade exuberante, mostrando-se mais corpulento, mais fechado e mais robusto que o seu compadre alentejano, disse bem alto que estava ali para lutar: um vinho excelente que seria o centro das atenções se estivesse só. Teve um pouco de azar com os competidores.
Enfim, para não vos causar mais inveja, direi que, embora pessoalmente prefira os Vintage com um perfil como o utilizado pela Ramos Pinto, o Porto Vintage Vargellas cumpriu em pleno. Um festival de aromas a frutos vermelhos, de grande exuberância na boca e no nariz, pleno de vigor e juventude, a mostrar que está ali pronto para altos voos e longa vida na garrafa. O nosso único problema é comprá-lo e esperar uns 10 ou 20 anos até voltar a prová-lo. A verdade é que nem os morangos, nem a mousse de chocolate ou o bolo rançoso se queixaram.
Em resumo, um repasto que se pautou pela delícia gastronómica e pela excelência vínica. Para recordar.

tuguinho, enófilo impenitente e bloguista intermitente

Vinho: Hexagon 2000 (T) (garrafa magnum)
Região: Terras do Sado
Produtor: José Maria da Fonseca
Grau alcoólico: 14%
Castas: Trincadeira, Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinto Cão, Syrah e Tannat
Preço em supermercado: 53,89 €
Nota (0 a 10): 9,5

Vinho: Cartuxa 2006 (T)
Região: Alentejo (Évora)
Produtor: Fundação Eugénio de Almeida - Adega da Cartuxa
Grau alcoólico: 14,5%
Castas: Aragonês, Trincadeira, Alfrocheiro, Alicante Bouschet
Preço em feira de vinhos: 13,95 €
Nota (0 a 10): 8,5

Vinho: Porto Taylor’s Vargellas Vintage 2005
Região: Douro/Porto
Produtor: Taylor’s
Grau alcoólico: 20%
Preço em hipermercado: 33,48 €
Nota (0 a 10): 9

domingo, 10 de maio de 2009

Na minha mesa 237 - O Alpendre (Arraiolos)


A caminho de Vila Viçosa para o Vinum Callipole, parei em Arraiolos para almoçar com a família que me acompanhou. Não levei qualquer referência prévia, pelo que fui à mercê do que encontrasse. Em tempos tinham-me falado num restaurante mas não me lembrava do nome.
Chegado ao centro da vila fui seguindo as placas que indicavam restaurantes, até que num cruzamento havia uma para cada lado. Segui pela da esquerda e encontrei o Alpendre, com a indicação de “restaurante típico” e “cozinha regional” na porta. Depois de espreitada a ementa e trocadas algumas impressões, resolvemos entrar.
Deparámos com um espaço decorado com bastantes referências à tourada e utensílios ligados à agricultura, mas desde logo se percebeu que estávamos num local de gabarito. Pela montra de sobremesas e entradas (uma enorme panóplia de doces conventuais), pela garrafeira recheada de grandes marcas do Alentejo (grande parte dos mais conceituados estavam expostos e até o Barca Velha e o Vale Meão marcavam presença), pela decoração das mesas, pela roupa dos empregados.
Franqueada a porta sentámo-nos a uma mesa bastante provida de entradas, em que acabámos por praticamente não tocar, pois isso iria retirar o espaço para a refeição propriamente dita, e resolvemos desde logo passar aos pratos fortes. E que pratos: migas de espargos com carne do alguidar e presas de porco preto com esparregado.
Ambos os pratos excelentes, com a carne do alguidar tenríssima e as presas extremamente saborosas, tudo acolitado com bons acompanhamentos.
Para as sobremesas, o problema foi escolher, tantas eram as opções. A escolha recaiu num leite-creme e numas migas de ganhões, que eram assim uma espécie de doce de ovos a meio caminho entre a sopa dourada e a barriga de freira. Ambos muito bons.
Serviço excelente, rápido, eficiente, preços não muito exagerados, bom ambiente, em suma, mais um espaço gastronómico de grande qualidade no coração do Alentejo.
Como o resto do dia ia ser dedicado às provas, o almoço foi acompanhado apenas por meia garrafa de Comenda Grande, um produtor ali da zona, que cumpriu razoavelmente a função mas sem razão para grandes encómios. O mais importante ficou para depois.

Kroniketas, gastrónomo em trânsito

Restaurante: O Alpendre
Bairro Serpa Pinto, 22
7040-014 Arraiolos
Telef: 266.419.024
Preço aproximado por refeição: 25 €
Nota (0 a 5): 4,5

terça-feira, 5 de maio de 2009

Vinum Callipole 2009

À terceira consegui comparecer neste evento organizado pelo Copo de 3 e que decorreu no passado dia 2 em Vila Viçosa. Tive oportunidade de provar os vinhos das Altas Quintas, Granacer (Tapada do Barão), Sociedade Agrícola Vale de Joana (Grou), Gravato, Quinta do Zambujeiro e Casal Figueira. Notadas foram as ausências da Herdade das Servas e da Herdade do Portocarro.
Para o fim ainda houve a possibilidade de degustar mais em recato quatro vinhos velhos: Bairrada Real Vinícola 82, J. P. 88, Portalegre 95 e um Gaeiras já mais morto que vivo. Em grande forma mostrou-se o Portalegre e o Bairrada era daqueles à moda antiga, quase eternos.
Notas de prova? Procurem-nas talvez no Copo de 3 ou no Pingamor, que levou um caderninho de apontamentos. Eu, pessoalmente, já deixei há muito tempo de tentar fazer notas de prova neste tipo de eventos. Prova-se muito em pouco tempo mas não se tem… tempo para apreciar o vinho devidamente, por isso não gosto de formar uma opinião muito elaborada. Fica-se com uma ideia para mais tarde se ter alguma orientação do que poderá interessar.
Apesar da curta permanência, gostei desta participação. Deu para conversar com calma com os produtores presentes, principalmente na mesa das Altas Quintas onde para além dos 7 vinhos provados o produtor João Lourenço estava acompanhado pelo director de vendas, João Cancella de Abreu, primo do conhecido enólogo Nuno Cancella de Abreu. Conversa puxa conversa e quase dava para passar ali toda a tarde. Numa próxima oportunidade tentarei certamente fazer uma estada mais prolongada, não para beber mais mas principalmente para conversar com os outros convivas.
O meu obrigado ao Copo de 3 e, quem sabe, até para o ano.
De caminho ainda tive oportunidade de almoçar em Arraiolos, no restaurante O Alpendre, de que darei conta em próximo post.

Kroniketas, enófilo em trânsito