quinta-feira, 30 de novembro de 2006

Prova à Quinta - O segundo


Vinha da Nora 2002

Nesta segunda Prova à Quinta, o desafio lançado pelo Vinho da Casa era o de provar um vinho português de 2002. Escolhi o Vinha da Nora, um vinho que já conhecia de nome, mas que nunca tinha provado a não ser no último Encontro com o vinho, depois e antes de muitos outros. Tal como dizia o anúncio do brandy Constantino há umas décadas, é fama que vem de longe. A primeira vez que ouvi falar neste vinho foi num programa da RTP, onde foi referido que era o vinho recomendado na carta dum dos mais prestigiados restaurantes de Paris.
Agora proporcionou-se bebê-lo à refeição, a acompanhar uma excelente empada de coelho no forno, e veio a calhar para esta prova por ser de 2002. Foi aberto com antecedência, mas teria valido a pena ser decantado para mostrar todo o seu potencial, pois foi melhorando ao longo da refeição. Os copos usados, infelizmente, não foram os melhores para o efeito, pois eram mais largos na boca, o que poderá ter prejudicado a prova, principalmente em termos aromáticos, mas mesmo assim não deixámos de apreciar este vinho.
Produzido exclusivamente com a casta Syrah, tem uma bela cor rubi aberta, é medianamente encorpado, mostrando um carácter frutado, com os taninos suaves e a madeira discreta, sem se sobrepor aos aromas. Inicialmente mostrou-se mais fechado mas depois foi libertando os aromas secundários e marcando um final de boca cada vez mais persistente, que com muita pena minha atingiu o auge quando a garrafa estava a acabar...
No seu conjunto, é um vinho de grande elegância, com um perfil bastante apelativo, sem ter excesso de álcool a impor-se e permitindo assim desfrutar dos seus sabores e aromas na plenitude, além de ser uma óptima companhia para pratos requintados e não excessivamente condimentados. Sem dúvida um vinho que no panorama actual parece “fora de moda”, pelo seu corpo aberto e grau alcoólico moderado, e ainda bem que assim é. Felizmente ainda há quem faça vinhos que se podem saborear. Não o coloco já na nossa lista de escolhas porque precisa de uma segunda oportunidade, com todas as condições de prova no ponto ideal, mas mesmo assim já mostrou muito daquilo que é.

Kroniketas, enófilo esclarecido

Vinho: Vinha da Nora 2002 (T)
Região: Estremadura (Alenquer)
Produtor: José Bento dos Santos - Quinta do Monte d’Oiro
Grau alcoólico: 13%
Casta: Syrah

Preço em feira de vinhos: 11,95 €
Nota (0 a 10): 8

quarta-feira, 29 de novembro de 2006

No meu copo 71 - Quinta da Alorna branco, Colheita tardia 2003

Um vinho difícil é a primeira coisa que se pode dizer deste, que segue um pouco a moda actual de fazer vinhos deste género, em que as uvas são colhidas em Outubro ou Novembro, em estado de sobrematuração, normalmente naquilo que se convencionou chamar de podridão nobre.
Estes vinhos resultam muito concentrados de corpo e muito doces, com elevado grau alcoólico, dando-lhes um perfil quase de vinhos generosos, adequados para acompanhar sobremesas. Dada a sua elevada concentração e doçura, normalmente são apresentados em garrafas de meio litro e não de 7,5 dl.
Este Quinta da Alorna segue essa linha, com uma cor quase de mel, a tender para o caramelizado. No nariz, a primeira sensação parece realmente de algo apodrecido, o que estranha quem não está habituado. Depois prova-se e vamos tentando habituar o paladar àqueles sabores adocicados fora do vulgar. Aqui a sensação tende para as compotas ou mais para o mel, mas sempre com um certo travo de fungos ou bolor lá no fundo.
Como experiência é interessante, mas confesso que não fiquei fã do género. É necessária bastante habituação a estes aromas, o que, dada a pouca frequência com que se prova um vinho destes, não deve ser fácil de conseguir.

Kroniketas, enófilo esclarecido

Vinho: Quinta da Alorna, Colheita tardia 2003 (B)
Região: Ribatejo (Almeirim)
Produtor: Quinta da Alorna Vinhos
Grau alcoólico: 14%
Casta: Fernão Pires

Preço em feira de vinhos: 8,5 €
Nota (0 a 10): 6,5

sábado, 25 de novembro de 2006

No meu copo 70 - Quinta do Crasto 2003

Eis aqui mais um vinho do Douro que me deixa com dúvidas sobre o que hei-de achar. À partida a expectativa era alta, mas a impressão ficou aquém do esperado. O aroma é pouco vivo e o ataque na boca pouco pronunciado. Fazemos girar o vinho pelos cantos da boca à procura dos aromas e dos sabores, mas o vinho aparece algo delgado, algo indefinido. Depois de deglutir é que se sente o álcool e aparecem os taninos bem presentes, deixando um final prolongado com notas de especiarias.
Em suma, não tenho grande coisa a dizer deste vinho, porque não guardei grandes memórias dele. Mais uma vez deixou-me aquela sensação de... muita parra e pouca uva que acontece com muitos vinhos do Douro quando saímos dos topos de gama.

Kroniketas, enófilo esclarecido

Vinho: Quinta do Crasto 2003 (T)
Região: Douro
Produtor: Sociedade Agrícola da Quinta do Crasto
Grau alcoólico: 14%
Castas: Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinta Roriz, Tinta Barroca

Preço em feira de vinhos: 8,39 €
Nota (0 a 10): 6

quarta-feira, 22 de novembro de 2006

Na minha mesa 69 - Restaurante Arcoense (Braga)



Levaram-me os afazeres profissionais até à cidade dita dos arcebispos, Braga.
Aproximando-se inexoravelmente a hora do jantar e não havendo ninguém disposto a jantar no hotel, um daqueles vetustos no parque do Bom Jesus, sugeri eu a Adega Arcoense, restaurante a que já não ia há uns anos, mas que belíssimas recordações me deixara.
Não vou aqui entrar em grandes pormenores sobre as peripécias que passámos para encontrar o dito retiro, porque eu tinha apenas recordações da zona da cidade onde se encontrava e faltou-nos um golpe de asa para o atingirmos sozinhos. Depois de quase uma hora a deambular pela urbe ao volante, valeu-nos o dono do restaurante que nos serviu de navegador telefónico e nos levou a bom porto (neste caso Braga, mas enfim).
Em boa hora insistimos e não desistimos. Na mesa já preparada encontravam-se um prato com rodelas de um enchido assim entre o paio e o salame, um belíssimo queijo amanteigado e pão do bom. Foram chegando pimentos guisados, pataniscas, jaquinzinhos bem fritos, gambas al ajillo, outras simplesmente cozidas, pimentos morrones, choquinhos fritos naquela polpa que se usa para os “calamares”, um salpicão de porco preto com grelos sateados, alheira de caça com batatinhas assadas, e outros acepipes que de tanta variedade acabaram por me baralhar a memória.
Este rol de entradas já seria o suficiente para muitos estômagos. Algures pelo meio foi-nos descrita a ementa, cheia de coisas boas, de um misto de carnes assadas ao lombo estufado de boi com arroz de caça, do sarrabulho até ao bom bacalhau cozinhado de várias formas.
Optámos pelo assado misto, mas conseguimos trazer à prova o arroz de caça, feito na hora apenas para acompanhamento do tal boi (de que também havia notícia de uns nacos grelhados apenas com sal…), e de que o simpático proprietário obteve o excedente do que tinha feito um pouco antes para uma outra mesa. Profuso de carniças várias, com um ligeiro toque de sangue a lembrar remotamente as cabidelas, bem untuoso sem ser um pingo de enjoativo, teve o aval entusiasta dos amesendados.
O tal assado que escolhemos (Assado Misto na Pingadeira) incluía cabrito, vitela (uns nacos bem suculentos e tenros) e costela mindinha (penitencio-me já aqui, porque esta foi a peça que mais me agradou, mas não sei de que alimária era…), acolitados por batatinha nova e castanha saborosa, reforçados com uma travessita de grelos de couve salteados e arroz de forno feito com os miúdos da bestita mais ligeira, o cabrito. Tudo no ponto e de qualidade e frescura irrepreensíveis, para as quais também contribui o facto de muitos dos ingredientes, inclusive carnes das bestitas mais avantajadas, provirem de uma quinta que pertence ao dono do restaurante.
Para acompanhar condignamente este roteiro gastronómico escolhemos um valor seguro: um Sogrape Reserva do Douro, colheita de 2001, que esteve mais que à altura de tudo o que se provou. Um grande bem haja para a Sogrape, que nunca me deixou mal.
Mudou de nome, perdeu um balcão que tinha à entrada, mas não perdeu nenhuma das qualidades de que eu me recordava. Pelo contrário, achei-o ainda melhor. Portanto, quando for a Braga, e mesmo que não o encontre às primeiras, não desista! Vai ver que vale a pena.
(não há fotos, porque aqui o quadrúpede regenerado não levou a máquina)

tuguinho, enófilo esforçado

Restaurante: Arcoense
Rua José Justino Amorim, 96
4715-023 Braga
Telef: 253278952
Preço médio por refeição: 40 €
Nota (0 a 5): 5

sábado, 18 de novembro de 2006

No meu copo 68 - Dão Meia Encosta 2001

Um dia destes ao almoço resolvi pedir meia garrafa de vinho para acompanhar uns escalopes de vitela com cogumelos. Claro que as opções de meias garrafas são sempre escassíssimas, pelo que não há muito por onde escolher. Como já não o bebia há muito tempo, resolvi experimentar o Dão Meia Encosta, para ver como estava. Por acaso foi um dos primeiros vinhos que provei quando me iniciei nestas lides do vinho, ainda de forma muito incipiente, e foi dos primeiros a agradar-me.
Pois voltou a não me decepcionar. Tem aquela suavidade inigualável nos vinhos do Dão e que hoje tanto vai rareando. Ainda é um vinho elegante, que se bebe com agrado, sem ter toda aquela carga de fruta, álcool e acidez que molda o perfil dos vinhos actuais. É um vinho aberto, de corpo médio, frutado quanto baste, aroma discreto e acidez correcta. Este exemplar era de 2001, mas revelou ainda frescura e juventude, o que é outra qualidade que aprecio nos vinhos do Dão, que aguentam bastante bem a idade. Num vinho alentejano, por exemplo, 5 anos nalguns casos pode já ser demais.
Curiosamente, evoluiu favoravelmente no copo ao longo da refeição, chegando ao fim com uma maior evidência dos taninos, mostrando alguma garra que inicialmente parece não existir. Em todo o caso, aconselha-se para acompanhar pratos delicados e não excessivamente temperados.
É um vinho que sem brilhar também não deslustra. Nada parece ter sido deixado ao acaso, está tudo no sítio certo. Para o dia-a-dia é uma aposta simpática e, principalmente nos tempos que correm, uma excelente alternativa aos vinhos hiper-alcoólicos e super-encorpados da moda. E pasme-se, tem só 12 graus de álcool! Tivesse-o eu provado antes do Cister da Ribeira, e a minha prova à quinta teria corrido bem melhor. Dentro deste patamar pode ser considerado um valor seguro, pelo que o incluímos nas nossas escolhas.

Kroinketas, enófilo esclarecido

Vinho: Meia Encosta 2001 (T)
Região: Dão
Produtor: Sociedade dos Vinhos Borges
Grau alcoólico: 12%
Castas: Touriga Nacional, Tinta Roriz, Alfrocheiro

Preço em feira de vinhos: 2,20 €
Nota (0 a 10): 6,5

quinta-feira, 16 de novembro de 2006

Prova à Quinta - O primeiro


Cister da Ribeira 2001

Respondendo ao desafio lançado pelo Copo de 3 (tinto português com menos de 13% de álcool) as Krónikas Vinícolas associam-se à iniciativa. Para esta primeira prova, e por falta de oportunidade para uma escolha mais criteriosa, aproveitei um vinho que me ofereceram à saída do Encontro com o Vinho. É um Douro da região de Cima Corgo, um Cister da Ribeira de 2001, da Quinta de Ventozelo, situada em Ervedosa do Douro, perto de São João da Pesqueira. É feito com as castas mais representativas da região do Douro: Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinta Roriz e Tinta Barroca.
Apesar de ter boa matéria-prima, o resultado é francamente pobre. Tem uma cor rubi carregada, o aroma é discreto, a prova na boca pouco exuberante, com algumas notas de especiarias muito pouco pronunciadas, talvez um pouco de couro e um final curto, corpo delgado e acidez talvez um pouco acima do ideal para a graduação do vinho: 12,5%.
Em suma, pareceu-me um vinho um pouco desequilibrado nas suas componentes, que não deixa grandes memórias. É mais uma daquelas experiências do Douro que me deixam de pé atrás quando saímos dos topos de gama. Fui depois consultar os catálogos das feiras de vinhos e percebi porque é que este vinho custa o que custa. Mas na gama mais baixa, e por esse preço, pode-se comprar e beber muito melhor.
Enfim, para começar a prova não foi uma escolha muito feliz, vamos ver se para as próximas tenho mais sorte.

Kroniketas, enófilo esclarecido

Vinho: Cister da Ribeira 2001 (T)
Região: Douro
Produtor: Quinta de Ventozelo
Grau alcoólico: 12,5%
Castas: Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinta Roriz, Tinta Barroca

Preço em feira de vinhos: 1,68 €
Nota (0 a 10): 5

terça-feira, 14 de novembro de 2006

Eventos gastro-etílicos


Esta primeira quinzena de Novembro tem sido pautada pela presença em vários acontecimentos. No dia 1 foi o Festival de Gastronomia de Santarém; no dia 4 foi o Encontro com o Vinho; este domingo foi a estreia no Festival do Chocolate em Óbidos.
Contrariamente aos receios, não se confirmaram as piores expectativas em relação ao trânsito e ao acesso ao festival. Parece que já toda a gente tinha esgotado as visitas e conseguiu-se chegar sem problemas a Óbidos, estacionar com relativa facilidade e andar pelas ruas e visitar as barraquinhas e stands de chocolate com algum à-vontade, apesar dos espaços diminutos por onde vamos passando, nas ruas e dentro das muralhas do castelo.
Para um aficionado do chocolate, aquilo é um verdadeiro maná, e só alguma contenção me impediu de devorar bolos, tartes, brigadeiros, queijadas, fondues de chocolate, para além das inevitáveis chávenas de chocolate quente, para beber e trazer a chávena. Aqui tive duas experiências antagónicas: um feito apenas com água e achocolatado despejado lá para dentro, que nos deixou um sabor pouco agradável, mas já na saída vinguei-me noutra que tinha visto na entrada e aí bebi um verdadeiro chocolate quente espesso e cremoso, de beber e chorar por mais, para terminar em beleza.
Destaque ainda para uma casinha com “O melhor bolo de chocolate do mundo”, que já tinha tido a felicidade de provar no Chafariz do Vinho, e para a famosa ginjinha de Óbidos, com a particularidade de se beber num copo de chocolate... que depois se comia! Delicioso.
Como não há bela sem senão, os resquícios das filas intermináveis que tinham sido noticiadas no primeiro fim-de-semana verificaram-se no acesso às esculturas de chocolate. Uma verdadeira serpente que percorria as ruas ao longo de centenas de metros para ter acesso à igreja onde se encontravam as esculturas. Obviamente, passámos ao lado.
Claro que é uma experiência a repetir, agora já com conhecimento do que merece ser provado, mas só é pena ser naquele local. Claro que o pitoresco da vila dá uma certa graça a tudo aquilo, mas o espaço não tem quaisquer condições para receber uma grande afluência de público. Mais valia montarem tudo fora da vila, num espaço aberto e de acesso fácil. E já agora, construir una parques de estacionamento para alguns milhares de carros. Mas em Portugal nunca se pensa nestes pormenores ínfimos das infra-estruturas...
Agora fica a faltar uma visita a um desses festivais de caça que há por aí. Mas parece que não será este ano que me vou estrear na feira de Borba...

Kroniketas, chocoólico militante

sábado, 11 de novembro de 2006

Encontro com o vinho (e alguns poucos sabores...)



O encontro estava marcado para a entrada do Centro de Congressos de Lisboa, no passado sábado à tarde. Veio tudo de barriga bem cheia para aguentar o embate previsto e não cair para o lado vencido pelas provas sucessivas. Por volta das 15:30 comprámos a entrada, fomos levantar o copo de prova e introduzimo-nos no evento.

Falo obviamente do Encontro com o Vinho e os Sabores, organizado pela Revista de Vinhos e que vai na sua 4ª edição. Esta espécie de feira dos vinhos de Portugal e não só é constituída por stands dos diversos produtores e distribuidores presentes, e possibilita a prova dos vinhos por eles apresentados. Estão também presentes alguns stands de produtos como queijos e presuntos ou enchidos, bem como alguns de acessórios do serviço do vinho.
Além da mostra propriamente dita existem também provas pagas, com um tema definido – do tipo prova transversal ou tourigas de todo o país - que exigem inscrição prévia.

Fomos sem programa e sem plano de provas definido. O único plano era ir percorrendo os corredores e parando nos stands quando achávamos que podia valer a pena provar alguma coisa, principalmente aqueles que não bebemos habitualmente ou que não conhecemos, ou que certas escolhas feitas nas feiras de vinhos e ainda não provadas foram certas. A única restrição, naturalmente, era deixar os generosos para o fim.

No meio das deambulações, e apesar dos vapores etílicos, conseguimos identificar o Pingus Vinicus mai-la sua quadrilha, e deu para entabularmos algumas conversações. Bom conversador, o mestre do blog, e quem é bom conversador deve ser bom copo e bom garfo. Esperamos poder reencontrá-lo noutras ocasiões, quem sabe até nalgum repasto inter-bloguista (porque não?). Um abraço, Rui.

A meio da tarde houve necessidade de abastecer um pouco o estômago, mas deparámos com uma sandes de presunto salgadíssimo que nos estragou o paladar para os minutos seguintes, e houve necessidade de lavar os aromas com um espumante e um rosé, porque nenhum tinto sabia a nada.

Mau grado alguma resistência, começámos com um espumante Murganheira de Malvasia Fina, que foi um excelente começo. Muito seco, muito bom! Já o Vértice, que se seguiu, decepcionou um bocado.
Provámos os seguintes vinhos:

Murganheira Bruto Malvasia Fina 2002
Vértice Bruto 2002
Versus branco, Síria 2005
Versus tinto 2004
Quinta de La Rosa reserva 2004
Quinta do Vale Meão 2004
Luís Pato Vinhas Velhas 2004
Vinha da Nora 2002
Quinta do Monte d’Oiro 2003
Madrigal branco 2005
Contra-corrente (Campolargo)
Campolargo
Frei João Reserva 2001
Porta dos Cavaleiros Reserva 2002
Espumante Bruto Quinta do Boição Arinto 2004
Alandra rosé
T da Terrugem 2002
Quinta dos Quatro Ventos 2004
Vinha do Almo Escolha 2004
Herdade do Perdigão Reserva 2003 e 2004
Quinta de Pancas Special Selection, Cabernet 2003
Quinta de Pancas, Chardonnay e Arinto 2005
Quinta de Alcube Reserva 2003 e 2004
Porto Vintage Fonseca Guimaraens 85, 88, 2004
Quinta do Vale Meão Vintage 2004
Nieport Vintage 2003

Destes destacamos o já referido espumante Murganheira Malvasia Fina; o Quinta de La Rosa Reserva, uma multidão de aromas e sabores parcialmente proveniente de vinhas velhas de castas misturadas (ou mesmo desconhecidas…); o Quinta do Monte d’Oiro, com um belo e elegante corpo proporcionado pela Syrah, muito quente e aromático; o Contra-Corrente de Carlos Campolargo, um Cabernet extraordinário que, em conjunto com o Quinta de Pancas Special Selection, é a prova de que não é em França que se encontram os melhores vinhos desta casta francesa; o Vinha do Almo Escolha, que nos encheu a alma e pode vir a ser um dos vinhos de topo do Alentejo; e os Vintage da Fonseca Guimaraens, que nos mostraram como um Porto desta categoria é algo à parte, assim como que um Rolls Royce dos néctares vínicos.

Em jeito de conclusão, estes eventos são extremamente úteis, não só para conhecer uma parte importante do que está disponível no mercado, mas também como veículo de evolução para quem melhor quer conhecer o vinho e as suas nuances. E, tal como já acontece no futebol, o sexo feminino marcava assinalável presença na multidão de visitantes. Ainda bem, que vinho não é coisa de homens, mas sim de apreciadores.
Para o ano, se a vida nos deixar, lá estaremos.

tuguinho e Kroniketas, apreciadores da vida airada

quarta-feira, 8 de novembro de 2006

No meu copo 67 - Vinha da Defesa Rosé 2005

Uma refeição diferente levou-me, um destes fins-de-semana, a fazer uma prova diferente com o núcleo duro dos “Comensais dionisíacos”. Planeada a confecção dos saborosos filetes de robalo com agrião, para fugir à “ditadura” das carnes, decidi aproveitar a ocasião para fugir também à “ditadura” dos tintos e provar uns rosés que comprei nas feiras de vinhos.
Compareceram à ocasião um Clarete da Quinta do Monte d’Oiro, que o tuguinho já analisou em tempos, e um Vinha da Defesa, rosé, da Herdade do Esporão.
O tempo ainda estava quente e o arrefecimento dos líquidos não se processou como era desejável, apesar das várias horas que as garrafas estiveram no frigorífico e de ainda terem passado pelo congelador. Já estou a ver algumas pessoas a arrepelarem-se com esta heresia. Pois é, às vezes o recurso ao congelador, mau grado o que dizem os cânones expressos nos livros, é inevitável e a única solução para arrefecer um vinho até ao ponto desejado (mesmo os tintos no Verão, que normalmente estão mornos). E olhem que alguns críticos menos dogmáticos já o escreveram: um bocado de congelador não traz mal nenhum ao mundo nem ao vinho, desde que não nos esqueçamos dele lá...
Utilizado o termómetro de vinho no Clarete, este acusava 16 graus, que é uma boa temperatura para os tintos. Nem mesmo a manga de refrigeração chegou a tempo. Desta forma, apesar de apresentar uma suavidade assinalável, o Clarete não fez as delícias dos presentes.
A seguir experimentou-se o Vinha da Defesa, que tinha ficado no frio mais algum tempo e já se conseguiu baixar até aos 12 graus (embora o contra-rótulo aconselhasse entre os 8 e os 10). Depois do Clarete, mais seco, este Vinha da Defesa, mais adocicado, feito com as castas Aragonês e Syrah, também não fez o consenso à mesa, parecendo um pouco deslocado naquele filme. O próprio contra-rótulo o indica como bom aperitivo, mas valia a pena ver como se comportava com um prato de peixe, com agrião, ovo cozido, natas e pimenta. Apesar de também não ter brilhado, a metade que sobrou voltou para o frigorífico e no dia seguinte, mais fria, foi consumida com uma tarte de bacalhau com espinafres, e a sensação foi substancialmente diferente. Sem a pimenta e o ovo cozido a baralhar os sabores, o Vinha da Defesa pôde mostrar ali a sua verdadeira face, com outra frescura e os aromas muito mais exuberantes, notando-se algum frutado e um toque a frutos vermelhos.
É de facto um bom vinho para aperitivo, dada a sua delicadeza, pelo que poderá ser convenientemente apreciado com entradas não muito condimentadas, mas que merecerá, certamente, uma segunda prova para tirar as dúvidas. Sobretudo depois de devidamente refrescado.

Kroniketas, enófilo esclarecido

Vinho: Vinha da Defesa 2005 (R)
Região: Alentejo (Reguengos)
Produtor: Herdade do Esporão
Grau alcoólico: 12,5%
Castas: Aragonês, Syrah

Preço em feira de vinhos: 4,58 €
Nota (0 a 10): 6,5

domingo, 5 de novembro de 2006

No meu copo 66 - Vinho Verde Espumante - Torre de Menagem Reserva Bruto 2004

O feriado de 1 de Novembro deu-me a oportunidade de me deslocar ao Festival de Gastronomia de Santarém. Nem sempre a oportunidade pode ser aproveitada, mas desta vez fez-se por isso, tal como o ano passado.
Como à noite havia jogo para ir ver ao estádio, o passeio foi planeado para o almoço. Apesar de nos termos deslocado cedo (antes das 12:30 já lá estávamos), deparámos com um cenário que não esperávamos: as tasquinhas repletas de gente a almoçar e muito mais gente à espera. Ficámos a pensar se terão ido para lá à hora do pequeno-almoço.
Dando uma volta pelo recinto para identificar a oferta, verificámos que os presentes são praticamente os mesmos do ano passado, nos mesmos locais. Perante tão densa multidão, havia que escolher um local para abancar e ficar à espera de vez. Ao passarmos num restaurante do Minho, gostámos do aspecto dum prato que vimos na mesa e decidimos ficar por ali e dar o nome. Eram 7 pessoas (2 casais e 3 filhos), pelo que se afigurava difícil conseguir mesa nos próximos minutos. Assim, aproveitámos para ir tentar comer uma sopa da pedra ali perto, noutra tasquinha do Ribatejo, mas ao balcão. Depois de esperar pacientemente por uma aberta, lá conseguimos pedir 4 malgas de sopa, que estava um pouco insossa e pouco apaladada para o que é habitual (até porque ainda nos lembrávamos da do ano anterior). Mas dado o tempo de espera, sempre aconchegou o estômago dos 4 resistentes.
Voltámos à tasquinha do Minho, pertencente ao restaurante Torres, de Vila Verde. Quando chegou a nossa vez de abancar pedimos duas doses e rojões e um costeletão de boi azeitado, para 2 pessoas, além de um caldo verde e um mini-prato de papas de sarrabulho. Não foi fácil de despachar, este.
Os rojões estavam muito tenros e saborosos, com um toque de cominhos no tempero, mas a mim coube enfrentar o costeletão de boi, já fatiado e mal passado como se impunha. Bastante saboroso e igualmente tenro.
Para acompanhar estes pitéus, resolvemos experimentar uma novidade: um espumante de vinho verde. De seu nome, Torre de Menagem, pertencente à sub-região de Monção e feito com 95% da casta Alvarinho e 5% de Trajadura. E foi uma surpresa muito agradável. Eu, que costumo elogiar o Murganheira, fiquei rendido a este tipo de espumante. Com uma cor citrina brilhante, muito aromático e frutado, com um toque a maçã, de grande frescura na boca, bastante suave, com bolha muito fina e sem ser gasoso em excesso, é um espumante guloso, que apetece ir bebendo sem pensar na comida, quase como se de refresco se tratasse. Quase despejámos a primeira garrafa enquanto esperávamos pelos pratos. Mas cuidado com os 13% de álcool, pois corremos o risco de, sem dar por isso, ficarmos incapazes de nos levantarmos da cadeira.
Este entrou directamente para a nossa lista de preferências, o que levou a fazer uma actualização nas nossas escolhas para incluir o grupo dos espumantes, que estava esquecido. Este espumante deixou-me de sobreaviso para os espumantes de vinho verde, que a julgar por este parecem ter grandes potencialidades para se impor rapidamente no panorama nacional, destronando alguns clássicos da Bairrada e de Távora-Varosa e, sobretudo, deixando a grande distância a maioria dos que se fazem nas outras regiões.
Para finalizar a visita, ainda fomos comer a sobremesa a uma tasquinha de Portalegre, do restaurante “A gruta”, onde tal como há um ano saboreámos a deliciosa encharcada alentejana, polvilhada com canela. É difícil haver doce melhor que aquele, e os alentejanos são mestres em doces. Não é, Pingus Vinicus?

Kroniketas, enófilo esclarecido

Vinho: Torre de Menagem Reserva, Espumante Bruto 2004 (B)
Região: Vinhos Verdes (Monção)
Produtor: Quintas de Melgaço, Agricultura e Turismo, SA
Grau alcoólico: 13%
Castas: Alvarinho (95%), Trajadura

Preço no restaurante: 13,50 €
Nota (0 a 10): 9

sexta-feira, 3 de novembro de 2006

No meu copo 65 - Caves Velhas, 3 “terroirs”; Caves São João Reserva 85


O FC Porto-Benfica de sábado serviu de pretexto para dar um primeiro passo na operação “O desbaste da garrafeira - fase 1”. Perante o excesso de stock que de momento se verifica nas nossas garrafeiras após as compras das feiras, as Krónikas Vinícolas empenham-se no fornecimento dos líquidos para os repastos que se querem frequentes.
Compareceram à chamada o tuguinho (escreve-se sempre com minúscula), o Kroniketas, o Mancha na qualidade de anfitrião, o Pirata e ainda o Politikos na qualidade de artista convidado. Faltou o Caçador, que anda entretido com a caça (vamos ver se dali sai algum material para mais um repasto).
Não tendo havido acordo prévio acerca dos vinhos a servir, decidimos escolher, cada um, dois grupos de 3 garrafas de uma região, para depois submeter à votação.

O tuguinho apresentou 3 varietais do Douro:
- 1 Quinta da Urze Touriga Nacional
- 1 Quinta do Cachão Tinta Roriz
- 1 Quinta do Cachão Tinto Cão
A estes juntaram-se 3 vinhos de Castelão feitos pelas Caves Velhas em 3 regiões diferentes:
- 1 no Ribatejo
- 1 na Estremadura
- 1 em Palmela
O Kroniketas optou por 3 varietais da Casa Cadaval:
- 1 Trincadeira Preta
- 1 Merlot
- 1 Pinot Noir
Como segundo grupo apresentou 3 relíquias da Bairrada:
- 1 Messias Garrafeira de 83
- 1 Vilarinho do Bairro Garrafeira de 83
- 1 Caves São João Reserva de 85
Apareceram ainda um Reserva do Esporão de 1990, levado pelo Pirata, e um Herdade do Pinheiro levado pelo Politikos. O aspecto geral do painel era o que se pode ver no post introdutório a este.

Apesar da insistência do tuguinho, os varietais do Douro foram desde logo rejeitados, porque ninguém estava para aí virado, até porque era inoportuno. Levar vinho do Douro em dia de Porto-Benfica só podia dar azar.
Acabámos por escolher os 3 Caves Velhas, uma compra partilhada de há alguns anos que nos despertou a atenção por terem sido elaborados com a casta Castelão cultivada em 3 regiões diferentes, daí o conjunto ser conhecido como 3 “terroirs”. Deixou-se a respirar o Caves São João, depois de devidamente decantado, para apreciar lá mais para o fim.
Para o repasto compraram-se uns bifes de vazia do Brasil, bem assessorados por uma dose extra de medalhões do lombo da raça Angus. Para a cozinha avançou o Kroniketas, tendo os ditos sido temperados com sal e pimenta e fritos em margarina a que se juntou limão, mostarda, natas e ervas de Provence, que deram um toque aromático excelente. Depois de fritos no ponto certo para deixar a carne tenra e ainda bem rosada, juntaram-se umas gotas de whisky ao molho que ferveu um pouco para engrossar. Regaram-se os bifes com o molho e serviram-se acompanhados por uma dose generosa de batatas fritas.

Passou-se então à degustação dos vinhos.
Começou-se a contenda pelo Caves Velhas do Ribatejo, que pela análise do aroma nos pareceu ser o “mais pronto” para ser bebido. O dito aroma era a frutos vermelhos maduros, o corpo era médio e na boca também se mostrou meão.
Seguiu-se o da Estremadura: o aroma estava um bocado sujo e na boca surgiu com um ligeiro gás a torná-lo desagradável. Parecia demasiado evoluído, mas como muita coisa na vida, nem tudo o que parece é - depois de estagiar por minutos nos copos esse gasoso foi-se e mostrou-se um vinho que, embora não sendo um portento de corpo, revelou sabores que só se apanham num vinho com alguns anos e acabou por ultrapassar o do Ribatejo nas opiniões dos convivas.
A versão Palmela mostrou o que já esperávamos: um Castelão típico, com o sabor a caramelo característico da casta quando criada na suas região de eleição, um corpo razoável e um fim de boca médio.
Mais do que a qualidade intrínseca de cada vinho, que não era nada de extraordinário, o que foi mais interessante nesta prova foi mesmo ver como a mesma casta, em regiões relativamente próximas e com um tratamento idêntico, deu origem a vinhos tão diferentes.
Deixámos o Bairrada para o fim, por respeito aos mais velhos. Mostrou-se saudável, com bons aromas e algo delgado de corpo, embora já não estivesse no seu auge - um Bairrada à moda antiga, daqueles que já se fazem pouco hoje em dia mas que dão muita satisfação a quem sabe esperar para os beber.
Enfim, foi melhor o repasto do que o resultado do futebol.

tuguinho e Kroniketas, enófilos e tudo

Vinhos: Castelão 2000 (T)
Regiões: Ribatejo, Estremadura e Palmela
Produtor: Caves Velhas
Grau alcoólico: 12%
Preço: não disponível
Nota (0 a 10): 6,5


Vinho: Caves São João Reserva 85
Região: Bairrada
Produtor: Caves São João
Grau alcoólico: 12,5%
Preço: cerca de 1600 $
Nota (0 a 10): 7

quinta-feira, 2 de novembro de 2006

Novas actualizações

A nossa lista de sugestões sofreu nova actualização, tendo sido acrescentado um branco do Dão e um grupo que estava em falta, o dos espumantes, com um da região de Távora-Varosa e um espumante de vinho verde. A nossa organização dos tipos de vinhos tem merecido alguns comentários discordantes por causa da separação dos vinhos verdes dos restantes, mas consideramos que esse agrupamento faz sentido assim, tal como consideramos que faz sentido que também os espumantes estejam num grupo à parte. É este o nosso critério, parece-nos que é o mais lógico e compreensível e é o que vamos manter. Aliás, este critério é corroborado pela organização do guia de compras da Revista de Vinhos, bem como do guia de João Paulo Martins, que seguem a mesma separação de espumantes e verdes em relação aos restantes.

Passamos então a ter 115 vinhos: 2 espumantes, 3 rosé, 8 verdes, 13 brancos e 89 tintos.
São:
- 39 do Alentejo
- 13 da Bairrada
- 3 de Bucelas
- 15 do Dão
- 15 do Douro
- 4 da Estremadura
- 6 do Ribatejo
- 1 de Távora-Varosa
- 8 de Terras do Sado
- 2 de Trás-os-Montes
- 9 dos Vinhos Verdes

A partir de agora passamos também a apresentar o grau alcoólico dos vinhos provados. Todos aqueles que foi possível obter estão já indicados na respectiva ficha.

Kroniketas, enófilo organizado

Mais comes e bebes

Ainda decorre até Domingo o 26º Festival Nacional de Gastronomia, na Casa do Campino em Santarém. Hoje mesmo começou o Festival Internacional de Chocolate de Óbidos, que vai decorrer até ao próximo dia 12. São muitos programas em pouco tempo, para quem quiser aproveitar.

Kroniketas, gastrónomo informado

quarta-feira, 1 de novembro de 2006

No meu copo 64 - Quinta de Cidrô Reserva, Chardonnay 2004

Já há bastante tempo que não bebia um vinho exclusivamente da casta Chardonnay. Este Quinta de Cidrô foi uma das promoções que acompanham a Revista de Vinhos, a 5,95 €.
Trata-se dum vinho fermentado em madeira, com 14% de álcool. Apresenta uma cor palha, um pouco carregada, e aromas amanteigados. Na boca o elevado grau alcoólico torna-se um pouco agressivo, ao mesmo tempo que a madeira o torna mais robusto do que é habitual nos vinhos brancos. O toque amanteigado faz-se também sentir na boca, formando um conjunto que se torna enjoativo para o meu paladar.
Só na segunda prova, com um prato de bacalhau no forno regado com azeite, é que o vinho se mostrou adequado para o prato. Trata-se, efectivamente, de um daqueles brancos que pedem um prato forte, como o bacalhau ou um pargo no forno, com uma boa dose de temperos, pois com pratos mais delicados o vinho sobressai em demasia, abafando os sabores do prato.
Em todo o caso, no conjunto não me encantou. Não é o meu género de branco, porque, seguindo a moda actual, tem álcool em excesso, a meu ver desnecessariamente. 14 graus de álcool para um branco parece-me francamente exagerado. Gosto de brancos mais suaves e delicados, necessariamente com menor grau alcoólico. No entanto, esta característica poderá ser compensada com o prato. O que menos me agradou, definitivamente, foi esta predominância da manteiga, típica do Chardonnay, de que já não me recordava e que é um dos aromas que não me agradam num vinho. Por isso estarei atento para evitar os vinhos desta casta vinificada isoladamente.

Kroniketas, enófilo esclarecido

Vinho: Quinta de Cidrô Reserva, Chardonnay 2004 (B)
Região: Trás-os-Montes (regional)
Produtor: Real Companhia Velha
Grau alcoólico: 14%

Casta: Chardonnay
Preço em feira de vinhos: 4,68 €
Nota (0 a 10): 6