terça-feira, 30 de dezembro de 2008

No meu copo 224 - Pago de Los Capellanes Reserva 2001

Terminamos este ano com a referência a um vinho espanhol que o tuguinho recebeu como oferta. Um dia juntámos os bandalhos do costume e abrimos a garrafa. A expectativa era elevada porque se tratava dum vinho da Ribera del Duero, a região espanhola “gémea” do Douro.
No entanto, ficou um pouco aquém do que se esperava, talvez por ter ultrapassado o ponto óptimo de consumo, mas tendo em conta a sua feitura (18 meses em barricas novas de carvalho francês, mais 20 meses em garrafa) e as castas utilizadas, seria expectável que se tratasse dum vinho com longevidade. Com esta idade certamente estaria num ponto alto de evolução.
Contudo mostrou-se discreto no aroma, não mostrou uma grande estrutura nem grande persistência e terminou de forma média. A força do Tempranillo estava presente, mas não o suficiente para dar ao vinho a complexidade que se esperava.
Em suma, um vinho para agradar mas não para encantar.

E com isto terminamos desejando a todos um bom ano de 2009... com boas provas.

tuguinho e Kroniketas, enófilos e tal em tempo de Natal

Vinho: Pago de Los Capellanes Reserva 2001 (T)
Região: Ribera del Duero (Espanha)
Produtor: Pago de Los Capellanes - Pedrosa de Duero - Burgos
Grau alcoólico: 13,5%
Castas: Tempranillo (90%), Cabernet Sauvignon (10%)
Preço: desconhecido
Nota (0 a 10): 7,5

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

No meu copo 223 - Quinta dos Carvalhais 2002

Devo estar com azar. Ainda não acertei com um destes novos vinhos da Quinta dos Carvalhais que me enchesse as medidas. Com esta colheita de 2002 voltou a acontecer. Achei alguma falta de intensidade aromática, de estrutura, de persistência, em suma desiludiu-me.
De um vinho da Sogrape espera-se sempre mais e melhor e tratando-se do Dão espera-se principalmente um aroma profundo e elegância. Mas aqui não encontrei nada de especial. Achei-o demasiado simples e linear. Vamos aguardar por outros produtos. Decididamente, este não faz esquecer o desaparecido Dão Sogrape Reserva.

Kroniketas, enófilo esclarecido

Vinho: Quinta dos Carvalhais 2002 (T)
Região: Dão
Produtor: Sogrape
Grau alcoólico: 13%
Castas: Touriga Nacional, Tinta Roriz, Alfrocheiro
Preço com a Revista de Vinhos: 5,95 €
Nota (0 a 10): 7

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

No meu copo 222 - Quinta do Cardo 2004

Proveniente da vinha mais alta de Portugal, a 700 m de altitude em Figueira de Castelo Rodrigo, este vinho da Quinta do Cardo faz parte da nova linha de produtos da Companhia das Quintas intitulada “The Quinta Collection”, que está associada às diversas quintas de que a empresa é proprietária de norte a sul do país.
Apresentou uma cor carregada e no primeiro ataque na boca apareceu bastante agreste, com boa estrutura, taninos muito vivos e a precisar de amaciar e os aromas muito fechados, o que requereu desde logo a decantação. Amaciou depois de decantado e à medida que foi evoluindo com o arejamento começou a mostrar nuances de compota, à mistura com algum floral no aroma. A madeira está presente mas discreta conferindo complexidade ao conjunto. O álcool está bem presente mas sem se tornar cansativo. Boa persistência em final longo e ligeiramente especiado.
Ainda não tinha provado este vinho e foi uma boa revelação. Parece ter garra e estrutura suficientes para evoluir positivamente na garrafa durante algum tempo. É um vinho para se bater com pratos condimentados e a pedir vinhos poderosos. Gostei bastante e é um daqueles casos em que o preço não denota tudo o que está dentro da garrafa.

Kroniketas, enófilo esclarecido

Vinho: Quinta do Cardo 2004 (T)
Região: Beira Interior (Castelo Rodrigo)
Produtor: Companhia das Quintas
Grau alcoólico: 14,5%
Castas: Touriga Nacional, Tinta Roriz
Preço em feira de vinhos: 3,59 €
Nota (0 a 10): 8

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

No meu copo, na minha mesa 221 - Neethlingshof, Merlot 2001; Stellenzicht, Shiraz 2000; Restaurante A Carvoaria










Um regresso à Carvoaria, restaurante sul-africano de Cascais, para responder ao desafio de comer um bife tártaro: estamos a falar de carne crua picada. O prato tem de ser encomendado de véspera para que a carne seja devidamente preparada de modo a ficar comestível.
Antes do início das hostilidades o dono veio trazer-nos uma pequena porção para darmos a nossa impressão acerca dos temperos. Um deles era um picante intenso, de que eu abdiquei. Mesmo assim o meu prato estava picante, embora menos que os dos outros comparsas.
Em pequenas garfadas lá se foi comendo o bife tártaro, sem fazer grande sacrifício. Como eu gosto de bifes mal passados o facto de a carne estar crua não me repugna. Valeu como experiência mas, de qualquer modo, não fiquei grande fã. Apesar de tudo prefiro algum cozinhado, mesmo que pouco.
Para acompanhar voltámos aos vinhos sul-africanos, tal como na visita anterior. Entre vários nomes totalmente desconhecidos, começámos por escolher um monocasta de Merlot. Apresentou-se com uma cor rubi aberta, macio e suave, com corpo e persistência média, medianamente frutado com nuances de cereja e alguma hortelã, grau alcoólico elevado razoavelmente disfarçado. Aconselhado para pratos não muito robustos.
Esgotada a primeira garrafa, optámos a seguir por outro varietal mas desta vez de Syrah (ou Shiraz na designação do rótulo). Fermentado em carvalho francês e americano, apresentou-se mais encorpado, com notas marcantes a especiarias e bouquet mais profundo, com boa persistência final. Muito mais adequado aos sabores do bife tártaro e capaz de se bater com o picante.
Ambos os vinhos são originários da região de Stellenbosch, situada na província de Western Cape na costa sudoeste do país e no coração da região vitivinícola que circunda a Cidade do Cabo. No caso do segundo, as vinhas estão situadas na costa oeste da montanha Helderberg, entre a cidade de Stellenbosch e o mar em False Bay, a sul de Cape Town.
Neste regresso à Carvoaria repeti as impressões colhidas anteriormente. É um restaurante que se recomenda, onde se come bem e o serviço é simpático e eficiente. Em suma, um lugar agradável de onde se sai satisfeito.

Kroniketas, enófilo esclarecido

Restaurante: A Carvoaria (sul-africano)
Rua João Luís de Moura, 24
2750-387 Cascais
Telef: 21.483.04.06
Preço por refeição: 30 €
Nota (0 a 5): 4,5

Vinho: Neethlingshof, Merlot 2001 (T)
Região: Stellenbosch (África do Sul)
Produtor: Neethlingshof
Grau alcoólico: 14%
Casta: Merlot
Preço no restaurante: 14 €
Nota (0 a 10): 7

Vinho: Stellenzicht, Shiraz 2000 (T)
Região: Stellenbosch (África do Sul)
Produtor: Stellenzicht
Grau alcoólico: 14%
Casta: Shiraz
Preço no restaurante: 14 €
Nota (0 a 10): 8

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

No meu copo 220 - Reservas Sogrape: o adeus


Foram cerca de 15 anos e quase 30 colheitas diferentes provadas entre 4 regiões: Douro, Dão, Bairrada e Alentejo (talvez não por acaso, um dos vinhos da Sogrape que nos encantou e que referimos mais de uma vez chamava-se precisamente Quatro Regiões). Foi um caso de amor à primeira vista e de paixão duradoura e correspondida, daquelas “até que a morte nos separe”. Neste caso, a separação foi decidida pelo produtor ao decretar a morte destes vinhos.

Ao longo dos 3 anos que este blog hoje completa (e por isso agendámos a publicação deste post para esta data, por uma questão de simbolismo), os vinhos da Sogrape, e estes Reservas em particular, foram os que tiveram direito a mais posts publicados. A nossa paixão pelos vinhos da Sogrape começou precisamente pela descoberta destes Reservas, já referida nos posts 99 e 100.

Desde o Dão 85 e o Douro 87, procurámos sempre ir acompanhando com regularidade as colheitas lançadas, e daí partimos para o alargamento dos nossos conhecimentos dos vinhos da empresa. Quando comecei a constituir uma garrafeira em casa, o Douro Reserva e o Dão Reserva sempre estiveram presentes. Pelo meio foram aparecendo, de forma mais esparsa, alguns Reservas da Bairrada e já no dealbar do século XXI apareceram os Reservas do Alentejo, após o começo da produção de vinho na Herdade do Peso.

Com a diversificação da gama de vinhos nas várias regiões, a empresa decidiu acabar com estes Reservas, um fim que vi anunciado pela primeira vez num dos guias de João Paulo Martins. A princípio custou-me a acreditar mas depois confirmou-se numa das provas de vinhos Sogrape na Wine o’clock. Os Reservas do Douro vão ficar sob a alçada da Casa Ferreirinha, sendo o Vinha Grande o seu sucessor natural (embora, insisto, o ache inferior), os Reservas do Dão são substituídos pela gama da Quinta dos Carvalhais e os Reservas do Alentejo ficam naturalmente integrados na nova linha da Herdade do Peso. Os Reservas da Bairrada sempre foram mais escassos e actualmente a empresa apenas investe na marca Terra Franca e ainda há um garrafeira por aí.

É claro que esta nova gama, bastante alargada, teoricamente substitui com vantagem cada um dos vinhos referidos. No entanto, daqueles que já tive oportunidade de provar, nenhum tem o mesmo perfil dos Reservas. São novos e são mais, mas são diferentes, por isso vou sentir a falta daqueles.

Estando o nosso stock a chegar ao fim, os Comensais Dionisíacos reuniram-se à mesa a pretexto de um Benfica-Sporting para degustar os últimos exemplares do Douro 2001, Dão 2000 e Alentejo 2001.

Já aqui falámos do Douro 2001 e do Dão 2000 noutros posts. Mantiveram aquilo que se esperava e, na minha opinião (que não foi unânime), o Douro continuou a mostrar-se o melhor, com um bouquet profundo e exuberante a fruto maduro, grande elegância e boa estrutura na prova de boca.

O Dão continua com um perfil um pouco menos polido mas mesmo assim bastante redondo e adequado para pratos de carne requintados mas com alguma pujança.

Finalmente o Alentejo, com duas colheitas algo diferentes. O 2001 com bom corpo mas com o aroma algo discreto, talvez a colheita menos conseguida das que provámos. Esquecida estava a última garrafa de 2000, já consumida noutra ocasião, que confirmou a prova anterior: uma grande estrutura e aromas exuberantes, um vinho com tudo no sítio. A primeira vez que provei um destes Reservas, no fim-de-ano de 2003, foram duas garrafas de 1999 e a primeira sensação foi precisamente essa: um vinho com tudo no sítio certo. Pena que tenha tido uma vida tão curta.
Em comum entre estes vinhos está o facto de todos terem um estágio de um ano em madeira seguido de mais algum tempo em garrafa, no mínimo 6 meses. Daí resulta saírem para o mercado já com alguns anos de existência e com os aromas bem casados. Não nos vamos repetir nas apreciações feitas anteriormente, pelo que quem quiser ler mais considerandos pode encontrá-los nos posts indicados:

- Douro Sogrape Reserva 2001
- Douro Sogrape Reserva 2000
- Dão Sogrape Reserva 2000
- Dão Sogrape Reserva 99
- Bairrada Sogrape Garrafeira 99
- Alentejo Sogrape Reserva 2000
- Quatro Regiões 97 (1) e (2)

Para perpetuar a memória, guardei uma garrafa do último Dão e do último Alentejo como recordação do rótulo algo “sui generis”. E para contrariar o destino, ainda me deparei com umas garrafas do Douro Reserva 2002 no Jumbo e na Makro (deve ser mesmo a última colheita à venda), e tratei de abastecer a garrafeira antes que acabem. Assim ainda posso prolongar o prazer por mais algum tempo, bebendo-as com parcimónia e com a companhia adequada. E entretanto encontrei um restaurante com uns restos de colecção, mas não vou dizer qual é. Pode ser que ainda consiga ir lá gastá-las...

Kroniketas, enófilo saudoso

Produtor: Sogrape

Vinho: Douro Sogrape Reserva 2001 (T)
Região: Douro
Grau alcoólico: 13,5%
Castas: Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinta Roriz, Tinta Barroca
Último preço: 10,74 €
Nota (0 a 10): 8,5

Vinho: Dão Sogrape Reserva 2000 (T)
Região: Dão
Grau alcoólico: 12,5%
Último preço: 9,89 €
Nota (0 a 10): 8

Vinho: Alentejo Sogrape Reserva 2001 (T)
Região: Alentejo
Grau alcoólico: 13,5%
Castas: Aragonês, Alfrocheiro
Último preço: 11,16 €
Nota (0 a 10): 7,5

Vinho: Alentejo Sogrape Reserva 2000 (T)
Região: Alentejo
Grau alcoólico: 14%
Castas: Aragonês, Alfrocheiro
Último preço: 8,19 €
Nota (0 a 10): 8,5

E vão três


Foi há 5 anos que nos lançámos nesta aventura de escrever num blog. Como em todos os novos amores, começámos cheios de força e entusiasmo, e os textos proliferavam a um ritmo frenético. Por vezes publicávamos vários posts por dia, e o dia-a-dia deste rectângulo tuga, principalmente nas suas vertentes mais… tugas, era alvo frequente de crítica.

O frenesim e a inspiração eram tantos que, para além dos dois escribas que começaram, outros se foram juntando ao leque à medida que começavam a surgir temas com alguma especificidade. O leque de assuntos foi sendo alargado até chegar à vertente gastronómica e vínica. Começámos a escrever algumas sugestões sobre vinhos, a falar sobre aqueles que íamos bebendo e gostando e a certa altura surgiu a ideia (quiçá peregrina, quiçá oportuna) de abrir uma nova secção no blog que se dedicasse especificamente a essa vertente, pois já começavam a aparecer posts em número suficiente para serem publicados autonomamente.

E foi assim que no dia do segundo aniversário das Krónikas Tugas abrimos um blog temático chamado Krónikas Vinícolas. Inicialmente com pouco destaque, quando começou a ser visitado por outros bloguistas dedicados ao mesmo tema (e depois de ter sido referenciado na Revista de Vinhos de Junho de 2006), e quando começámos a interagir com esses mesmos blogs, as visitas dispararam a tal ponto que a certa altura as KV passaram a ter o dobro da audiência diária das KT, não tardando que o blog-filho ultrapassasse o blog-pai em número total de visitas.

Tal como no início, a filosofia subjacente às Krónikas Vinícolas continuou a ser a mesma até hoje em que completa o 3º ano: total independência de tudo e de todos, dependendo apenas dos nossos gostos, das nossas ideias e das nossas convicções. O que escrevemos neste blog pode entrar em choque com outras opiniões, mas estas são as nossas e delas não abdicamos para ser politicamente correctos. Sabemos que podemos ir por vezes contra a corrente, mas como não devemos favores nem obrigações a ninguém não temos que nos subjugar aos gostos dominantes.

Também não temos a pretensão de dar lições a ninguém nem nos julgamos o supra-sumo de nada, assim como não pretendemos provar mais vinhos que os outros nem ufanarmo-nos de que provamos os que são considerados os melhores. Como não temos contactos com nenhum produtor nem temos acesso a vinhos grátis, tudo o que aqui provamos sai-nos do bolso, e não é pouco. Já gastamos demais em compras e mesmo assim não conseguimos abarcar tudo o que eventualmente gostaríamos. E muitas vezes há que fazer escolhas entre comprar mais e mais barato para poder provar uma maior variedade, ou gastar tudo em meia-dúzia de garrafas. E mesmo quando abrimos os cordões à bolsa para comprar vinhos caros, não nos sentimos obrigados a colocá-los nos píncaros da lua só porque isso pode parecer bem. A esse propósito lembro-me sempre de um post no “Os 5 às 8” (depois repetido no Nova crítica) a propósito do Barca Velha 95, em que Pedro Gomes dizia que há muito tempo acreditava na máxima que “os mitos também se abatem”, e terminava com 16,5 pontos...

O que pretendemos com este blog é, e sempre foi, apenas isso: ir vertendo na escrita as impressões que foram vertidas do copo. Não somos produtores, enólogos, distribuidores, revendedores, jornalistas nem escritores, não pretendemos editar livros, ministrar cursos nem ser críticos especializados. Somos apenas amantes da coisa: é isso que quer dizer “enófilo”. Não provamos, nem compramos, vinhos de propósito para os mostrar no blog; vamos é mostrando no blog a maior parte dos vinhos que nos passam pela mesa, e sempre que as impressões recolhidas o permitam. Por vezes juntamo-nos, provamos um ou vários vinhos de que gostamos e no fim não escrevemos sobre eles, porque estivemos mais atentos ao convívio do que propriamente às notas de prova. Em resumo, quando achamos que vale a pena escrever sobre um vinho, qualquer que ele seja, fazemo-lo: seja caro ou barato, muito bom ou muito mau (com toda a subjectividade que esta opinião contém). Por isso muitas vezes apresentamos provas de vinhos que alguns, dizendo-se entendidos, vêm para aqui verberar aproveitando para desdenhar das nossas opiniões, mas a esses simplesmente ignoramo-los porque não têm nada para nos ensinar a não ser um chorrilho de baboseiras.

Quanto aos nossos comparsas eno-bloguistas e a todos aqueles que connosco querem partilhar as suas provas, são sempre lidos com atenção e consideração e tentamos sempre aprender alguma coisa com as suas opiniões, mesmo que discordantes das nossas, pois é muitas vezes aí que podemos melhorar um bocadinho.

E agora, que venha mais um ano de boas provas. À vossa e à nossa.

Kroniketas, enófilo (algo) esclarecido e tuguinho, enófilo (pouco) esforçado

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

No meu copo, na minha mesa 219 - Dona Berta 2005; Restaurante Isaura



Parece mentira mas passaram 12 anos (!!!) desde a última visita a este restaurante de Lisboa, situado entre a Avenida Almirante Reis e a Praça de Londres. Não por nenhuma razão especial mas porque sempre que se falava em ir aqui acabava-se sempre por escolher outro. E como tínhamos memórias das visitas anteriores… Foi aqui que pela primeira vez provámos o Luís Pato Vinhas Velhas, foi aqui que em Fevereiro de 96 decidimos provar o Barca Velha de 83, foi aqui que assistimos a um fascinante ritual de decantação e serviço do vinho num carrinho com os copos e o decanter aquecidos e com uma vela por baixo. O que nós aprendemos desde essa altura...
Finalmente decidi-me a lá voltar. O famoso escanção Sr. Costa continua lá a brindar-nos com o seu desvelo pelo vinho, a garrafeira continua incomparável, a carta de vinhos é mais uma enciclopédia que uma carta. Para os amantes do vinho é indispensável fazer uma visita a este verdadeiro templo de Baco e deixar-se guiar pelos sábios conselhos do Sr. Costa.
Quanto à ementa, destaque para as carnes, com diversos tipos de bifes. Aqui a opção recaiu no bife à Isaura, com um molho especial e ovo a cavalo, acompanhado por batatas fritas e esparregado. Mal passado e muito tenro e suculento, irrepreensível.
No que respeita ao vinho, olhámos para as imensas prateleiras repletas de garrafas, vimos o preço na enorme carta e tentámos escolher um que não queimasse muito (felizmente no Isaura os preços do vinho, ao contrário da generalidade dos restaurantes portugueses, não são obscenos e pode-se escolher bons vinhos por preços relativamente acessíveis). Como apontámos para um vinho do Douro, o Sr. Costa interveio e sugeriu-nos o Dona Berta Reserva 2005, que disse que iria bem com os bifes. Assim se fez.
Aqui começou o ritual. Lá veio o carrinho de serviço com o decanter e os copos adequados, o vinho foi cuidadosamente vertido com a vela por baixo para ver se não escorre nenhum depósito do vinho e finalmente foi colocada uma pinga em cada copo, previamente agitado e cheirado pelo Sr. Costa antes de ser colocado na mesa para os comensais provarem. Serviço 5 estrelas!
Quanto ao vinho, prima mais pela suavidade que pela pujança e a exuberância frutada que marcam a tendência actual, e apresenta um grau alcoólico aceitável, o que é uma ilha no meio da corrente. Contudo pareceu-me algo curto na prova de boca, deixando a ideia que ganharia com mais alguma estrutura e persistência. Será adequado para pratos não muito carregados de temperos. É um vinho correcto e agradável, pronto a deixar-se beber, mas talvez um pouco linear. Pelo preço que custa espera-se um pouco mais.

Kroniketas, enófilo esclarecido

Restaurante: Isaura
Avenida de Paris, 4-B
1000-228 Lisboa
Telef: 21.848.08.38
Nota (0 a 5): 4,5

Vinho: Dona Berta Reserva 2005 (T)
Região: Douro
Produtor: Hernâni Verdelho
Grau alcoólico: 13%
Castas: Tinta Roriz, Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinta Barroca, Tinto Cão
Preço no restaurante: 22 €
Nota (0 a 10): 7,5

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

No meu copo 218 - CR&F Colheita Seleccionada 2004

A Carvalho, Ribeiro & Ferreira tornou-se conhecida principalmente pelas suas aguardentes, tendo complementado com alguns vinhos a sua presença no mercado. Nos meus primeiros tempos de exploração vínica existiam à venda alguns vinhos da empresa no Douro, Dão e Bairrada. Lembro-me também de um branco seco das Beiras, de um Garrafeira sem denominação de origem nos anos 80 e 90 e, principalmente, de um Garrafeira de 1980 da Bairrada que fez as minhas delícias há uns 10 anos, de que ainda me restam 3 exemplares e de que um dia falarei.
Depois a marca desapareceu das prateleiras até que há 2 anos reapareceu com um vinho alentejano de 2004. Fiquei curioso e resolvi comprar um exemplar.
Tendo neste momento 4 anos, posso dizer que esperava mais. Parece-me que falta ali alguma estrutura e algum aroma. O grau alcoólico é elevado e dá algum desequilíbrio ao conjunto. Ou seja, não deixa grandes memórias.
Fico a aguardar o que se seguirá. Se é para manter uma produção regular ou apenas esporádica e em que termos. A marca e os activos da “Carvalho Ribeiro & Ferreira” foram comprados pela Cockburn's que ficou com as aguardentes e agora lançou este vinho no Alentejo. Agora há que esperar por próximos lançamentos.

Kroniketas, enófilo esclarecido

Vinho: CR&F Colheita Seleccionada 2004 (T)
Região: Alentejo
Produtor: Cockburn Smithes & Cª
Grau alcoólico: 14%
Preço em feira de vinhos: 5,98 €
Nota (0 a 10): 6

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

No meu copo 217 - Montes Claros Reserva 2004

Eis que finalmente tive oportunidade de provar o vinho da polémica. Pontuado com 18 pela Blue Wine, foi alvo de variadas apreciações na blogosfera por parte dos comparsas eno-bloguistas. A maioria em sinal de discordância.

E o que posso eu dizer sobre o dito cujo? Para não repetir o que já foi dito no Copo de 3 e no Pingas no Copo, no Pingamor, no Vinho a Copo, no Vinho da Casa e n’Os vinhos, prefiro remeter para os posts escritos por eles e dizer que não me parece que o vinho justifique tamanha pontuação. Claro que a nota da Blue Wine é que trouxe o vinho para a ribalta e obrigou a que se falasse dele e fez com que muita gente o fosse provar, o que deve ter rendido uma boa maquia à Adega Cooperativa de Borba.

Medianamente encorpado, com boa persistência e aromas não muito exuberantes, bebe-se com agrado mas se o provarmos com a expectativa de valer 18 pontos vamos apanhar uma desilusão. Numa escala de 20 não lhe daria mais de 15. Assim dou-lhe 7,5 na minha escala de 10. E está tudo dito. Sim, é bom, mas não exageremos. Prefiro claramente o Reserva do rótulo de cortiça.

Kroniketas, enófilo esclarecido

Vinho: Montes Claros Reserva 2004 (T)
Região: Alentejo (Borba)
Produtor: Adega Coop. Borba
Grau alcoólico: 14%
Castas: Aragonês, Trincadeira, Cabernet Sauvignon, Tinta Caiada
Preço em feira de vinhos: 5,77 €
Nota (0 a 10): 7,5


Outras provas:
Copo de 3: 16 (em 20)
Os Vinhos: 15,5/16 (em 20)
Pingamor: 16,5 (em 20)
Pingas no Copo: 15,5 (em 20)
Vinho a Copo: 2 (em 5)
Vinho da Casa: 17 (em 20)