terça-feira, 30 de dezembro de 2008

No meu copo 224 - Pago de Los Capellanes Reserva 2001

Terminamos este ano com a referência a um vinho espanhol que o tuguinho recebeu como oferta. Um dia juntámos os bandalhos do costume e abrimos a garrafa. A expectativa era elevada porque se tratava dum vinho da Ribera del Duero, a região espanhola “gémea” do Douro.
No entanto, ficou um pouco aquém do que se esperava, talvez por ter ultrapassado o ponto óptimo de consumo, mas tendo em conta a sua feitura (18 meses em barricas novas de carvalho francês, mais 20 meses em garrafa) e as castas utilizadas, seria expectável que se tratasse dum vinho com longevidade. Com esta idade certamente estaria num ponto alto de evolução.
Contudo mostrou-se discreto no aroma, não mostrou uma grande estrutura nem grande persistência e terminou de forma média. A força do Tempranillo estava presente, mas não o suficiente para dar ao vinho a complexidade que se esperava.
Em suma, um vinho para agradar mas não para encantar.

E com isto terminamos desejando a todos um bom ano de 2009... com boas provas.

tuguinho e Kroniketas, enófilos e tal em tempo de Natal

Vinho: Pago de Los Capellanes Reserva 2001 (T)
Região: Ribera del Duero (Espanha)
Produtor: Pago de Los Capellanes - Pedrosa de Duero - Burgos
Grau alcoólico: 13,5%
Castas: Tempranillo (90%), Cabernet Sauvignon (10%)
Preço: desconhecido
Nota (0 a 10): 7,5

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

No meu copo 223 - Quinta dos Carvalhais 2002

Devo estar com azar. Ainda não acertei com um destes novos vinhos da Quinta dos Carvalhais que me enchesse as medidas. Com esta colheita de 2002 voltou a acontecer. Achei alguma falta de intensidade aromática, de estrutura, de persistência, em suma desiludiu-me.
De um vinho da Sogrape espera-se sempre mais e melhor e tratando-se do Dão espera-se principalmente um aroma profundo e elegância. Mas aqui não encontrei nada de especial. Achei-o demasiado simples e linear. Vamos aguardar por outros produtos. Decididamente, este não faz esquecer o desaparecido Dão Sogrape Reserva.

Kroniketas, enófilo esclarecido

Vinho: Quinta dos Carvalhais 2002 (T)
Região: Dão
Produtor: Sogrape
Grau alcoólico: 13%
Castas: Touriga Nacional, Tinta Roriz, Alfrocheiro
Preço com a Revista de Vinhos: 5,95 €
Nota (0 a 10): 7

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

No meu copo 222 - Quinta do Cardo 2004

Proveniente da vinha mais alta de Portugal, a 700 m de altitude em Figueira de Castelo Rodrigo, este vinho da Quinta do Cardo faz parte da nova linha de produtos da Companhia das Quintas intitulada “The Quinta Collection”, que está associada às diversas quintas de que a empresa é proprietária de norte a sul do país.
Apresentou uma cor carregada e no primeiro ataque na boca apareceu bastante agreste, com boa estrutura, taninos muito vivos e a precisar de amaciar e os aromas muito fechados, o que requereu desde logo a decantação. Amaciou depois de decantado e à medida que foi evoluindo com o arejamento começou a mostrar nuances de compota, à mistura com algum floral no aroma. A madeira está presente mas discreta conferindo complexidade ao conjunto. O álcool está bem presente mas sem se tornar cansativo. Boa persistência em final longo e ligeiramente especiado.
Ainda não tinha provado este vinho e foi uma boa revelação. Parece ter garra e estrutura suficientes para evoluir positivamente na garrafa durante algum tempo. É um vinho para se bater com pratos condimentados e a pedir vinhos poderosos. Gostei bastante e é um daqueles casos em que o preço não denota tudo o que está dentro da garrafa.

Kroniketas, enófilo esclarecido

Vinho: Quinta do Cardo 2004 (T)
Região: Beira Interior (Castelo Rodrigo)
Produtor: Companhia das Quintas
Grau alcoólico: 14,5%
Castas: Touriga Nacional, Tinta Roriz
Preço em feira de vinhos: 3,59 €
Nota (0 a 10): 8

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

No meu copo, na minha mesa 221 - Neethlingshof, Merlot 2001; Stellenzicht, Shiraz 2000; Restaurante A Carvoaria










Um regresso à Carvoaria, restaurante sul-africano de Cascais, para responder ao desafio de comer um bife tártaro: estamos a falar de carne crua picada. O prato tem de ser encomendado de véspera para que a carne seja devidamente preparada de modo a ficar comestível.
Antes do início das hostilidades o dono veio trazer-nos uma pequena porção para darmos a nossa impressão acerca dos temperos. Um deles era um picante intenso, de que eu abdiquei. Mesmo assim o meu prato estava picante, embora menos que os dos outros comparsas.
Em pequenas garfadas lá se foi comendo o bife tártaro, sem fazer grande sacrifício. Como eu gosto de bifes mal passados o facto de a carne estar crua não me repugna. Valeu como experiência mas, de qualquer modo, não fiquei grande fã. Apesar de tudo prefiro algum cozinhado, mesmo que pouco.
Para acompanhar voltámos aos vinhos sul-africanos, tal como na visita anterior. Entre vários nomes totalmente desconhecidos, começámos por escolher um monocasta de Merlot. Apresentou-se com uma cor rubi aberta, macio e suave, com corpo e persistência média, medianamente frutado com nuances de cereja e alguma hortelã, grau alcoólico elevado razoavelmente disfarçado. Aconselhado para pratos não muito robustos.
Esgotada a primeira garrafa, optámos a seguir por outro varietal mas desta vez de Syrah (ou Shiraz na designação do rótulo). Fermentado em carvalho francês e americano, apresentou-se mais encorpado, com notas marcantes a especiarias e bouquet mais profundo, com boa persistência final. Muito mais adequado aos sabores do bife tártaro e capaz de se bater com o picante.
Ambos os vinhos são originários da região de Stellenbosch, situada na província de Western Cape na costa sudoeste do país e no coração da região vitivinícola que circunda a Cidade do Cabo. No caso do segundo, as vinhas estão situadas na costa oeste da montanha Helderberg, entre a cidade de Stellenbosch e o mar em False Bay, a sul de Cape Town.
Neste regresso à Carvoaria repeti as impressões colhidas anteriormente. É um restaurante que se recomenda, onde se come bem e o serviço é simpático e eficiente. Em suma, um lugar agradável de onde se sai satisfeito.

Kroniketas, enófilo esclarecido

Restaurante: A Carvoaria (sul-africano)
Rua João Luís de Moura, 24
2750-387 Cascais
Telef: 21.483.04.06
Preço por refeição: 30 €
Nota (0 a 5): 4,5

Vinho: Neethlingshof, Merlot 2001 (T)
Região: Stellenbosch (África do Sul)
Produtor: Neethlingshof
Grau alcoólico: 14%
Casta: Merlot
Preço no restaurante: 14 €
Nota (0 a 10): 7

Vinho: Stellenzicht, Shiraz 2000 (T)
Região: Stellenbosch (África do Sul)
Produtor: Stellenzicht
Grau alcoólico: 14%
Casta: Shiraz
Preço no restaurante: 14 €
Nota (0 a 10): 8

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

No meu copo 220 - Reservas Sogrape: o adeus


Foram cerca de 15 anos e quase 30 colheitas diferentes provadas entre 4 regiões: Douro, Dão, Bairrada e Alentejo (talvez não por acaso, um dos vinhos da Sogrape que nos encantou e que referimos mais de uma vez chamava-se precisamente Quatro Regiões). Foi um caso de amor à primeira vista e de paixão duradoura e correspondida, daquelas “até que a morte nos separe”. Neste caso, a separação foi decidida pelo produtor ao decretar a morte destes vinhos.

Ao longo dos 3 anos que este blog hoje completa (e por isso agendámos a publicação deste post para esta data, por uma questão de simbolismo), os vinhos da Sogrape, e estes Reservas em particular, foram os que tiveram direito a mais posts publicados. A nossa paixão pelos vinhos da Sogrape começou precisamente pela descoberta destes Reservas, já referida nos posts 99 e 100.

Desde o Dão 85 e o Douro 87, procurámos sempre ir acompanhando com regularidade as colheitas lançadas, e daí partimos para o alargamento dos nossos conhecimentos dos vinhos da empresa. Quando comecei a constituir uma garrafeira em casa, o Douro Reserva e o Dão Reserva sempre estiveram presentes. Pelo meio foram aparecendo, de forma mais esparsa, alguns Reservas da Bairrada e já no dealbar do século XXI apareceram os Reservas do Alentejo, após o começo da produção de vinho na Herdade do Peso.

Com a diversificação da gama de vinhos nas várias regiões, a empresa decidiu acabar com estes Reservas, um fim que vi anunciado pela primeira vez num dos guias de João Paulo Martins. A princípio custou-me a acreditar mas depois confirmou-se numa das provas de vinhos Sogrape na Wine o’clock. Os Reservas do Douro vão ficar sob a alçada da Casa Ferreirinha, sendo o Vinha Grande o seu sucessor natural (embora, insisto, o ache inferior), os Reservas do Dão são substituídos pela gama da Quinta dos Carvalhais e os Reservas do Alentejo ficam naturalmente integrados na nova linha da Herdade do Peso. Os Reservas da Bairrada sempre foram mais escassos e actualmente a empresa apenas investe na marca Terra Franca e ainda há um garrafeira por aí.

É claro que esta nova gama, bastante alargada, teoricamente substitui com vantagem cada um dos vinhos referidos. No entanto, daqueles que já tive oportunidade de provar, nenhum tem o mesmo perfil dos Reservas. São novos e são mais, mas são diferentes, por isso vou sentir a falta daqueles.

Estando o nosso stock a chegar ao fim, os Comensais Dionisíacos reuniram-se à mesa a pretexto de um Benfica-Sporting para degustar os últimos exemplares do Douro 2001, Dão 2000 e Alentejo 2001.

Já aqui falámos do Douro 2001 e do Dão 2000 noutros posts. Mantiveram aquilo que se esperava e, na minha opinião (que não foi unânime), o Douro continuou a mostrar-se o melhor, com um bouquet profundo e exuberante a fruto maduro, grande elegância e boa estrutura na prova de boca.

O Dão continua com um perfil um pouco menos polido mas mesmo assim bastante redondo e adequado para pratos de carne requintados mas com alguma pujança.

Finalmente o Alentejo, com duas colheitas algo diferentes. O 2001 com bom corpo mas com o aroma algo discreto, talvez a colheita menos conseguida das que provámos. Esquecida estava a última garrafa de 2000, já consumida noutra ocasião, que confirmou a prova anterior: uma grande estrutura e aromas exuberantes, um vinho com tudo no sítio. A primeira vez que provei um destes Reservas, no fim-de-ano de 2003, foram duas garrafas de 1999 e a primeira sensação foi precisamente essa: um vinho com tudo no sítio certo. Pena que tenha tido uma vida tão curta.
Em comum entre estes vinhos está o facto de todos terem um estágio de um ano em madeira seguido de mais algum tempo em garrafa, no mínimo 6 meses. Daí resulta saírem para o mercado já com alguns anos de existência e com os aromas bem casados. Não nos vamos repetir nas apreciações feitas anteriormente, pelo que quem quiser ler mais considerandos pode encontrá-los nos posts indicados:

- Douro Sogrape Reserva 2001
- Douro Sogrape Reserva 2000
- Dão Sogrape Reserva 2000
- Dão Sogrape Reserva 99
- Bairrada Sogrape Garrafeira 99
- Alentejo Sogrape Reserva 2000
- Quatro Regiões 97 (1) e (2)

Para perpetuar a memória, guardei uma garrafa do último Dão e do último Alentejo como recordação do rótulo algo “sui generis”. E para contrariar o destino, ainda me deparei com umas garrafas do Douro Reserva 2002 no Jumbo e na Makro (deve ser mesmo a última colheita à venda), e tratei de abastecer a garrafeira antes que acabem. Assim ainda posso prolongar o prazer por mais algum tempo, bebendo-as com parcimónia e com a companhia adequada. E entretanto encontrei um restaurante com uns restos de colecção, mas não vou dizer qual é. Pode ser que ainda consiga ir lá gastá-las...

Kroniketas, enófilo saudoso

Produtor: Sogrape

Vinho: Douro Sogrape Reserva 2001 (T)
Região: Douro
Grau alcoólico: 13,5%
Castas: Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinta Roriz, Tinta Barroca
Último preço: 10,74 €
Nota (0 a 10): 8,5

Vinho: Dão Sogrape Reserva 2000 (T)
Região: Dão
Grau alcoólico: 12,5%
Último preço: 9,89 €
Nota (0 a 10): 8

Vinho: Alentejo Sogrape Reserva 2001 (T)
Região: Alentejo
Grau alcoólico: 13,5%
Castas: Aragonês, Alfrocheiro
Último preço: 11,16 €
Nota (0 a 10): 7,5

Vinho: Alentejo Sogrape Reserva 2000 (T)
Região: Alentejo
Grau alcoólico: 14%
Castas: Aragonês, Alfrocheiro
Último preço: 8,19 €
Nota (0 a 10): 8,5

E vão três


Foi há 5 anos que nos lançámos nesta aventura de escrever num blog. Como em todos os novos amores, começámos cheios de força e entusiasmo, e os textos proliferavam a um ritmo frenético. Por vezes publicávamos vários posts por dia, e o dia-a-dia deste rectângulo tuga, principalmente nas suas vertentes mais… tugas, era alvo frequente de crítica.

O frenesim e a inspiração eram tantos que, para além dos dois escribas que começaram, outros se foram juntando ao leque à medida que começavam a surgir temas com alguma especificidade. O leque de assuntos foi sendo alargado até chegar à vertente gastronómica e vínica. Começámos a escrever algumas sugestões sobre vinhos, a falar sobre aqueles que íamos bebendo e gostando e a certa altura surgiu a ideia (quiçá peregrina, quiçá oportuna) de abrir uma nova secção no blog que se dedicasse especificamente a essa vertente, pois já começavam a aparecer posts em número suficiente para serem publicados autonomamente.

E foi assim que no dia do segundo aniversário das Krónikas Tugas abrimos um blog temático chamado Krónikas Vinícolas. Inicialmente com pouco destaque, quando começou a ser visitado por outros bloguistas dedicados ao mesmo tema (e depois de ter sido referenciado na Revista de Vinhos de Junho de 2006), e quando começámos a interagir com esses mesmos blogs, as visitas dispararam a tal ponto que a certa altura as KV passaram a ter o dobro da audiência diária das KT, não tardando que o blog-filho ultrapassasse o blog-pai em número total de visitas.

Tal como no início, a filosofia subjacente às Krónikas Vinícolas continuou a ser a mesma até hoje em que completa o 3º ano: total independência de tudo e de todos, dependendo apenas dos nossos gostos, das nossas ideias e das nossas convicções. O que escrevemos neste blog pode entrar em choque com outras opiniões, mas estas são as nossas e delas não abdicamos para ser politicamente correctos. Sabemos que podemos ir por vezes contra a corrente, mas como não devemos favores nem obrigações a ninguém não temos que nos subjugar aos gostos dominantes.

Também não temos a pretensão de dar lições a ninguém nem nos julgamos o supra-sumo de nada, assim como não pretendemos provar mais vinhos que os outros nem ufanarmo-nos de que provamos os que são considerados os melhores. Como não temos contactos com nenhum produtor nem temos acesso a vinhos grátis, tudo o que aqui provamos sai-nos do bolso, e não é pouco. Já gastamos demais em compras e mesmo assim não conseguimos abarcar tudo o que eventualmente gostaríamos. E muitas vezes há que fazer escolhas entre comprar mais e mais barato para poder provar uma maior variedade, ou gastar tudo em meia-dúzia de garrafas. E mesmo quando abrimos os cordões à bolsa para comprar vinhos caros, não nos sentimos obrigados a colocá-los nos píncaros da lua só porque isso pode parecer bem. A esse propósito lembro-me sempre de um post no “Os 5 às 8” (depois repetido no Nova crítica) a propósito do Barca Velha 95, em que Pedro Gomes dizia que há muito tempo acreditava na máxima que “os mitos também se abatem”, e terminava com 16,5 pontos...

O que pretendemos com este blog é, e sempre foi, apenas isso: ir vertendo na escrita as impressões que foram vertidas do copo. Não somos produtores, enólogos, distribuidores, revendedores, jornalistas nem escritores, não pretendemos editar livros, ministrar cursos nem ser críticos especializados. Somos apenas amantes da coisa: é isso que quer dizer “enófilo”. Não provamos, nem compramos, vinhos de propósito para os mostrar no blog; vamos é mostrando no blog a maior parte dos vinhos que nos passam pela mesa, e sempre que as impressões recolhidas o permitam. Por vezes juntamo-nos, provamos um ou vários vinhos de que gostamos e no fim não escrevemos sobre eles, porque estivemos mais atentos ao convívio do que propriamente às notas de prova. Em resumo, quando achamos que vale a pena escrever sobre um vinho, qualquer que ele seja, fazemo-lo: seja caro ou barato, muito bom ou muito mau (com toda a subjectividade que esta opinião contém). Por isso muitas vezes apresentamos provas de vinhos que alguns, dizendo-se entendidos, vêm para aqui verberar aproveitando para desdenhar das nossas opiniões, mas a esses simplesmente ignoramo-los porque não têm nada para nos ensinar a não ser um chorrilho de baboseiras.

Quanto aos nossos comparsas eno-bloguistas e a todos aqueles que connosco querem partilhar as suas provas, são sempre lidos com atenção e consideração e tentamos sempre aprender alguma coisa com as suas opiniões, mesmo que discordantes das nossas, pois é muitas vezes aí que podemos melhorar um bocadinho.

E agora, que venha mais um ano de boas provas. À vossa e à nossa.

Kroniketas, enófilo (algo) esclarecido e tuguinho, enófilo (pouco) esforçado

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

No meu copo, na minha mesa 219 - Dona Berta 2005; Restaurante Isaura



Parece mentira mas passaram 12 anos (!!!) desde a última visita a este restaurante de Lisboa, situado entre a Avenida Almirante Reis e a Praça de Londres. Não por nenhuma razão especial mas porque sempre que se falava em ir aqui acabava-se sempre por escolher outro. E como tínhamos memórias das visitas anteriores… Foi aqui que pela primeira vez provámos o Luís Pato Vinhas Velhas, foi aqui que em Fevereiro de 96 decidimos provar o Barca Velha de 83, foi aqui que assistimos a um fascinante ritual de decantação e serviço do vinho num carrinho com os copos e o decanter aquecidos e com uma vela por baixo. O que nós aprendemos desde essa altura...
Finalmente decidi-me a lá voltar. O famoso escanção Sr. Costa continua lá a brindar-nos com o seu desvelo pelo vinho, a garrafeira continua incomparável, a carta de vinhos é mais uma enciclopédia que uma carta. Para os amantes do vinho é indispensável fazer uma visita a este verdadeiro templo de Baco e deixar-se guiar pelos sábios conselhos do Sr. Costa.
Quanto à ementa, destaque para as carnes, com diversos tipos de bifes. Aqui a opção recaiu no bife à Isaura, com um molho especial e ovo a cavalo, acompanhado por batatas fritas e esparregado. Mal passado e muito tenro e suculento, irrepreensível.
No que respeita ao vinho, olhámos para as imensas prateleiras repletas de garrafas, vimos o preço na enorme carta e tentámos escolher um que não queimasse muito (felizmente no Isaura os preços do vinho, ao contrário da generalidade dos restaurantes portugueses, não são obscenos e pode-se escolher bons vinhos por preços relativamente acessíveis). Como apontámos para um vinho do Douro, o Sr. Costa interveio e sugeriu-nos o Dona Berta Reserva 2005, que disse que iria bem com os bifes. Assim se fez.
Aqui começou o ritual. Lá veio o carrinho de serviço com o decanter e os copos adequados, o vinho foi cuidadosamente vertido com a vela por baixo para ver se não escorre nenhum depósito do vinho e finalmente foi colocada uma pinga em cada copo, previamente agitado e cheirado pelo Sr. Costa antes de ser colocado na mesa para os comensais provarem. Serviço 5 estrelas!
Quanto ao vinho, prima mais pela suavidade que pela pujança e a exuberância frutada que marcam a tendência actual, e apresenta um grau alcoólico aceitável, o que é uma ilha no meio da corrente. Contudo pareceu-me algo curto na prova de boca, deixando a ideia que ganharia com mais alguma estrutura e persistência. Será adequado para pratos não muito carregados de temperos. É um vinho correcto e agradável, pronto a deixar-se beber, mas talvez um pouco linear. Pelo preço que custa espera-se um pouco mais.

Kroniketas, enófilo esclarecido

Restaurante: Isaura
Avenida de Paris, 4-B
1000-228 Lisboa
Telef: 21.848.08.38
Nota (0 a 5): 4,5

Vinho: Dona Berta Reserva 2005 (T)
Região: Douro
Produtor: Hernâni Verdelho
Grau alcoólico: 13%
Castas: Tinta Roriz, Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinta Barroca, Tinto Cão
Preço no restaurante: 22 €
Nota (0 a 10): 7,5

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

No meu copo 218 - CR&F Colheita Seleccionada 2004

A Carvalho, Ribeiro & Ferreira tornou-se conhecida principalmente pelas suas aguardentes, tendo complementado com alguns vinhos a sua presença no mercado. Nos meus primeiros tempos de exploração vínica existiam à venda alguns vinhos da empresa no Douro, Dão e Bairrada. Lembro-me também de um branco seco das Beiras, de um Garrafeira sem denominação de origem nos anos 80 e 90 e, principalmente, de um Garrafeira de 1980 da Bairrada que fez as minhas delícias há uns 10 anos, de que ainda me restam 3 exemplares e de que um dia falarei.
Depois a marca desapareceu das prateleiras até que há 2 anos reapareceu com um vinho alentejano de 2004. Fiquei curioso e resolvi comprar um exemplar.
Tendo neste momento 4 anos, posso dizer que esperava mais. Parece-me que falta ali alguma estrutura e algum aroma. O grau alcoólico é elevado e dá algum desequilíbrio ao conjunto. Ou seja, não deixa grandes memórias.
Fico a aguardar o que se seguirá. Se é para manter uma produção regular ou apenas esporádica e em que termos. A marca e os activos da “Carvalho Ribeiro & Ferreira” foram comprados pela Cockburn's que ficou com as aguardentes e agora lançou este vinho no Alentejo. Agora há que esperar por próximos lançamentos.

Kroniketas, enófilo esclarecido

Vinho: CR&F Colheita Seleccionada 2004 (T)
Região: Alentejo
Produtor: Cockburn Smithes & Cª
Grau alcoólico: 14%
Preço em feira de vinhos: 5,98 €
Nota (0 a 10): 6

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

No meu copo 217 - Montes Claros Reserva 2004

Eis que finalmente tive oportunidade de provar o vinho da polémica. Pontuado com 18 pela Blue Wine, foi alvo de variadas apreciações na blogosfera por parte dos comparsas eno-bloguistas. A maioria em sinal de discordância.

E o que posso eu dizer sobre o dito cujo? Para não repetir o que já foi dito no Copo de 3 e no Pingas no Copo, no Pingamor, no Vinho a Copo, no Vinho da Casa e n’Os vinhos, prefiro remeter para os posts escritos por eles e dizer que não me parece que o vinho justifique tamanha pontuação. Claro que a nota da Blue Wine é que trouxe o vinho para a ribalta e obrigou a que se falasse dele e fez com que muita gente o fosse provar, o que deve ter rendido uma boa maquia à Adega Cooperativa de Borba.

Medianamente encorpado, com boa persistência e aromas não muito exuberantes, bebe-se com agrado mas se o provarmos com a expectativa de valer 18 pontos vamos apanhar uma desilusão. Numa escala de 20 não lhe daria mais de 15. Assim dou-lhe 7,5 na minha escala de 10. E está tudo dito. Sim, é bom, mas não exageremos. Prefiro claramente o Reserva do rótulo de cortiça.

Kroniketas, enófilo esclarecido

Vinho: Montes Claros Reserva 2004 (T)
Região: Alentejo (Borba)
Produtor: Adega Coop. Borba
Grau alcoólico: 14%
Castas: Aragonês, Trincadeira, Cabernet Sauvignon, Tinta Caiada
Preço em feira de vinhos: 5,77 €
Nota (0 a 10): 7,5


Outras provas:
Copo de 3: 16 (em 20)
Os Vinhos: 15,5/16 (em 20)
Pingamor: 16,5 (em 20)
Pingas no Copo: 15,5 (em 20)
Vinho a Copo: 2 (em 5)
Vinho da Casa: 17 (em 20)

sábado, 29 de novembro de 2008

Semana gastronómica da caça no Alentejo


Começou hoje e vai decorrer até ao dia 5 de Dezembro em várias localidades do distrito de Beja (Aljustrel, Almodôvar, Barrancos, Beja, Castro Verde, Mértola, Odemira, Ourique e Serpa), onde diversos restaurantes apresentam pratos alusivos ao tema, à volta de perdiz, lebre, coelho, veado e javali.
No Portal do caçador podem ver mais detalhes e consultar a lista de restaurantes participantes e respectivas ementas. É de fazer crescer água na boca.

Kroniketas, caçador só no prato

No meu copo, na minha mesa 216 - Frei João 2003; Vasku’s Grill















Este continua a ser um local de regresso recorrente e presença assídua aqui nas Krónikas Vinícolas. Uma ocasião de efeméride familiar proporcionou uma deslocação ao local para comer o excelente fondue do lombo da casa, um verdadeiro “must” daquela ementa. Para mim, o melhor fondue da zona de Lisboa. Carne excelente, os molhos e as frutas muito bem combinados com os sabores da carne, um verdadeiro pitéu. De todas as vezes que lá vou fico indeciso entre comer o fondue ou outra coisa qualquer. Normalmente vou alternando, vez-sim vez-não.
Como estava acompanhado do núcleo familiar e praticamente só eu é que ia beber vinho, escolhi um dos mais baratos e a opção recaiu no Frei João, colheita de 2003, que sempre se porta muito bem com este prato. Desta forma pude também rever um dos meus vinhos preferidos na gama de entrada, que nunca me desiludiu.
Esta colheita mantém mais ou menos o perfil habitual, bem encorpado e com alguma robustez mas sem exagero. Macio quanto baste e com os taninos arredondados para ser bebível com relativa facilidade (os não apreciadores dos vinhos da Bairrada acham-no sempre áspero), está um pouco mais modernizado sem deixar de ter a marca dum bairradino clássico. Apresenta cor granada, algumas notas de frutos secos bem ligados com madeira muito discreta. Continua a agradar-me muito e a entrar na minha lista dos recomendáveis e, francamente, sempre achei que ele vale bem mais do que aquilo que o preço indica. Quem disse que um vinho barato não pode ser bom?
Quanto ao Vasku’s, mantém o nível de sempre. A qualidade do serviço tem sido apurada e o serviço de vinhos também. Vale a pena lá voltar para comer o fondue ou um dos muitos bifes de alcatra, lombo ou vazia.

Kroniketas, enófilo carnívoro

Restaurante: Vasku’s Grill
Rua Passos Manuel, 30
Telef.: 21.352.22.93
1150-260 Lisboa
Preço por refeição: 20 a 25 €
Nota (0 a 5): 4,5

Vinho: Frei João 2003 (T)
Região: Bairrada
Produtor: Caves São João
Grau alcoólico: 13%
Castas: Baga, Touriga Nacional, Camarate
Preço em feira de vinhos: 1,99 €
Nota (0 a 10): 7,5

terça-feira, 25 de novembro de 2008

No meu copo 215 - Vinha da Nora 2001

Não tenho sido um consumidor assíduo dos vinhos de José Bento dos Santos. Até agora só bebi o Vinha da Nora 2002 e o Clarete 2003. De resto, só algumas provas anuais no Encontro com o Vinho.
Este Vinha da Nora 2001 estava guardado há vários anos e receei que já estivesse em declínio ao fim de tanto tempo. Para grata surpresa apareceu bastante saudável, sem denotar quaisquer sinais de cansaço e a dar a sensação de estar no ponto ideal para ser bebido (curiosamente, espreitando o contra-rótulo este indicava que deveria atingir o auge 6 a 7 anos depois da colheita, pelo que o momento pareceu ter sido bem escolhido).
Apresentou-se com uma cor rubi ainda bastante concentrada, muito elegante e aromático mas ao mesmo tempo persistente e bem estruturado, com fruta madura bem presente, grau alcoólico elevado (superior ao de 2002) mas bem integrado numa boa acidez, a madeira muito discreta a conferir apenas maior complexidade ao conjunto e os taninos muito redondos. Depois de ter provado a colheita de 2002 e esta de 2001, quase me apetece classificá-lo como vinho “aristocrático”. Todo ele é elegância e sem dúvida recomendado para refeições requintadas e quiçá com o seu quê de exóticas. Um vinho que se destaca por estar desalinhado das modas.
Nas últimas feiras de vinhos tive oportunidade de adquirir ainda a colheita de 2002 por um bom preço (outra vez o Jumbo…) mas no Encontro com o Vinho já encontrei a colheita de 2005 que, pelo que me foi dado perceber e pela informação obtida, mudou o perfil para ser um vinho de consumo mais fácil. Não sei se terá sido uma boa ideia... Será que a moda também já chegou ali?

Kroniketas, enófilo esclarecido

Vinho: Vinha da Nora 2001 (T)
Região: Estremadura (Alenquer)
Produtor: José Bento dos Santos - Quinta do Monte d’Oiro
Grau alcoólico: 14%
Casta: Syrah
Preço em feira de vinhos: 9,24 €
Nota (0 a 10): 8,5


PS - uma pergunta a quem possa interessar: para quando a remodelação do site com informção actualizada? Quem lá entrar não encontra informação posterior a 2003 nem vinhos posteriores a 2000.

sábado, 22 de novembro de 2008

No meu copo 214 - Quinta da Bacalhôa 2003

Aqui está um vinho famoso que nunca me convenceu. Sempre achei que tinha excesso de madeira, aliás um traço que é muito comum em variadíssimos vinhos da região de Setúbal. O vinho estagia 11 meses em barricas novas de carvalho francês e talvez o balanço entre a madeira e os aromas não seja o ideal, pelo menos para o meu gosto.

Ao fim de muitos anos voltei a prová-lo. Tratei-o com todos os mimos, pu-lo à temperatura adequada e decantei-o cerca de uma hora antes. Não posso dizer que desta vez fiquei encantado mas também não fiquei desiludido. Fiquemo-nos pelo meio-termo. Apresentou-se com uma cor rubi intensa, algum aroma a frutos vermelhos misturado com a madeira e após a decantação libertou mais os aromas e apresentou-se mais macio e equilibrado.

No conjunto, considero-o um bom vinho mas acho que não justifica o preço que custa.

Kroniketas, enófilo esclarecido


Vinho: Quinta da Bacalhôa 2003 (T)
Região: Terras do Sado
Produtor: Bacalhôa Vinhos
Grau alcoólico: 13,5%
Castas: Cabernet Sauvignon, Merlot
Preço em feira de vinhos: 14,49 €
Nota (0 a 10): 7,5

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

O gosto formatado e a ZLTN


Não sei se repararam, pelo menos aqueles que lêem a Revista de Vinhos, mas na página 32 da edição de Novembro, dedicada às “notas soltas”, vêm dois apontamentos que vale a pena transcrever, com a devida vénia, e ler.
Num deles João Afonso fala do “gosto formatado” pelos vinhos da moda actual, sempre iguais. No outro Luís Lopes escreve em defesa da criação de uma ZLTN, Zona Livre de Touriga Nacional, que já qualifica quase como uma epidemia que alastrou a todo o território nacional e invadiu todo e qualquer vinho. Diz ele que depois da prova de vinhos do Douro já deitava Touriga Nacional pelos olhos mas que a prova de tintos do Alentejo, deste número, não lhe aliviou, pelo contrário, a touriguite aguda de que já padecia.
De facto, valia a pena criar uma Zona Livre de Touriga Nacional para ver se voltávamos a beber vinhos diferenciados outra vez. Não há cão nem gato que, seguindo a moda do gosto formatado, queira pôr o seu vinho a cheirar a flores. Já chateia. Num país que tem a bênção de possuir um território diversificado, com diferentes solos e climas que permitem a produção de vinhos tão diferentes entre os Vinhos Verdes, Douro, Dão, Bairrada, Estremadura, Ribatejo, Península de Setúbal, Alentejo e Algarve, porque raio é que se há-de apostar sempre na mesma casta em vez de tentar realçar as castas mais típicas de cada região, como Aragonês, Trincadeira, Tinta Caiada, Baga, Castelão, Alfrocheiro, Jaen, Touriga Franca, Tinto Cão ou Tinta Barroca, por exemplo? Estaremos condenados à touriguização do país?
Na página 84 da mesma edição, na introdução à prova de tintos do Alentejo, João Afonso volta ao tema da “cada vez mais ubíqua Touriga Nacional” e conta que num almoço com duas dezenas de convidados um “conhecido crítico de vinhos” dizia que a Trincadeira não é uma casta para o Alentejo, argumentando que não conhece nenhum bom vinho alentejano da casta Trincadeira. E acrescentava que o Aragonês também não é uma casta do Alentejo!!! Dizia o tal crítico que as castas alentejanas são a Cabernet Sauvignon, a Syrah, essas... Claro, as mesmas da África do Sul, da Califórnia, do Chile, da Austrália, da Nova Zelândia (e como eu gosto de Cabernet...). E remata João Afonso (de novo com a devida vénia): “Parece que não são só as vinhas que estão a mudar. As mentalidades, o credo e a prosápia também. E nós – cansados de apregoar lá fora que somos diferentes porque temos castas diferentes – estamos cada vez mais parecidos com aqueles com quem não nos queremos parecer”.
Ao ler isto fico a pensar que o tal crítico (que é capaz de ser um pateta ou um convencido que se acha importante... ou as duas coisas) deve perceber menos de vinhos do que eu e talvez fizesse bem em mudar de vida... E será que alguém lê o que ele escreve? Ou será que já desistiu de escrever para o grande público?

Kroniketas, enófilo ignorante

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

No meu copo 213 - Bons Ares 2003

Este já é um clássico cá em casa. Este ano apareceu na feira de vinhos do Jumbo a um preço imbatível (normalmente está 2 ou 3 euros acima) e é um daqueles que dificilmente nos desilude. Depois da última experiência com a colheita de 1999, comprada em 2003 e provada em 2007, agora resolvi não esperar mais de um ano para provar a colheita de 2003.

Proveniente da Quinta dos Bons Ares, situada a 600 m de altitude na freguesia da Touça, no Douro Superior, uma das duas quintas que dão origem ao principal ícone da Ramos Pinto, precisamente chamado Duas Quintas (a outra é a Quinta da Ervamoira), feito de um casamento entre a Touriga Nacional (60%) e o Cabernet Sauvignon (40%) e com 6 meses de estágio em madeira, continua com o perfil habitual, encorpado e persistente, embora desta vez tenha aparecido mais macio na boca, menos pujante do que é costume. Mais uma vez fica a dúvida: estará a atravessar um patamar de evolução para cima, para baixo ou no ponto ideal? Curioso que me surja esta dúvida com sucessivas colheitas de 2003 no Douro…

Este 2003 pareceu-me uns pozinhos abaixo do 2002 (provado em 2006) mas não desmerece o nome que ostenta. Como foi experiência única com esta colheita, vamos ver o que nos dá a de 2005, última garrafa adquirida (agora com a denominação de Vinho Regional Duriense).

Kroniketas, enófilo esclarecido

Vinho: Bons Ares 2003 (T)
Região: Trás-os-Montes
Produtor: Ramos Pinto
Grau alcoólico: 13,5%
Castas: Touriga Nacional, Cabernet Sauvignon
Preço em feira de vinhos: 9,57 €
Nota (0 a 10): 7,5

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

No meu copo 212 - Evel Grande Escolha 2003; Grantom 2001

Continuamos nos domínios da Real Companhia Velha, com mais dois tintos. Um é uma versão nova de um vinho antigo, o Evel, o outro, o Grantom, é um regional Trás-os-Montes.
Este Evel Grande Escolha, existente há menos de 10 anos e que pretende ser o topo de gama da casa, pôs-me algumas dúvidas quanto ao momento de consumo. Adquirido com a Revista de Vinhos em 2006, portanto ainda relativamente novo, decidi esperar algum tempo, seguindo aliás o conselho que a revista dava, mas a dúvida era sempre a mesma, uma vez que não conhecia o vinho: até quando?
A verdade é que quando eu e o tuguinho resolvemos abri-lo, com menos de 5 anos de idade, revelou-se algo decepcionante. Estávamos à espera dum vinho pujante e com alguma exuberância aromática, mas não foi nada disso que encontrámos. Apareceu com os aromas algo escondidos e muito redondo e linear na boca. É, aliás, uma situação algo recorrente em certos vinhos do Douro, possivelmente terá acontecido o mesmo com a prova do Quinta dos Aciprestes Reserva 2003, referido no post anterior, ou então já passou a melhor fase, o que é duvidoso dada a sua idade.
Como havia mais vinhos em prova acabou por ficar ainda uma boa parte na garrafa. A surpresa veio no dia seguinte, em que o vinho estava muito melhor. Aí sim, mostrou maior complexidade e maior persistência, com a fruta bem integrada na madeira. Dito isto, e voltando a comparar as minhas impressões com as provas de outros blogues (Saca-a-rolha, prova de Setembro de 2006 e Pingas no Copo, colheita de 2001 provada em Maio de 2006), fico com a sensação de que estou com azar no momento das provas ou nas garrafas que me calham. E tendo em conta que não fiz nenhuma das provas sozinho (o problema podia ser só meu), a sensação foi partilhada. Portanto, fico a pensar porque é que dois vinhos adquiridos com a Revista de Vinhos e bastante elogiados pelos comparsas eno-bloguistas me passaram mais ou menos ao lado. Será que os deveria ter provado mais cedo? Deveria tê-los decantado uma ou duas horas antes? Neste caso do Evel Grande Escolha 2003, tendo em conta que só passadas 24 horas é que o vinho se revelou, como prepará-lo para a prova sem saber o que ia encontrar? Sendo assim, a nota que atribuímos é sob reserva.
Já o Grantom 2001 mostrou logo o que era. Este sim, mais pujante, mais exuberante nos aromas e mais complexo, com boa estrutura na boca e final longo, taninos presentes a dar firmeza ao conjunto mas sem ofuscarem o perfil aromático e o equilíbrio da prova. Muito bom para o preço que custa e adequado para acompanhar pratos fortes de carne.
Dito isto, fica a pergunta: o que é que me está aqui a faltar para usufruir na plenitude do que supostamente seriam dois belos vinhos, tendo em conta que a temperatura de serviço, os copos e até os pratos servidos à refeição estavam adequados? Alguém quer dar um palpite? Será que faltou decantar uma hora ou duas antes? Mas como saber sem conhecer o vinho? O produtor não deveria dar essa indicação no contra-rótulo quando tal se justifica? São raríssimos (menos de 1%, diria eu) os casos em que isso acontece.

Kroniketas, enófilo desconfiado

Produtor: Real Companhia Velha

Vinho: Evel Grande Escolha 2003 (T)
Região: Douro
Grau alcoólico: 14,5%
Castas: Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinta Roriz, Tinto Cão
Preço em feira de vinhos: 12,38 €
Nota (0 a 10): 7,5

Vinho: Grantom 2001 (T)
Região: Trás-os-Montes
Grau alcoólico: 13,5%
Castas: Cabernet Sauvignon, Touriga Nacional, Touriga Franca
Preço em feira de vinhos: 4,75 €
Nota (0 a 10): 8

sábado, 8 de novembro de 2008

No meu copo 211 - Quinta dos Aciprestes 2003; Quinta dos Aciprestes Reserva 2003

A Quinta dos Aciprestes é uma das várias quintas de que a Real Companhia Velha é proprietária no vale do Douro. Situada entre o Cima Corgo e o Alto Douro, na zona do Tua, com um total de 90 hectares de vinha, estende-se por mais de 2 km na margem esquerda do rio Douro. Fundada no século XVIII, a actual quinta resulta da junção de várias quintas da zona em 1860 (informação disponível no site oficial).
É de dois vinhos da Quinta dos Aciprestes que hoje vou falar. Às vezes temos destas surpresas. Dois vinhos do mesmo produtor, do mesmo ano, de diferentes patamares: um normal DOC e um Reserva. À partida espera-se que o Reserva seja melhor que o DOC normal. Mas eis que ao abrir a garrafa o resultado é diferente.
Desde que começámos a escrever neste blog já tivemos a oportunidade, por puro acaso, de provar 3 vezes o Quinta dos Aciprestes de 2003. A última estava guardada em casa e curiosamente apareceu muito melhor que as anteriores. O tempo em garrafa fez-lhe bem e mostrou-se muito mais exuberante em termos de aromas e estrutura. Antes tinha uma predominância a frutos vermelhos maduros mas ainda algo fechado, como tínhamos referido na última prova. Agora apresentou-se mais cheio, mais persistente, ainda pujante mas com taninos mais arredondados, tendo desaparecido uma certa adstringência que estava presente e surgido uma envolvência mais harmoniosa em todo o conjunto.
Revendo essa prova de Junho 2006, na altura escrevi que deveria melhorar após estar uns 3 ou 4 anos na garrafeira. Esperei dois anos e melhorou muito, mas fico sem saber como seria daqui a mais 1 ou 2. De qualquer modo, pelo que mostrou agora pareceu estar já num ponto alto da evolução e na altura óptima para ser bebido, pelo que mais tempo poderia já trazer algum declínio. Mas isso já é uma incógnita. Em suma, uma aposta muito segura que obviamente merece estar na lista das escolhas permanentes. Ao bebê-lo pensei para comigo: se este está assim, como estará o Reserva?
Mas o Reserva acabou por ficar aquém do esperado. Ou por ainda não ter atingido o tal ponto óptimo de evolução e precisar de mais tempo em garrafa, ou porque já o passou e não dá mais. Os aromas discretos, estrutura mediana na boca e final pouco pronunciado. Bom, mas sem encantar e sem justificar claramente o seu superior estatuto.
Comparando as minhas impressões com as do Pingas no Copo e do Elixir de Baco (provas de 2006, note-se) e do Copo de 3 (prova de Novembro de 2007) fico com a sensação de que se o tivesse bebido logo quando o comprei com a Revista de Vinhos, em Maio de 2006, poderia ter ficado com melhor impressão. Mas quem iria adivinhar que um DOC melhorava mais que um Reserva? É a vida.

Kroniketas, enófilo esclarecido

Região: Douro
Produtor: Real Companhia Velha

Vinho: Quinta dos Aciprestes 2003 (T)
Grau alcoólico: 14%
Castas: Touriga Francesa, Tinta Roriz, Tinta Barroca
Preço em feira de vinhos: 6,99 €
Nota (0 a 10): 8

Vinho: Quinta dos Aciprestes Reserva 2003 (T)
Grau alcoólico: 14%
Castas: Touriga Nacional, Touriga Franca
Preço com a Revista de Vinhos: 5,95 €
Nota (0 a 10): 7,5

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

No meu copo 210 - Dumonte 2005

Este é um daqueles vinhos pelos quais à partida ninguém dá nada. Mas a verdade é que me surpreendeu pela positiva. Muito equilibrado na boca, aromático quanto baste com alguma predominância a frutos vermelhos, corpo médio, macio mas com alguma estrutura e boa persistência, apesar da gama de preços em que se posiciona consegue portar-se como se valesse 3 ou 4 vezes mais.
O grau alcoólico também ajuda ao bom equilíbrio do conjunto. É um daqueles vinhos que não sendo nada de extraordinário consegue ser guloso e deixar-se beber com agrado. Pelo preço que custa pode ser uma boa aposta para o dia-a-dia.

Kroniketas, enófilo esclarecido

Vinho: Dumonte 2005 (T)
Região: Alentejo
Produtor: Caves Velhas - Enoport
Grau alcoólico: 13%
Castas: Aragonês, Trincadeira, Alicante Bosuchet
Preço em hipermercado: 1,99 €
Nota (0 a 10): 7

domingo, 2 de novembro de 2008

Actualização das nossas escolhas em 2008

Actualizámos a nossa lista de preferências em http://kronikasvinicolasescolhas.blogspot.com/ (link As nossas escolhas, à esquerda) com os preços encontrados nas feiras de vinhos de 2008. Os vinhos indicados são aqueles que já provámos em condições de formar uma opinião fundamentada e que achamos que valem aquilo que custam (seja muito ou pouco), ou seja, essencialmente em cada patamar de preços privilegiamos a relação qualidade/preço.
Os preços indicados servem apenas como referência ao mais barato encontrado para saber qual o valor mais baixo a que se pode adquirir cada vinho indicado, pois fora das feiras de vinhos os valores praticados são geralmente superiores, nalguns casos bastante superiores.
Só a título de exemplo, o Casa de Alegrete, que apareceu à venda no Jumbo a 10,45 €, no dia seguinte ao fim da feira de vinhos passou para 16 €!!! Por isso é que as feiras de vinhos são óptimas oportunidades para poupar algumas dezenas de euros dentro da oferta disponível.

Kroniketas, enófilo esclarecido

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Encontro com o Vinho/Encontro com os Sabores 2008



Começou hoje mais uma edição deste evento já obrigatório, organizado pela Revista de Vinhos. Decorre até Domingo para o público e nós, claro, vamos lá amanhã, sábado.

tuguinho e Kroniketas, enófilos e tudo

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

No meu copo 209 - Quinta do Cerrado, Malvasia Fina 2006; Quinta das Maias, Malvasia Fina 2007

Mais dois brancos de bom recorte que não conhecia. Não sou comsumidor habitual dos brancos do Dão mas há coisas interessantes para descobrir. Neste caso trata-se de dois brancos monocasta feitos de Malvasia Fina.
Já tive oportunidade de o referir algumas vezes, sou um fã desta casta pelo seu perfil aromático e floral, que dá aos vinhos uma elegância que me agrada. Mais uma vez isso aconteceu com estes dois vinhos do Dão, algo semelhantes.
O Quinta do Cerrado estagiou dois meses em barrica, não aparecendo a madeira muito marcada. Tem uma cor citrina ligeiramente esverdeada, aroma algo citrino, corpo médio mas ao mesmo tempo com uma estrutura média na boca, com final suave, elegante e equilibrado.
O Quinta das Maias tem 10% da casta fermentada em carvalho francês, apresenta uma cor amarelo-palha, igualmente com estrutura e complexidade médias e uma boa acidez que lhe confere frescura e equilíbrio.
Em ambos os casos encontramos vinhos muito frescos na prova de boca em que não se sente excesso de álcool e em que a madeira está bem doseada, sem excessos. A sua estrutura permite-lhes acompanhar pratos mais elaborados não deixando de ser aceitáveis em refeições mais leves. Em suma, dois bons resultados, a repetir sempre que possível.

Kroniketas, enófilo esclarecido

Região: Dão

Vinho: Quinta do Cerrado, Malvasia Fina 2006 (B)
Produtor: União Comercial da Beira
Grau alcoólico: 13%
Casta: Malvasia Fina
Preço em feira de vinhos: 4,65 €
Nota (0 a 10): 7,5

Vinho: Quinta das Maias, Malvasia Fina 2007 (B)
Produtor: Sociedade Agrícola Faldas da Serra
Grau alcoólico: 13%
Casta: Malvasia Fina
Preço: desconhecido
Nota (0 a 10): 7,5

domingo, 26 de outubro de 2008

No meu copo 208 - Muralhas de Monção 2007; Ponte da Barca, Colheita Seleccionada 2007

Continuando nos brancos, damos agora um salto à região dos Vinhos Verdes. O Muralhas de Monção é praticamente um clássico, um vinho consensual entre quase toda a gente quando se fala de verdes bons a baratos. Muito fresco e com boa acidez, suave na prova de boca e moderadamente alcoólico, é um vinho extremamente versátil quando se quer um vinho refrescante. Faz as despesas como vinho de esplanada, como aperitivo, como acompanhante de peixes ou mariscos e faz sempre uma boa companhia à mesa. Mais um bom produto dos brancos de 2007 e a segunda boa aposta da Adega Regional de Monção, logo a seguir a outro ícone da casa, o Deu La Deu. Mais uma excelente relação qualidade/preço, um belo verde para todas as ocasiões que se proporcionem.
O Ponte da Barca Colheita Seleccionada já foi um bom vinho em tempos. Agora posiciona-se numa gama de entrada e mostra-se agradável mas sem encantar. Ligeiramente gaseificado, uma característica que tem vindo a desaparecer nestes vinhos, é um verde com aroma discreto e pouco exuberante no paladar, para ser consumido sem grandes pretensões. Feito exclusivamente com a casta Loureiro, perde para o seu vizinho de Ponte de Lima. O preço está em consonância.

Kroniketas, enófilo esclarecido

Vinho: Muralhas de Monção 2007 (B)
Região: Vinho Verde (Monção)
Produtor: Adega Coopearativa Regional de Monção
Grau alcoólico: 12,5%
Castas: Alvarinho, Trajadura
Preço em feira de vinhos: 2,99 €
Nota (0 a 10): 7,5

Vinho: Ponte da Barca, Colheita Seleccionada 2007 (B)
Região: Vinho Verde (Ponte da Barca)
Produtor: Adega Cooperativa de Ponte da Barca
Grau alcoólico: 11%
Casta: Loureiro
Preço em hipermercado: 1,95 €
Nota (0 a 10): 6

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

No meu copo 207 - João Pires 2006; Adega de Pegões, Colheita Seleccionada branco 2006

Continuando na senda dos brancos, voltamos a dois das Terras do Sado da colheita de 2006. Dois clássicos, poderíamos dizer, daqueles que valem sempre a aposta e dos quais sabemos sempre com o que contar.
O João Pires é um dos meus brancos indispensáveis, sempre com aquela leveza e elegância que o caracterizam, muito bem equilibrado em todas as vertentes, de grande frescura e que cai bem com quase tudo e é quase imbatível em tempo quente. Mais uma presença obrigatória na garrafeira.
De Pegões vem o branco Adega de Pegões Colheita Seleccionada, outra aposta segura e com uma relação qualidade/preço absolutamente insuperável. Este, por seu lado, um branco de inverno que neste caso foi consumido ainda com tempo quente mas a acompanhar um prato de bacalhau no forno, com o qual se bateu galhardamente como se esperava. Algumas notas tropicais do Chardonnay e do Antão Vaz apresentam-se bem equilibradas com a acidez que lhe é conferida pelo Arinto. Os seus 14 graus de álcool a par com uma boa estrutura de boca e final persistente e complexo, ajudados pelo estágio de 4 meses em barricas de carvalho americano com batônnage, fazem dele um bom acompanhante de pratos mais arrojados. É igualmente uma aposta segura por um preço irrisório para o produto que está dentro da garrafa.

Kroniketas, enófilo esclarecido

Vinho: João Pires 2006 (B)
Região: Terras do Sado
Produtor: José Maria da Fonseca
Grau alcoólico: 11%
Casta: Moscatel
Preço em feira de vinhos: 4,85 €
Nota (0 a 10): 8

Vinho: Adega de Pegões, Colheita Seleccionada 2006 (B)
Região: Terras do Sado
Produtor: Coop. Agrícola Santo Isidro de Pegões
Grau alcoólico: 14%
Castas: Chardonnay, Arinto, Pinot Blanc, Antão Vaz
Preço em feira de vinhos: 2,95 €
Nota (0 a 10): 7,5

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

No meu copo 206 - Cabriz rosé 2007; Periquita rosé 2007; Quinta da Alorna, Touriga Nacional rosé 2007

As férias de Verão também foram aproveitadas para provar alguns rosés dentre os muitos que têm aparecido. Neste caso foram duas repetições e uma estreia. Já temos falado do crescendo dos rosés entre nós e, tal como os brancos, a sua qualidade tem vindo a crescer o que tem ajudado (e de que maneira) ao aumento da procura por estes dois tipos de vinho ainda há poucos anos tão mal amados, principalmente este de que agora falamos, que alguns nem consideravam vinho. Aliás, parece que para alguns produtores isso ainda é verdade pois ainda fazem os seus rosés a partir de sangrias de cuba. Mas o panorama é, actualmente, francamente animador e dá aos enófilos um bom leque de escolhas variadas.
Começamos pelo Periquita rosé 2007, uma das recentes apostas da José Maria da Fonseca na renovação desta marca secular. É o típico vinho de Verão, de esplanada, com um toque adocicado, bom para entradas ou simplesmente para beber como aperitivo num dia quente.
O Cabriz rosé 2007, uma repetição depois de já ter provado o de 2006, mantém a mesma linha leve e suave, com aroma floral e de frutos vermelhos. Mais personalizado que o Periquita e também um pouco mais versátil porque é mais seco. Igualmente bom para entrada, aperitivo ou para beber a solo mas também com pendor gastronómico.
Finalmente, o Quinta da Alorna rosé, Touriga Nacional 2007, para mim um dos melhores rosés do momento. No Verão do ano passado já me tinha encantado com o de 2006, e agora tive oportunidade de provar o de 2007, que me pareceu ainda melhor. Muito aromático e elegante, com aroma pronunciado a morangos e framboesas, seco e elegante na boca mas bem estruturado, ou seja, tudo no sítio neste belo rosé ribatejano, onde se conjugam nas doses certas o fruto, o álcool, o corpo, a acidez e a frescura. Um rosé para ter sempre na garrafeira.

Kroniketas, enófilo rosado

Vinho: Cabriz 2007 (R)
Região: Dão
Produtor: Dão Sul, Sociedade Vitivinícola - Quinta de Cabriz
Grau alcoólico: 12%
Castas: Touriga Nacional, Alfrocheiro
Preço em feira de vinhos: 3,98 €
Nota (0 a 10): 7,5

Vinho: Periquita 2007 (R)
Região: Terras do Sado
Produtor: José Maria da Fonseca
Grau alcoólico: 11,5%
Castas: Castelão, Trincadeira, Aragonês
Preço em feira de vinhos: 4,25 €
Nota (0 a 10): 7

Vinho: Quinta da Alorna, Touriga Nacional 2007 (R)
Região: Ribatejo (Almeirim)
Produtor: Quinta da Alorna Vinhos
Grau alcoólico: 13%
Casta: Touriga Nacional
Preço em feira de vinhos: 4,49 €
Nota (0 a 10): 8

sábado, 18 de outubro de 2008

Eventos eno-gastronómicos

Festival Nacional de Gastronomia na Casa do Campino, em Santarém, até 2 de Novembro.

Encontro com o Vinho/Encontro com os Sabores na Feira das Indústrias (antiga FIL), em Lisboa, de 31 de Outubro a 3 de Novembro.

terça-feira, 14 de outubro de 2008

No meu copo, na minha mesa 205 - Monte da Peceguina 2007; O Casalinho (Praia da Rocha)

Outro jantar de férias, no passadiço da Praia da Rocha, junto à descida central da praia. Este restaurante era uma das referências há uns anos antes das obras na praia e da remodelação de todos os bares, e ali comi uma refeição fantástica confeccionada à vista e servida num carrinho. Agora tem duas salas separadas, uma mais restaurante e outra mais para pizzas e afins, mas fomos para a parte das pizzas para ficar mais à vontade e com mais espaço.
A escolha é extensa e variada, permitindo um leque de opções que podem ir desde a pizza ao bife pimenta passando por bacalhau no forno. Tal como há anos, escolhi o bife, enquanto outros escolheram um T-bone e bacalhau à Narcisa, que por sinal estava magnífico, talvez o melhor prato da noite.
O bife estava bastante tenro e suculento, mas o serviço não correspondeu ao que se esperava. Nem o serviço de mesa nem o serviço de vinhos, e o facto de estarmos na pizzaria não serve de desculpa. Primeiro o vinho escolhido veio morno para a mesa, pelo que foi necessário pedir um frappé. Depois, à segunda garrafa um dos empregados serviu vinho no copo de um dos comensais onde ainda estava vinho do copo anterior, o que como se sabe é um erro primário no serviço de vinhos.
Para fecho da noite, foi pedida uma sobremesa (crepes Suzete) que não pôde ser servida porque… a cozinheira estava ocupada com outras coisas e não tinha tempo para a fazer! Esta é original.
Para o vinho escolhemos um Monte da Peceguina, da Herdade da Malhadinha Nova, que se tem tornado notada pelo seu hotel com SPA, situada ali para os lados de Alberona, a sul de Beja, e próxima da Herdade dos Grous e da Casa da Santa Vitória. Já o tinha provado uma vez e não me encantou, e desta vez voltou a não encantar. É um vinho que se bebe com facilidade, com aquele perfil “moderno” que tantos (ainda) elogiam, ainda com o resquício do excesso de álcool e muita fruta. Estagiou parcialmente 7 meses em barricas de carvalho francês e é predominantemente frutado, sem que a madeira se sobreponha aos aromas e relativamente equilibrado entre a acidez e o álcool que neste caso está bem disfarçado. Em suma, fácil de beber mas que não é marcante.
Quanto ao restaurante, sinceramente esperava melhor. Para o nível de preços praticado e a sofisticação nos nomes dos pratos, exige-se algo mais. Mais profissionalismo e eficiência, sobretudo. Lembrei-me dos muitos restaurantes visitados em Portalegre e Estremoz no último ano, e talvez pudessem ensinar alguma coisa a estes.

Kroniketas, enófilo veraneante

Restaurante: O Casalinho
Areal da Praia da Rocha
Portimão
Preço por refeição: 25 €
Nota (0 a 5): 3,5

Vinho: Monte da Peceguina 2007 (T)
Região: Alentejo (Albernoa)
Produtor: Herdade da Malhadinha Nova
Grau alcoólico: 14%
Castas: Alicante Bouschet, Aragonês, Touriga Nacional, Cabernet Sauvignon, Tinta Caiada
Preço em feira de vinhos: 9,65 €
Nota (0 a 10): 7

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

No meu copo, na minha mesa 204 - Alvor Singular 2007 branco; Quinta do Barranco Longo Grande Escolha 2007 branco; A Ribeira (Alvor)

O grupo gastrónomo-etilista “Os comensais dionisíacos” teve o jantar de fim de época no Tó do Marisco, em Julho, o jantar de férias em Agosto e o jantar da rentrée em Setembro.
No jantar de Agosto juntaram-se os que estavam de férias no Algarve. Faltaram o tuguinho e o Mancha. Serviu de anfitrião o Politikos em Alvor, onde abancámos, com filhos e tudo (tarde e a más horas, já passava das 10 da noite) no restaurante A Ribeira, junto à ribeira de Alvor e lado-a-lado com o muito citado nos guias Àbabuja.
Dado o adiantado da hora começámos por entreter-nos com umas entradas e umas travessas de amêijoas. Entretanto o dono lá veio mostrar-nos umas postas de peixe enormes, que davam para umas 8 pessoas, e quase todos optaram pelo robalo e a dourada na brasa. Eu e o Politikos resolvemos partilhar uma cataplana de marisco enquanto os mais novos optavam pelo arroz de marisco. Delicioso, por sinal, e em abundância, que ainda deu para provar umas colheradas. A cataplana estava boa mas a do ano passado, em Armação de Pêra, estava melhor, mais apurada.
Para acompanhar os peixes, depois de darmos uma olhadela à carta de vinhos, escolhemos o vinho da terra: um branco de nome Alvor Singular, da Quinta do Morgado da Torre, cuja vinha está ali a 5 quilómetros, junto ao hotel da Penina e entre a estrada nacional 125, o desvio para Alcalar e a A22. Há mais de 10 anos que não bebia um vinho do Algarve e aproveitei para conhecer uma das novas produções que têm aparecido. A verdade é que este Alvor de 2007 foi uma agradável surpresa. Suave, aromático, moderadamente alcoólico, como felizmente se está outra vez a tornar hábito, acompanhou na perfeição os diversos pratos de peixe e marisco que foram chegando à mesa.
A certa altura o dono sugeriu-nos que provássemos outro produto da região, o branco da Quinta do Barranco Longo, ao pé de Algoz. Este não se portou mal mas mostrou aquelas características que não aprecio particularmente nos brancos: muito álcool (14,5%) e fermentado em madeira, torna-se algo áspero para o meu gosto. Claro que um vinho com esta estrutura na boca se aguenta bem neste tipo de refeição, mas depois de acabada esta garrafa… voltámos ao Alvor para encerrar o repasto.
Quase pela meia noite lá abandonámos o restaurante, quando já só os donos e empregados ceavam a uma mesa do canto. No balanço da noite foi uma bela refeição, com as condicionantes próprias da época no Algarve, mas em que apesar do muito movimento e do restaurante cheio fomos alvo de todas as atenções e não se pode apontar nada ao serviço prestado. Grande simpatia e prontidão a responder aos pedidos, recomenda-se preferencialmente em época mais calma.

Kroniketas (enófilo refrescado) mais os outros bandalhos todos e os bandalhos que não estiveram lá e deviam ter estado

Restaurante: A Ribeira
Ribeira de Alvor
Preço por refeição: 35 €
Nota (0 a 5): 4,5

Vinho: Alvor Singular 2007 (B)
Região: Algarve
Produtor: Quinta do Morgado da Torre
Grau alcoólico: 12%
Preço em garrafeira: 4,19 €
Nota (0 a 10): 7,5

Vinho: Quinta do Barranco Longo Grande Escolha 2007 (B)
Região: Algarve
Produtor: Rui Virgínia
Grau alcoólico: 14,5%
Castas: Arinto, Chardonnay
Preço no restaurante: 14 €
Nota (0 a 10): 6,5

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

No meu copo 203 - Porto Quinta do Noval LBV 2001; Porto Taylor’s LBV 2002


Dois LBV com poucas semelhanças. O Noval apresentou-se mais aberto, com a cor menos carregada, mais suave e menos encorpado na prova de boca, com os taninos mais redondos e a fruta mais discreta. Quanto ao Taylor’s apareceu com uma cor retinta, aromas frutados mais exuberantes, corpo mais cheio e os taninos mais pujantes.
Podemos considerar o primeiro mais adequado para acompanhar aperitivos à base de frutos secos, ou para entreter ao serão durante uma boa conversa, e o segundo mais vocacionado para a mesa, para acompanhar queijos ou sobremesas de sabor intenso, ou ficar a degustar no fim da refeição.
São dois produtos que sem deslumbrar não decepcionam quem os provar e cumprem de modo satisfatório o que deles se pretende. Pelo preço que custou o Noval é praticamente impossível encontrar melhor.

Kroniketas, enófilo esclarecido

Vinho: Porto Quinta do Noval LBV 2001
Região: Douro/Porto
Produtor: Quinta do Noval
Grau alcoólico: 19,5%
Preço em hipermercado: 9,98 €
Nota (0 a 10): 7

Vinho: Porto Taylor’s LBV 2002
Região: Douro/Porto
Produtor: Taylor’s
Grau alcoólico: 19,5%
Nota (0 a 10): 7,5