quarta-feira, 31 de janeiro de 2007

No meu copo 84 - Adega de Pegões, Colheita Seleccionada branco 2005

Na região da península de Setúbal, cujos vinhos têm a denominação habitual de Terras do Sado, para além dos monstros José Maria da Fonseca e Bacalhôa, nos últimos anos tem-se vindo a impor a Cooperativa Agrícola de Santo Isidro Pegões, com vinhos de boa qualidade a baixo preço, que têm ganho espaço junto dos consumidores por se apresentarem bastante apelativos pois aparentemente valem bem mais do que aquilo que custam.
Pela primeira vez vamos falar dum vinho desta casa, um branco com algumas semelhanças com o anterior que analisámos (o Vinha Grande), embora de região totalmente diferente, e bem mais barato que o anterior. Também com estágio em madeira, também com grau alcoólico elevado. No entanto, parece-me claramente um vinho mais equilibrado que o Vinha Grande branco.
Este Adega de Pegões branco, Colheita Seleccionada de 2005, apresenta-se com uma cor citrina e forte estrutura na boca bem equilibrada com uma boa acidez, que compensa os 14º de álcool. É tipicamente um branco de Inverno, que casa muito bem com peixes assados no forno, com molho, ou com pratos de bacalhau bem regados com azeite. A sua equilibrada acidez, conjugada com o corpo e o álcool vão bater-se muito bem com o paladar marcante e intenso destes pratos.
Uma referência que já tínhamos fixado e que tem lugar nas nossas escolhas, e que se apresenta como um dos bons representantes da Região de Terras do Sado, embora com um perfil bastante diferente dos mais elegantes e aromáticos João Pires ou BSE, mas que é uma escolha acertada por um preço extremamente convidativo.

Kroniketas, enófilo esclarecido

Vinho: Adega de Pegões, Colheita Seleccionada 2005 (B)
Região: Terras do Sado
Produtor: Cooperativa Agrícola Santo Isidro de Pegões
Grau alcoólico: 14%
Castas: Chardonnay, Arinto, Pinot Blanc, Antão Vaz

Preço em feira de vinhos: 2,87 €
Nota (0 a 10): 7,5

segunda-feira, 29 de janeiro de 2007

No meu copo 83 - Vinha Grande branco 2005

O Vinha Grande 2005 é o primeiro branco da Casa Ferreirinha, actualmente propriedade do grupo Sogrape. Segundo informações apresentadas no guia de João Paulo Martins para 2007 (que naturalmente carecem de confirmação prática), este branco vem substituir o Douro Reserva Sogrape, à semelhança do que vai acontecer com os outros vinhos de reserva da marca, que serão substituídos por outras marcas já existentes na empresa.
Pela parte que me toca, para já acho que não ficamos a ganhar. O Douro Sogrape Reserva branco era um dos nossos brancos preferidos (aliás faz parte das nossas sugestões) e este Vinha Grande não me convenceu. Enquanto aquele apresentava uma boa estrutura e robustez na boca mas era equilibrado no seu conjunto, este Vinha Grande pareceu-me ainda pouco moldado e algo rústico.
Tem uma cor citrina carregada e algum frutado, mas como às vezes acontece nos brancos com madeira, esta pareceu-me um pouco sobreposta aos sabores do vinho. Tem alguma complexidade e poderá bater-se com peixes gordos ou mesmo com algumas carnes brancas, mas achei-o algo áspero.
Definitivamente, não sou grande fã dos brancos com madeira, mas curiosamente, por contraste, depois deste provei um outro branco de que falarei no próximo post e, embora com mais álcool e também com madeira, me pareceu mais bem conseguido.
Quanto a esta substituição dos Reservas Sogrape por outras marcas, a confirmar-se, vamos ver se a maior empresa de vinhos do país conseguirá apostas tão certeiras como foram ao longo de mais de uma década os Reservas Douro, Dão, Bairrada e Alentejo. Vou sentir falta deles. Tenho de fazer um reforço do stock antes que desapareçam.

Kroniketas, enófilo esclarecido

Vinho: Vinha Grande 2005 (B)
Região: Douro
Produtor: Casa Ferreirinha - Sogrape
Grau alcoólico: 13%
Castas: Malvasia Fina, Viosinho, Gouveio

Preço em feira de vinhos: 8,57 €
Nota (0 a 10): 6

terça-feira, 23 de janeiro de 2007

Lisboa à Prova

No passado dia 13, dia seguinte ao histórico encontro de eno-blogs, desloquei-me à Cordoaria Nacional para o encerramento do concurso Lisboa à Prova, que decorreu durante alguns meses e onde estiveram a votação os 30 melhores restaurantes de Lisboa. No referido dia 13 decorria durante a tarde a entrega dos prémios e a partir das 18:30 seria o festival dos 30 finalistas, com um espaço de degustação.
Não cheguei a saber quem venceu, nem me preocupei com isso, mas fui ver que acepipes estariam à disposição dos visitantes. Chegámos entre as 19:30 e as 20 horas, e depois de algum tempo de espera para a compra dos bilhetes, a um preço perfeitamente aceitável (5 € para os adultos e 3 € para as crianças), lá entrámos no recinto da degustação.
O primeiro impacto foi um pouco assustador, pois estavam magotes de gente em todos os stands dos restaurantes representados, dificultando a passagem e tornando quase impossível saber o que se podia provar. O bilhete dava 4 cupões para degustação e um para uma bebida. Mas, depois de percorrermos a custo os corredores (os stands estavam dispostos ao centro, costas com costas e ao longo do recinto, e o público passava pelo lado exterior), voltámos ao ponto de partida para tentar começar a perceber o que se poderia comer, pois começavam a ser horas. E aí, o drama: não havia pratos! Nem talheres. Perguntámos a alguém com uma farda onde se arranjavam pratos e disseram-nos que em cima dos aparadores. Só que não estavam lá nenhuns. Foi preciso descobrir uma porta que dava acesso a outro espaço onde se lavavam pratos e talheres, ficar à porta e esperar que alguém trouxesse pratos ainda molhados, e sacar umas colheres e uns garfos. Mais fácil foi arranjar copo, era pagar 3 € para ter um copo e recebê-los de volta quando o copo fosse devolvido.
Consegui degustar umas excelentes bochechas de porco no stand do Tromba Rija, onde também pedi umas gotas de vinho Nova Safra, que estava ali a jeito. Ao lado um pouco de cabrito no forno e a finalizar um bacalhau verde não sei onde. Já perto das 21, foi hora de passar às sobremesas mas, em fim de festa, acabámos por conseguir provar diversos doces já sem nos pedirem as últimas senhas. De novo no Tromba Rija, podia-se raspar a travessa duma excelente Sopa Dourada, que ainda deu para repetir. Fiquei jantado, em suma.
Mas como não há bela sem senão, à boa maneira portuguesa, tinha que falhar qualquer coisa e a barraca dos pratos e dos talheres é incompreensível. Parece que calcularam 1500 visitantes e apareceu mais do dobro. Parece que em Portugal não sabem fazer contas e, como sempre, nunca se prevê nada como deve ser.

Kroniketas, enófilo esclarecido

quinta-feira, 18 de janeiro de 2007

No meu copo, na minha mesa 82 - Text Cabernet-Merlot; A Carvoaria (Cascais)


Um restaurante e um vinho surpreendentes. A Carvoaria fica em Cascais num bairro de ruas estreitas junto ao Pavilhão do Dramático, que nos anos 70 e 80 era a catedral dos concertos de rock em Portugal. Algures por ali encontra-se este restaurante à base de carne confeccionada à moda da África do Sul. As opções são imensas mas todas à volta de pratos sul-africanos, com destaque para uma série de bifes com nomes ingleses.
Para duas pessoas escolhemos dois bifes “Charolais” com molho de natas e pimenta verde, mal passados como se impunha. Vieram duas peças de carne alta e rosada muito tenra e saborosa, com um molho espesso e não excessivamente apimentado. Outra surpresa foi um acompanhamento de rodelinhas de cebola frita, muito saborosa, que ao contrário do que eu esperava não provocou mau hálito nem dificuldades de digestão.
Na parte dos vinhos, a carta não é muito extensa mas as opções são boas e suficientes para vários gostos e preços. Também aqui havia a opção de vinhos sul-africanos, embora dois dos quatro da lista não existissem (um péssimo hábito cada vez mais comum em Portugal), acabando por ser escolhido um que não constava da lista sugerido pelo chefe, único funcionário a atender os clientes (aparentemente é o dono do local).
O vinho escolhido, completamente desconhecido, dava pelo nome de “Text” e era composto por um lote das castas Cabernet Sauvignon e Merlot. Mostrou uma cor rubi bastante concentrada. Ao primeiro contacto olfactivo sobressaíram desde logo os aromas a frutos vermelhos, pimentos verdes, groselha, um pouco achcolatados, tão típicos da Cabernet. É um aroma que me apaixona e parece ir buscar quaisquer memórias escondidas sempre que cheiro os vinhos desta casta.
Na boca o vinho apresentou-se macio, pois a Merlot equilibra a adstringência natural da Cabernet e retirou-lhe a predominância habitual de especiarias que esta apresenta quando vinificada em extreme. Um corpo suave e elegante, embora suficientemente poderoso para encher o palato e proporcionar um final de boca prolongado mas macio.
Em resumo, é um vinho de perfil moderno, que se bebe com facilidade. Para mim é daqueles vinhos que apetece ir bebendo quase sem se dar por isso, até porque não segue a moda, tão em voga em Portugal, do álcool excessivo, ficando-se por uns aceitáveis 13 graus, que estão perfeitamente ajustados para o corpo e a acidez moderada do vinho.
O restaurante é daqueles onde vale a pena ir para almoçar ou jantar sossegadamente, num ambiente quase intimista. O espaço não é grande, tem apenas 40 lugares, o ambiente é calmo e sossegado, o serviço rápido e atencioso, a confecção é excelente. Tem tudo para nos sentirmos lá bem e sairmos melhor.

Kroniketas, enófilo esclarecido

Restaurante: A Carvoaria (sul-africano)
Rua João Luís de Moura, 24
2750-387 Cascais
Telef: 21.483.04.06
Preço médio por refeição: 20 a 25 €
Nota (0 a 5): 4,5

Vinho: Text, Cabernet Sauvignon e Merlot (T) (sem data de colheita)
Região: Western Cape (África do Sul)
Produtor: Text Wine - Craighall
Grau alcoólico: 13%
Castas: Cabernet Sauvignon, Merlot
Preço no restaurante: 13,50 €
Nota (0 a 10): 7,5

terça-feira, 16 de janeiro de 2007

No meu copo 81 - Tinto da Talha Grande Escolha, Syrah e Touriga Nacional 2004

Um dos melhores, ou mesmo o melhor produto da Roquevale, este Tinto da Talha Grande Escolha. Numa gama de vinhos em que o Tinto da Talha aparece na gama média-baixa, o Grande Escolha é claramente uma aposta para cima a um preço bastante acessível.
Começa por mostrar uma cor rubi brilhante e aroma muito marcado pelos frutos e uma leve lembrança a compotas. Na boca o primeiro ataque é algo violento e áspero, com os 14% de álcool a marcarem o terreno. É preciso dar-lhe tempo para respirar e libertar-se da garrafa. Meia-hora mais tarde aí temos o vinho a mostrar-se em pleno, com muita juventude no paladar a trazer consigo os taninos ainda por domar, mas ao mesmo tempo com grande elegância e complexidade. Com o decorrer da refeição vai-se tornando cada vez mais macio e aberto, sem deixar de mostrar a sua garra e mantendo sempre grande vivacidade da prova. Foi bebido a acompanhar um lombo de porco assado no forno e fez as delícias de todos presentes.
É um vinho ao mesmo tempo pujante e elegante, com a pujança certamente a vir da casta Syrah e a elegância e complexidade a serem-lhe dadas pela Touriga Nacional, e está pronto para acompanhar os grandes pratos alentejanos como borrego no forno ou migas com carne de porco. Sendo ainda muito jovem, poderá melhorar na garrafa ganhando maior consistência aromática, desde que a acidez se mantenha equilibrada para envolver o álcool.
Um excelente produto da Roquevale. Daqueles que já provei, situo-o no segundo patamar, logo a seguir ao Roquevale de rótulo preto, parecendo-me um produto mais bem conseguido que os varietais desta casa. Está de parabéns a enóloga Joana Roque do Vale. É mais uma presença garantida nas nossas escolhas.

Kroniketas, enófilo esclarecido

Vinho: Tinto da Talha Grande Escolha, Syrah e Touriga Nacional 2004 (T)
Região: Alentejo (Redondo)
Produtor: Roquevale
Grau alcoólico: 14%
Castas: Syrah, Touriga Nacional

Preço em feira de vinhos: 6,61 €
Nota (0 a 10): 8

sábado, 13 de janeiro de 2007

E depois do encontro...

Como é, companheiros, quem é que lança o próximo “Desafio Prova à Quinta”?

Kroniketas

I Encontro de Eno-blogs - O evento

E esta noite deu-se o grande acontecimento. Na York House, às Janelas Verdes, encontraram-se os autores de vários blogs vinícolas mais respectivos convidados e alguns independentes que se quiseram associar à iniciativa (e muito bem), o que proporcionou momentos de animado convívio e trocas de opiniões, a prova de algumas boas pingas e um jantar repleto de deliciosas iguarias.
Se não me falham as contas, registámos a presença do Copo de 3, do Saca-a-rolha, de Os vinhos, do Vinho a copo, além do promotor da iniciativa, o Pingas no Copo e os independentes Chapim, AJS, Pedro Sousa (PT) e Chicão (peço desculpa se me faltou alguém, mas no primeiro encontro é difícil fixar os nomes e as caras de toda a gente e associá-los desde logo aos pseudónimos usados nos blogs). O comparsa madeirense do Elixir de Baco também quis associar-se através de duas garrafitas de Verdelho da Madeira, que marcharam logo na prova, provocando algumas opiniões divergentes devido à discrepância entre o agrado da prova de boca e o seu final quase instantâneo. Mas valeu a pena a prova. Uma saúde para ti, companheiro. E que a próxima nos permita contar com a tua presença.
As Krónikas Vinícolas fizeram-se representar em peso, pois levaram 3 convidados que participam habitualmente nos repastos do Grupo Gastrónomo-Etilista “Os Comensais Dionisíacos” (entre eles o Politikos, do Polis&Etc), pelo que, juntamente com o Vinho a Copo, fomos o blog mais representado.
No meio de tantos vinhos degustados antes e durante o jantar, como não tirámos notas é difícil sistematizar tudo o que foi provado, mas salvaguardados os diferentes gostos e preferências de cada um, para mim houve um claro vencedor da noite: o Hexagon, da José Maria da Fonseca, numa garrafa de litro e meio, que me encheu as medidas mais que qualquer outro (devo dizer que esta opinião não é sequer unânime entre o grupo das Krónikas Vinícolas, é puramente pessoal). Grande corpo, grande estrutura, excelente exuberância aromática, este topo de gama criado, como sempre, sob a batuta de Domingos Soares Franco, que deve ter um preço proibitivo aí no mercado. Não me lembro quem levou o vinho, mas em boa hora o fez e tiro-lhe o meu chapéu.
Do lado contrário, a decepção da noite foi um Dão Casa de Santar Tinto Superior, de 2001. Dado o patamar de qualidade a que esta casa nos habituou, esperava-se que este Tinto Superior, que suponho estar situado num patamar acima do Reserva (que já é um vinho de superior qualidade), estivesse próximo do sublime, mas afinal acabou por revelar-se vulgar, sem encantar, ao que me pareceu, nenhum dos presentes. O meu comentário na hora foi que lhe faltava corpo... e alma, e está tudo dito.
No final da refeição houve dois vinhos do Porto para comparar, um Colheita de 91 (da Niepoort) e um LBV (da Warre's), e o meu veredicto é... X. Gostei de ambos, cada um com o seu perfil., embora não sejam comparáveis, mas não consigo pender para qualquer dos lados. Para mais pormenores, aconselho a leitura dos outros blogs presentes, onde certamente haverá uma descrição mais detalhada das muitas provas realizadas.
Quanto ao repasto, a entrada de folhado de pato estava saborosíssima, os filetes de linguado excelentes (marcharam enquanto o diabo esfrega um olho), e as presas de porco (que substituíram as costeletas de borrego devido a imponderáveis de última hora) também se comeram bem, embora fossem o prato mais vulgar dos três. Também a tarte estava muito boa, com um gelado e um toque de canela bastante agradáveis.
No final de tudo, o regresso processou-se de táxi, tal como a ida, para não arriscar, mas afinal não estávamos tão afectados como seria de supor, pois bebeu-se com moderação e sem exageros. Afinal, somos todos amantes dos néctares de Baco mas não alcoólicos.
Só me resta agradecer ao anfitrião da York House, José Tomaz de Mello Breyner, pela disponibilidade demonstrada para acolher esta iniciativa, ao Pingus Vinicus por ter dinamizado a coisa e concentrado a informação para os preparativos do acto, e a todos os comparsas que escrevem, lêem e comentam os nossos blogs, e que tive o prazer de conhecer neste encontro e com os quais troquei opiniões bastante interessantes, enriquecendo mais um pouco os meus conhecimentos sobre este mundo tão fascinante que é o do vinho. Faço votos para que esta tenha sido apenas a primeira de muitas iniciativas do género que se repitam pelo tempo fora. Um brinde a vocês todos.
À nossa!

Kroniketas, enófilo esclarecido e ainda sóbrio

sexta-feira, 12 de janeiro de 2007

No meu copo 80 - Marquês de Marialva Reserva, Baga 2003

Neste novo ano voltamos à Bairrada para falar dum vinho monocasta da tradicional Baga, a casta ex-libris da região. Tal como no final do ano passado, apresentamos um vinho da Adega Cooperativa de Cantanhede, este mais recente.
Tem uma cor rubi intensa e um aroma fortemente frutado. Na boca apresenta-se robusto e bem estruturado, com um corpo cheio. Mantém o perfil habitual nos vinhos deste produtor, com os taninos bem domados embora façam notar a sua presença, como é típico da Baga, embora se faça sentir o grau alcoólico mais elevado do que era costume. Estagiou 6 meses em barricas de carvalho português, francês e americano, mas a madeira não se sobrepõe aos aromas do vinho. Termina longo com um final marcado por especiarias.
Parece ser um vinho para durar, como aliás é típico na Bairrada, onde os vinhos muito adstringentes em novos amaciam com a idade enquanto ganham aromas secundários e terciários que lhes conferem, por vezes, um “bouquet” extraordinário que não se encontra nas outras regiões. Este Marquês de Marialva está já bem bebível porque os taninos foram arredondados, mas ainda poderá desenvolver outros aromas na garrafa. Ganha em ser aberto com alguma antecedência e pode-se bater com pratos de carne bem temperados. E pelo preço que custa, é uma aposta a repetir com frequência pelos amantes do género, como é o caso aqui das Krónikas Vinícolas. É uma das presenças garantidas nas nossas escolhas.

Kroniketas, enófilo esclarecido

Vinho: Marquês de Marialva Reserva, Baga 2003 (T)
Região: Bairrada
Produtor: Adega Cooperativa de Cantanhede
Grau alcoólico: 14%
Casta: Baga

Preço: 4,29 €
Nota (0 a 10): 7,5

quarta-feira, 10 de janeiro de 2007

No meu copo, na minha mesa 79 - Quinta do Sanguinhal 98; William Fevre 2004; Restaurante O Jacinto



Este é um dos restaurantes de Lisboa que conheço há mais tempo. Situa-se numa vivenda em Telheiras, na zona da antiga Quinta de S. Vicente, junto à Azinhaga das Galhardas. Para lá chegar, a melhor forma é apanhar a 2ª circular no sentido Aeroporto-Benfica e sair na primeira a seguir ao Campo Grande. Entra-se directamente na azinhaga e chega-se imediatamente a uma espécie de alameda onde fica o restaurante. Indo do lado de Benfica, ou se vai ao Campo Grande e volta-se para trás para usar esta saída, ou tem de se entrar por Telheiras e, algures nuns semáforos a seguir à escola, virar à direita e andar por umas ruelas sem grande identificação até chegar à rua do restaurante.
Em tempos recuados tinha uma das melhores açordas de marisco da capital, senão a melhor. Valia a pena ir lá para comer a açorda. Também havia uns croquetes quentinhos para entrada que eram uma delícia. Na década de 80 atravessou uma crise que pode ter sido justificada por cortar nos ingredientes. Lembro-me duma açorda que em vez de marisco tinha apenas delícias do mar. Actualmente tem marisco, embora pouco e cortado ao meio, mas a açorda continua a ter aquele paladar que fez as minhas delícias há 30 anos. A verdade é que nas últimas visitas a casa estava cheia, e na última assim aconteceu.
Além da inevitável açorda de marisco, ainda vieram para a mesa um caril de gambas, uma picanha e uma perna de porco assada no forno. Destes só provei a picanha, porque fui lá de propósito para comer a açorda de marisco (isto porque ir ao Pap’Açorda no Bairro Alto nem sempre é prático). A picanha cumpriu como é habitual. A açorda também. Muito bem temperada, com muita salsa, bastante aromática, na consistência certa. Enfim, apesar de modesta na quantidade de marisco, soube bem comer e deixou-me plenamente satisfeito, assim como os restantes comensais que optaram pelo prato.
Para sobremesa vieram apenas duas encharcadas de ovo, talvez um dos melhores doces de ovos que existem. Tal como no Alqueva, comeu-se e ficou a apetecer mais.
O serviço é atencioso, simpático, rápido e eficaz, o ambiente acolhedor, a ementa variada. Não será o melhor restaurante de Lisboa, mas tem todas as condições para ser um dos melhores, e só não será se os responsáveis não quiserem.
Para os líquidos, como havia peixes e carnes, pediu-se um branco e um tinto, e tentámos fugir ao mais habitual, pedindo dois vinhos menos vistos. Apesar de uma carta de vinhos extensa (embora pobre nalgumas regiões), como é frequente nos restaurantes portugueses pede-se um vinho que está na carta e depois não existe na garrafeira. Assim voltou a acontecer por duas vezes, e acabámos por ficar por um William Fevre (branco) e um Quinta do Sanguinhal (tinto).
Foi a minha segunda experiência com um William Fevre. A primeira tinha sido no Chafariz do Vinho, com um Sauvignon Blanc de 2004. Desta vez não era mencionada a casta, mas no contra-rótulo vinha a indicação de ser apenas Chardonnay. Tinha uma bela cor amarelo palha, era frutado como quase todos os Chardonnay, mas desta vez sem ser enjoativo, com um toque floral e bastante equilibrado em termos de corpo e acidez, denotando bastante frescura no paladar. Agradou a todos os presentes, embora eu tivesse gostado mais do Sauvignon Blanc por ser mais suave.
Para o tinto escolhemos este da região de Óbidos, que em tempos já teve algum destaque com o Gaeiras (branco e tinto), mas que na última década tem andado mais ou menos desaparecida. A verdade é que este Quinta do Sanguinhal, de 1998, já com alguma evolução bem presente, revelou-se ainda em grande forma e foi uma agradável surpresa. Bom corpo, uma cor retinta e bons taninos, bom equilíbrio entre o carácter frutado e a madeira nova de carvalho francês, suave e elegante no paladar. Ficámos curiosos acerca deste vinho com menos dois ou três anos, poderá ser um caso a ter muito em conta. Sem dúvida um vinho a rever.

tuguinho e Kroniketas, enófilos esforçados e esclarecidos

Restaurante: O Jacinto
Av. Ventura Terra, 2 (Telheiras)
1600 Lisboa
Telef: 21.759.17.28
Preço médio por refeição: 25 €
Nota (0 a 5): 4

Vinho: William Fevre 2004 (B)
Região: Chablis (França)
Produtor: William Fevre - Chablis
Grau alcoólico: 12%
Castas: Chardonnay
Preço no restaurante: 27,50 €
Nota (0 a 10): 7,5

Vinho: Quinta do Sanguinhal 98 (T)
Região: Estremadura (Óbidos)
Produtor: Companhia Agrícola do Sanguinhal
Grau alcoólico: 12%
Castas: Castelão, Tinta Miúda, Carignan
Preço no restaurante: 15,50 €
Nota (0 a 10): 8

domingo, 7 de janeiro de 2007

Novidades... de ano novo

Com a entrada de 2007 fizemos a migração dos nossos blogs para a nova versão do Blogger, o que esperamos traga mais estabilidade ao sistema e maior facilidade de gestão do blog. Mas isso agora não interessa nada, como diria a outra.
O que interessa é que passámos a dispor duma nova ferramenta que nos permite catalogar os posts de modo a filtrá-los, conseguindo mostrar apenas os que pertencem a uma determinada categoria. As categorias podem referir-se a restaurantes, vinhos, receitas. Para os restaurantes também existe a referência à região ou distrito onde se situam. Para os vinhos existe a referência ao tipo (tinto, branco, rosé, espumante, champanhe, porto), à região e sub-região, se existir, ao produtor, às castas, e nalguns casos à marca ou à quinta onde é produzido. Para as receitas existe a referência a carnes, peixes, mariscos, legumes, doces.
No mesmo post podem aparecer todas estas referências misturadas. O Blogger ordena-as alfabeticamente, pelo que há que estar identificado com o significado de cada uma para não nos perdermos em tantas referências. A título de exemplo, veja-se o post sobre o jantar de fim de ano. Há referência a restaurantes e ao local, Lisboa. Para os vinhos há a referência a brancos e tintos, às regiões de Terras do Sado e Alentejo, e dentro desta à sub-região de Reguengos. São referidos os produtores José Maria da Fonseca e Herdade do Esporão (de forma abreviada), e finalmente as castas dos vinhos (informação que nem sempre é possível obter), Moscatel para o branco e Castelão e Aragonês para o tinto. Desta forma, fazendo clique no marcador Esporão o blog mostrará todos os vinhos com esta referência. Infelizmente não permite fazer filtragens múltiplas, pelo que não é possível seleccionar Esporão e depois, por exemplo, Aragonês, o que daria todos os vinhos do Esporão feitos com essa casta. Ao fazer clique nesse marcador serão mostrados todos os vinhos com Aragonês, de todas as regiões e todos os produtores.
Esperamos que esta catalogação torne mais interessante a consulta ao nosso blog, facilitando o acesso à informação mais antiga.
E bom ano de 2007 para todos os eno-bloguistas... e para os outros também.

tuguinho e Kroniketas, enófilos e tudo

quinta-feira, 4 de janeiro de 2007

Prova à Quinta - O quarto


A. C. Borba, Alfrocheiro 2002

Para o desafio lançado pelo Elixir de Baco, de apreciar um vinho varietal de uma casta portuguesa fora das habituais Aragonês/Tinta Roriz, Baga, Touriga Nacional e Trincadeira, escolhemos para a prova um Alfrocheiro da Adega Cooperativa de Borba, provado num jantar no restaurante Alqueva.
Não temos provado muitos monocasta de Alfrocheiro, mas os últimos deixaram-nos encantados. Já tínhamos provado o da Herdade do Peso, que por sinal também teve a companhia de um Aragonês, e agora bebemos novamente um Alfrocheiro seguido de um Aragonês, e o primeiro voltou a ganhar.
O Alfrocheiro 2002 da A. C. Borba mostrou um aroma exuberante logo no primeiro contacto, apresentando depois um corpo cheio e bem suportado por taninos sólidos mas não agressivos. Contrariando a moda, não tem um teor alcoólico excessivo (12,5%, uma raridade nos tempos que correm, principalmente no Alentejo), o que realça ainda mais os aromas e a estrutura do vinho, assim como o fim de boca bem prolongado. Não é um vinho excepcional mas está muito acima da vulgaridade e merece, seguramente, uma nova apreciação.
Não deixa de ser curioso que nesta segunda comparação que fazemos entre o Alfrocheiro e o Aragonês da mesma casa, a casta menos famosa supere a sua congénere em todos os parâmetros. Donde se pode concluir que temos muito boas castas fora daquelas quatro e com potencialidades para fazer grandes vinhos. Este Alfrocheiro, parece-nos, tem tudo para se tornar mais uma casta de referência no panorama nacional, pois até há pouco tempo estava sempre ofuscada pelas outras com que era misturada, o que prova a importância de conhecer os vinhos varietais para melhor apreciar as potencialidades de cada casta “de per si”.

Kroniketas, enófilo esclarecido

Vinho: Alfrocheiro 2002 (T)
Região: Alentejo (Borba)
Produtor: Adega Cooperativa de Borba
Grau alcoólico: 12,5%
Casta: Alfrocheiro
Preço no restaurante: 12,75 €
Nota (0 a 10): 8

quarta-feira, 3 de janeiro de 2007

No meu copo, na minha mesa 78 - João Pires 2004; Vinha da Defesa 2004; A Travessa do Rio



Para o fim-de-ano juntaram-se no restaurante Travessa do Rio, em Benfica, os faltosos do último repasto com esta metade das Krónikas Vinícolas. Tivemos, portanto, a outra metade dos “Comensais Dionisíacos” de regresso ao local do crime, pois foi naquele local que numa noite de Julho de 2000 foi dado o nome ao grupo e elaborados os estatutos.
Tratando-se de um grupo alargado com outros comensais e mais alguns descendentes, depois de alguns entreténs-de-boca como rissóis, queijos, presunto, ovas e filetes, o pessoal já estava meio jantado quando passámos à ementa. As opções eram variadas e para todos os gostos, mesmo não sendo em número muito elevado. Por consenso entre todos, para 8 adultos e 3 crianças pediram-se 3 doses de filetes de peixe-galo com arroz de marisco e 3 de palleta de cordeiro assada no forno.
Sem ser necessário pedi-lo expressamente, foram servidos primeiro os filetes, que estavam deliciosos assim como o arroz, que veio a acompanhar num prato à parte, malandrinho e de comer e chorar por mais. Rapidamente a minha dose de arroz desapareceu, e o mestre de serviço imediatamente se prontificou a trazer um reforço, mesmo sem eu pedir.
Terminada a função com o peixe, passámos então à carne, que cumpriu o que se esperava. Uns excelentes bocados de cabrito com batatinhas assadas e grelos cozidos, que marcharam até ao fim, embora nesta fase o apetite já fosse desaparecendo, mas perante tão deliciosos pitéus é difícil resistir.
Para acompanhar a refeição pedimos um vinho branco e um tinto. Dados os preços obscenos para o vinho que se continua a praticar nos restaurantes, cada vez é mais difícil escolher vinhos decentes sem ser por valores indecentes. Mas conseguimos fazer duas boas escolhas, dois vinhos que têm lugar assegurado nas nossas sugestões. Para o branco escolheu-se um João Pires, a 9,50 € (preço em feira de vinhos: 4,48 €), por sinal um dos meus brancos preferidos, e para o tinto um Vinha da Defesa, da Herdade do Esporão (que por coincidência foi o vinho bebido há exactamente um ano, na passagem-de-ano anterior), por 14,50 € (preço em feira de vinhos: 6,28 €). Ambos da colheita de 2004.
Como se esperava, estavam os dois excelentes. Já tínhamos feito uma apreciação ao João Pires de 2004. O Vinha da Defesa 2004 tem mais álcool que o de 2003, 14,5%, mostrando um aroma mais exuberante logo de início. Mantém o carácter frutado, com os taninos bem presentes, típicos do Aragonês, mas muito disfarçados por um corpo cheio e um leve toque caramelizado que lhe é dado pelo Castelão. Parece ter melhorado em relação ao de 2003, estar mais apurado, embora quanto a mim continue a verificar-se um excesso de álcool.
Como se aproximava a meia-noite e ainda havia uns doces para degustar em casa com o espumante, abdicámos das sobremesas.
A Travessa do Rio fica num beco entre a Estrada de Benfica e a Avenida Gomes Pereira. A pé pode-se entrar por baixo das arcadas da Estrada de Benfica e está-se imediatamente junto à porta. De carro entra-se pela avenida Gomes Pereira e vira-se para a Travessa do Rio, a última perpendicular antes da Estrada de Benfica. Foi a minha terceira vista a este restaurante, e esta foi a que mais me agradou em termos de refeição e de serviço. Casa cheia e, apesar de tudo, serviço eficiente, pronto, atencioso. Sempre que faltava algo na mesa (nas entradas, nas bebidas ou no prato) logo alguém se prontificava a trazer mais. O serviço de vinhos não é excepcional mas houve o cuidado de servir o vinho tinto em copos adequados, de pé alto, boca larga e em forma de tulipa para podermos arejar e aspirar o aroma do vinho.
Na conta é que fiquei com dúvidas sobre se tínhamos pago mais do que aquilo que comemos nas entradas, pois não sei se todas as doses foram encetadas. Os preços dos pratos não são suaves, na casa dos 15 euros ou mais, mas a qualidade dos mesmos e do serviço compensa largamente. De resto, numa refeição com menos entradas pode-se conseguir pagar um pouco menos. Uma referência a fixar.

Kroniketas, enófilo esclarecido

Restaurante: A Travessa do Rio
Travessa do Rio, 6
1500-551 Lisboa
Telef: 21.716.05.43
Preço por refeição: 30 a 35 €
Nota (0 a 5): 5

Vinho: João Pires 2004 (B)

Vinho: Vinha da Defesa 2004 (T)
Região: Alentejo (Reguengos)
Produtor: Herdade do Esporão
Grau alcoólico: 14,5%
Castas: Aragonês, Castelão
Preço em feira de vinhos: 6,28 €
Nota (0 a 10): 8

terça-feira, 2 de janeiro de 2007

Novos recordes

No passado mês de Dezembro as Krónikas Vinícolas bateram todos os recordes de visitas aos nossos blogues, com mais de 1100 visitas, batendo claramente o máximo anterior das Krónikas Tugas e apresentando uma média diária bem acima destas.
Isto significa que neste momento as KV têm mais visibilidade que as KT, e que há pessoal que vem às KV e não vai às KT. Por isso, vamos lá deixar de pensar só nas vinhaças e dar uma saltada às Krónikas Tugas, onde se fala de muito mais assuntos, ok? Deixem lá o álcool um bocadinho! :-)

Kroniketas, enófilo sóbrio