sábado, 17 de fevereiro de 2007

No meu copo 89 - Adega de Pegões, Colheita Seleccionada 2001; Quatro Regiões 97

Uma peça de javali, generosamente oferecida pelo caçador de serviço, foi pretexto para uma reunião do plenário do Grupo Gastrónomo-Etilista “Os Comensais Dionisíacos”, 13 meses depois dum repasto épico copiosamente regado para acompanhar lebres e perdizes.
Como fiel depositário dos restos mortais do “senhor porco”, como diria o Pumba, mais uma vez abri as portas (e a mesa) para receber a cambada. O suíno foi cozinhado na panela com banha e azeite depois de marinar em sal, alho, cebola, limão, laranja, cravinho e vinho tinto. Deixou um abundante molho e uma carne suculenta e muito saborosa.
Pesquisando a garrafeira, resolvi fugir ao hábito dos vinhos alentejanos e lá fui buscar para a segunda fase da operação “O desbaste da garrafeira” uns exemplares de Terras do Sado, que ficaram de pé um dia antes, para assentar eventuais borras que os vinhos apresentassem. Ainda chegaram alguns reforços, como o Herdade da Figueirinha de que já falámos no post abaixo e abriu as hostilidades ainda antes de passarmos à mesa, mas perante a diversidade da escolha os outros ficaram de reserva para a próxima. Na hora de atacar o animal no prato foram previamente decantadas as duas primeiras garrafas escolhidas.
Começámos por um dos últimos exemplares que nos restam do Quatro Regiões 97, que foi alvo de várias provas ao longo do último ano. Quando comprámos este vinho, em várias levas entre Outubro de 2003 e Outubro de 2004, ficámos esmagados pela sua pujança, pela exuberância de aromas e sabores, pelo longo fim de boca. Passaram estes anos e o vinho perdeu a pujança e a frescura, mas esta garrafa revelou-se em muito melhor forma que as duas primeiras provadas em 2006, sem os sintomas de declínio e falta de acidez detectados anteriormente, o que mais uma vez confirmou que os vinhos guardados são sempre uma incógnita quando vamos bebê-los: tanto podemos ter uma boa surpresa como uma decepção. Neste caso ficámos pelo meio-termo.
Em seguida passámos a duas garrafas do “sui generis” Pinheiro da Cruz, que vão merecer um post autónomo, porque acerca deste vinho muito há para dizer.
Já com o javali a desaparecer dos pratos e da panela, ainda fomos buscar mais uma garrafa para compor o painel de Terras do Sado: um Adega de Pegões tinto, Colheita Seleccionada de 2001. Uma estreia absoluta por estes lados (no branco já somos repetentes) que, perante a surpresa geral, foi unanimemente considerado o melhor vinho da noite. De cor granada, corpo robusto que nunca mais acaba, daquele que quase se mastiga, algum frutado misturado com um toque a especiarias, final de boca longo, alguma adstringência na prova com os taninos bem presentes mas sem se tornarem excessivos, quase apetecia que este não acabasse. Sem dúvida um vinho adequado para pratos fortes de carne e principalmente caça, como este. A Cooperativa de Pegões a impor-se no panorama vitivinícola nacional com vinhos de qualidade e a baixo preço. A repetir.
Terminámos com um Porto LBV da Quinta do Infantado, que também vai ser alvo de post autónomo, a acompanhar um excelente pudim Molotof e o reincidente bolo rançoso. E assim resta esperar pela fase 3 da operação “O desbaste da garrafeira”.

Kroniketas, enófilo esclarecido

Vinho: Adega de Pegões, Colheita Seleccionada 2001 (T)
Região: Terras do Sado
Produtor: Cooperativa Agrícola Santo Isidro de Pegões
Grau alcoólico: 13,5%
Castas: Cabernet Sauvignon, Touriga Nacional, Trincadeira
Preço em feira de vinhos: 6,25 €
Nota (0 a 10): 8


Vinho: Quatro Regiões 97 (T)