quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Seis Reis sem coroa



Ao repasto no São Rosas seguiu-se a visita ao Monte Seis Reis, uma herdade próxima de Estremoz, situada na estrada para Sousel e logo a seguir à Quinta da Esperança, onde são produzidos os vinhos Encostas de Estremoz. O Monte, adquirido em 1997, tem cerca de 50 hectares, 30 de sobreiro, 8 de uva tinta e 4 de uva branca, em solos de xisto e argila, tendo produção própria de vinho desde 2003.
Chegados à recepção, onde se pode adquirir uma grande variedade de produtos da casa e da região, foi-nos proporcionado, juntamente com outros visitantes, um circuito pela adega, sala de barricas e museu, onde estão expostos utensílios agrícolas, objectos, fotografias e quadros evocativos da história e do fabrico do vinho e da região, bem como dos seis reis que deram o nome ao Monte. Em anexo, uma galeria de arte moderna procura conferir maior densidade cultural ao espaço. O projecto, integrado e claramente pensado também para o enoturismo, está globalmente bem conseguido. Na adega, um varandim permite uma panorâmica global sobre toda a adega, valorizada pelo facto de a vista ser feita de uma cota superior. Um placard explicativo das diversas fases do fabrico do vinho permite-nos perceber como se desenrola todo o processo. O museu, com uma forte componente visual, muito ilustrado com fotografias e desenhos, onde até nem falta um mapa das regiões vitivinícolas, tem também esta interessante componente pedagógica, ilustrando não só as diferentes fases da produção do vinho, mas também a sua história e a da região. Numa sala anexa, um vídeo complementa a visita antes da prova. Já a galeria de arte, pelas peças expostas e pela organização do espaço, nos parece algo pífia, prometendo mais do que pode dar.
Passámos, finalmente, à sala de degustação, um espaço amplo, com uns balcões que permitem o convívio e a explicação à volta do que se vai bebendo e de cujas janelas se vislumbram os vinhedos em redor. Uma sala de jantar anexa permite ainda a realização de festas e eventos. Aí foram-nos postos à disposição um branco, um rosé e quatro tintos: Boa Memória (branco e tinto), Monte Seis Reis Rosé, Bolonhês, Monte Seis Reis Touriga Nacional e Monte Seis Reis Syrah. O Reserva, apesar das insistências do grupo junto da guia, não foi provado. Aqui, porém, começou a parte negativa, porque os vinhos manifestamente não nos convenceram. Desde o tinto mais barato (4,50 €) ao mais caro (25 €), achámos todos inflacionados para a qualidade que apresentam. Por menos de 4,50 € compra-se vinho bem melhor em Portugal, nomeadamente o Cabriz e o Casa de Santar, já para não falar em muitos outros a começar, e porque estamos no Alentejo, no Monte Velho.
Fomos por aí acima nos diversos patamares e sempre que nos era dito o preço de um vinho imediatamente me ocorriam meia dúzia deles muito melhores. Nos 10, nos 15 ou nos 25 €, nenhum fez jus ao preço que apresenta. Talvez se reduzissem os preços para metade os vinhos ficassem posicionados no escalão que realmente merecem.
Como balanço final, distinguimos duas partes: o merchandising e os produtos. A primeira, englobando loja, adega, museu, galeria de arte e acolhimento, merece uma nota francamente positiva. A segunda, o produto, afinal aquilo que mais interessa, atentos os preços, fica-se apenas pelo sofrível. E é pena porque o lugar e todo o projecto mereciam que os vinhos que dali saem estivessem à altura.

Kroniketas e Politikos, visitantes decepcionados