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sábado, 29 de novembro de 2008

No meu copo, na minha mesa 216 - Frei João 2003; Vasku’s Grill















Este continua a ser um local de regresso recorrente e presença assídua aqui nas Krónikas Vinícolas. Uma ocasião de efeméride familiar proporcionou uma deslocação ao local para comer o excelente fondue do lombo da casa, um verdadeiro “must” daquela ementa. Para mim, o melhor fondue da zona de Lisboa. Carne excelente, os molhos e as frutas muito bem combinados com os sabores da carne, um verdadeiro pitéu. De todas as vezes que lá vou fico indeciso entre comer o fondue ou outra coisa qualquer. Normalmente vou alternando, vez-sim vez-não.
Como estava acompanhado do núcleo familiar e praticamente só eu é que ia beber vinho, escolhi um dos mais baratos e a opção recaiu no Frei João, colheita de 2003, que sempre se porta muito bem com este prato. Desta forma pude também rever um dos meus vinhos preferidos na gama de entrada, que nunca me desiludiu.
Esta colheita mantém mais ou menos o perfil habitual, bem encorpado e com alguma robustez mas sem exagero. Macio quanto baste e com os taninos arredondados para ser bebível com relativa facilidade (os não apreciadores dos vinhos da Bairrada acham-no sempre áspero), está um pouco mais modernizado sem deixar de ter a marca dum bairradino clássico. Apresenta cor granada, algumas notas de frutos secos bem ligados com madeira muito discreta. Continua a agradar-me muito e a entrar na minha lista dos recomendáveis e, francamente, sempre achei que ele vale bem mais do que aquilo que o preço indica. Quem disse que um vinho barato não pode ser bom?
Quanto ao Vasku’s, mantém o nível de sempre. A qualidade do serviço tem sido apurada e o serviço de vinhos também. Vale a pena lá voltar para comer o fondue ou um dos muitos bifes de alcatra, lombo ou vazia.

Kroniketas, enófilo carnívoro

Restaurante: Vasku’s Grill
Rua Passos Manuel, 30
Telef.: 21.352.22.93
1150-260 Lisboa
Preço por refeição: 20 a 25 €
Nota (0 a 5): 4,5

Vinho: Frei João 2003 (T)
Região: Bairrada
Produtor: Caves São João
Grau alcoólico: 13%
Castas: Baga, Touriga Nacional, Camarate
Preço em feira de vinhos: 1,99 €
Nota (0 a 10): 7,5

domingo, 22 de junho de 2008

No meu copo 184 - Quinta do Encontro, Preto Branco 2004

A Quinta do Encontro é uma das muitas quintas que a Dão Sul, empresa sedeada em Carregal do Sal, já possui em várias regiões do país (Dão, Douro, Bairrada, Estremadura e Alentejo), numa estratégia de expansão que a torna já uma das principais produtoras a nível nacional. Neste caso falamos da propriedade situada no coração da Bairrada, em S. Lourenço do Bairro, Anadia, que foi recentemente objecto de investimento substancial.
Desta quinta já tínhamos tido a oportunidade de provar o Quinta do Encontro Merlot-Baga e agora provámos este vinho adquirido o ano passado com um dos números da Revista de Vinhos. Apresenta um conceito invulgar, pois é feito com duas castas tintas e uma casta branca. Não sendo um Bairrada clássico, não deixa de surpreender de alguma forma pela pujança que apresenta, a fazer lembrar outros estilos, embora com um perfil mais moderno e frutado sem deixar de se apresentar algo fechado. A Baga faz sempre notar os seus efeitos. Boa estrutura na boca, com taninos firmes mas bem domados, acidez muito equilibrada e boa persistência.Enfim, não sendo de encantar não deixa de ser um vinho capaz de fazer boa figura perante pratos robustos ao mesmo tempo que pode cativar os mais renitentes perante os vinhos bairradinos.

Kroniketas, enófilo esclarecido

Vinho: Quinta do Encontro, Preto Branco 2004 (T)
Região: Bairrada
Produtor: Dão Sul, Sociedade Vitivinícola - Quinta do Encontro
Grau alcoólico: 13,5%
Castas: Baga, Touriga Nacional, Bical
Preço com a Revista de Vinhos: 5,95 €
Nota (0 a 10): 7,5


PS: outra prova deste vinho no Copo de 3

quinta-feira, 19 de junho de 2008

No meu copo 183 - Primavera, Baga 97


Mais um exemplar de Baga dos antigos. Sem estar já com aquela pujança habitual
dos tintos clássicos da Bairrada, mostrou ainda uma saúde notável para um vinho com esta idade, ainda de cor fechada, boca muito cheia e uma grande persistência, mas já amaciado pela idade, com a tradicional adstringência já bem domada.

Ainda consegue ser um daqueles vinhos que quase se mastigam, que se impõe (para apreciadores como nós) pelo contraste com os vinhos da moda, com fruta, fruta e mais fruta. Este também é daqueles onde encontramos um grau alcoólico dentro de parâmetros “normais”, sem ser cansativo.

De vez em quando continua a saber-nos bem fugir ao habitual e saborear um vinho destes, de quando a Bairrada ainda era “aquela” Bairrada que só alguns apreciavam...

Kroniketas, enófilo esclarecido




Vinho: Primavera, Baga 97 (T)
Região: Bairrada
Produtor: Caves Primavera
Grau alcoólico: 12,5%
Castas: Baga
Preço em feira de vinhos: 3,12 €
Nota (0 a 10): 7,5

sábado, 14 de junho de 2008

No meu copo 182 - Bairrada Sogrape Garrafeira 99



Este prometia ser outro clássico, mas acabou por decepcionar. No início revelou aquele aroma profundo tão típico da casta Baga, mas na prova mostrou-se delgado em demasia, sem a pujança e o corpo que normalmente os Bairrada clássicos apresentam. Talvez a mistura com as mais típicas do Dão, Alfrocheiro e Jaen, lhe tenha retirado alguma tipicidade e descaracterizado o vinho.

A evolução no copo foi favorável, mas não tanto como seria de esperar. O final foi curto e os aromas terciários que esperávamos dum Bairrada com esta idade... não estavam lá. Em tempos mais recuados este Bairrada da Sogrape fazia jus ao nome da empresa. Esperemos que esta tenha sido apenas uma colheita menos feliz. Ou então já passou o tempo de beber, mas tendo em conta as provas anteriores deveria ter outra duração.

Kroniketas, enófilo esclarecido



Vinho: Sogrape Garrafeira 99 (T)
Região: Bairrada
Produtor: Sogrape
Grau alcoólico: 12,5%
Castas: Baga, Alfrocheiro, Jaen

Preço em feira de vinhos: 5,19 €
Nota (0 a 10): 6,5

segunda-feira, 21 de abril de 2008

No meu copo, na minha mesa 174 - Ensaios Filipa Pato 2006; Soberana 2004; Casa da Dízima (Paço d'Arcos)




O centro histórico de Paço de Arcos organiza-se em torno de dois pólos: os antigos Fornos da Cal e a Rua Costa Pinto, que praticamente liga os citados fornos à zona do antigo porto fluvial, no término da qual também se encontra o Palácio dos Arcos e a antiga casa da alfândega que ao tempo cobrava impostos sobre as mercadorias que por ali passavam.
A Rua Costa Pinto actual, bem como a zona histórica envolvente, foi toda recuperada, ganhou novo empedrado e deixou de ter edifícios degradados. Mas já antes era conhecida por ter muitos restaurantes, tradição que mantém e que até foi reforçada com a abertura há alguns (poucos) anos da Casa da Dízima, restaurante que se acoita entre as paredes do antigo edifício da alfândega, e que manteve tudo o que podia da antiga edificação, o que concedeu um ambiente sui-generis à casa.
Foi nele que fomos cair num sábado à noite, as Krónikas Vinícolas completas e um compincha semi-ocasional. Dispensadas as entradas, porque dois terços dos amesendados vinham directos de uma prova de vinhos em Sintra, passou-se à escolha dos pratos principais e dos vinhos.
Eu, que não vinha de prova nenhuma e já conhecia o restaurante, tentei orientar um pouco os companheiros de mesa, mas nem precisava porque o serviço, além de eficiente, é conhecedor.
Os pratos vêm apresentados com esmero, mas não tão armados que nos impeçam de os comer, e tanto a carne de novilho de um, como a caça de outro e o bacalhau do terceiro se mostraram saborosos e bem confeccionados. O lombo de novilho foi servido acolitado por esparregado, legumes salteados e ligeiramente glaceados, queijo da serra derretido num chapeuzinho folhado e batata frita em palha (sempre incómoda de comer sem usar as mãozinhas…).
A codorniz recheada com alheira e acompanhada com um puré também com um ligeiro aroma a alheira e grelos atados num molho estava excelente, tenra e saborosa, ainda por cima já desossada. O bacalhau apresentou-se inserido num folhado, guarnecido com camarões e acompanhado por cenouras. Excelente aroma e uma combinação de sabores menos habitual tornam o prato invulgar e apetecível.
Para a sobremesa só as Krónikas se apresentaram à chamada, tendo deglutido em uníssono um “petit gâteau” de chocolate (sólido por fora, líquido por dentro) morninho, confrontado com uma bola de gelado de menta.
Passemos aos líquidos. Já se sabe que em antros de restauração a moderação tem de imperar, não tanto por motivos mais nobres, mas mais por motivos financeiros. Resolveu começar-se por um Bairrada dos modernos, para ver o que a filha de Luís Pato andaria a congeminar por aquelas bandas (sim, nós sabemos que o vinho é Regional Beiras; também os do pai o foram durante vários anos por causa das restrições da região, supomos que os da filha ainda o sejam por causa desse passado recente). O Ensaios Filipa Pato 2006 mostrou-se aberto, frutado, de taninos quase ausentes e cor violácea, corpo mediano para o delgado e gritava “bebei-me que fui feito para beber já e agradar a palatos cosmopolitas” – de Bairrada não vimos lá nada, de Baga quase também não porque além dessa casta o grosso do vinho era Touriga Nacional e Alfrocheiro. Não se pense que o vinho era mau! Até se mostrou bastante agradável e decididamente está bem feito mas pronto, nós esperávamos que fosse Bairrada…
Sinceramente, não sei se será por este caminho que os vinhos desta zona devem seguir, agora que se pode fazer quase tudo, desde que ainda seja vinho. Desde a ditadura da casta Baga até à quase total arbitrariedade na utilização de qualquer casta, passou-se do 8 para o 80 e hoje em dia ser um vinho da Bairrada pode não querer dizer absolutamente nada. Dizem por aí que os da casta Baga passaram a ter a denominação “Bairrada clássico”, mas a verdade é que até agora não os tenho visto. Quem gosta dos verdadeiros Bairradas não é com estes que se vai encantar, e quem não gostava dos outros também não vai ficar a saber o que é a Bairrada com os novos.
Para segundo vinho deslocámo-nos para sul, ainda nas Terras do Sado mas já a tresandar Alentejo por todo o lado. Estamos a falar do Torrão, ainda em pleno Alentejo e do Soberana 2004, marca intermédia do produtor, que já tínhamos tido a hipótese de provar há poucas semanas. Mais uma vez as questões burocráticas em que o nosso país é fértil obrigam-no a surgir com a denominação de Regional Terras do Sado, à semelhança do que já tinha acontecido com o Pinheiro da Cruz. Qualquer semelhança com os vinhos das Terras do Sado é mera coincidência.
Não há dúvida que é um grande vinho e merece bem os encómios que as revistas da especialidade lhe têm dedicado. Como referimos há algumas semanas, foi um dos destaques da Blue Wine no seu top 100 relativo a 2007. Confirmou o que já nos mostrara antes, um belo corpo e aromas complexos, um fundo leve de couro tanto no aroma como no sabor, cor profunda, final de boca longo e taninos ainda pungentes, apesar de dobrados. Um excelente trabalho de Paulo Laureano, num vinho que não será fácil para o iniciado mas que indicia uma provável boa evolução nos próximos tempos, apesar de já estar mais que bebível. É sempre a velha questão de qual será a melhor altura para os beber…
Também nesta área o serviço é atencioso, sem ser aborrecido, e sabedor do que sugerir e daquilo que tem na garrafeira. Tomáramos nós que fosse assim nos outros restaurantes!
Concluindo, boa comida, bons vinhos e bom serviço. Pois, não é barato mas também não é nenhum roubo, tendo em conta tudo o que mencionámos antes.

tuguinho, enófilo esforçado

Restaurante: Casa da Dízima
Rua Costa Pinto, 17
2770-046 Paço de Arcos
Telef: 21.446.29.65
Preço por refeição: 40 €
Nota (0 a 5): 4,5

Vinho: Ensaios Filipa Pato 2006 (T)
Região: Regional Beiras
Produtor: Filipa Pato
Grau alcoólico: 13,5%
Castas: Baga, Alfrocheiro, Touriga Nacional
Preço em hipermercado: 7,50 €
Nota (0 a 10): 7

Vinho: Soberana 2004 (T)
Região: Terras do Sado (Torrão)
Produtor: Soc. Agro-Pecuária das Soberanas
Grau alcoólico: 14,5%
Castas: Aragonês, Trincadeira, Alicante Bouschet, Alfrocheiro
Preço em hipermercado: 15 €
Nota (0 a 10): 8,5

sábado, 29 de setembro de 2007

No meu copo 137 - Terra Franca rosé 2005

Os brancos e rosés de férias (IV)

Este também foi aberto numa tarde de Verão com grelhados. Embora não seja desagradável, apresentou um aroma algo discreto e paladar ligeiramente frutado e seco. Não pareceu capaz de grandes voos. Mesmo pelo pouco preço que custou, acaba por não merecer o gasto e realmente parece não ter tido grande investimento por parte da empresa.
Enfim, não deixou memórias.

Kroniketas, enófilo esclarecido

Vinho: Terra Franca 2005 (R)
Região: Regional Beiras
Produtor: Sogrape
Grau alcoólico: 12%
Castas: Baga, Rufete, Tinta Barroca, Touriga Franca
Preço em feira de vinhos: 1,88 €
Nota (0 a 10): 5

sexta-feira, 9 de março de 2007

No meu copo 95 - Quinta do Encontro, Merlot-Baga 2001

Se fosse agora este vinho seria certamente um Bairrada. Como é de 2001, apesar de ser duma empresa da Anadia, que fica em pleno coração da Bairrada, é um Regional Beiras porque tem Merlot.
Eis aqui uma combinação interessante. Neste vinho a casta Merlot desempenha um papel semelhante àquele que tem nas combinações com Cabernet Sauvignon. Amacia a aspereza da casta mais adstringente. Neste Quinta do Encontro nota-se o frutado e a macieza do Merlot sem deixar de se sentir a pujança da Baga, embora já um pouco diluída.
Resultou um vinho equilibrado, com bom corpo e uma boa estrutura, mas suave. Para aqueles que não são apreciadores do Bairrada clássico devido precisamente à adstringência característica dos vinhos de Baga enquanto jovens, este casamento entre Merlot e Baga permite uma abordagem diferente e mais suave. A idade do vinho também ajuda, pois já repousou algum tempo na garrafa, mas ainda mostra uma grande vivacidade, sem sinais de cansaço nem evolução excessiva.
Foi comprado na feira de vinhos do Pingo Doce de 2002 e, por aquilo que custou, apresenta uma boa relação preço-qualidade.

Kroniketas, enófilo esclarecido

PS: Este vinho, na colheita de 2004, já aqui tinha sido comentado num post do desafio "Prova à Quinta" sobre vinhos feitos com Baga.

Vinho: Quinta do Encontro, Merlot-Baga 2001 (T)
Região: Beiras
Produtor: Dão Sul, Sociedade Vitivinícola - Quinta do Encontro
Grau alcoólico: 13%
Castas: Baga, Merlot

Preço em feira de vinhos: 6,25 €
Nota (0 a 10): 7

sábado, 17 de fevereiro de 2007

No meu copo 89 - Adega de Pegões, Colheita Seleccionada 2001; Quatro Regiões 97

Uma peça de javali, generosamente oferecida pelo caçador de serviço, foi pretexto para uma reunião do plenário do Grupo Gastrónomo-Etilista “Os Comensais Dionisíacos”, 13 meses depois dum repasto épico copiosamente regado para acompanhar lebres e perdizes.
Como fiel depositário dos restos mortais do “senhor porco”, como diria o Pumba, mais uma vez abri as portas (e a mesa) para receber a cambada. O suíno foi cozinhado na panela com banha e azeite depois de marinar em sal, alho, cebola, limão, laranja, cravinho e vinho tinto. Deixou um abundante molho e uma carne suculenta e muito saborosa.
Pesquisando a garrafeira, resolvi fugir ao hábito dos vinhos alentejanos e lá fui buscar para a segunda fase da operação “O desbaste da garrafeira” uns exemplares de Terras do Sado, que ficaram de pé um dia antes, para assentar eventuais borras que os vinhos apresentassem. Ainda chegaram alguns reforços, como o Herdade da Figueirinha de que já falámos no post abaixo e abriu as hostilidades ainda antes de passarmos à mesa, mas perante a diversidade da escolha os outros ficaram de reserva para a próxima. Na hora de atacar o animal no prato foram previamente decantadas as duas primeiras garrafas escolhidas.
Começámos por um dos últimos exemplares que nos restam do Quatro Regiões 97, que foi alvo de várias provas ao longo do último ano. Quando comprámos este vinho, em várias levas entre Outubro de 2003 e Outubro de 2004, ficámos esmagados pela sua pujança, pela exuberância de aromas e sabores, pelo longo fim de boca. Passaram estes anos e o vinho perdeu a pujança e a frescura, mas esta garrafa revelou-se em muito melhor forma que as duas primeiras provadas em 2006, sem os sintomas de declínio e falta de acidez detectados anteriormente, o que mais uma vez confirmou que os vinhos guardados são sempre uma incógnita quando vamos bebê-los: tanto podemos ter uma boa surpresa como uma decepção. Neste caso ficámos pelo meio-termo.
Em seguida passámos a duas garrafas do “sui generis” Pinheiro da Cruz, que vão merecer um post autónomo, porque acerca deste vinho muito há para dizer.
Já com o javali a desaparecer dos pratos e da panela, ainda fomos buscar mais uma garrafa para compor o painel de Terras do Sado: um Adega de Pegões tinto, Colheita Seleccionada de 2001. Uma estreia absoluta por estes lados (no branco já somos repetentes) que, perante a surpresa geral, foi unanimemente considerado o melhor vinho da noite. De cor granada, corpo robusto que nunca mais acaba, daquele que quase se mastiga, algum frutado misturado com um toque a especiarias, final de boca longo, alguma adstringência na prova com os taninos bem presentes mas sem se tornarem excessivos, quase apetecia que este não acabasse. Sem dúvida um vinho adequado para pratos fortes de carne e principalmente caça, como este. A Cooperativa de Pegões a impor-se no panorama vitivinícola nacional com vinhos de qualidade e a baixo preço. A repetir.
Terminámos com um Porto LBV da Quinta do Infantado, que também vai ser alvo de post autónomo, a acompanhar um excelente pudim Molotof e o reincidente bolo rançoso. E assim resta esperar pela fase 3 da operação “O desbaste da garrafeira”.

Kroniketas, enófilo esclarecido

Vinho: Adega de Pegões, Colheita Seleccionada 2001 (T)
Região: Terras do Sado
Produtor: Cooperativa Agrícola Santo Isidro de Pegões
Grau alcoólico: 13,5%
Castas: Cabernet Sauvignon, Touriga Nacional, Trincadeira
Preço em feira de vinhos: 6,25 €
Nota (0 a 10): 8


Vinho: Quatro Regiões 97 (T)

sexta-feira, 12 de janeiro de 2007

No meu copo 80 - Marquês de Marialva Reserva, Baga 2003

Neste novo ano voltamos à Bairrada para falar dum vinho monocasta da tradicional Baga, a casta ex-libris da região. Tal como no final do ano passado, apresentamos um vinho da Adega Cooperativa de Cantanhede, este mais recente.
Tem uma cor rubi intensa e um aroma fortemente frutado. Na boca apresenta-se robusto e bem estruturado, com um corpo cheio. Mantém o perfil habitual nos vinhos deste produtor, com os taninos bem domados embora façam notar a sua presença, como é típico da Baga, embora se faça sentir o grau alcoólico mais elevado do que era costume. Estagiou 6 meses em barricas de carvalho português, francês e americano, mas a madeira não se sobrepõe aos aromas do vinho. Termina longo com um final marcado por especiarias.
Parece ser um vinho para durar, como aliás é típico na Bairrada, onde os vinhos muito adstringentes em novos amaciam com a idade enquanto ganham aromas secundários e terciários que lhes conferem, por vezes, um “bouquet” extraordinário que não se encontra nas outras regiões. Este Marquês de Marialva está já bem bebível porque os taninos foram arredondados, mas ainda poderá desenvolver outros aromas na garrafa. Ganha em ser aberto com alguma antecedência e pode-se bater com pratos de carne bem temperados. E pelo preço que custa, é uma aposta a repetir com frequência pelos amantes do género, como é o caso aqui das Krónikas Vinícolas. É uma das presenças garantidas nas nossas escolhas.

Kroniketas, enófilo esclarecido

Vinho: Marquês de Marialva Reserva, Baga 2003 (T)
Região: Bairrada
Produtor: Adega Cooperativa de Cantanhede
Grau alcoólico: 14%
Casta: Baga

Preço: 4,29 €
Nota (0 a 10): 7,5

segunda-feira, 18 de dezembro de 2006

No meu copo 75 - Conde de Cantanhede Reserva 95


Aproveitando a embalagem, continuamos num registo bairradino para dar conta doutro reserva de 1995. Os vinhos Conde de Cantanhede são habitualmente suaves para o padrão tradicional da Bairrada, e este não foi excepção, apesar de constituído em 90% pela casta Baga. Já evoluído, de cor aberta e brilhante, final prolongado, taninos ainda presentes mas que o tempo amaciou.

Mostrou um aroma frutado menos marcado que o Messias e com o mesmo toque de especiarias, mas no geral o seu perfil era muito semelhante ao anterior. Também já ultrapassou o auge, mas nos vinhos da Bairrada isso não costuma ser um problema, pois são dos que apresentam maior longevidade sem entrarem em declínio acentuado e sem ficarem mortos, pois possuem uma acidez que os mantém vivos muito tempo depois de terem envelhecido. Mas quando já não melhoram, também não vale a pena guardá-los mais tempo.

Kroniketas, enófilo esclarecido



Vinho: Conde de Cantanhede Reserva 95 (T)
Região: Bairrada
Produtor: Adega Cooperativa de Cantanhede
Grau alcoólico: 12%
Casta: Baga (90%)

Preço (comprado em 2000): 628$
Nota (0 a 10): 7

quinta-feira, 14 de dezembro de 2006

Prova à Quinta - O terceiro


Bairrada Messias Garrafeira 95

Para o desafio aqui lançado há duas semanas, onde se pedia para encontrar tintos da Bairrada feitos com a casta Baga, fomos buscar um clássico: um Messias Garrafeira de 95, feito exclusivamente com a casta Baga.
Dada a idade já avançada, o vinho mostrou sinais evidentes de evolução, já com uma cor granada desmaiada e aberta com leves nuances acastanhadas. Os aromas mostraram-se fechados no início, mas após decantação libertaram-se e desenvolveram-se alguns aromas secundários e terciários tão típicos dos grandes Bairradas, embora sem grande exuberância. Apesar da idade, o vinho não apresentou quaisquer sinais de mofo nem de estar “passado”.
Na boca apresentou um corpo já delgado, com os taninos discretos mas ainda presentes e amaciados e um fim de boca longo sem ser agressivo. Algumas notas de especiarias e fruta discreta marcam um conjunto suave e equilibrado. É um vinho que já deverá ter passado o seu ponto óptimo, sendo que a partir de agora já não melhorará na garrafa, pois já perdeu a pujança dos taninos e grande parte do corpo. Beba-se, pois, antes que se perca.

Kroniketas, enófilo esclarecido

Vinho: Messias Garrafeira 95 (T)
Região: Bairrada
Produtor: Sociedade Agrícola e Comercial dos Vinhos Messias
Grau alcoólico: 12,5%
Casta: Baga

Preço: 6,99 €
Nota (0 a 10): 7


PS: Novo desafio lançado no Elixir de Baco

sexta-feira, 1 de dezembro de 2006

Desafio Prova à Quinta - 3ª ronda


Como ninguém se chegou à frente entretanto, nós avançamos. Propomos para a próxima prova um tinto da Bairrada com casta Baga. Pode ser exclusivamente de Baga ou misturada com outras, mas tem de ter Baga. Isto porque actualmente, depois da alteração da legislação, onde antes quase só se podia fazer vinho de Baga agora pode-se fazer de praticamente tudo, de tal forma que há vinhos sem Baga.
Vamos, pois, à procura dos Bairrada clássicos, à moda antiga, em que a Baga era rainha. Esperamos as vossas respostas até ao dia 14. E esperamos também que não se distraiam como na 2ª ronda, com a prova proposta pelo Vinho da casa.

tuguinho e Kroniketas, enófilos e tudo

domingo, 9 de julho de 2006

No meu copo 49 - Luís Pato Vinha Pan 1999

Por ocasião do benfazejo Portugal-Inglaterra, os dois basbaques que produzem este blog resolveram digerir uma bifalhada. Após consulta à lista da garrafeira, optámos por ver como estava de saúde um Luís Pato – Vinha Pan 1999, um regional das Beiras (foi feito numa altura em que Luís Pato andava de candeias às avessas com a comissão vitivinícola da Bairrada) adquirido nos idos de 2000 por 2500$00, preço especial.
A vinha da Panasqueira, dizia no contra-rótulo, fica numa encosta virada a Sul, tem solo argilo-calcário e 6900 videiras de casta Baga que agora terão a idade de 22 anos.
Confesso que tinha alguns receios, visto que a vetusta idade já poderia ter feito tropelias com o néctar. Por isso foi aberta e cheirada logo a seguir – por aí nada se detectou, o que era bom sinal. Decantámo-la, que é uma coisa que se pode fazer mesmo que não se tenha voz, e a cor não revelou sinais de velhice senil, como receávamos. Provámo-lo logo aí, para aquilatar da qualidade, e revelou-se em condições de ser servido – foi apenas um gole diminuto, para saber se teríamos de abrir outra garrafa e deitar o Luís pelo cano abaixo (salvo seja!).
Abrímo-lo e decantámo-lo com antecedência para que pudesse respirar e soltar-se e bem o fizemos: um certo pico gasoso que se notou na prova precoce já tinha desaparecido quando o bebemos mesmo, cerca de uma hora depois. Devido à temperatura ambiente, optámos por colocar sob o decantador de fundo largo uma manga refrigeradora (daquelas que abrem, com fecho de velcro), cerca de 20 minutos antes de o beber, o que se veio a revelar uma decisão sábia. Estas mangas revelam-se bem mais eficazes do que o próprio estágio no frigorífico (não, não é sacrilégio fazer isso com tintos…)!
Vamos lá a aspectos mais palpáveis: apesar dos 7 anos de idade a cor continuava profunda, de tons granada (não, caro iniciado nestas coisas, não era verde-camuflado – a granada de que falo é a pedra preciosa, de um vermelho profundo), com um aroma discreto e um corpo excelente. Continuava a revelar ligeira adstringência, como que a mostrar que ainda estava ali para se aguentar por mais algum tempo, o que até bate certo com a informação no site do produtor. A casta Baga tem destas coisas, e ainda bem. Revelou-se seco na boca, com sabor a frutos secos e talvez lembranças de couro, e o fim de boca era agradável, sem ser longo por aí além.
Em conclusão, além de bom, pode e deve guardar-se umas quantas garrafas para se irem degustando ao longo dos anos, porque este é daqueles vinhos que não se vai abaixo com facilidade.

tuguinho, enófilo esforçado

Vinho: Luís Pato Vinha Pan 99 (T)
Região: Regional Beiras
Produtor: Luís Pato
Grau alcoólico: 13,5%

Casta: Baga
Preço: cerca de 20€
Nota (0 a 10): 7,5

sexta-feira, 7 de abril de 2006

No meu copo 38 - Mateus Rosé

Eis-nos finalmente chegados à prova do famoso Mateus Rosé, o vinho português mais vendido no estrangeiro e principal receita da Sogrape, a empresa produtora.
Consta que até Saddam Hussein bebia Mateus Rosé, que é um vinho pouco apreciado em Portugal. Talvez por estar a meio caminho entre o branco e o tinto, o rosé é muitas vezes desconsiderado entre nós.
Pessoalmente gosto de beber rosé da mesma forma que branco ou tinto, desde que a ocasião seja adequada. No caso do Mateus, sendo um vinho leve e com pouca graduação alcoólica (apenas 11%), serve tanto como aperitivo, como acompanhante de entradas ou para refeições leves, ficando igualmente muito bem a acompanhar comida italiana ou chinesa. Pode mesmo dizer-se que é um vinho mais versátil que o branco e o tinto, pois não choca com quase nada. E como se bebe fresco ainda pode servir para beber calmamente como refresco numa esplanada.
A última prova foi com um prato de bacalhau no forno com azeite e cebola acompanhado de batatas às rodelas. Como já tive ocasião de referir, não sou grande apreciador de vinho tinto com bacalhau e pensei que me ia arrepender da escolha dum rosé, pois estava mais inclinado para um verde. Mas a verdade é que o Mateus se saiu muito bem da prova, tão bem que ainda foi pedida uma segunda garrafa para apenas duas pessoas. A sua leveza e frescura tornam-no adequado praticamente para qualquer circunstância.
Nós próprios nos esquecemos dos rosés nas nossas sugestões, mas este merece lá estar.

Kroniketas, enófilo esclarecido

Vinho: Mateus (R) - Vinho de mesa sem data de colheita
Região: Trás-os-Montes (sem denominação de origem)
Produtor: Sogrape
Grau alcoólico: 11%

Castas: Baga, Rufete, Tinta Barroca, Touriga Franca
Preço em feira de vinhos: 2,40 €
Nota (0 a 10): 6,5

domingo, 19 de fevereiro de 2006

No meu copo 20 - Quatro Regiões 1997

O tempo é lixado! Coisas que pareciam perfeitas há algum tempo manifestam agora debilidades nunca achadas. Vem isto a propósito da contra-prova que este sábado fizemos ao Quatro Regiões, vinho de mesa da Sogrape devido à sua peculiar forma de produção.
Este vinho é constituído por 4 lotes de uvas vinificadas em separado, provenientes de quatro emblemáticas regiões vinícolas do país: do Douro, a casta Touriga Francesa; do Dão, a casta Touriga Nacional; da Bairrada, a casta Baga; e do Alentejo, a casta Trincadeira. Depois de fermentados a temperatura controlada e sujeitos a maceração prolongada, os mostos estagiaram 8 meses em barricas de carvalho. Após o estágio, os quatro vinhos foram loteados para formarem este Quatro Regiões, vinho de mesa apenas, porque a lei portuguesa não prevê estes casos de vinhos de qualidade “trans-fronteiriços”, aproveitando o melhor de cada região.
Da colheita de 1997, este era um vinho de 9 quando o provámos pela primeira vez, há cerca de três anos. Mas como disse, o tempo não perdoa: há algumas semanas tínhamo-lo provado e decidimos não atribuir nota sem uma contra-prova, que fizemos este sábado, suportada por um singelo entrecote com alho.
O vinho, embora continue com um nível excelente como se depreende pela nota atribuída, já não é o vinho de topo que foi. Perdeu uma boa parte dos aromas e o sabor simplificou-se, detectando-se por vezes um certo fundo de decadência que pode indiciar o declínio total dentro de pouco tempo.
Portanto, em conclusão, se possui garrafas destas na sua garrafeira, beba-as agora todas, porque o vinho ainda é um bom vinho. E não há necessidade de o deixar estragar.

tuguinho, enófilo esforçado

Vinho: Quatro Regiões, 1997 (T)
Região: Vinho de Mesa
Produtor: Sogrape
Grau alcoólico: 12,5%

Castas: Baga, Touriga Nacional, Touriga Francesa, Trincadeira
Preço em hipermercado: 12,77 €
Nota (0 a 10): 7,5

sexta-feira, 23 de dezembro de 2005

No meu copo, na minha mesa 3 - Frei João 2000; Coreto de Carnide

Hoje foi dia de sortida do núcleo duríssimo do grupo gastrónomo-etilista (e não elitista!) Os Comensais Dionisíacos, alter-ego colectivo de uns tantos apreciadores do bem beber e bem comer. Não foi um repasto normal do grupo, antes uma sortida diurna ao Coreto de Carnide – portanto, o alvo principal foi mais o que se ia mastigar do que o que se ia beber.
Os líquidos primeiro: bebeu-se um singelo Frei João, um Bairrada base de gama das Caves São João que, apesar de não ser nenhum suprasumo, é um honesto néctar daquela região para ser apreciado uma meia dúzia de anos após a colheita. De corpo mediano e cor profunda (ou não fosse de casta Baga), ligou bem com o prato que nos trucidou a fome, sem nos desiludir. Sim, porque isto é importante: o Frei João preencheu os requisitos que esperávamos dele. Geralmente as decepções até são causadas por vinhos de gama mais elevada, que defraudam as expectativas dos comensais. Portanto, quanto a vinho, estamos falados.

Agora os sólidos: quem conhece o restaurante porventura terá já adivinhado o que escolhemos para forrar o estômago – o naco na pedra, pedaço de carne crua a aquecer-se sobre uma pedra granítica, grelhado pelo consumidor a seu gosto na própria mesa.
E também aqui as expectativas não foram defraudadas. Carne de muito boa qualidade numa posta generosa, uma fatia de bacon a ajudar a engordurar a base, tudo encaixado numa tábua com três molhos tipo fondue mas de confecção caseira, acompanhado por batatas fritas e esparregado de razoável qualidade.
Para sobremesa, um de nós comeu Lambe-os-beiços, que não é mais que gelado regado com chocolate quente, e eu preferi requeijão de Seia com doce de abóbora e gila – isto era o que dizia na lista, porque o doce que acompanhava o lacticínio era doce de abóbora (normal) com laranja e canela, que sabia mais ao citrino que à abóbora – gila (ou chila) nem vê-la! Foi o ponto fraco de uma boa refeição. Ah, o Kroniketas lambeu mesmo os beiços, mas como é um viciado em chocolate esta reacção não tem valor.

O restaurante é simples mas minimamente confortável, com 27 posições para outros tantos mastigantes. Não é o sítio onde se leva a potencial conquista, mas é um honesto local para apreciar alguns bons pratos, com destaque para o ex-libris da casa, o naco estirado em cima do calhau. Chegue cedo ou reserve, porque senão fica à porta.

Como nota final, refira-se a loucura que são os preços dos vinhos praticados em quase todos os restaurantes. O Frei João referido obtém-se em qualquer hipermercado em troca de 2 euros e picos, mais coisa menos coisa. Pagou-se aqui, num restaurante normalíssimo, 11 euros! Convenhamos que é um escândalo. E 2 euros e picos é preço de consumidor final, porque um restaurante paga menos por ele à distribuição! Mesmo acrescentando o serviço, roça o roubo. Não é, no mínimo, especulação?

tuguinho, enófilo esforçado

Vinho: Frei João 2000 (T)
Região: Bairrada

Produtor: Caves São João
Grau alcoólico: 12%

Casta: Baga
Preço em feira de vinhos: 1,98 €
Nota (0 a 10): 7,5

Restaurante:
Coreto de Carnide
Rua Neves Costa, 57
(em frente ao coreto, na parte velha de Carnide)

Telef.: 21 715 23 72
Nota (0 a 5): 4