As coisas por aqui têm estado tendencialmente paradas. No passado dia 11 de Dezembro fizemos 5 anos de existência neste blog e 7 no seu irmão mais velho, o Krónikas Tugas, sem que, contrariamente a todos os outros anos, a efeméride tivesse sido assinalada. Outros interesses, outras solicitações, mudanças na rotina, o entusiasmo e o apelo para a escrita que já não são os mesmos do início, são tudo factores que têm contribuído para o decréscimo de publicações nestes blogues. É a vida. Mas a intenção, muitas vezes, ainda existe. A vontade é que nem tanto.
Desta vez, contudo, não quisemos deixar de partilhar com quem ainda nos vai visitando uma experiência que tivemos recentemente com um vinho de eleição e um dos nossos preferidos desde há alguns anos: o Quinta da Leda 2007, o terceiro vinho no topo da hierarquia dos vinhos da Casa Ferreirinha, a seguir ao Barca Velha e ao Reserva Especial.
A última vez que aqui escrevemos sobre este vinho, relativamente à colheita de 2001, as nossas expectativas saíram um pouco defraudadas. Daí para cá tivemos oportunidade de conhecer outras colheitas deste vinho e do Callabriga (que está no patamar imediatamente abaixo), sobre as quais nada escrevemos. Esta, contudo, é incontornável.
Aproveitando uma promoção da Garrafeira Nacional, que baixou o preço em 5 euros em relação ao actual, adquirimos duas garrafas a partilhar por cinco comparsas, e um destes fins-de-semana bebemo-las com umas costeletas de novilho.
Começámos por provar um branco que o Politikos adquiriu no Egipto, cujo rótulo é indecifrável. Não fazemos, por isso, a menor ideia das castas que o compõem, mas não foi mau. Alguma mineralidade, frescura e acidez quanto baste, não brilhou mas não desagradou de todo.
Enquanto petiscávamos uns acepipes como entrada bebericando o branco, tratámos do Quinta da Leda de duas formas diferentes: decantámos uma garrafa e deixámos a outra apenas aberta para comparar os dois. Quando passámos às costeletas atacámos então a primeira garrafa, a que estava decantada.
O resultado foi encantador; sentimo-nos esmagados por este vinho. Primeiro que tudo, a extrema elegância e um aroma profundo, com um ligeiro toque a caramelo e fruta adocicada. No prolongamento da prova de boca aparece a madeira muito ligeira e discreta, taninos de seda a envolverem um conjunto de grande harmonia. Finalmente surge a estrutura e persistência a dar um final longo e firme. No confronto com as costeletas de novilho mal passadas, a elegância marcou pontos com o suculento da carne enquanto a estrutura aguentou o tempero com um molho algo condimentado. Apesar de ainda jovem mostrou-se um vinho maduro e plenamente capaz para ser bebido. Poderia degustar-se por várias horas. Um dos comparsas chamou-lhe um Rolls Royce.
Ao passar à segunda garrafa, percebeu-se como foi avisado decantar a primeira. Esta estava com os aromas muito mais fechados que a primeira, sem a mesma exuberância. À medida que se foi esvaziando e arejando foi-se aproximando da anterior, sem nunca atingir o mesmo esplendor. A conclusão é que para usufruir deste vinho em toda a sua plenitude convém dar-lhe tempo para se libertar.
Finalmente, abrimos um Herdade das Servas 2008 que o mais recente comparsa quis partilhar com os restantes comensais. Depois dum Rolls Royce era difícil brilhar, mas ainda deu para perceber uma boa estrutura e um vinho potente e poderoso, capaz de se bater com pratos fortes. Um vinho a rever a solo e uma aposta interessante por um preço aceitável.
Kroniketas, enófilo preguiçoso
Vinho: Quinta da Leda 2007 (T)
Região: Douro
Produtor: Casa Ferreirinha - Sogrape
Grau alcoólico: 14%
Castas: Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinta Roriz
Preço: 24,90 €
Nota (0 a 10): 9,5
Vinho: Herdade das Servas 2008 (T)
Região: Alentejo (Borba - Estremoz)
Produtor: Herdade das Servas
Grau alcoólico: 15%
Castas: Alicante Bouschet, Touriga Nacional, Aragonês, Syrah
Preço: cerca de 8 €
Nota (0 a 10): 8
quinta-feira, 10 de março de 2011
No meu copo 277 - Quinta da Leda 2007; Herdade das Servas 2008
Publicada por
Krónikas Vinícolas
à(s)
23:16
|
Etiquetas: Alentejo, Alicante Bouschet, Aragonez, Borba, Douro, Estremoz, Ferreirinha, Servas, Sogrape, Syrah, Tinta Roriz, Tintos, Touriga Franca, Touriga Nacional
quinta-feira, 20 de maio de 2010
No meu copo 274 - Douro Sogrape Reserva 2002; Casa de Santar Reserva 2005
Deixámos para o fim o Casa de Santar Reserva 2005, também um velho conhecido das nossas garrafeiras, que claramente nos convenceu. Apesar de ser um vinho de 2005, apresentou-se no copo com uma cor algo acobreada. Inicialmente fechado no nariz e algo concentrado na boca, foi evoluindo ao longo da refeição. Fomos conversando entre nós mas também com ele, como um velho amigo que se reencontra e com o qual vamos engrenando a conversa. Foi-nos evocando no nariz adegas velhas e vinhos antigos e na boca apresentou-se estruturado e elegante, sem, contudo, perder a personalidade típica do Dão. Um Dão clássico que, pela maior elegância, agradou mais ao Politikos do que um Cabriz Reserva 2006 bebido recentemente. A recuperar e confirmar as impressões de ambos em prova comparada num destes dias, à semelhança de experiências anteriores.
Um gelado de natas coberto com chocolate quente fechou a contenda com chave de ouro.
Politikos e Kroniketas, enófilos em libações intercalares por via da visita papal
Vinho: Douro Sogrape Reserva 2002 (T)
Região: Douro
Produtor: Sogrape
Grau alcoólico: 13%
Castas: Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinta Roriz, Tinta Barroca
Preço: 10,98 €
Nota (0 a 10): 8,5
Vinho: Casa de Santar Reserva 2005 (T)
Região: Dão
Produtor: Sociedade Agrícola de Santar - Dão Sul
Grau alcoólico: 14%
Castas: Touriga Nacional, Tinta Roriz, Alfrocheiro
Preço em feira de vinhos: 8,97 €
Nota (0 a 10): 8
Publicada por
Krónikas Vinícolas
à(s)
00:52
|
Etiquetas: Alfrocheiro, Dao, Dao Sul, Douro, Santar, Sogrape, Tinta Barroca, Tinta Roriz, Tintos, Touriga Franca, Touriga Nacional
domingo, 6 de dezembro de 2009
No meu copo 257 - Bétula 2008; Duas Quintas Reserva 2003; Concha y Toro Late Harvest, Reserva Privada 2006
Na abertura provámos um branco duriense de seu nome Bétula, ofertado pelo produtor às Krónikas Vinícolas, o que publicamente agradecemos. Talvez por aqui já se tenha dito – mas não é demais repetir e também foi dito ao produtor – que somos todos amantes e amadores do vinho. Somos compradores e bebedores e não críticos, só que gostamos de escrever e de partilhar as provas. Não estimulamos as ofertas mas aceitamo-las, porque nos permitem conhecer novidades, não significando a aceitação das mesmas, como é bom de ver, nenhuma garantia de uma apreciação mais favorável. Aqui não se fazem jeitos. 10 000 euros, caixas de robalos ou equipamentos desportivos não são endereçáveis a esta confraria...
Posto isto e dito assim de forma crua, atirámo-nos ao Bétula 2008 bem fresco, virgens de espírito e sem nenhumas expectativas. Ao mesmo tempo fomos debicando umas lascas de presunto e de outros enchidos, acompanhadas de pão escuro. E o Bétula passou com distinção na prova! Trata-se de um vinho feito com as castas Viognier, fermentada em carvalho francês, e Sauvignon Blanc, fermentada em inox. Apresenta-se com uma cor citrina carregada, madeira ligeira, muito discreta e muito bem integrada no vinho. A madeira nos vinhos é um pouco como o tempero nos alimentos, tem de ser usada na conta certa sob pena de os descaracterizar, e neste Bétula a madeira está presente na dose certa, conferindo-lhe alguma complexidade mas permitindo-lhe manter a fruta, de notas tropicais, a frescura e uma acentuada mineralidade. O Bétula é um daqueles vinhos que provam que se podem fazer bons brancos portugueses. Degustámos apenas uma garrafa, deixando a outra para uma próxima oportunidade.
Prontas a comer vieram umas costeletinhas de novilho grelhadas que de diminutivo só tinham mesmo o nome, tal a generosidade das doses, acolitadas por arroz branco e batatas fritas. A acompanhá-las abrimos duas garrafas de Duas Quintas Reserva 2003, que tínhamos em stock na garrafeira dos Comensais. É um vinho com seis meses de estágio em pipas de carvalho novo, que depois de engarrafado na Quinta dos Bons Ares envelheceu dois anos em garrafa. Apresentou-se retinto na cor, exuberante nos aromas, já com algum bouquet, uma grande estrutura, onde predominam os frutos vermelhos, e um final de boca muito prolongado. A madeira está lá mas nem se nota. Os taninos, ligeiros e muito bem domados, completam o leque. É um vinho de grande, grande nível, diríamos quase perfeito. Houve grandes loas ao dito por parte dos comensais. Um ou outro aventuraram-se mesmo a dizer que está no lote dos melhores vinhos portugueses que já beberam. Temos também umas garrafitas do Duas Quintas Reserva Especial (adquiridas para a comunidade pelo Kroniketas depois de ter conhecido o vinho numa prova com João Nicolau de Almeida, na Wine O’Clock) no qual, após esta prova, depositamos legitimamente grandes expectativas. É um daqueles vinhos na presença dos quais se percebe melhor a expressão popular: «que grande pomada!». É realmente um vinho untuoso, que se mastiga e que escorrega como mel. Um êxtase para os sentidos.
Para finalizar, aletria, arroz doce e uma mousse de chocolate negro com natas, debruada de farripas de chocolate igualmente negro, permitiram-nos provar um Concha Y Toro Late Harvest Reserva Privada 2006, da região de Maule Valley no Chile - um verdadeiro néctar, com notas de mel, passas e fruta muito madura. Muito doce e muito exuberante no olfacto e no palato. Para alguns de nós foi uma estreia na prova destes Colheitas Tardias e uma revelação. A exuberância no nariz e na boca é tão grande que quase passa por licoroso.
Politikos, artista amador e convidado, a puxar a carroça do KV, com Kroniketas, tuguinho e Mancha
Vinho: Bétula 2008 (B)
Região: Douro (Regional Duriense)
Produtor: Catarina Montenegro - Quinta do Torgal
Grau alcoólico: 13,5%
Castas: Viognier (50%), Sauvignon (50%)
Nota (0 a 10): 8
Vinho: Duas Quintas Reserva 2003 (T)
Região: Douro
Produtor: Ramos Pinto
Grau alcoólico: 14%
Castas: Touriga Nacional (2/3), Touriga Franca, Tinta Barroca
Preço em feira de vinhos: 19,59 € (comprado em 2007)
Nota (0 a 10): 9,5
Vinho: Late Harvest Reserva Privada 2006 (B)
Região: Maule Valley (Chile)
Produtor: Concha Y Toro
Grau alcoólico: 12%
Casta: Sauvignon Blanc
Nota (0 a 10): 8
Publicada por
Krónikas Vinícolas
à(s)
00:03
|
Etiquetas: Chile, Colheita tardia, Douro, Estrangeiros, Ramos Pinto, Sauvignon Blanc, Tinta Barroca, Tintos, Torgal, Touriga Franca, Touriga Nacional, Viognier
quinta-feira, 19 de novembro de 2009
Pondo a escrita em dia... (2)
No meu copo 254 - Casa Burmester Reserva 05; Quinta de Pancas, Selecção do Enólogo 04; Gouvyas Vinhas Velhas 04; Porto Quinta de La Rosa Vintage 2000
(continuação)
O pontapé de saída foi dado por um Casa Burmester Reserva 2005 que já havia estado escalado várias vezes para jogar na equipa principal mas fora sempre preterido em função de outras escolhas. Entrou agora e teve uma boa prestação. É um vinho frutado mas não em excesso, o que lhe confere elegância e sofisticação. A fruta está lá mas não abafa tudo à sua volta. É uma escolha para ser revisitada.
Seguiu-se um Quinta de Pancas, Selecção do Enólogo 2004, um blend de três castas, muito bem casadas. Um vinho equilibrado, resultado do casamento harmonioso das boas características das 3 castas presentes: Cabernet Sauvignon, Touriga Nacional e Alicante Bouschet, e em que nenhuma se sobrepõe às outras. De realçar a boa integração das especiarias do Cabernet Sauvignon que não são fáceis de abafar mas que ali estão presentes no ponto certo, não sobressaindo em demasia. A mim, convenceu-me, e se pensarmos na relação preço-qualidade, temos ali um vinho muito competitivo para o patamar de preço em que se encontra. É um vinho moderno, bem feito. Uns dirão que um pouco redondo e sem traço de diferenciação com outros, o que é verdade, mas que não deixa, por isso, de ser um bom vinho.
Passámos, então, a um Gouvyas Vinhas Velhas 2004. A opinião geral foi que se tratava de um vinho com grande personalidade. Muito diferente dos anteriores. É um vinho feito à moda antiga, complexo, estruturado, espesso, robusto, que evoca vinhos passados. Atrever-me-ia mesmo a dizer um vinho rústico, descontando aqui a componente negativa da palavra. Integrou-se na refeição e com os vinhos já provados como aquelas mobílias rústicas de boa qualidade que podem estar na mesma divisão com móveis Luís XVI, sem destoar e, pelo contrário, brilhar e até os ofuscar pela diferença. É feito de uvas provenientes de vinhas velhas, o que se nota bem. Não há muitos vinhos como este Gouvyas e os que há só existem no Douro. É um vinho que claramente pode marcar a tal diferenciação que o vinho português procura face aos outros. Sendo eu apreciador de vinho do Porto, e por isso tendencioso, continuo a achar, ao beber estes Douros, ou Douros com este perfil, que estou a provar um Porto, sem aguardente. E que se perdeu ali um belo vintage.
Fechámos a refeição com uma mousse de chocolate, que é uma das incondicionais sobremesas dos repastos da sociedade, acompanhada por um elegante vintage Quinta de La Rosa 2005. É um vinho de cor rubi, límpido no copo. No nariz tem um ataque ainda algo vinoso mas na boca mostrou-se já com a fruta – framboesa e amora – bastante arredondada. Apesar de estar pronto a beber, ganharia ainda mais em sofisticação e elegância se fosse bebido mais tarde. É sempre uma pena bebê-los novos, mas pena maior é não chegar a velho para os beber...
Politikos, artista amador convidado em versão enófilo-futebolística
Vinho: Casa Burmester Reserva 05 (T)
Região: Douro
Produtor: Sogevinus - Casa Burmester
Grau alcoólico: 14%
Castas: Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinta Roriz
Preço em hipermercado: 10,90 €
Nota (0 a 10): 8
Vinho: Quinta de Pancas, Selecção do Enólogo 04 (T)
Região: Estremadura (Alenquer)
Produtor: Companhia das Quintas
Grau alcoólico: 14,5%
Castas: Touriga Nacional, Cabernet Sauvignon, Alicante Bouschet
Preço em hipermercado: 4,99 €
Nota (0 a 10): 8
Vinho: Gouvyas Vinhas Velhas 04 (T)
Região: Douro
Produtor: Bago de Touriga
Grau alcoólico: 14,5%
Preço em hipermercado: 36,5 €
Nota (0 a 10): 8
Vinho: Porto Quinta de La Rosa Vintage 05 (T)
Região: Douro/Porto
Produtor: Quinta de La Rosa
Grau alcoólico: 20%
Nota (0 a 10): 7,5
Publicada por
Krónikas Vinícolas
à(s)
00:40
|
Etiquetas: Alenquer, Alicante Bouschet, Bago Touriga, Burmester, Cabernet Sauvignon, Companhia Quintas, Douro, Estremadura, Pancas, Qta La Rosa, Tinta Roriz, Tintos, Touriga Franca, Touriga Nacional, Vinho do Porto
sábado, 14 de novembro de 2009
No meu copo 252 - Poeira 2004; Redoma 2003; Batuta 2004; Portal 30 anos
A propósito dum evento futebolístico, juntou-se o núcleo duro dos Comensais Dionisíacos na casa do Politikos, a jogar em casa nas duas vertentes. Para o evento reservámos umas compras especiais que tinham sido adquiridas em conjunto.
Tivemos perante nós uma plêiade de tintos do Douro de altíssimo nível que resolvemos guardar para ocasião propícia a fim de os desfrutar em confronto com uns bifes à minha moda. A dúvida estava em saber por qual começar. Assim sendo, resolvemos decantá-los com alguma antecedência, depois de os colocar à temperatura adequada, e servimos um pouco de cada para uma primeira aproximação ao modo como cada um iria evoluir.
Acabámos por optar, em primeiro lugar, pelo Poeira 2004, porque foi o que se mostrou desde logo com grande vivacidade. Uma exuberância de aromas frutados e uma estrutura a marcarem a prova, final longo e persistente, a madeira muito discreta e os taninos muito vivos, a conferirem complexidade ao conjunto, foram os traços marcantes deste vinho que já é uma marca de referência nos grandes tintos do Douro, e bem o justificou.
Ficámos então com um duo de tintos Niepoort para o resto da refeição. Depois de eu e o Politikos já termos tido contacto com o portefólio da Niepoort, no fantástico jantar Niepoort promovido pela Wine O’Clock no Jacinto, tínhamos agora a possibilidade de confrontar os vinhos que o integram com os de colheitas já com alguns anos, possivelmente menos marcados pela juventude dos da prova anterior e num patamar de evolução mais favorável à expressão das suas qualidades.
Começámos obviamente pelo Redoma 2003, o do nível intermédio, que acabou por se apresentar com um perfil semelhante ao de 2006, provado anteriormente. Alguma complexidade, macieza e estrutura média, ainda com uma certa frescura na boca. Estava num bom momento para consumir.
Finalmente o Batuta 2004, o topo de gama da casa, que se voltou a mostrar um vinho extraordinário, como já tinha acontecido no jantar da Wine O’Clock, onde se guindou ao primeiro lugar das nossas preferências. Aqui bastante mais domado que o anterior, num patamar de evolução mais tranquilo mas a prometer poder expressar ainda mais qualquer coisa. É um vinho ao mesmo tempo complexo e suave, distinto e elegante. O preço penaliza o consumo, mas esta prova abriu o apetite para voltarmos à carga. A Revista de Vinhos classificou-o, não há muito tempo, como um vinho a caminho da perfeição...
Para finalizar, mais uma surpresa da garrafeira do Politikos na área dos Portos: um 30 anos da Quinta do Portal. Não paro de me surpreender com as provas de vinho do Porto que tive oportunidade de fazer ultimamente, e depois do branco extra-seco de 1939, no jantar Niepoort, e do Lacrima Christi de 1908, no jantar de perdizes antes de férias, este conseguiu subir ainda mais alto e tocar os céus. É provavelmente o melhor vinho do Porto que já bebi. Para fim de noite não podia ter sido melhor. Se o Lacrima Christi foi sublime, este só pode ser celestial! É possivelmente o vinho perfeito.
Feliz noite esta em que tivemos a felicidade de degustar quatro vinhos extraordinários.
Ah, é verdade, também houve um jogo de futebol, que não acabou bem como se desejava. Mas quem se lembrou dele?
tuguinho, Kroniketas, Mancha e Politikos a jogar em casa
Vinho: Poeira 2004 (T)
Região: Douro
Produtor: Jorge Moreira
Grau alcoólico: 14,5%
Preço: 25,90 €
Nota (0 a 10): 8,5
Vinho: Redoma 2003 (T)
Região: Douro
Produtor: Niepoort Vinhos
Grau alcoólico: 13,5%
Castas: Touriga Franca, Touriga Nacional, Tinta Roriz, Tinta Amarela, Tinto Cão
Preço: 26,32 €
Nota (0 a 10): 8
Vinho: Batuta 2004 (T)
Região: Douro
Produtor: Niepoort Vinhos
Grau alcoólico: 14%
Castas: Tinta Roriz, Touriga Franca, Touriga Nacional e outras
Preço: 57,50 €
Nota (0 a 10): 9
Vinho: Portal 30 anos
Região: Douro/Porto
Produtor: Quinta do Portal
Grau alcoólico: 20%
Nota (0 a 10): 10
Publicada por
Krónikas Vinícolas
à(s)
00:05
|
Etiquetas: Douro, Jorge Moreira, Niepoort, Portal, Tinta Amarela, Tinta Roriz, Tinto Cao, Tintos, Touriga Franca, Touriga Nacional, Vinho do Porto
terça-feira, 28 de julho de 2009
No meu copo, na minha mesa 250 - Jantar Niepoort no restaurante Jacinto
Realizou-se há duas semanas no restaurante Jacinto, na zona antiga de Telheiras, em Lisboa, o muito aguardado jantar de degustação com vinhos Niepoort, promovido pela Wine O’Clock. Pela quantia de 50 euros os mastigantes e degustantes tiveram direito a uma entrada, um prato de peixe, dois de carne, duas sobremesas, 10 vinhos e uma aguardente, que incidiram basicamente nos que já tinham estado em prova na Wine O’Clock na semana anterior.
As Krónikas Vinícolas fizeram-se representar por este escriba e pelo Politikos, por sinal os primeiros a chegar ao restaurante. Começámos por ser brindados com um vinho do Porto branco Niepoort extra-seco de 1939! Um vinho castanho-cobre, a fazer lembrar um Tawny de 20 ou 30 anos, com uma frescura e intensidade aromática que nunca fariam supor estarmos perante um vinho com a idade do início da 2.ª Guerra Mundial! Notável!
Depois de completo o lote de participantes e já devidamente distribuídos pelas mesas, deu-se início às hostilidades. Tivemos a sorte de ficar na mesa do representante da Niepoort, José Teles, da área comercial, o que foi uma mais-valia, já que além do agradável convívio nos permitiu aprender um pouco mais, tendo mesmo ficado em aberto a visita a uma das quintas da Niepoort por altura das vindimas. A estratégia comercial das marcas passa hoje muito por (in)formar e aproximar os apreciadores/consumidores de vinho, e ainda bem.
Com o prato de entrada foi servido o Redoma rosé 2008, de momento o único rosé da Niepoort. Bastante equilibrado na boca, com aroma predominante a frutos vermelhos, boa estrutura e boa persistência. Fermentou em barricas novas de carvalho francês mas não foi submetido a qualquer estágio. Um vinho concebido para a mesa, mais do que para a esplanada, que casou bem com a salada de queijo de cabra com rúcula, que estava muito fresca e agradável.
Seguiu-se o prato de peixe, bacalhau confitado com pasta de azeitona, com o qual provámos dois vinhos brancos: o Tiara 2008 e o Redoma 2008. O Tiara, mais leve, mais aberto, mais suave e mais elegante, com um perfil mais mineral e cítrico, é um branco para pratos mais frescos e requintados. O Redoma, mais estruturado, resultado da fermentação em barricas de carvalho francês onde estagiou 9 meses, tem a madeira muito bem casada sem se sobrepor aos aromas nem retirar a frescura predominante. Pode ser um branco mais de Inverno que no entanto se enquadra bem no tempo mais quente e que fez boa parceria com os tacos de bacalhau. Em suma, dois brancos de perfis diferentes mas ambos muito agradáveis. Pelos preços anunciados, o Tiara será mais apetecível de comprar...
Finalmente, chegaram as carnes e os tintos, servidos aos pares: um representante da gama mais intermédia da Casa com outro da gama alta. Assim começámos com um Vertente 2007 e um Charme 2007, para acompanhar o mil-folhas de pato com alecrim. Em seguida, para o javali estufado com torta de legumes, uma parelha Redoma 2006 e Batuta 2007 (em garrafa ainda sem rótulo).
Tanto o Vertente como o Redoma são vinhos para um consumo mais imediato, com um perfil mais frutado e encorpado. O Vertente será talvez o mais simples e menos ambicioso, enquanto o Redoma apresenta outra complexidade. Sendo estes dois bons vinhos, não deixam de ser ofuscados pelos dois de topo. O Charme faz inteiro jus ao nome que ostenta: todo ele é charme desde a primeira impressão olfactiva até à prova de boca, marcada por extrema elegância, a pedir pratos plenos de requinte. Foi bem escolhido para o folhado de pato. Já o Batuta apresenta-se mais pujante e complexo, a pedir tempo para se mostrar em plenitude e a prometer longa vida e grandes voos.
Para as sobremesas ainda houve direito a um Porto Vintage de 2007, um Colheita de 98 e uma aguardente vínica. Só provei os Portos que não deixaram os créditos por copos alheios. Um dos primeiros Portos Vintage que me lembro de beber foi um Niepoort de 2003 que estava notável, e este não fugiu à regra. Grande corpo, grande profundidade, um vinho cheio de pujança que nunca mais acaba na boca, apresentando uma exemplar ligação entre a fruta e o álcool. Possivelmente um dos melhores Portos Vintage do país. O Colheita também não se saiu mal da função, com uma predominância a frutos secos e bastante elegante na prova. Já o Politikos, ainda molhou os lábios na aguardente vínica e reputou-a de excelente, aveludada e elegante, com a madeira muito presente mas sem ser agressiva.
Resta falar dos sólidos, onde não é fácil escolher, de tão bem confeccionados estavam. O bacalhau muito bem enquadrado com a pasta de azeitona, o mil-folhas de pato muito saboroso e macio e finalmente o javali, talvez o ponto alto da noite, bastante apetitoso e suculento.
Para as sobremesas veio uma encharcada alentejana em duelo com um pão de rala, irrepreensíveis, e para terminar com o Porto um Petit gâteau com gelado de baunilha que fechou a noite da melhor forma.
Serviço impecável, rápido e eficiente, tanto nos vinhos como nos pratos, não falhou nada nesta refeição magnífica onde todos estão de parabéns. A Wine o’clock porque promoveu, a Niepoort porque forneceu os vinhos, o Jacinto porque serviu, e nós, os felizardos que lá estivemos porque pudemos participar numa refeição notável. Parece que o Jacinto, que atravessou tempos difíceis, está de volta aos melhores dias e a tornar-se um ponto de referência na gastronomia lisboeta.
Kroniketas, enófilo e gastrónomo satisfeito, com Politikos
Restaurante: O Jacinto
Av. Ventura Terra, 2 (Telheiras)
1600 Lisboa
Telef: 21.759.17.28
Nota (0 a 5): 4,5
Região: Douro
Produtor: Niepoort Vinhos
Vinho: Redoma 2008 (R)
Grau alcoólico: 13,5%
Castas: Tinta Amarela, Touriga Franca, 50% outras
Nota (0 a 10): 7,5
Vinho: Tiara 2008 (B)
Grau alcoólico: 12%
Castas: Codega, Rabigato, Donzelinho, Viosinho, Cercial
Nota (0 a 10): 7,5
Vinho: Redoma 2008 (B)
Grau alcoólico: 13%
Castas: Codega, Rabigato, Donzelinho, Viosinho, Arinto
Nota (0 a 10): 8
Vinho: Vertente 2007 (T)
Grau alcoólico: 13%
Castas: Tinta Roriz, Touriga Franca, Tinta Amarela, Touriga Nacional
Nota (0 a 10): 7,5
Vinho: Redoma 2006 (T)
Grau alcoólico: 14%
Castas: Touriga Franca, Tinta Roriz, Tinta Amarela, Tinto Cão
Nota (0 a 10): 8
Vinho: Charme 2007 (T)
Grau alcoólico: 13,5%
Castas: Tinta Roriz, Touriga Franca
Nota (0 a 10): 8,5
Vinho: Batuta 2007 (T)
Grau alcoólico: 13%
Castas: Tinta Roriz, Touriga Franca, Touriga Nacional
Nota (0 a 10): 9
Vinho: Porto Niepoort Vintage 2007
Grau alcoólico: 20%
Castas: Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinto Cão, Tinta Francisca, Tinta Amarela, Sousão, Tinta Roriz
Nota (0 a 10): 9
Vinho: Porto Niepoort Colheita 1998
Grau alcoólico: 20%
Castas: Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinto Cão, Tinta Francisca, Tinta Amarela, Sousão, Tinta Roriz
Nota (0 a 10): 8
Publicada por
Krónikas Vinícolas
à(s)
02:21
|
Etiquetas: Arinto, Brancos, Cerceal, Douro, Lisboa, Niepoort, Restaurantes, Rosé, Sousão, Tinta Amarela, Tinta Francisca, Tinta Roriz, Tinto Cao, Tintos, Touriga Franca, Touriga Nacional, Vinho do Porto, Vintage, Viosinho, Wine O'Clock
quarta-feira, 3 de junho de 2009
No meu copo 244 - Lello 2006
Kroniketas, enófilo esclarecido
Vinho: Lello 2006 (T)
Região: Douro
Produtor: Sociedade dos Vinhos Borges & Irmão
Grau alcoólico: 13,5%
Castas: Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinta Roriz, Tinta Barroca
Preço em feira de vinhos: 2,79 €
Nota (0 a 10): 7
Publicada por
Krónikas Vinícolas
à(s)
20:40
|
Etiquetas: Borges, Douro, Tinta Barroca, Tinta Roriz, Tintos, Touriga Franca, Touriga Nacional
quarta-feira, 13 de maio de 2009
Perdizes por um, perdizes por mil
No meu copo 238 - Hexagon 2000; Cartuxa 2006; Porto Taylor’s Vargellas Vintage 2005
Os Comensais Dionisíacos, braço político gastro-etilista que integra os escribas das KV, além dos repastos “oficiais” entre membros celebra também refeições não menos bem regadas, mas mais alargadas em termos de mastigantes, sendo estes supranumerários geralmente os familiares mais próximos.
Sendo caçador um dos associados, é normal que por vezes nestas refeições intervenham como mastigados espécimes das nobres raças abatidas pelo dito cujo ou pelo grupo de caçadores a que se junta na função, geralmente perdizes, lebres ou javalis. Fomos portanto reunidos em casa do Kroniketas (que não é o membro caçador – é mais deglutidor) para degustar um grupo de perdizes incautas, cozinhadas pela consorte do caçador de formas simples mas saborosas: umas com um molho à base de natas e whisky com cogumelos, outras envolvidas em couve lombarda acolitada por tirinhas de bacon.
Outro objectivo que se mantém nestes repastos alargados é acompanhá-los de bons néctares – também conhecido no meio como “desbaste da garrafeira”! Para este em particular escolheram-se, além de alguns brancos sortidos e fresquinhos – provenientes da sempre bem recheada garrafeira do anfitrião (Alvor 2007, Quinta de Camarate branco seco 2007, Murganheira 2007) – para acompanharem as entradas, um Esporão Reserva de 2006, um Hexagon de 2000 em formato magnum (o tal vinho das 6 castas e 6 gerações) e um Cartuxa de 2006 que apareceu à última hora pela mão de um dos convivas. Para as sobremesas abriu-se um Porto Taylor’s Vargellas Vintage de 2005.
Coleccionando as reacções dos presentes, poderá dizer-se que o Esporão Reserva, após a recente experiência, re-deslumbrou, depois de uma travessia do deserto em algumas colheitas anteriores, com o Alicante Bouschet a dar-lhe um toque muito especial. Definitivamente um regressado aos mais altos lugares da nossa consideração vínica. O Hexagon, completamente diferente do anterior, mostrou-se um vinho de alto gabarito, com um perfil austero, ainda mais depois da festa que o Esporão tinha provocado no nariz e na boca dos beberrões, mas com uma estrutura extraordinária e a deixar-nos desconfiados de que ainda havia por ali muita coisa escondida. Comprem e bebam, porque é assim que um vinho excelente deve ser (uma das maneiras de o ser, como é óbvio). (Mete aqui a colherada o Kroniketas para ser mais generoso mas sucinto nos encómios. Só uma palavra: extraordinário!).
Ficou o Cartuxa para o final – uma ou outra ordem teria sempre justificação ou recusa – e não se deixou diminuir perante os outros dois. Sendo mais novo que o Hexagon e da mesma colheita que o Esporão, justificou-se plenamente a vivacidade exuberante, mostrando-se mais corpulento, mais fechado e mais robusto que o seu compadre alentejano, disse bem alto que estava ali para lutar: um vinho excelente que seria o centro das atenções se estivesse só. Teve um pouco de azar com os competidores.
Enfim, para não vos causar mais inveja, direi que, embora pessoalmente prefira os Vintage com um perfil como o utilizado pela Ramos Pinto, o Porto Vintage Vargellas cumpriu em pleno. Um festival de aromas a frutos vermelhos, de grande exuberância na boca e no nariz, pleno de vigor e juventude, a mostrar que está ali pronto para altos voos e longa vida na garrafa. O nosso único problema é comprá-lo e esperar uns 10 ou 20 anos até voltar a prová-lo. A verdade é que nem os morangos, nem a mousse de chocolate ou o bolo rançoso se queixaram.
Em resumo, um repasto que se pautou pela delícia gastronómica e pela excelência vínica. Para recordar.
tuguinho, enófilo impenitente e bloguista intermitente
Vinho: Hexagon 2000 (T) (garrafa magnum)
Região: Terras do Sado
Produtor: José Maria da Fonseca
Grau alcoólico: 14%
Castas: Trincadeira, Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinto Cão, Syrah e Tannat
Preço em supermercado: 53,89 €
Nota (0 a 10): 9,5
Vinho: Cartuxa 2006 (T)
Região: Alentejo (Évora)
Produtor: Fundação Eugénio de Almeida - Adega da Cartuxa
Grau alcoólico: 14,5%
Castas: Aragonês, Trincadeira, Alfrocheiro, Alicante Bouschet
Preço em feira de vinhos: 13,95 €
Nota (0 a 10): 8,5
Vinho: Porto Taylor’s Vargellas Vintage 2005
Região: Douro/Porto
Produtor: Taylor’s
Grau alcoólico: 20%
Preço em hipermercado: 33,48 €
Nota (0 a 10): 9
Publicada por
Krónikas Vinícolas
à(s)
00:12
|
Etiquetas: Alentejo, Alfrocheiro, Alicante Bouschet, Aragonez, Cartuxa, Evora, JM Fonseca, Syrah, Tannat, Taylor's, Terras Sado, Tinto Cao, Tintos, Touriga Franca, Touriga Nacional, Trincadeira, Vinho do Porto, Vintage
quinta-feira, 11 de dezembro de 2008
No meu copo 220 - Reservas Sogrape: o adeus
Foram cerca de 15 anos e quase 30 colheitas diferentes provadas entre 4 regiões: Douro, Dão, Bairrada e Alentejo (talvez não por acaso, um dos vinhos da Sogrape que nos encantou e que referimos mais de uma vez chamava-se precisamente Quatro Regiões). Foi um caso de amor à primeira vista e de paixão duradoura e correspondida, daquelas “até que a morte nos separe”. Neste caso, a separação foi decidida pelo produtor ao decretar a morte destes vinhos.
Ao longo dos 3 anos que este blog hoje completa (e por isso agendámos a publicação deste post para esta data, por uma questão de simbolismo), os vinhos da Sogrape, e estes Reservas em particular, foram os que tiveram direito a mais posts publicados. A nossa paixão pelos vinhos da Sogrape começou precisamente pela descoberta destes Reservas, já referida nos posts 99 e 100.
Desde o Dão 85 e o Douro 87, procurámos sempre ir acompanhando com regularidade as colheitas lançadas, e daí partimos para o alargamento dos nossos conhecimentos dos vinhos da empresa. Quando comecei a constituir uma garrafeira em casa, o Douro Reserva e o Dão Reserva sempre estiveram presentes. Pelo meio foram aparecendo, de forma mais esparsa, alguns Reservas da Bairrada e já no dealbar do século XXI apareceram os Reservas do Alentejo, após o começo da produção de vinho na Herdade do Peso.
Com a diversificação da gama de vinhos nas várias regiões, a empresa decidiu acabar com estes Reservas, um fim que vi anunciado pela primeira vez num dos guias de João Paulo Martins. A princípio custou-me a acreditar mas depois confirmou-se numa das provas de vinhos Sogrape na Wine o’clock. Os Reservas do Douro vão ficar sob a alçada da Casa Ferreirinha, sendo o Vinha Grande o seu sucessor natural (embora, insisto, o ache inferior), os Reservas do Dão são substituídos pela gama da Quinta dos Carvalhais e os Reservas do Alentejo ficam naturalmente integrados na nova linha da Herdade do Peso. Os Reservas da Bairrada sempre foram mais escassos e actualmente a empresa apenas investe na marca Terra Franca e ainda há um garrafeira por aí.
É claro que esta nova gama, bastante alargada, teoricamente substitui com vantagem cada um dos vinhos referidos. No entanto, daqueles que já tive oportunidade de provar, nenhum tem o mesmo perfil dos Reservas. São novos e são mais, mas são diferentes, por isso vou sentir a falta daqueles.
Estando o nosso stock a chegar ao fim, os Comensais Dionisíacos reuniram-se à mesa a pretexto de um Benfica-Sporting para degustar os últimos exemplares do Douro 2001, Dão 2000 e Alentejo 2001.
Já aqui falámos do Douro 2001 e do Dão 2000 noutros posts. Mantiveram aquilo que se esperava e, na minha opinião (que não foi unânime), o Douro continuou a mostrar-se o melhor, com um bouquet profundo e exuberante a fruto maduro, grande elegância e boa estrutura na prova de boca.
O Dão continua com um perfil um pouco menos polido mas mesmo assim bastante redondo e adequado para pratos de carne requintados mas com alguma pujança.
Finalmente o Alentejo, com duas colheitas algo diferentes. O 2001 com bom corpo mas com o aroma algo discreto, talvez a colheita menos conseguida das que provámos. Esquecida estava a última garrafa de 2000, já consumida noutra ocasião, que confirmou a prova anterior: uma grande estrutura e aromas exuberantes, um vinho com tudo no sítio. A primeira vez que provei um destes Reservas, no fim-de-ano de 2003, foram duas garrafas de 1999 e a primeira sensação foi precisamente essa: um vinho com tudo no sítio certo. Pena que tenha tido uma vida tão curta.
Em comum entre estes vinhos está o facto de todos terem um estágio de um ano em madeira seguido de mais algum tempo em garrafa, no mínimo 6 meses. Daí resulta saírem para o mercado já com alguns anos de existência e com os aromas bem casados. Não nos vamos repetir nas apreciações feitas anteriormente, pelo que quem quiser ler mais considerandos pode encontrá-los nos posts indicados:
- Douro Sogrape Reserva 2001
- Douro Sogrape Reserva 2000
- Dão Sogrape Reserva 2000
- Dão Sogrape Reserva 99
- Bairrada Sogrape Garrafeira 99
- Alentejo Sogrape Reserva 2000
- Quatro Regiões 97 (1) e (2)
Para perpetuar a memória, guardei uma garrafa do último Dão e do último Alentejo como recordação do rótulo algo “sui generis”. E para contrariar o destino, ainda me deparei com umas garrafas do Douro Reserva 2002 no Jumbo e na Makro (deve ser mesmo a última colheita à venda), e tratei de abastecer a garrafeira antes que acabem. Assim ainda posso prolongar o prazer por mais algum tempo, bebendo-as com parcimónia e com a companhia adequada. E entretanto encontrei um restaurante com uns restos de colecção, mas não vou dizer qual é. Pode ser que ainda consiga ir lá gastá-las...
Kroniketas, enófilo saudoso
Produtor: Sogrape
Vinho: Douro Sogrape Reserva 2001 (T)
Região: Douro
Grau alcoólico: 13,5%
Castas: Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinta Roriz, Tinta Barroca
Último preço: 10,74 €
Nota (0 a 10): 8,5
Vinho: Dão Sogrape Reserva 2000 (T)
Região: Dão
Grau alcoólico: 12,5%
Último preço: 9,89 €
Nota (0 a 10): 8
Vinho: Alentejo Sogrape Reserva 2001 (T)
Região: Alentejo
Grau alcoólico: 13,5%
Castas: Aragonês, Alfrocheiro
Último preço: 11,16 €
Nota (0 a 10): 7,5
Vinho: Alentejo Sogrape Reserva 2000 (T)
Região: Alentejo
Grau alcoólico: 14%
Castas: Aragonês, Alfrocheiro
Último preço: 8,19 €
Nota (0 a 10): 8,5
Publicada por
Krónikas Vinícolas
à(s)
22:42
|
Etiquetas: Alentejo, Alfrocheiro, Aragonez, Carvalhais, Dao, Douro, Herdade Peso, Sogrape, Tinta Barroca, Tinta Roriz, Tintos, Touriga Franca, Touriga Nacional
segunda-feira, 8 de dezembro de 2008
No meu copo, na minha mesa 219 - Dona Berta 2005; Restaurante Isaura
Parece mentira mas passaram 12 anos (!!!) desde a última visita a este restaurante de Lisboa, situado entre a Avenida Almirante Reis e a Praça de Londres. Não por nenhuma razão especial mas porque sempre que se falava em ir aqui acabava-se sempre por escolher outro. E como tínhamos memórias das visitas anteriores… Foi aqui que pela primeira vez provámos o Luís Pato Vinhas Velhas, foi aqui que em Fevereiro de 96 decidimos provar o Barca Velha de 83, foi aqui que assistimos a um fascinante ritual de decantação e serviço do vinho num carrinho com os copos e o decanter aquecidos e com uma vela por baixo. O que nós aprendemos desde essa altura...
Finalmente decidi-me a lá voltar. O famoso escanção Sr. Costa continua lá a brindar-nos com o seu desvelo pelo vinho, a garrafeira continua incomparável, a carta de vinhos é mais uma enciclopédia que uma carta. Para os amantes do vinho é indispensável fazer uma visita a este verdadeiro templo de Baco e deixar-se guiar pelos sábios conselhos do Sr. Costa.
Quanto à ementa, destaque para as carnes, com diversos tipos de bifes. Aqui a opção recaiu no bife à Isaura, com um molho especial e ovo a cavalo, acompanhado por batatas fritas e esparregado. Mal passado e muito tenro e suculento, irrepreensível.
No que respeita ao vinho, olhámos para as imensas prateleiras repletas de garrafas, vimos o preço na enorme carta e tentámos escolher um que não queimasse muito (felizmente no Isaura os preços do vinho, ao contrário da generalidade dos restaurantes portugueses, não são obscenos e pode-se escolher bons vinhos por preços relativamente acessíveis). Como apontámos para um vinho do Douro, o Sr. Costa interveio e sugeriu-nos o Dona Berta Reserva 2005, que disse que iria bem com os bifes. Assim se fez.
Aqui começou o ritual. Lá veio o carrinho de serviço com o decanter e os copos adequados, o vinho foi cuidadosamente vertido com a vela por baixo para ver se não escorre nenhum depósito do vinho e finalmente foi colocada uma pinga em cada copo, previamente agitado e cheirado pelo Sr. Costa antes de ser colocado na mesa para os comensais provarem. Serviço 5 estrelas!
Quanto ao vinho, prima mais pela suavidade que pela pujança e a exuberância frutada que marcam a tendência actual, e apresenta um grau alcoólico aceitável, o que é uma ilha no meio da corrente. Contudo pareceu-me algo curto na prova de boca, deixando a ideia que ganharia com mais alguma estrutura e persistência. Será adequado para pratos não muito carregados de temperos. É um vinho correcto e agradável, pronto a deixar-se beber, mas talvez um pouco linear. Pelo preço que custa espera-se um pouco mais.
Kroniketas, enófilo esclarecido
Restaurante: Isaura
Avenida de Paris, 4-B
1000-228 Lisboa
Telef: 21.848.08.38
Nota (0 a 5): 4,5
Vinho: Dona Berta Reserva 2005 (T)
Região: Douro
Produtor: Hernâni Verdelho
Grau alcoólico: 13%
Castas: Tinta Roriz, Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinta Barroca, Tinto Cão
Preço no restaurante: 22 €
Nota (0 a 10): 7,5
Publicada por
Krónikas Vinícolas
à(s)
00:45
|
Etiquetas: Douro, Hernani Verdelho, Lisboa, Restaurantes, Tinta Barroca, Tinta Roriz, Tinto Cao, Tintos, Touriga Franca, Touriga Nacional
sexta-feira, 14 de novembro de 2008
No meu copo 212 - Evel Grande Escolha 2003; Grantom 2001
Continuamos nos domínios da Real Companhia Velha, com mais dois tintos. Um é uma versão nova de um vinho antigo, o Evel, o outro, o Grantom, é um regional Trás-os-Montes.
Este Evel Grande Escolha, existente há menos de 10 anos e que pretende ser o topo de gama da casa, pôs-me algumas dúvidas quanto ao momento de consumo. Adquirido com a Revista de Vinhos em 2006, portanto ainda relativamente novo, decidi esperar algum tempo, seguindo aliás o conselho que a revista dava, mas a dúvida era sempre a mesma, uma vez que não conhecia o vinho: até quando?
A verdade é que quando eu e o tuguinho resolvemos abri-lo, com menos de 5 anos de idade, revelou-se algo decepcionante. Estávamos à espera dum vinho pujante e com alguma exuberância aromática, mas não foi nada disso que encontrámos. Apareceu com os aromas algo escondidos e muito redondo e linear na boca. É, aliás, uma situação algo recorrente em certos vinhos do Douro, possivelmente terá acontecido o mesmo com a prova do Quinta dos Aciprestes Reserva 2003, referido no post anterior, ou então já passou a melhor fase, o que é duvidoso dada a sua idade.
Como havia mais vinhos em prova acabou por ficar ainda uma boa parte na garrafa. A surpresa veio no dia seguinte, em que o vinho estava muito melhor. Aí sim, mostrou maior complexidade e maior persistência, com a fruta bem integrada na madeira. Dito isto, e voltando a comparar as minhas impressões com as provas de outros blogues (Saca-a-rolha, prova de Setembro de 2006 e Pingas no Copo, colheita de 2001 provada em Maio de 2006), fico com a sensação de que estou com azar no momento das provas ou nas garrafas que me calham. E tendo em conta que não fiz nenhuma das provas sozinho (o problema podia ser só meu), a sensação foi partilhada. Portanto, fico a pensar porque é que dois vinhos adquiridos com a Revista de Vinhos e bastante elogiados pelos comparsas eno-bloguistas me passaram mais ou menos ao lado. Será que os deveria ter provado mais cedo? Deveria tê-los decantado uma ou duas horas antes? Neste caso do Evel Grande Escolha 2003, tendo em conta que só passadas 24 horas é que o vinho se revelou, como prepará-lo para a prova sem saber o que ia encontrar? Sendo assim, a nota que atribuímos é sob reserva.
Já o Grantom 2001 mostrou logo o que era. Este sim, mais pujante, mais exuberante nos aromas e mais complexo, com boa estrutura na boca e final longo, taninos presentes a dar firmeza ao conjunto mas sem ofuscarem o perfil aromático e o equilíbrio da prova. Muito bom para o preço que custa e adequado para acompanhar pratos fortes de carne.
Dito isto, fica a pergunta: o que é que me está aqui a faltar para usufruir na plenitude do que supostamente seriam dois belos vinhos, tendo em conta que a temperatura de serviço, os copos e até os pratos servidos à refeição estavam adequados? Alguém quer dar um palpite? Será que faltou decantar uma hora ou duas antes? Mas como saber sem conhecer o vinho? O produtor não deveria dar essa indicação no contra-rótulo quando tal se justifica? São raríssimos (menos de 1%, diria eu) os casos em que isso acontece.
Kroniketas, enófilo desconfiado
Produtor: Real Companhia Velha
Vinho: Evel Grande Escolha 2003 (T)
Região: Douro
Grau alcoólico: 14,5%
Castas: Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinta Roriz, Tinto Cão
Preço em feira de vinhos: 12,38 €
Nota (0 a 10): 7,5
Vinho: Grantom 2001 (T)
Região: Trás-os-Montes
Grau alcoólico: 13,5%
Castas: Cabernet Sauvignon, Touriga Nacional, Touriga Franca
Preço em feira de vinhos: 4,75 €
Nota (0 a 10): 8
Publicada por
Krónikas Vinícolas
à(s)
00:21
|
Etiquetas: Cabernet Sauvignon, Douro, Real C Velha, Tinta Roriz, Tinto Cao, Tintos, Touriga Franca, Touriga Nacional, Tras-os-Montes
sábado, 8 de novembro de 2008
No meu copo 211 - Quinta dos Aciprestes 2003; Quinta dos Aciprestes Reserva 2003
A Quinta dos Aciprestes é uma das várias quintas de que a Real Companhia Velha é proprietária no vale do Douro. Situada entre o Cima Corgo e o Alto Douro, na zona do Tua, com um total de 90 hectares de vinha, estende-se por mais de 2 km na margem esquerda do rio Douro. Fundada no século XVIII, a actual quinta resulta da junção de várias quintas da zona em 1860 (informação disponível no site oficial).
É de dois vinhos da Quinta dos Aciprestes que hoje vou falar. Às vezes temos destas surpresas. Dois vinhos do mesmo produtor, do mesmo ano, de diferentes patamares: um normal DOC e um Reserva. À partida espera-se que o Reserva seja melhor que o DOC normal. Mas eis que ao abrir a garrafa o resultado é diferente.
Desde que começámos a escrever neste blog já tivemos a oportunidade, por puro acaso, de provar 3 vezes o Quinta dos Aciprestes de 2003. A última estava guardada em casa e curiosamente apareceu muito melhor que as anteriores. O tempo em garrafa fez-lhe bem e mostrou-se muito mais exuberante em termos de aromas e estrutura. Antes tinha uma predominância a frutos vermelhos maduros mas ainda algo fechado, como tínhamos referido na última prova. Agora apresentou-se mais cheio, mais persistente, ainda pujante mas com taninos mais arredondados, tendo desaparecido uma certa adstringência que estava presente e surgido uma envolvência mais harmoniosa em todo o conjunto.
Revendo essa prova de Junho 2006, na altura escrevi que deveria melhorar após estar uns 3 ou 4 anos na garrafeira. Esperei dois anos e melhorou muito, mas fico sem saber como seria daqui a mais 1 ou 2. De qualquer modo, pelo que mostrou agora pareceu estar já num ponto alto da evolução e na altura óptima para ser bebido, pelo que mais tempo poderia já trazer algum declínio. Mas isso já é uma incógnita. Em suma, uma aposta muito segura que obviamente merece estar na lista das escolhas permanentes. Ao bebê-lo pensei para comigo: se este está assim, como estará o Reserva?
Mas o Reserva acabou por ficar aquém do esperado. Ou por ainda não ter atingido o tal ponto óptimo de evolução e precisar de mais tempo em garrafa, ou porque já o passou e não dá mais. Os aromas discretos, estrutura mediana na boca e final pouco pronunciado. Bom, mas sem encantar e sem justificar claramente o seu superior estatuto.
Comparando as minhas impressões com as do Pingas no Copo e do Elixir de Baco (provas de 2006, note-se) e do Copo de 3 (prova de Novembro de 2007) fico com a sensação de que se o tivesse bebido logo quando o comprei com a Revista de Vinhos, em Maio de 2006, poderia ter ficado com melhor impressão. Mas quem iria adivinhar que um DOC melhorava mais que um Reserva? É a vida.
Kroniketas, enófilo esclarecido
Região: Douro
Produtor: Real Companhia Velha
Vinho: Quinta dos Aciprestes 2003 (T)
Grau alcoólico: 14%
Castas: Touriga Francesa, Tinta Roriz, Tinta Barroca
Preço em feira de vinhos: 6,99 €
Nota (0 a 10): 8
Vinho: Quinta dos Aciprestes Reserva 2003 (T)
Grau alcoólico: 14%
Castas: Touriga Nacional, Touriga Franca
Preço com a Revista de Vinhos: 5,95 €
Nota (0 a 10): 7,5
Publicada por
Krónikas Vinícolas
à(s)
00:21
|
Etiquetas: Douro, Real C Velha, Tinta Barroca, Tintos, Touriga Franca, Touriga Nacional
quinta-feira, 17 de julho de 2008
No meu copo 191 - Planalto 2007; Diálogo 2005
A primeira passagem pel'Os Arcos agradou, pelo que resolvemos voltar à carga, desta vez para um prato de carne. Como o tempo estava quente, resolvemos começar por refrescar com meia garrafa de Planalto, o branco seco do Douro da Sogrape que é sempre uma aposta simpática. À semelhança de outros brancos relativamente leves e secos, este é sempre agradável de beber, com uma boa acidez e notas florais, corpo médio e um final persistente e refrescante. Nota-se a presença da Malvasia Fina a dar um perfil mais arredondado ao vinho dentro do seu carácter predominantemente seco. Neste caso acompanhámo-lo apenas com uns entreténs-de-boca enquanto aguardávamos a “pièce de résistance” que neste caso eram duas, divididas a meias: uma posta à mirandesa e um bife Wellington. Ela na sua tradicional disposição, ele acoitado em massa folhada, muito tenro e suculento.
Para a carne escolhemos um Diálogo, uma das recentes criações de Dirk Niepoort já divulgada por alguns comparsas da blogosfera, como o Vinho da casa e Os Vinhos. Este vinho tem a particularidade de apresentar um rótulo ilustrado pelo cartoonista Luís Afonso, sobejamente conhecido pelos cartoons que faz há muitos anos quer no jornal A Bola quer no Público, com o célebre Bartoon. É aliás nas personagens do Bartoon que este alentejano de Serpa se inspira para ilustrar o diálogo do rótulo entre o barman e um cliente.
Quanto ao conteúdo líquido, encontrámos um vinho macio, pronto a beber, tal como o produtor anuncia adequado “para todos os dias e não apenas para momentos especiais”. Apresenta-se com uma cor carregada, aroma a frutos vermelhos, redondo na boca sem deixar de mostrar alguns taninos bem amansados e um leve toque a especiarias. Apenas 20% da produção estagiou em barrica, pelo que a madeira passa aqui quase despercebida.
Enfim, o que se pode dizer é que é um vinho relativamente despretensioso e que nesse registo cumpre bem a sua função, sem deixar de mostrar uma qualidade apetecível. A macieza e frescura que apresenta podem torná-lo um bom tinto de Verão.
tuguinho e Kroniketas, enófilos e gastrónomos e etc.
Vinho: Planalto 2007 (B)
Região: Douro
Produtor: Sogrape
Grau alcoólico: 12,5%
Castas: Malvasia Fina, Gouveio, Viosinho, Códega
Preço em feira de vinhos: 4,59 €
Nota (0 a 10): 7,5
Vinho: Diálogo 2005 (T)
Região: Douro
Produtor: Niepoort Vinhos
Grau alcoólico: 13%
Castas: Touriga Franca, Touriga Nacional, Tinta Roriz, Tinta Amarela, Tinto Cão
Preço: cerca de 7,5 €
Nota (0 a 10): 7
Publicada por
Krónikas Vinícolas
à(s)
00:27
|
Etiquetas: Brancos, Codega, Douro, Gouveio, Malvasia Fina, Niepoort, Sogrape, Tinta Amarela, Tinta Roriz, Tinto Cao, Tintos, Touriga Franca, Touriga Nacional, Viosinho
sábado, 5 de janeiro de 2008
No meu copo 157 - Altano 2005
Às vezes temos umas surpresas agradáveis. Esta garrafa foi-nos oferecida à saída do “Encontro com o vinho e os sabores”, tal como há um ano atrás tínhamos tido um Cister da Ribeira, que se revelou uma bodega. Mas este, contra as expectativas, agradou.
Um vinho suave, com um bom aroma frutado, com alguma persistência e corpo médio. Bebe-se com facilidade a acompanhar pratos não muito condimentados, e parece ser uma boa aposta para o dia-a-dia para um vinho barato sem cair demasiado na vulgaridade. Neste caso o rótulo de “Melhor compra” da Revista de Vinhos acaba por fazer sentido tendo em conta a relação qualidade/preço.
Kroniketas, enófilo esclarecido
Vinho: Altano 2005 (T)
Região: Douro
Produtor: Symington Family Estates
Grau alcoólico: 13%
Castas: Tinta Roriz, Touriga Franca
Preço em feira de vinhos: 2,69 €
Nota (0 a 10): 7
Publicada por
Krónikas Vinícolas
à(s)
01:38
|
Etiquetas: Douro, Symington, Tinta Roriz, Tintos, Touriga Franca
sábado, 24 de novembro de 2007
No meu copo 148 - 3 Douros de 2001: Sogrape Reserva, Duas Quintas, Vinha Grande
A propósito do Portugal-Arménia, juntámos alguns Comensais Dionisíacos à mesa (faltaram à chamada o Caçador, que foi para a caça, e o Pirata, retido em casa por constipações familiares) para fazer uma prova de 3 vinhos do Douro de 2001: o Sogrape Reserva, o Duas Quintas e o Vinha Grande. São três dos vinhos da nossa preferência que já apreciámos aqui noutras ocasiões, mas desta vez a intenção era prová-los em simultâneo por terem alguns pontos em comum e serem produzidos no mesmo ano. Vinhos abertos com a antecedência necessária, serviço à temperatura ideal e copos adequados, e passámos à função à volta duns bifes à café antes de a Selecção Nacional entrar em campo.
Começámos com o Sogrape Reserva e o começo não podia ser melhor. Como habitualmente, esteve à altura das expectativas. Mostrou uma fantástica cor rubi, brilhante e transparente, no nariz um bouquet profundo e intenso, marcado por fruto maduro, e na boca um corpo cheio com estrutura complexa, grande persistência, taninos firmes mas bem domados e uma boa acidez a envolver um grau alcoólico correcto, num todo equilibrado e harmonioso. Apetece dizer que este vinho não tem nada fora do sítio, está tudo no ponto certo. Alcandorou-se com destaque a melhor vinho da noite.
Comparativamente às anteriores provas da colheita de 2000, este apareceu muito mais saudável e pujante. Como já dissemos anteriormente, nunca nos desiludiu e sendo esta colheita a que está à venda no mercado, já com 6 anos de idade, está em plena forma e no ponto ideal para ser bebido. Para nós, continua a ser um vinho incontornável e que merece amplamente o preço que custa. Enquanto estiver no mercado, não deixaremos que desapareça das nossas garrafeiras.
Seguiu-se o Duas Quintas, para entrecortar os vinhos da Sogrape com um Ramos Pinto, e acabou por ser o mais penalizado, talvez prejudicado por se ter seguido ao Sogrape Reserva. Este foi comprado já em 2003, e pareceu ter ultrapassado o ponto ideal (actualmente já está à venda a colheita de 2005). Esperávamos um vinho mais pujante e mais robusto, como aliás é seu timbre, sendo normalmente mais adequado para pratos fortes de carne, mas este apareceu um pouco mais delgado do que é habitual, perdendo um pouco de complexidade e de corpo, embora a cor mais fechada estivesse lá. Requer-se, portanto, um consumo mais precoce, embora haja ainda outra garrafa desta colheita que nos irá permitir tirar as dúvidas.
Finalmente seguimos para o Vinha Grande, que dos três foi o mais elegante. Menos exuberante e menos complexo que o Sogrape Reserva, mais frutado e macio, também com uma cor rubi muito atractiva e uma boa persistência. Esteve acima do Duas Quintas mas sem fazer concorrência ao Sogrape Reserva. Dos três é o mais adequado para pratos requintados e delicados.
Em suma, três apostas sempre seguras a preços não excessivos, que não desiludem ninguém e nunca nos deixam ficar mal.
Kroniketas, enófilo esclarecido
PS: Também houve uns Portos mas essa já é outra conversa.
Região: Douro
Vinho: Sogrape Reserva 2001 (T)
Produtor: Sogrape
Grau alcoólico: 13,5%
Castas: Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinta Roriz, Tinta Barroca
Preço em feira de vinhos: 10,74 €
Nota (0 a 10): 8,5
Vinho: Duas Quintas 2001 (T)
Produtor: Ramos Pinto
Grau alcoólico: 13%
Castas: Tinta Roriz, Touriga Nacional
Preço em feira de vinhos: 8,69 €
Nota (0 a 10): 7/7,5
Vinho: Vinha Grande 2001 (T)
Produtor: Casa Ferreirinha - Sogrape
Grau alcoólico: 13,5%
Castas: Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinta Roriz, Tinta Barroca
Preço em feira de vinhos: 8,98 €
Nota (0 a 10): 8
Publicada por
Krónikas Vinícolas
à(s)
00:14
|
Etiquetas: Douro, Ferreirinha, Ramos Pinto, Sogrape, Tinta Barroca, Tinta Roriz, Tintos, Touriga Franca, Touriga Nacional
quarta-feira, 21 de novembro de 2007
No meu copo 147 - Quinta do Crasto 2004
Outro vinho do Douro que eu não compreendo, certamente. Já aqui tive oportunidade de falar da colheita de 2003 e, tal como no anterior, ficou-me outra vez a sensação de “muita parra e pouca uva”. Se existem, ao que se diz, grandes vinhos deste produtor nos topos de gama, na gama chamada “Premium” há bastantes decepções, como é o caso deste. Há por aí dezenas de vinhos pelo mesmo preço infinitamente melhores, mesmo na própria região. A este parece que lhe falta personalidade, um perfil mais definido, não sei bem o que é que ele é.
A Revista de Vinhos de Outubro apresenta um painel de tintos até 10 € onde tece grandes encómios à colheita de 2006, apresentando-o como um “tinto cheio e de grande categoria”, classificando-o com 16 pontos. Na nossa escala de 0 a 10 andaria então por volta dos 8. Mas é que nem pouco mais ou menos, nem pensar! Para mim, este 2004 é um vinho perfeitamente vulgar.
Aliás, há vários anos que eu me deparo com este problema. Tecem-se loas intermináveis aos vinhos do Douro, que são os melhores do país, de categoria internacional, só que custam uma fortuna. Porque para o consumidor normal, que vai a um supermercado fazer as suas compras para compor uma garrafeira com vinhos de alguma qualidade mas não quer deixar lá um ordenado, se opta por esta gama dos vinhos até 10 €, ou mais para baixo, no Douro arrisca-se a apanhar um bom punhado de decepções. Perante isto fico sempre na dúvida: afinal, o que valem verdadeiramente os vinhos do Douro?
Tudo isto, ao fim e ao cabo, para dizer que este Quinta do Crasto 2004, tal como o 2003, não me diz grande coisa, não consigo caracterizá-lo. Tem alguma fruta, um aroma discreto, um ligeiro toque a especiarias no final, mas continua a parecer-me mais um, igual a muitos outros, que não passa da mediania e que não justifica o preço que custa.
Kroniketas, enófilo reservado
Vinho: Quinta do Crasto 2004 (T)
Região: Douro
Produtor: Sociedade Agrícola da Quinta do Crasto
Grau alcoólico: 14%
Castas: Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinta Roriz, Tinta Barroca
Preço em feira de vinhos: 8,36 €
Nota (0 a 10): 6
Publicada por
Krónikas Vinícolas
à(s)
00:13
|
Etiquetas: Crasto, Douro, Tinta Barroca, Tinta Roriz, Tintos, Touriga Franca, Touriga Nacional
domingo, 4 de novembro de 2007
No meu copo 143 - CARM Reserva 2003
Inicialmente esta sigla (CARM) era usada pela Cooperativa Agrícola de Reguengos de Monsaraz, mas provavelmente uma distracção, um desleixo ou um esquecimento em registar o nome permitiu que mais tarde aparecesse este produtor a usar a mesma sigla e a anterior Carm teve de passar a usar a sigla CARMIM.
Temos, então, o nome CARM associado à Casa Agrícola Roboredo Madeira. Com quintas localizada em redor de Almendra, no Douro Superior, já perto de Espanha e dentro da Reserva Arqueológica do Vale do Côa, na mesma zona onde a Ramos Pinto tem a Quinta da Ervamoira e a Sogrape tem a Quinta da Leda, este é um dos produtores que nos últimos anos têm ganho notoriedade no Douro.
Tive há algum tempo a oportunidade de pela primeira vez provar um vinho desta casa, pelo que a expectativa era algo elevada. No entanto, não correspondeu completamente ao esperado. Apresentou-se bastante carregado na cor mas com um aroma algo discreto, corpo médio e prova de boca com alguns toques apimentados e alguma predominância de fruta madura, com boa persistência no fim de boca.
É um vinho que se bebe bem mas esteve longe de me encantar. Pode ter sido da garrafa ou de qualquer factor externo, mas não revelou a exuberância aromática que se poderia esperar. No entanto, tratando-se da primeira prova destes vinhos, reservamos uma segunda opinião para uma contraprova em próxima oportunidade. Ou então sou eu que não compreendo certos vinhos do Douro... Pode ser isso.
Kroniketas, enófilo esclarecido
Vinho: CARM Reserva 2003 (T)
Região: Douro
Produtor: Casa Agrícola Roboredo Madeira
Grau alcoólico: 14%
Castas: Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinta Roriz
Nota (0 a 10): 7
Publicada por
Krónikas Vinícolas
à(s)
01:10
|
Etiquetas: Carm, Douro, Tinta Roriz, Tintos, Touriga Franca, Touriga Nacional
terça-feira, 30 de outubro de 2007
No meu copo 142 - Casal dos Jordões, Touriga Francesa 99
Este é um vinho de produção biológica, o que por si só não garante vinhos de excepção.
Contrariamente ao que se devia fazer, não o decantei, visto ser só eu a bebê-lo – se fosse decantado estragar-se-ia muito rapidamente; assim, com a rolha de vácuo, foi possível mantê-lo durante vários dias e degustá-lo completamente.
Quando o verti para o copo a cor, granada, surgiu forte, não revelando sinais de velhice.
O aroma, discreto, apresentou odores complexos fruto da evolução e um ligeiro bafio que logo se desvaneceu.
Na boca mostrou fruta de caroço muito madura (ameixa, predominantemente), com taninos presentes mas redondos e madeira muito suave. O corpo primou pela elegância – este vinho não nos tenta esmagar com a sua força, antes nos tenta convencer pela astúcia.
O fim de boca foi médio, mas persistente, ajudado pelos taninos ainda presentes.
Este Casal dos Jordões - Touriga Francesa é pois um bom vinho do Douro, que joga na discrição o que outros apostam na exuberância. Embora, como se pode constatar pela nota de prova, o vinho estivesse óptimo ainda, bebê-lo com dois anos a menos seria o que eu aconselharia aos leitores.
tuguinho, enófilo esforçado
Vinho: Casal dos Jordões, Touriga Francesa 1999 (T)
Região: Douro
Produtor: Arlindo da Costa Pinto e Cruz
Grau alcoólico: 12%
Castas: Touriga Francesa
Preço em feira de vinhos: 12 €
Nota (0 a 10): 7,5
Publicada por
Krónikas Vinícolas
à(s)
22:57
|
Etiquetas: Douro, Tintos, Touriga Franca