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sexta-feira, 14 de novembro de 2008

No meu copo 212 - Evel Grande Escolha 2003; Grantom 2001

Continuamos nos domínios da Real Companhia Velha, com mais dois tintos. Um é uma versão nova de um vinho antigo, o Evel, o outro, o Grantom, é um regional Trás-os-Montes.
Este Evel Grande Escolha, existente há menos de 10 anos e que pretende ser o topo de gama da casa, pôs-me algumas dúvidas quanto ao momento de consumo. Adquirido com a Revista de Vinhos em 2006, portanto ainda relativamente novo, decidi esperar algum tempo, seguindo aliás o conselho que a revista dava, mas a dúvida era sempre a mesma, uma vez que não conhecia o vinho: até quando?
A verdade é que quando eu e o tuguinho resolvemos abri-lo, com menos de 5 anos de idade, revelou-se algo decepcionante. Estávamos à espera dum vinho pujante e com alguma exuberância aromática, mas não foi nada disso que encontrámos. Apareceu com os aromas algo escondidos e muito redondo e linear na boca. É, aliás, uma situação algo recorrente em certos vinhos do Douro, possivelmente terá acontecido o mesmo com a prova do Quinta dos Aciprestes Reserva 2003, referido no post anterior, ou então já passou a melhor fase, o que é duvidoso dada a sua idade.
Como havia mais vinhos em prova acabou por ficar ainda uma boa parte na garrafa. A surpresa veio no dia seguinte, em que o vinho estava muito melhor. Aí sim, mostrou maior complexidade e maior persistência, com a fruta bem integrada na madeira. Dito isto, e voltando a comparar as minhas impressões com as provas de outros blogues (Saca-a-rolha, prova de Setembro de 2006 e Pingas no Copo, colheita de 2001 provada em Maio de 2006), fico com a sensação de que estou com azar no momento das provas ou nas garrafas que me calham. E tendo em conta que não fiz nenhuma das provas sozinho (o problema podia ser só meu), a sensação foi partilhada. Portanto, fico a pensar porque é que dois vinhos adquiridos com a Revista de Vinhos e bastante elogiados pelos comparsas eno-bloguistas me passaram mais ou menos ao lado. Será que os deveria ter provado mais cedo? Deveria tê-los decantado uma ou duas horas antes? Neste caso do Evel Grande Escolha 2003, tendo em conta que só passadas 24 horas é que o vinho se revelou, como prepará-lo para a prova sem saber o que ia encontrar? Sendo assim, a nota que atribuímos é sob reserva.
Já o Grantom 2001 mostrou logo o que era. Este sim, mais pujante, mais exuberante nos aromas e mais complexo, com boa estrutura na boca e final longo, taninos presentes a dar firmeza ao conjunto mas sem ofuscarem o perfil aromático e o equilíbrio da prova. Muito bom para o preço que custa e adequado para acompanhar pratos fortes de carne.
Dito isto, fica a pergunta: o que é que me está aqui a faltar para usufruir na plenitude do que supostamente seriam dois belos vinhos, tendo em conta que a temperatura de serviço, os copos e até os pratos servidos à refeição estavam adequados? Alguém quer dar um palpite? Será que faltou decantar uma hora ou duas antes? Mas como saber sem conhecer o vinho? O produtor não deveria dar essa indicação no contra-rótulo quando tal se justifica? São raríssimos (menos de 1%, diria eu) os casos em que isso acontece.

Kroniketas, enófilo desconfiado

Produtor: Real Companhia Velha

Vinho: Evel Grande Escolha 2003 (T)
Região: Douro
Grau alcoólico: 14,5%
Castas: Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinta Roriz, Tinto Cão
Preço em feira de vinhos: 12,38 €
Nota (0 a 10): 7,5

Vinho: Grantom 2001 (T)
Região: Trás-os-Montes
Grau alcoólico: 13,5%
Castas: Cabernet Sauvignon, Touriga Nacional, Touriga Franca
Preço em feira de vinhos: 4,75 €
Nota (0 a 10): 8

sábado, 8 de novembro de 2008

No meu copo 211 - Quinta dos Aciprestes 2003; Quinta dos Aciprestes Reserva 2003

A Quinta dos Aciprestes é uma das várias quintas de que a Real Companhia Velha é proprietária no vale do Douro. Situada entre o Cima Corgo e o Alto Douro, na zona do Tua, com um total de 90 hectares de vinha, estende-se por mais de 2 km na margem esquerda do rio Douro. Fundada no século XVIII, a actual quinta resulta da junção de várias quintas da zona em 1860 (informação disponível no site oficial).
É de dois vinhos da Quinta dos Aciprestes que hoje vou falar. Às vezes temos destas surpresas. Dois vinhos do mesmo produtor, do mesmo ano, de diferentes patamares: um normal DOC e um Reserva. À partida espera-se que o Reserva seja melhor que o DOC normal. Mas eis que ao abrir a garrafa o resultado é diferente.
Desde que começámos a escrever neste blog já tivemos a oportunidade, por puro acaso, de provar 3 vezes o Quinta dos Aciprestes de 2003. A última estava guardada em casa e curiosamente apareceu muito melhor que as anteriores. O tempo em garrafa fez-lhe bem e mostrou-se muito mais exuberante em termos de aromas e estrutura. Antes tinha uma predominância a frutos vermelhos maduros mas ainda algo fechado, como tínhamos referido na última prova. Agora apresentou-se mais cheio, mais persistente, ainda pujante mas com taninos mais arredondados, tendo desaparecido uma certa adstringência que estava presente e surgido uma envolvência mais harmoniosa em todo o conjunto.
Revendo essa prova de Junho 2006, na altura escrevi que deveria melhorar após estar uns 3 ou 4 anos na garrafeira. Esperei dois anos e melhorou muito, mas fico sem saber como seria daqui a mais 1 ou 2. De qualquer modo, pelo que mostrou agora pareceu estar já num ponto alto da evolução e na altura óptima para ser bebido, pelo que mais tempo poderia já trazer algum declínio. Mas isso já é uma incógnita. Em suma, uma aposta muito segura que obviamente merece estar na lista das escolhas permanentes. Ao bebê-lo pensei para comigo: se este está assim, como estará o Reserva?
Mas o Reserva acabou por ficar aquém do esperado. Ou por ainda não ter atingido o tal ponto óptimo de evolução e precisar de mais tempo em garrafa, ou porque já o passou e não dá mais. Os aromas discretos, estrutura mediana na boca e final pouco pronunciado. Bom, mas sem encantar e sem justificar claramente o seu superior estatuto.
Comparando as minhas impressões com as do Pingas no Copo e do Elixir de Baco (provas de 2006, note-se) e do Copo de 3 (prova de Novembro de 2007) fico com a sensação de que se o tivesse bebido logo quando o comprei com a Revista de Vinhos, em Maio de 2006, poderia ter ficado com melhor impressão. Mas quem iria adivinhar que um DOC melhorava mais que um Reserva? É a vida.

Kroniketas, enófilo esclarecido

Região: Douro
Produtor: Real Companhia Velha

Vinho: Quinta dos Aciprestes 2003 (T)
Grau alcoólico: 14%
Castas: Touriga Francesa, Tinta Roriz, Tinta Barroca
Preço em feira de vinhos: 6,99 €
Nota (0 a 10): 8

Vinho: Quinta dos Aciprestes Reserva 2003 (T)
Grau alcoólico: 14%
Castas: Touriga Nacional, Touriga Franca
Preço com a Revista de Vinhos: 5,95 €
Nota (0 a 10): 7,5

sexta-feira, 6 de julho de 2007

No meu copo 127 - Quinta de Cidrô, Sauvignon Blanc 2005

Depois do branco Chardonnay, que não agradou, tentei o Sauvignon Blanc. Na verdade, agradou pouco mais. Volto à mesma questão já aqui levantada: a estes brancos portugueses de castas estrangeiras falta frescura, elegância, vivacidade, em suma, finesse.
Embora mais fresco que o Chardonnay, apresentou-se também um pouco rústico, com aromas pouco exuberantes. Tentei apreciá-lo com vários pratos em diferentes dias, mas o resultado foi o mesmo. Não me convenceu. Definitivamente, tenho que procurar outros brancos de castas nacionais.

Kroniketas, enófilo esclarecido

Vinho: Quinta de Cidrô, Sauvignon Blanc 2005 (B)
Região: Trás-os-Montes (regional)
Produtor: Real Companhia Velha
Grau alcoólico: 12,5%
Casta: Sauvignon Blanc
Preço em feira de vinhos: 4,85 €
Nota (0 a 10): 6,5

terça-feira, 3 de julho de 2007

No meu copo 126 - Porca de Murça Reserva branco 2005

Já conheço esta marca há muitos anos, praticamente desde que comecei a interessar-me por estas coisas e ainda não sabia quase nada. O Porca de Murça branco foi desde logo um dos meus preferidos. Com o passar dos anos fui conhecendo outras marcas e esquecendo este, mas mantive sempre a lembrança de ser um branco agradável.

Os Reserva nem existiam. Agora já existem. E este branco Reserva não me convenceu. Pouco apelativo, pouco aromático, um pouco rústico, que é coisa que eu não suporto num vinho branco. Falta-lhe elegância. Muito álcool mas pouco suportado pelo corpo e pela acidez. Parafraseando o nosso amigo Pingus Vinicus, quis falar com o vinho mas ele não me disse nada. E eu fiquei sem saber que mais lhe dizer.

Acho que na próxima ocasião vou tentar rever o branco normal, que era o tal de que eu gostava, para ver se ainda gosto. Se calhar, com menos pretensões, as memórias que guardei de há 15 ou 20 anos ainda lá estão.

Kroniketas, enófilo esclarecido

Vinho: Porca de Murça Reserva 2005 (B)
Região: Douro
Produtor: Real Companhia Velha
Grau alcoólico: 14%
Castas: Boal, Cerceal, Codega, Gouveio

Preço em feira de vinhos: 3,58 €
Nota (0 a 10): 5,5

quarta-feira, 1 de novembro de 2006

No meu copo 64 - Quinta de Cidrô Reserva, Chardonnay 2004

Já há bastante tempo que não bebia um vinho exclusivamente da casta Chardonnay. Este Quinta de Cidrô foi uma das promoções que acompanham a Revista de Vinhos, a 5,95 €.
Trata-se dum vinho fermentado em madeira, com 14% de álcool. Apresenta uma cor palha, um pouco carregada, e aromas amanteigados. Na boca o elevado grau alcoólico torna-se um pouco agressivo, ao mesmo tempo que a madeira o torna mais robusto do que é habitual nos vinhos brancos. O toque amanteigado faz-se também sentir na boca, formando um conjunto que se torna enjoativo para o meu paladar.
Só na segunda prova, com um prato de bacalhau no forno regado com azeite, é que o vinho se mostrou adequado para o prato. Trata-se, efectivamente, de um daqueles brancos que pedem um prato forte, como o bacalhau ou um pargo no forno, com uma boa dose de temperos, pois com pratos mais delicados o vinho sobressai em demasia, abafando os sabores do prato.
Em todo o caso, no conjunto não me encantou. Não é o meu género de branco, porque, seguindo a moda actual, tem álcool em excesso, a meu ver desnecessariamente. 14 graus de álcool para um branco parece-me francamente exagerado. Gosto de brancos mais suaves e delicados, necessariamente com menor grau alcoólico. No entanto, esta característica poderá ser compensada com o prato. O que menos me agradou, definitivamente, foi esta predominância da manteiga, típica do Chardonnay, de que já não me recordava e que é um dos aromas que não me agradam num vinho. Por isso estarei atento para evitar os vinhos desta casta vinificada isoladamente.

Kroniketas, enófilo esclarecido

Vinho: Quinta de Cidrô Reserva, Chardonnay 2004 (B)
Região: Trás-os-Montes (regional)
Produtor: Real Companhia Velha
Grau alcoólico: 14%

Casta: Chardonnay
Preço em feira de vinhos: 4,68 €
Nota (0 a 10): 6

sexta-feira, 2 de junho de 2006

Na minha mesa 48 - Adega da Tia Matilde



Um clássico de Lisboa, situado ali nas proximidades do antigo apeadeiro do Rego. Espaço amplo, com várias zonas separadas, bar com sala de espera, vários balcões com sobremesas nos locais de circulação e, mais recentemente, garagem subterrânea que facilita bastante num local onde o espaço para estacionamento não abunda. Mais importante ainda, um local de tradição benfiquista, a começar pelo dono.
A oferta é variada, com peixes, mariscos, bacalhau, caça, cabrito, etc. A dificuldade está na escolha. Os preços é que não são nada meigos.
Num grupo de 7 pessoas, escolheu-se para começar uma caldeirada e depois um cabrito no forno com arroz de miúdos. Ambos em doses q. b. e com bom paladar. Antes, para entreter, umas pataniscas de bacalhau muito tenras e ainda quentinhas. O presunto à disposição é que não convenceu: muito seco e com ar de velho.
Para regar a refeição, deparámo-nos com o tradicional problema dos restaurantes portugueses: preços exorbitantes para a maioria dos vinhos. Difícil é encontrar um vinho a preço aceitável. Sugestionado por uma recente apreciação do Tuguinho, sugeri um Quinta dos Aciprestes de 2003, a 14 €, que colheu o agrado dos presentes. Corroborando a apreciação já anteriormente apresentada, quero acrescentar que se apresentou ainda fechado, com os aromas um pouco escondidos e uma ligeira adstringência que mostram estarmos perante um vinho com todos os sinais de juventude bem presentes e que, seguramente, irá melhorar com mais uns anos na garrafa. Tem todas as condições para desenvolver aromas mais exuberantes, tornando-se também mais macio. É sem dúvida um vinho a rever... depois de termos umas garrafas guardadas na garrafeira durante uns 3 ou 4 anos.
De notar ainda que foi necessário pedir para refrescar o vinho, pois estava com temperatura excessiva, outra pecha habitual em Portugal quando se aproxima o tempo quente.
Nas sobremesas as opções também são variadas embora dentro da normalidade, sendo o mais original uma tranche de maçã que tinha forma de pudim.
O serviço é eficaz e atencioso, com muita gente sempre com atenção às mesas. Só na conta é que fomos surpreendidos, ao deparar com um montante de 38 € por cabeça. Já se sabe como é: sem restrição nas entradas a conta dispara. Os próprios pratos escolhidos também foram mais caros do que se esperava. Ou seja, é um restaurante onde se come bem e onde vale a pena ir, mas olhe bem para a coluna dos preços quando escolher, para não ser apanhado de surpresa no fim.

Kroniketas, enófilo esclarecido

Restaurante: Adega da Tia Matilde
Rua da Beneficência, 77
1600-017 Lisboa
Telef: 21.797.21.72
Preço médio por refeição: 35 €
Nota (0 a 5): 4

segunda-feira, 1 de maio de 2006

Na minha mesa, no meu copo 42 - Adega e Presuntaria Transmontana; Quinta dos Aciprestes 2003

Já de alguns anos a esta parte que as margens do Douro na zona do Porto deixaram de ser de faina fluvial e começaram a abrigar outras espécies. A velha Ribeira rejuvenesceu e apareceram restaurantes e bares que trouxeram outras gentes às suas ruas. Um pouco mais tarde, do outro lado do rio assistiu-se a outra pequena revolução: quase toda a zona de cais perto das caves de vinho do Porto foi reconstruída e aí, da ponte de Dom Luís até bem mais à frente, na direcção da foz do rio, surgiu o que podemos apelidar de émulo das docas de Lisboa.
A zona é absolutamente privilegiada e dos restaurantes, cafés, bares e outras lojas que ocupam os pavilhões construídos à beira-rio pode desfrutar-se da melhor vista sobre o Porto, tanto à luz do dia como de noite.
Além dos pavilhões construídos de origem, também as antigas fachadas que dão para o cais se foram reconvertendo e os restaurantes são mais que muitos, incluindo até uma das sortidas do famigerado Tromba Rija fora de Marrazes.
Praticamente ao lado deste existe outro, denominado Adega e Presuntaria Transmontana II, e que foi a evolução natural da adega original, situada numa rua perpendicular, um pouco mais acima na encosta de Gaia. Este número II já era meu conhecido e sempre fora servido a contento mas, na última tentativa para lá nos amesendarmos, lugares era coisa que não havia… Foi então que o patrão Lopes, proprietário do local, nos sugeriu uma visita ao número I, acabadinho de remodelar e por isso ainda pouco conhecido dos frequentadores da zona e portanto com lugares livres que chegavam para o nosso jantar. E assim seguimos o sr. Lopes e cinco minutos depois (a pé) estávamos num simpático espaço que ainda cheirava a novo. Da antiga “tasca” nem rasto, talvez só a configuração do espaço no rés-do-chão. Este piso alberga algumas poucas mesas, um balcão à entrada e a cozinha, e era o espaço original da adega, mas a remodelação também foi ampliação e agora uma escada leva-nos a um 1º piso que acaba por ser a verdadeira sala de jantar do restaurante.
Para começo da contenda é logo servido um Porto branco, doce e fresquinho, que acaba por preparar o estômago para o que vem a seguir. Não sendo um gémeo do tromba rija, também aqui as entradas são importantes no repasto total, e assim que nos sentamos temos logo várias tábuas com diversos enchidos, presunto, diferentes queijos e bom pão. Ficam por lá também uma travessinha com alcaparras (azeitonas britadas) e uns lombos de biqueirão em vinagrete que são uma delícia! Trazem-nos ainda um agradável folhado de farinheira, quentinho, e outras coisinhas boas que se me apagaram da memória, em virtude talvez de algum acontecimento mais etílico.
Escolheu-se para prato principal uma posta de carne à transmontana, que apareceu tenríssima e no ponto, bem temperada com abundância de alho e já trinchada em tiras manuseáveis, acolitada por batatinhas a murro e legumes salteados servidos a sair do lume na própria frigideira.
Depois disto tudo ainda tivemos de arranjar espaço (porque vontade havia) para nos dirigirmos ao estendal de doces e frutas que se anicha numa das pontas da sala. Desde trouxas de ovos a pudim do Abade de Priscos, de leite-creme queimado a sopa dourada, de mousse de chocolate a arroz-doce e a aletria, há de tudo e bem feito. Sim, também há muita fruta para quem quiser.
E que beberagem nos acompanhou nesta prova de fogo, perguntarão? Apesar da qualidade, também a Adega sofre do mal da maioria dos restaurantes portugueses: tentamos “promover” o consumo de bom vinho com preços exorbitantes! A lista está composta, embora não seja muito extensa, e lá consegui encontrar um vinho que não me pareceu demasiado dispendioso e que nos podia garantir qualidade. Escolhi um Quinta dos Aciprestes, Douro DOC, obviamente tinto. Conheci este vinho quando do seu lançamento, talvez há uns cinco anos, quando o promoviam no Jumbo e que, se bem me recordo, me custou 700 dos velhos escudos por botelha. Na altura gostei, embora não me tenha parecido excepcional. E foi baseado nessa recordação que o escolhi, ciente de que mau vinho não era. Pois bem, o bicharoco excedeu as minhas expectativas e revelou-se opaco, quase rubi na cor, e com uma primeira impressão que nos trouxe à memória um vintage ou LBV novos. A boca andava ali à roda dos frutos vermelhos, com um final complexo que levava ao próximo golo com facilidade. Passou a fazer parte da minha lista de compras para as próximas feiras, nos ainda longínquos Setembro e Outubro.
Concluindo, já tinha a Adega e Presuntaria Transmontana como um bom poiso para refeiçoar nas minhas idas ao Porto, mas esta ocasião revelou-se mais saborosa do que as últimas, sabe-se lá porquê.
Os convivas são geralmente presenteados com miniaturas de Vinho do Porto, de produção do proprietário, e agora também com azeite.
Já para lá tínhamos ido de táxi e de táxi voltámos para o hotel. O que é que vocês estavam a pensar?

tuguinho, enófilo esforçado

Restaurante: Adega e Presuntaria Transmontana II
(daqui podem partir para a I, que é mais difícil de encontrar)
Avenida Diogo Leite, N.º 80
4400 - 111, Vila Nova de Gaia
Telef: 223.758.380
Preço médio por refeição: 30 €
Nota (0 a 5): 4

Vinho: Quinta dos Aciprestes 2003 (T)
Região: Douro
Produtor: Real Companhia Velha
Grau alcoólico: 14%

Castas: Touriga Francesa, Tinta Roriz, Tinta Barroca
Preço no restaurante: cerca de 14 €
Nota (0 a 10): 7,5

quinta-feira, 12 de janeiro de 2006

No meu copo, na minha mesa: Quinta da Terrugem 97; Herdade Grande 02; Aragonês Esporão 02; Sogrape Alentejo Reserva 00; Murganheira Bruto Reserva 02




Fomos atraídos por duas lebres, quais cães de caça em serviço. A diferença foi que neste caso as lebres já tinham entregue a alma ao criador e esperavam por nós dentro da panela, na casa do anfitrião, o famigerado Kroniketas.
Isto que vos vou contar foi no passado sábado, ao jantar, e tratou-se de uma reunião plenária do Grupo Gastrónomo-Etilista “Os Comensais Dionisíacos”, acrescentados das consortes e respectiva filiação. Ao todo onze crescidos, que são os que nos interessam para o caso, porque as criancinhas não degustaram os vinhos que acompanharam as lebres ao seu local de descanso final, os estômagos dos convivas.
Os lagomorfos (a terminação “morfos” não tem nada a ver com comida) estavam devidamente separados em pedaços em jeito de ensopado, com batata cozida e molho espesso, de que não guardo o segredo – só comi, não cozinhei! Também compareceram, para abrilhantar a festa, três perdizes perdidas escondidas no meio de lombarda e assaz (não assadas) apetitosas.
Os vinhos provieram dessa afamada adega que é a vasta garrafeira do Kroniketas (se bem que a do tuguinho não lhe fique atrás), reforçada com umas ofertas de peso.
Depois das cervejolas da praxe e das entradas, iniciou-se o repasto propriamente dito com um Quatro Regiões 97 da Sogrape. A apreciação do néctar foi díspar, e portanto resolvemos não atribuir nota. Iremos abrir outra botelha proximamente e então diremos de nossa justiça. Os pormenores sobre este vinho peculiar serão escalpelizados nessa próxima nota de prova.
Continuámos com um Quinta da Terrugem 97 das Caves Aliança, que se mostrou um tanto delgado para o que se esperava dele. Boa cor, aroma razoável. Talvez seja já da idade, demasiado avançada para um vinho alentejano.
A saga prolongou-se num Herdade Grande 2002, um Vidigueira produzido por António Manuel Lança, que nos surpreendeu pela positiva: excelente corpo, bom aroma e uma estrutura sólida com um fim de boca razoável provaram-nos mais uma vez que não é apenas o preço que distingue os vinhos.
Antes que nos chamem bêbedos, lembrem-se que eram onze pessoas, das quais sete beberam vinho tinto. É incrível como uma garrafa se esvazia depressa nestas circunstâncias!
O percurso etílico atravessou um Aragonês 2002 do Esporão, que cumpriu, como aliás é hábito. Um ligeiro aroma a mofo desvaneceu-se rapidamente no copo e deixou apreciar na sua plenitude este monocasta que é um valor seguro, com bom aroma característico da variedade, com evolução, e uma cor espessa que teve tradução na boa estrutura e nos taninos.
Finalmente, fizemos uma paragem numa garrafa de Sogrape Alentejo Reserva 2000. E em boa hora o deixámos para o fim! Ao contrário do esperado, suplantou o Aragonês do Esporão e guindou-se ao posto de melhor vinho da noite. Uma estrutura espantosa para um Alentejo com cinco anos, uma cor retinta, aromas secundários e terciários para dar e vender. Acima das expectativas portanto, se bem que as iniciais já fossem boas.
Houve também um D.O.A. (Death On Arrival), um Vale Barqueiros de 1998 que, pelo odor e pela cor quase de tijolo, serviria apenas para temperar qualquer coisa, não para beber.
Para aquela zona dos brindes e da sobremesa, começámos com um espumante Murganheira Bruto Reserva 2002, de bolha fina e sabor elegante, que não causou estragos nos estômagos já quase repletos.
A sobremesa propriamente dita constou de bolo rançoso e de charlote de chocolate – tudo coisas sem calorias e que não engordam de forma nenhuma. Para as acompanhar, além do dito espumante, um Porto Vintage 2001 da Real Companhia Velha – um vintage moderno, sem arestas, de cor carmim carregado e ainda com laivos de doce, que se portou muito bem –, e um whisky de malte Famous Grouse Single Malt de 12 anos, para os comensais que apreciam. Ainda vi por lá passar uma garrafa de aguardente bagaceira do I.V.V., com cerca de 13 anos de idade e bastante para contar sobre os cascos que a tornaram amarela.
E pronto. Depois de muita conversa animada que prolongou o plenário quase até às duas, cada um foi para sua casa com a sensação do dever cumprido.
Sim, porque nós somos uns escravos do dever!

tuguinho, enófilo sóbrio e escravo do dever
Kroniketas, anfitrião famigerado

Nota: Para ver as imagens das garrafas mais nítidas clique na foto

Vinho: Quinta da Terrugem 97 (T)
Região: Alentejo (Borba)
Produtor: Caves Aliança
Preço em feira de vinhos: 17,5 €
Nota (0 a 10): 6,5


Vinho: Herdade Grande 2002 (T)
Região: Alentejo (Vidigueira)
Produtor: António Manuel Lança
Preço em feira de vinhos: 9,79 € (preço da colheita de 2000)
Nota (0 a 10): 7,5


Vinho: Aragonês (Esporão) 2002 (T)
Região: Alentejo (Reguengos)
Produtor: Herdade do Esporão
Preço em feira de vinhos: 11,95 €
Nota (0 a 10): 8


Vinho: Sogrape Alentejo Reserva 2000 (T)
Região: Alentejo (Vidigueira)
Produtor: Sogrape
Preço em feira de vinhos: 9,89 €
Nota (0 a 10): 8,5


Vinho: Murganheira Espumante Bruto Reserva 2002 (T)
Região: Távora-Varosa
Produtor: Sociedade Agrícola e Comercial do Varosa
Preço em feira de vinhos: 8,75 €
Nota (0 a 10): 7


Vinho: Porto Vintage Real Companhia Velha 2001 (T)
Região: Douro/Porto
Produtor: Real Companhia Velha
Preço em feira de vinhos: 17,5 €
Nota (0 a 10): 7,5