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quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

No meu copo 262 - Dona Ermelinda 2006

Não temos passado muito pelos vinhos desta produtora, que estão um pouco na moda, principalmente desde que um Syrah de 2005 ganhou um primeiro prémio num concurso mundial (o que levou logo a uma extrapolação exagerada para expressões como “o melhor vinho do mundo”!). Como não podemos ir a todas, mesmo que quiséssemos, acabamos por ir dando mais atenção a outros produtores, mas chega sempre a ocasião em que a ocasião chega.

Um dia destes tive oportunidade de almoçar com um amigo num restaurante já aqui referido, o Estrela do Bico, em Massamá, onde a carta de vinhos não é muito vasta e por isso as opções também não permitem grande criatividade. Como lá estava o vinho da Ermelinda, resolvi experimentá-lo com os habituais bifinhos.

Tinha mais curiosidade do que expectativas, por falta de referências. Mas o vinho saiu-se bem da prova. Estando posicionado na gama dos vinhos próximos dos 4 €, cumpriu o que se esperava. Encorpado e aromático quanto baste, de cor carregada e aroma predominante a fruto maduro, madeira discreta (6 meses de estágio) e bem casada, final com boa persistência, é um vinho bem feito e que tem tudo para agradar à primeira sem encantar e que pode ser competitivo nesta gama. Pelo preço que custa, é um dinheiro que se pode considerar bem empregue. O mesmo se pudesse dizer do que foi referido no post anterior.

Kroniketas, enófilo em recolha de inverno

Vinho: Dona Ermelinda 2006 (T)
Região: Terras do Sado (DOC Palmela)
Produtor: Casa Ermelinda Freitas
Grau alcoólico: 13,5%
Casta: Castelão
Preço em feira de vinhos: 3,49 €
Nota (0 a 10): 7

quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

No meu copo 260 - Reguengos Garrafeira dos Sócios 2001


Para finalizar o ano, nada melhor que assinalar a quadra festiva com um dos nossos vinhos de referência, já aqui mencionado várias vezes: o Garrafeira dos Sócios da Cooperativa Agrícola de Reguengos de Monsaraz.

Desta vez escolhemos uma garrafa da colheita de 2001 que, tal como as colheitas anteriores, não fugiu ao que se esperava. Sempre a mesma suavidade, o aroma frutado profundo, e ainda assim mantendo uma persistência e um fim de boca assinalável.

De colheita para colheita mantém as mesmas características, sempre muito equilibrado, com a madeira na conta certa e conjugando uma estrutura que mantém alguma vivacidade com o aveludado habitual.

E assim terminamos o ano da melhor forma. Desejamos a todos boas provas para 2010.

Kroniketas, enófilo celebrante


Vinho: Reguengos Garrafeira dos Sócios 2001 (T)
Região: Alentejo (Reguengos)
Produtor: Carmim (Coop. Agrícola de Reguengos de Monsaraz)
Grau alcoólico: 13,5%
Castas: Aragonês, Castelão, Trincadeira
Preço em feira de vinhos: 12,99 €
Nota (0 a 10): 8,5

sexta-feira, 31 de julho de 2009

Perdizes por um, perdizes para dez

No meu copo 251 - Veuve Roth, Pinot Gris 2007; Delicato, Chardonnay 2005; Delicato, Zinfandel 2005 rosé; Herdade do Pinheiro 2007 rosé; Herdade do Perdigão Reserva 2005; Quinta da Viçosa 2003; Herdade do Meio Garrafeira 2003; Vieux Magon 2001




E pronto, para assinalar o fim do ano de trabalho e ajudar a esgotar o stock de perdizes do caçador de serviço, juntando mais uma operação da missão nunca terminada de “desbaste da garrafeira”, o plenário dos Comensais Dionisíacos reuniu-se em versão familiar para o que já começa a ser um “must” na primeira metade do Verão: o “jantar de fim de época”, desta vez em versão caseira com o Politikos e respectiva consorte e descendência a servirem de anfitriões para o repasto. Compareceram à chamada quase todos os membros efectivos, só havendo faltas por impossibilidade justificada.
Enquanto as senhoras se dedicavam à confecção das aves, os homens entretinham-se com a selecção das garrafas. Para começar optou-se por um Veuve Roth, Pinot Gris 2007, um branco francês que tinha provado há algum tempo na Wine O’Clock. Muito macio, delicado e de grande suavidade, ligeiramente adocicado mas com uma excelente acidez que o torna muito fresco e equilibrado, já me tinha conquistado na prova anterior e voltou a fazê-lo. Não é um vinho para grandes refeições mas como aperitivo ou entrada ou com pratos delicados vai francamente bem.
Seguiu-se um Delicato Chardonnay 2005, desta vez um branco californiano que apareceu mais suave do que a maioria dos Chardonnay, mais frutado e sem aquele amanteigado que marca muitos dos vinhos da casta, com aromas tropicais e sem a habitual marca da madeira que o torna demasiado pesado para o meu gosto.
Passou-se depois para os rosés. O anfitrião insistiu em que experimentássemos outro Delicato que não fez o pleno das opiniões. Um verdadeiro rosé de esplanada, adocicado e não muito gastronómico. No entanto algumas das senhoras preferem os mais doces pelo que ainda houve aproveitamento do conteúdo da garrafa. Passou-se imediatamente a outro rosé que já estava preparado, um Herdade do Pinheiro 2007. Mais seco, persistente e com maior acidez, agradou à generalidade dos presentes.
Quando as perdizes vieram para a mesa, confeccionadas em duas variedades já experimentadas com sucesso (estufadas com couve lombarda e com cogumelos em molho de natas de soja) passou-se então ao painel dos tintos, constituído por belos vinhos do Alentejo. A escolha para início das hostilidades recaiu num Herdade do Perdigão Reserva 2005. Foi um sucesso. Alvo dos maiores encómios, mostrou-se um vinho de grande carácter, pujante, persistente, muito vivo mas arredondado, a mostrar que está para durar. Sem dúvida um vinho a repetir.
Seguiu-se um Quinta da Viçosa 2003, um dos vinhos especiais de João Portugal Ramos. É feito com a melhor casta portuguesa e a melhor casta estrangeira da colheita de cada ano. Neste caso temos uma combinação algo “sui generis “de Touriga Nacional e Merlot, tal como já houve outras combinações improváveis como Aragonês e Petit Verdot ou Trincadeira e Syrah. Este 2003 apresentou-se essencialmente elegante e suave, em claro contraste com o Herdade do Perdigão. Um vinho mais aconselhado para pratos delicados e requintados, talvez pouco adequado para a caça que tínhamos no prato mas que também merece outra oportunidade.
Continuando no Alentejo, experimentámos depois um Herdade do Meio Garrafeira 2003, uma promoção da feira de vinhos do Continente de 2008. A prova anterior desta casa não agradou mas este mostrou outro nível. Muito bem estruturado, encorpado e persistente, com taninos firmes mas domados. Uma bela surpresa pelo preço que custou.
Por fim, o anfitrião ainda fez questão de nos brindar com uma garrafa de vinho da Tunísia, produzido na região da antiga Cartago. Contra as expectativas mais pessimistas, não defraudou. Apresentou-se elegante e suave na boca, medianamente encorpado, com boa concentração de cor e alguma persistência de madeira. Não sendo excepcional, não é de menosprezar.
Para fecho da noite, já atirados a uma mousse e a um gelado de chocolate, tivemos o ponto alto com a abertura duma relíquia que o Politikos tinha lá em casa: um Lacrima Christi sem data, mas com uma indicação de 1908 no contra-rótulo! Sublime! Não há palavras para descrevê-lo. E ainda houve tempo para os mais resistentes provarem uma aguardente de figo da Tunísia, Boukha Gold, com 36% de álcool.
Depois ainda se seguiram algumas baforadas de charuto e cachimbo para os mais aficionados, mas isso são outras histórias... Agora vamos a banhos.

Kroniketas, tuguinho, e os outros todos

Vinho: Veuve Roth, Pinot Gris 2007 (B)
Região: Alsácia (França)
Produtor: Les Caves de La Route du Vin
Grau alcoólico: 12,5%
Casta: Pinot Gris
Preço: 9,50 €
Nota (0 a 10): 8

Vinho: Delicato, Chardonnay 2005 (B)
Região: Califórnia (EUA)
Produtor: Delicato Family Vineyards - Manteca - Califórnia
Grau alcoólico: 13,5%
Casta: Chardonnay
Preço: 4,22 €
Nota (0 a 10): 7

Vinho: Delicato, Zinfandel 2005 (R)
Região: Califórnia (EUA)
Produtor: Delicato Family Vineyards - Manteca - Califórnia
Grau alcoólico: 10%
Casta: White Zinfandel
Preço: 3,96 €
Nota (0 a 10): 5,5

Vinho: Herdade do Pinheiro 2007 (R)
Região: Alentejo (Ferreira)
Produtor: Sociedade Agrícola Silvestre Ferreira
Grau alcoólico: 13,5%
Castas: Touriga Nacional, Cabernet Sauvignon
Preço: 4,88 €
Nota (0 a 10): 7

Vinho: Herdade do Perdigão Reserva 2005 (T)
Região: Alentejo (Monforte)
Produtor: Herdade do Perdigão
Grau alcoólico: 14,5%
Castas: Trincadeira, Aragonês, Cabernet Sauvignon
Preço: 12,50 €
Nota (0 a 10): 8,5

Vinho: Quinta da Viçosa 2003 (T)
Região: Alentejo (Estremoz - Borba)
Produtor: João Portugal Ramos
Grau alcoólico: 14,5%
Castas: Touriga Nacional, Merlot
Preço: 22,10 €
Nota (0 a 10): 8

Vinho: Herdade do Meio Garrafeira 2003 (T)
Região: Alentejo (Portel)
Produtor: Casa Agrícola João & António Pombo - Herdade do Meio
Grau alcoólico: 14,5%
Castas: Trincadeira, Aragonês, Alicante Bouschet, Castelão
Preço em feira de vinhos: 7,99 €
Nota (0 a 10): 8

Vinho: Vieux Magon 2001 (T)
Região: Mornag (Tunísia)
Produtor: Les Vignerons de Carthage - Tunis
Grau alcoólico: 13%
Preço: 9 €
Nota (0 a 10): 7

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

No meu copo 232 - Reguengos Garrafeira dos Sócios 97 e 99

E como estamos numa onda de regressos, eis aqui outra repetição. A última prova desta colheita tinha sido colocada pelo tuguinho há uns dois anos, quando ele ainda escrevia uns posts para este blog. Daí para cá já tive oportunidade de provar outras colheitas, mais recentes e mais antigas, a última há cerca de um ano. Mas como este vinho, tal como o do post anterior, é um daqueles que tenho sempre em stock, as colheitas vão-se juntando na garrafeira e os vinhos vão ficando por ali à espera de serem lembrados.
Assim sendo, depois do Quatro Castas resolvi ir revisitar o Garrafeira dos Sócios da Cooperativa Agrícola de Reguengos de Monsaraz. Não é novidade nenhuma dizer que quanto mais tempo esperamos para consumir um vinho maior é a probabilidade de termos uma surpresa desagradável. Felizmente não tenho tido tantas como receava, embora por vezes o azar bata à porta. Mas quando a surpresa é boa, sentimo-nos recompensados pela espera e ultimamente o deus Baco tem-me presenteado com alguns néctares deliciosos que só têm dado razão às vozes que cada vez mais se levantam contra febre da venda e do consumo dos vinhos acabados de fazer (voltarei a este tema no próximo post).
Já contei na última prova a história da nossa relação com este vinho, um caso de verdadeira paixão. E esta prova da colheita de 99 não defraudou: estava lá tudo, e também aqui parece que o tempo em garrafa, ao invés de o fazer decair, o fez melhorar e lhe deu um vigor rejuvenescido. Continua com as características que sempre gostei nele mas mantém-se vivo na boca, prolongado e aveludado.
Posteriormente a esta prova houve a oportunidade de beber, no restaurante O Ganhão, uma garrafa de litro e meio da colheita de 97. Para isso juntámos o núcleo duro dos Comensais Dionisíacos, tendo reservado previamente a dita garrafa. O resultado não defraudou minimamente as expectativas. Apresentou uma cor acastanhada a denotar a evolução já evidente, mas desta vez não achámos necessário decantá-lo, porque os aromas iniciais se apresentaram totalmente limpos, sem qualquer vestígio de mofo, e tal como tinha acontecido há um ano com o de 96 no restaurante A Gruta, em Portalegre, à medida que foi arejando os aromas foram-se libertando e toda a macieza e o aveludado que sempre esperamos aí estavam a marcar presença. Já não apresentava a mesma vivacidade do de 99, mas para um vinho com esta idade a saúde estava notável.
Após estas três últimas provas (estas duas e o Quatro Castas) fiquei com a sensação de ter provado três vinhos que estavam na idade adulta. É certo que já não se espera que possam melhorar, mas se não os tivesse deixado repousar durante todos estes anos (o Quatro Castas, comprado com 3 anos de idade, esperou 4 anos depois da compra e o Garrafeira dos Sócios 99, comprado com 4 anos, esperou 5) e não tivesse referenciado aquela garrafa magnum de 97 no Ganhão, teria agora o prazer de desfrutar de três vinhos verdadeiramente maduros e completos?

Kroniketas, enófilo esclarecido

Região: Alentejo (Reguengos)
Produtor: Carmim (Coop. Agrícola de Reguengos de Monsaraz)
Castas: Aragonês, Castelão, Trincadeira
Preço em feira de vinhos: 11,95 €

Vinho: Reguengos Garrafeira dos Sócios 97 (T) (garrafa de 1,5 L)
Grau alcoólico: 13%
Nota (0 a 10): 8,5

Vinho: Reguengos Garrafeira dos Sócios 99 (T)
Grau alcoólico: 13,5%
Nota (0 a 10): 8,5

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Na minha mesa 226 - O Chico (São Manços)

Uma saída em família até ao interior alentejano levou-me a revisitar um restaurante que descobri há uns anos, quase por acaso, ao consultar o guia de restaurantes da Visão, que coleccionei há uns anos. Em trânsito pelas proximidades de Évora, olhando para os restaurantes da zona vimos um em São Manços, localidade situada junto ao IP2 em direcção ao sul. Lá fomos à procura do Chico.
Em São Manços quase que se entra por uma rua a sai-se por outra. E o Chico parece um simples café de aldeia sem nada de especial que nos faça pensar em ir lá procurar algo especial. A verdade é que, para além de um pequeno balcão à entrada e de uma pequena sala com capacidade para não mais de 30 lugares, não se descobre o que nos espera antes de nos sentarmos à mesa.
Primeiro deparamo-nos com várias prateleiras onde estão expostas dezenas de vinhos alentejanos de todos os tipos. Pode-se percorrer as garrafas à procura de qualquer marca e quase que é difícil lembrarmo-nos de uma que não esteja lá. Enquanto esperamos pela refeição podemo-nos ir entretendo com umas excelentes empadas de carne, ainda quentinhas, que saem a grande ritmo para as mesas de todos os clientes. Mas a melhor parte vem quando se pega na ementa para passar aos pratos de resistência. Os pratos típicos alentejanos dominam, com destaque para a caça na época apropriada. Nas vezes que lá fui tive a felicidade de ser essa época e desta vez assim voltou a acontecer. À minha espera estava um delicioso arroz de lebre malandrinho, servido com uma concha em terrina de sopa, muito bem temperado e com um toque de hortelã a completar o panorama. É de comer até à última peça e até ao último bago de arroz. Para os apreciadores de caça, um verdadeiro maná.
Depois de já termos o estômago e o palato regalados com uma tal refeição, ainda arranjamos um espaço para provar as deliciosas sobremesas. A escolha recaiu numa encharcada e numa sericaia com ameixa de Elvas. A encharcada estava esplêndida, com a consistência certa e com calda na quantidade adequada, enquanto a sericaia estava um pouco maçuda.
Como só eu é que ia beber álcool tive que me socorrer de meia garrafa. Escolhi um vinho da zona, o EA tinto, da Fundação Eugénio de Almeida, que já não provava há alguns anos. E francamente decepcionou-me. Achei-o desequilibrado, delgado e pouco aromático, demasiado ácido na boca, muito longe do padrão que esperava. Posso ter tido azar mas se é este o perfil actual deste vinho, mais vale esquecê-lo. De tal forma que achei que nem valia a pena mencioná-lo no título do post.
Em suma, este Chico é um local a revisitar sempre que a oportunidade se proporcione, principalmente em tempo de caça. Quem passar pelos lados de Évora ou pelo IP2, vale a pena marcar mesa e fazer um pequeno desvio por São Manços para se deliciar com uma bela refeição. O preço é moderado (pagámos 45 € por uma refeição para dois adultos, um adolescente e uma criança), o serviço simpático e acolhedor, quase familiar, num ambiente descontraído e informal à boa maneira alentejana, onde nos sentimos como em casa.

Kroniketas, gastrónomo viajante

Restaurante: O Chico
Rua do Sol, 44-C
7005-739 São Manços
Telef: 266.722.208
Preço médio por refeição: 20 €
Nota (0 a 5): 4,5

Vinho: EA (T)
Região: Alentejo (Évora)
Produtor: Fundação Eugénio de Almeida - Adega da Cartuxa
Grau alcoólico: 13%
Castas: Trincadeira, Aragonês, Castelão, Alfrocheiro, Moreto
Preço em feira de vinhos: 4,87 €
Nota (0 a 10): 4

domingo, 18 de maio de 2008

Krónikas do Alto Alentejo (XXII)

No meu copo, na minha mesa 178 - Lóios 2006; Cadeia Quinhentista (Estremoz)














De passagem por Estremoz, depois da visita ao Monte da Caldeira de João Portugal Ramos, fui à procura do famoso restaurante São Rosas, junto à Pousada de Santa Isabel. Logo por azar estava fechado. Fiquei por ali a ver a paisagem lá em baixo, a dar uma vista de olhos à pousada quando o meu olhar pousou numa placa que indicava “Cadeia Quinhentista”, que já alguém me tinha referido, para uma rua estreitinha que saía junto da pousada. Fui ver o aspecto e entrei, atraído pelas opções de caça da ementa. Ainda cá fora, para além da ementa está uma explicação sobre a história do edifício. Ali funcionou a cadeia de Estremoz. Depois de abandonada, o actual dono, que entretanto tinha saído da Pousada de Santa Isabel, negociou com a Câmara Municipal a reconversão do edifício para restaurante, e assim nas antigas masmorras repousam agora as mesas do restaurante e um bar (no piso superior há outro bar).
O ambiente é acolhedor, estando o interior decorado com cores quentes, em tons de vermelho, há música ambiente a dar as boas vindas ao cliente. Era dia de semana, ao almoço, pelo que não havia muita gente. Fui conduzido por uma simpática senhora a uma mesa na sala mais interior e sentei-me junto a uma janela fechada a grades.
Estando sozinho, não havia grandes possibilidades de fazer escolhas muito complicadas, mas entre as elaboradíssimas opções existentes na carta comecei por uma canja de perdiz, seguindo-se como prato principal meia perdiz marinada em azeite, que veio decorada com pequeninos bagos de uva e castanhas. Ambos estavam excelentes, com a perdiz em azeite a mostrar aromas diferentes do habitual mas muito bem confeccionada.
Para sobremesa um doce incontornável do Alentejo, que repeti sempre que pude, tal como a encharcada: a sopa dourada, irrepreensível, um daqueles doces que fazem a delícia de quem gosta de doces à base de ovos.
Finalmente, o vinho. Tive que optar por meia garrafa e a escolha recaiu num vinho de João Portugal Ramos, o Lóios. Não sendo nada de extraordinário, faz parte daquele lote de vinhos que, sendo baratos, são agradáveis e fáceis de beber. Embora os 14% de álcool se façam sentir, mostra alguma macieza e uma predominância frutada, com alguma persistência final. Um vinho agradável sem grandes complexidades nem pretensões.
A par de tudo isto, um serviço excelente, competentíssimo, atento, eficiente e simpático. A meio da refeição o próprio dono veio ter comigo para saber se estava tudo a decorrer a contento. A senhora que me conduziu à mesa e me atendeu durante a refeição mostrou ter formação na matéria, tal o profissionalismo que demonstrou ao longo de todo o serviço. O preço faz-se sentir mas pela elevada qualidade do serviço acaba por não ser excessivo. É um local a voltar para uma refeição calma em ambiente recatado.

Kroniketas, enófilo viajante

Restaurante: Cadeia Quinhentista
Rua Rainha Santa Isabel
7100 Estremoz
Telef: 268.323.400
Preço por refeição: 35 €
Nota (0 a 5): 5

Vinho: Lóios 2006 (T)
Região: Alentejo (Estremoz - Borba)
Produtor: João Portugal Ramos
Grau alcoólico: 14%
Castas: Aragonês, Trincadeira, Castelão e outras
Preço em feira de vinhos: 2,64 €
Nota (0 a 10): 6,5

quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

No meu copo 153 - Reguengos Garrafeira dos Sócios, 96 e 2000

Há muitos anos, no Edmundo de Benfica (na esquina da Estrada de Benfica com a Avenida Gomes Pereira), estávamos nos primórdios das incursões vinícolas, eu e o Mancha pedimos um Esporão para acompanhar um naco na pedra ou uma costeleta de vitela grelhada. Na altura havia, basicamente, quatro regiões conhecidas: Borba, Redondo, Reguengos e Vidigueira. De Portalegre pouco se falava, de Évora ainda menos e os produtores mais conhecidos eram sobretudo adegas cooperativas. No Douro havia uma meia-dúzia de vinhos de mesa, no Ribatejo era carrascão e na Estremadura havia muito... e mau. Dão, Bairrada e Península de Setúbal eram zonas vitivinícolas de referência.
O Esporão era já um vinho de referência e um dos melhores do Alentejo, senão mesmo o melhor da época. Mas não havia... O chefe sugeriu-nos um outro que disse ser parecido. O seu nome: Garrafeira dos Sócios, da Cooperativa de Reguengos de Monsaraz. Aceitámos com alguma relutância mas em boa hora o fizemos, porque nos deu a conhecer um vinho que, à época, nos encantou. Uma suavidade extraordinária, um bouquet profundo, um certo aroma floral e um corpo de grande elegância. Imediatamente o equiparámos ao Esporão em qualidade!
Durante vários anos este tornou-se o nosso vinho preferido. O Mancha dizia que este vinho era veludo, e de facto era. Merecia sempre nota máxima. Lendo o contra-rótulo ficámos então a saber que era uma produção especial para os sócios da cooperativa, com uvas seleccionadas, e só depois de estes se terem abastecido o restante era colocado no mercado. Até hoje continua a ser assim.
Com o tempo fomos conhecendo muitos outros vinhos, as referências foram aumentando e o gosto foi-se alterando, o próprio perfil do vinho foi-se alterando, acompanhando um pouco as tendências da moda, e o Garrafeira dos Sócios deixou de ter o protagonismo nas nossas preferências que antes tinha, mas nunca perdeu um lugar de destaque. É certo que hoje o bebemos muito menos vezes do que há 10 anos mas ele está sempre lá, nas nossas garrafeiras, e voltar a degustá-lo é como reencontrar um velho amigo que não se vê há muitos anos, ou ouvir uma daquelas músicas antigas dos grupos que fizeram as delícias da nossa juventude.
Há algum tempo tive oportunidade de provar a colheita de 2000. Voltou a encantar-me. Continua com aquela suavidade que lhe conhecia, uma bela cor rubi carregada, um leve amadeirado sem ser em excesso, final longo e sedoso, tudo muito equilibrado e harmonioso.
Mas a grande surpresa aconteceu precisamente esta noite, num jantar em Portalegre, no restaurante A Gruta, de que darei conta qualquer dia (há vários artigos para publicar antes...). Em exposição estavam, entre vastas dezenas de garrafas, algumas garrafas de Garrafeira dos Sócios de 96. Ficámos na dúvida. Um vinho com esta idade... Perguntei ao chefe se achava que o vinho estaria bebível. Experimentámos num copo de prova. Começou por apresentar um tom acastanhado, sinal de evolução avançada que muitas vezes não augura nada de bom. O primeiro aroma mostrou os mesmos sinais, de que já tinha passado o ponto óptimo. Resolvemos esperar pela decantação e deixá-lo respirar enquanto fomos bebericando em copos de boca larga. Aos poucos os aromas foram-se libertando e ficando mais limpos. A melhoria foi evidente e passada cerca de meia-hora ele aí estava em todo o seu esplendor. Era este o Garrafeira dos Sócios que eu conhecia há 10 anos. Macio, aromático, suave, verdadeiro veludo. Até chamámos o chefe Felício para o provar e o veredicto foi o mesmo: fantástico.
Um vinho que se impõe pela diferença. Enquanto outros (a maioria) primam pelo frutado, pela pujança, pelo corpo e pelo álcool, este prima pela elegância, pela delicadeza, pela suavidade, sem perder os traços marcantes de um vinho alentejano. Um dos raros vinhos que actualmente se destacam dos demais, por isso é um vinho que continuamos a beber com verdadeira paixão.
Só me espanta que seja tão pouco falado, pois é dos poucos onde ainda se podem procurar traços que não sejam só de fruta, especiarias, álcool ou madeira. Não é um vinho da moda, e ainda bem. Oxalá continue assim.

Kroniketas, enófilo esclarecido

PS: Para tranquilizar os espíritos mais inquietos, o vinho branco que se vê nos copos não é, definitivamente, o Garrafeira dos Sócios... :-)

Região: Alentejo (Reguengos)
Produtor: Carmim (Coop. Agrícola de Reguengos de Monsaraz)
Castas: Aragonês, Castelão, Trincadeira
Preço em feira de vinhos: 9,95 €

Vinho: Reguengos Garrafeira dos Sócios 96 (T)
Grau alcoólico: 13%
Nota (0 a 10): 9

Vinho: Reguengos Garrafeira dos Sócios 2000 (T)
Grau alcoólico: 13,5%
Nota (0 a 10): 8,5

terça-feira, 19 de junho de 2007

No meu copo 121 - Reguengos Reserva 99, 2000, 2001


Terminamos esta ronda por terras do Alentejo voltando a Reguengos de Monsaraz e à Carmim para falar do Reserva, que acompanhamos há muitos anos e que tínhamos em stock desde Janeiro de 2004. Quando provámos a colheita de 99 fomos logo a seguir comprar umas quantas garrafas, que ficaram esquecidas até há pouco tempo, quando achámos que era tempo de fazer uma rotação de stock porque o tempo útil de consumo já tinha sido ultrapassado.
A verdade é que o vinho se mostrou ainda em forma. Nas colheitas que saem para o mercado é um vinho de cor granada e bastante encorpado, com a madeira bem marcada mas sem ser em excesso, resultado dos cerca de 4 anos de estágio a que é submetido. Apresenta normalmente um fim de boca prolongado, taninos bem presentes mas redondos.
A curiosidade aqui era ver como se comportavam estas três colheitas. A de 99 mostrou-se ainda em boa forma, sem mostrar sinais claros de declínio, podendo beber-se desde logo e aguentando mesmo uma garrafa aberta até ao dia seguinte sem afectar a frescura do vinho. Não deixando de ser uma surpresa, dado ser um vinho alentejano já com quase 8 anos, a verdade é que fez jus à apreciação que mereceu no final de 2003 e que nos levou a apostar nele para guardar durante uns anos.
Já a colheita de 2000 apresentou-se muito mais fechada, com um aroma inicial com algum mofo, que tornou necessário decantá-lo para o deixar respirar e limpar mais os aromas. Ao fim de uma hora a evolução era evidente, desenvolvendo aromas a passas e especiarias e mostrando um fim de boca cada vez mais persistente.
O da colheita de 2001 tinha um problema: a garrafa tinha vertido algumas gotas e receávamos que estivesse passado. Depois de retirada a rolha que, apesar de ter vertido, estava em bom estado, ao cheirar o vinho perpassou pelas nossas mentes a lembrança do vinho do Porto, o que não era bom presságio. Verteu-se um pouco para o copo. A cor, granada profunda como já referido, não denotava a evolução que o odor deixava prever e, quando o provámos, o sabor era óptimo, a especiarias e madeira bem casada, os taninos redondos mas vincados e um fim de boca suave e de média duração. Aliás, cheirado no copo, o vinho do Porto não estava lá, apenas um aroma também discreto e complexo, a mostrar a boa saúde do vinho.
Não sendo nenhuma das colheitas mais recentes e não tendo a vivacidade que aquelas normalmente apresentam, estas três demonstraram, ainda assim, que este Reserva pode ser guardado algum tempo sem nos pregar uma partida e é uma excelente aposta para acompanhar pratos de carne alentejanos tradicionais, daqueles bem fortes e consistentes que pedem um vinho robusto sem ser agressivo. Tem também a vantagem de apresentar um preço bastante convidativo, podendo actualmente comprar-se a menos de 4 €. Em 2000 chegou a comprar-se a 1125$. Recentemente, uma promoção no Pingo Doce apresentava 6 garrafas ao preço de 5, o que resultava em 3,325 € por garrafa, que é um excelente preço para o vinho em questão.

Nota: este vinho usa as uvas do mesmo lote que, depois de devidamente seleccionadas, servem para fazer o topo de gama da casa, o Garrafeira dos Sócios.

tuguinho e Kroniketas, enófilos esforçado e esclarecido (respectivamente)

Vinho: Reguengos Reserva 99 (T)
Grau alcoólico: 13%

Vinho: Reguengos Reserva 2000 (T)
Grau alcoólico: 13,5%

Vinho: Reguengos Reserva 2001 (T)
Grau alcoólico: 14%

Região: Alentejo (Reguengos)
Produtor: Carmim (Cooperativa Agrícola de Reguengos de Monsaraz)
Castas: Aragonês, Trincadeira, Castelão, Moreto
Preço em feira de vinhos: 3,78 €
Nota (0 a 10): 8

quarta-feira, 6 de junho de 2007

No meu copo, na minha mesa 118 - Alandra; Restaurante Tia Rosa (Melides)



Foi há 12 anos que conheci este restaurante, após uma estada no parque de campismo da Praia da Galé, próximo de Melides. Era recomendado pelo pato no forno. Passados 12 anos, voltei lá com o mesmo casal com que tinha estado da outra vez, mas agora acompanhados de mais 3 crianças que naquela altura. E voltámos ao pato.
O restaurante fica mesmo junto à estrada. Para quem apanha o ferry-boat para Tróia em Setúbal, depois de passar pela Comporta vira-se em direcção a Melides e depois de passar Pinheiro da Cruz e alguns parques, encontra-se o Tia Rosa à esquerda. Tem duas salas contíguas, uma mais iluminada que a outra, sendo que esta se torna algo escura se ficarmos longe da janela. Se bem me lembro, há 12 anos só existia a primeira sala, pelo que deve ter havido ampliação do espaço.
O pato assado no forno, primeira opção da ementa, vem cortado em metades, acompanhado de batatinhas assadas e rodelas de laranja. O molho é que se torna um pouco gorduroso demais, pelo que é preferível evitá-lo. Mas a melhor parte é o arroz de miúdos que vem à parte, que também passa pelo forno. Uma verdadeira delícia. Vale a pena lá ir pelo pato.
Para acompanhar pedimos um Alandra, o mais baixo da gama da Herdade do Esporão. Logo à entrada há umas estantes com várias garrafas em exposição, onde estão os varietais do Esporão, vários outros vinhos alentejanos e, claro, o Pinheiro da Cruz (que fica logo ali ao lado), embora na ementa só constem meia-dúzia de referências, e escolhemos a mais barata, a 4,5 €. Curiosamente, em cima das mesas estavam garrafas de Conventual, ao preço de 7,5 €, mas rejeitámos essa opção por ser um vinho que não nos convence.
Continua a ser um vinho simples mas que se bebe com agrado. Aconselha-se até que seja ligeiramente refrescado, o que não era o caso, mas não deixa de ser uma aposta simpática. De cor rubi brilhante, ligeiramente frutado, aberto, leve, macio, ainda assim com um final de boca simpático. Sem grandes pretensões, bom quanto baste e barato, para o dia-a-dia.

Kroniketas, enófilo esclarecido

Restaurante: Tia Rosa
Estrada Nacional 261 - Fontainhas do Mar
7560-661 Melides
Telef: 269.907.144
Preço médio por refeição: 20 €
Nota (0 a 5): 4

Vinho: Alandra (T) - sem data de colheita
Região: Alentejo (Reguengos)
Produtor: Herdade do Esporão
Grau alcoólico: 13%
Castas: Moreto, Castelão
Preço em feira de vinhos: 1,72 €
Nota (0 a 10): 6

domingo, 3 de junho de 2007

No meu copo 117 - Tinto da Talha 2004

Já aqui falámos do Tinto da Talha Grande Escolha, o topo de gama da Roquevale, e agora temos o Tinto da Talha normal, que fica no meio da gama. É um vinho com uma bela cor brilhante entre rubi e granada, encorpado e macio, sem grande adstringência, com algum frutado e final médio, que se bebe com agrado.
Denotando ainda alguma juventude, é adequado seguramente para pratos regionais do Alentejo mas não demasiadamente temperados. O preço é bastante simpático pelo que temos aqui mais uma boa escolha para o dia-a-dia, um vinho bom e barato para quem comprar... barato.

Kroniketas, enófilo esclarecido

Vinho: Tinto da Talha 2004 (T)
Região: Alentejo (Redondo)
Produtor: Roquevale
Grau alcoólico: 13%
Castas: Castelão, Trincadeira

Preço em feira de vinhos: 2,59 €
Nota (0 a 10): 6

quinta-feira, 31 de maio de 2007

Prova à Quinta - O sétimo


Pera-Manca branco 2003; Periquita 2004

Para este desafio lançado em tempo oportuno pelo Vinho da Casa, para encontrar vinhos produzidos por casas com mais de 20 anos, resolvemos seleccionar dois vinhos, a exemplo do que já fizemos nos dois desafios anteriores, em que apresentámos 4 na prova de Cabernet Sauvignon e 2 na prova de brancos varietais. Escolhemos um branco e um tinto com tradição secular: o Pera-Manca e o Periquita.

No caso do Pera-Manca, estamos perante um dos vinhos brancos mais famosos (e caros) do país. Já existe desde o século XV e obteve medalhas de ouro em Bordéus nos já longínquos anos de 1897 e 1898. Contudo, andei anos (não desde o século XV...) para me decidir a comprá-lo por duvidar que valesse o elevado preço que custa, até pela minha desconfiança em relação aos brancos alentejanos, que já tive oportunidade de referir em mais que uma ocasião. Mas como a vida também é feita de alguns mitos, por vezes é preciso ir ao seu encontro para sabermos da razão ou não da sua existência. No caso dos vinhos trata-se, tão-somente e na maior parte dos casos, de abrir os cordões à bolsa.
Este foi comprado numa feira de vinhos em 2004 e ficou à espera de uma oportunidade que justificasse abri-lo. Foi num almoço de família à volta dum pargo assado no forno, tendo havido o cuidado de o refrescar de véspera, para garantir que à hora de bebê-lo não íamos encontrar um vinho meio morno.
Perante tão grande expectativa, o mínimo que posso dizer é que o vinho não defraudou. De facto, apresenta alguma elegância que é raro encontrar nos brancos alentejanos, sem deixar de fazer prevalecer um corpo com alguma pujança, um aroma frutado e complexo em equilíbrio com uma boa acidez, que resultam num fim de boca fresco e prolongado. Sem dúvida um vinho adequado para pratos de peixe elaborados, como o pargo ou o bacalhau no forno. Feito com 85% de Antão Vaz e 15% de Arinto, a sua boa estrutura e acidez permitem uma boa ligação com os sabores intensos e a gordura destes pratos. Como ainda não o tinha provado, não sei se mudou o perfil ou não, mas não é, seguramente, um vinho da moda.
Continuo, contudo, a ser mais fã de outro tipo de brancos, mas não rejeito a hipótese de voltar a este Pera-Manca, porque estes brancos também fazem falta. E também podemos deliciar-nos com a arte do rótulo, que é uma coisa rara. Como entretanto mudaram o rótulo, esta garrafa ficou como recordação.

No caso do Periquita, é apenas a marca de vinho mais antiga comercializada em Portugal, desde 1850, daí a razão da nossa escolha. Segundo a José Maria da Fonseca, é também o vinho tinto português mais vendido no estrangeiro. Também há algum tempo que não o consumia, mas o vinho modernizou-se um pouco, seguindo agora o perfil dos vinhos com muito álcool (embora sem exagero, apesar de tudo), com algum frutado. Na boca é medianamente encorpado com taninos suaves e bem integrados com um toque discreto de madeira e apresenta um fim prolongado, com bastante especiaria. É um vinho que pede pratos grelhados ou assados com algum condimento, embora sem exageros.
A garrafa também se modernizou, passando da tradicional borgonhesa que durante décadas marcou a imagem do vinho para a bordalesa que ostenta agora. Sendo agora um vinho mais moderno, não sei, contudo, se é melhor do que era. Se calhar tornou-se igual a muitos outros.

Kroniketas, enófilo esclarecido

Vinho: Pera-Manca 2003 (B)
Região: Alentejo (Évora)
Produtor: Fundação Eugénio de Almeida - Adega da Cartuxa
Grau alcoólico: 14%
Castas: Antão Vaz, Arinto
Preço em feira de vinhos: 12,89 €
Nota (0 a 10): 8

Vinho: Periquita 2004 (T)
Região: Terras do Sado
Produtor: José Maria da Fonseca
Grau alcoólico: 13%
Castas: Castelão, Aragonês, Trincadeira
Preço em feira de vinhos: 3,29 €
Nota (0 a 10): 6

quinta-feira, 26 de abril de 2007

No meu copo 109 - Quinta de São Francisco 2004

Em tempos havia vinhos conhecidos por aqui. Lembro-me dum bom branco da Casa das Gaeiras, que entretanto ficou meio esquecida e parece agora estar a querer renascer. A vulgarização dos vinhos da Estremadura há pouco mais de uma década criou uma imagem de falta de qualidade na região que só nos últimos anos, depois da instituição das Denominações de Origem Controlada, tem sido alterada, a começar por outras zonas, como Alenquer, e outros produtores, como a Quinta do Monte d’Oiro e a Quinta de Pancas, a resgatarem um prestígio que, na realidade, andou sempre muito por baixo, quando a Estremadura tinha talvez os piores vinhos do país. Agora têm aparecido outros produtores da região a ganhar algum protagonismo, entre os quais este, a Cooperativa Agrícola do Sanguinhal, com sede no Bombarral, que produz este vinho DOC Óbidos.
Há alguns meses tivemos oportunidade de fazer uma primeira abordagem a um vinho deste produtor, o Quinta do Sanguinhal de 98, que agradou bastante. Agora temos o Quinta de São Francisco de 2004, um vinho bastante mais jovem e frutado mas igualmente satisfatório. Tem uma boa cor rubi e alguma predominância de frutos vermelhos, sendo suave na prova mas com corpo e estrutura suficientes para fazer um bom fim de boca. Um vinho feito para agradar.

Kroniketas, enófilo esclarecido

Vinho: Quinta de São Francisco 2004 (T)
Região: Estremadura (Óbidos)
Produtor: Companhia Agrícola do Sanguinhal
Grau alcoólico: 13%
Castas: Aragonês, Castelão, Touriga Nacional

Preço em feira de vinhos: 4,85 €
Nota (0 a 10): 7


PS: prova de um Quinta de São Francisco 2000 no Saca a rolha

sexta-feira, 20 de abril de 2007

No meu copo 107 - Quinta da Alorna 2004


No meio de tantos vinhos de gama baixa que não passam da vulgaridade que temos apreciado nas últimas semanas, encontrámos outro no Ribatejo que se destaca da mediana: o Quinta da Alorna 2004. Não é Reserva, não é Colheita Seleccionada, não é monocasta, é simplesmente o Alorna. E é bom.

Tem outro aroma logo na prova, outra estrutura na boca, outra complexidade, outro final, com um leve toque a especiarias e ligeiro frutado, com taninos redondos mas presentes, a pedir uma carne mais bem temperada ou mesmo um prato de caça.

Não sendo excepcional nem deixando de ser um vinho da mesma gama dos anteriores, neste a matéria-prima parece ter sido mais bem tratada, o que confirma a razão pela qual muitas vezes temos preferências pelos vinhos de certas casas. São aquelas em que mesmo os vinhos menos bons... são sempre bons. É o caso desta Quinta da Alorna com esta entrada de gama que não envergonha ninguém.

Kroniketas, enófilo esclarecido


Vinho: Quinta da Alorna 2004
Região: Ribatejo (Almeirim)
Produtor: Quinta da Alorna Vinhos
Grau alcoólico: 13,5%
Castas: Tinta Roriz, Syrah, Castelão, Alicante Bouschet

Preço em feira de vinhos: 2,68 €
Nota (0 a 10): 7

terça-feira, 20 de fevereiro de 2007

No meu copo 90 - Pinheiro da Cruz


O primeiro contacto que tive com este vinho foi na já longínqua colheita de 1991, então através duma amiga que tinha contactos com alguém que adquiriu a garrafa directamente na produção. Tinha um carimbo no rótulo com o ano de colheita e a indicação original no brasão de que provinha da prisão de Pinheiro da Cruz, ali para os lados de Grândola e Melides.
Era um vinho surpreendente, com um perfil um pouco rústico, cheio de corpo e robustez, daqueles vinhos que se “mastigam” e nunca mais acabam. Rapidamente se revelou apropriado para se bater com pratos bem fortes e condimentados, e ao longo dos anos tive oportunidade de comprar e beber algumas vezes em restaurantes. Uma das melhores combinações que encontrei foi com um arroz de lebre muito condimentado, malandrinho e com um molho muito espesso que comia no Barrote Atiçado, na Pontinha, às portas de Lisboa (que entretanto mudou de nome para António do Barrote e de local para o Parque Colombo, em Carnide). “Aquele” Pinheiro da Cruz era perfeito para a pujança daquele prato.
Nessa altura era quase uma raridade e difícil de comprar fora da própria prisão, embora o Pingo Doce tivesse desde logo lançado a colheita de 1992 numa das suas feiras. Também por isso era caro quando aparecia. O exemplar de 1997 que aqui vos apresentamos foi um de 3 exemplares adquiridos por 2775$ (13,84 €) na feira de vinhos do Continente de 1999. Em 2005, no Corte Inglês, uma garrafa de 2002 custou 12,95 €.
Com a instauração de uma série de novas regiões vitivinícolas de norte a sul, nomeadamente a criação das DOC Alentejo, Ribatejo e Estremadura e ainda os vinhos regionais, o Pinheiro da Cruz, que entretanto alargara a produção, deixou de ser vinho de mesa como era originalmente e pretendeu também ser classificado com uma denominação de origem. Tinha todas as características do vinho alentejano, mas surpreendentemente começou a aparecer como Vinho Regional Terras do Sado a partir da colheita de 98. O rótulo estilizou-se, passou a haver informação no contra-rótulo e a indicação das castas utilizadas. E, para satisfazer as exigências da denominação de origem (certamente a burocracia impediu que fosse classificado como vinho alentejano), descaracterizou-se. A primeira colheita com o novo rótulo mostrou um vinho muito mais aberto e frutado que os anteriores, deixando de ser aquele vinho poderoso que fora até aí. Em suma, acabou por vulgarizar-se.
Deve ter sido também devido a isso que foi possível aumentar significativamente a produção e encontrá-lo agora à venda a uns módicos 6,44 € na feira de vinhos da Makro. É mais acessível, mas eu preferia o perfil antigo e mais caro.
Nos últimos meses fui à garrafeira buscar os exemplares que lá tinha, de 97, 99 e 2003. O primeiro e o último foram bebidos no recente jantar de javali com a “cambada”. O de 97 foi decantado com todos os cuidados para evitar a passagem de borras para os copos e para lhe dar tempo de respirar. Revelou-se ainda em excelente forma, a fazer lembrar os mais antigos, embora com esta idade tivesse já perdido a pujança inicial, mas ainda se bateu excelentemente com o javali. Já o de 2003, mais frutado e leve e sem aquela robustez anterior, ainda assim aguentou-se no balanço. Quanto à colheita de 99, bebida há algum tempo a acompanhar uma lebre, já não tinha a frescura inicial mas aproximava-se mais das características do de 97 e também se bateu bem com a caça.
Curioso é ver a informação do contra-rótulo, de que apresentamos aqui o de 2003 (clique na imagem para ampliar). O de 99 era composto pelas castas Periquita, Trincadeira, Alicante Bouschet e Aragonês, mas ao de 2003 ainda foram acrescentadas a Syrah e a Cabernet Sauvignon, ou seja, estamos perante as castas da moda para fazer um vinho que acompanhe a moda. Mais curioso ainda é observar a evolução do grau alcoólico de colheita para colheita: de 12,5% em 1997 para 13% em 1999 e 14% em 2003, a seguir a tendência da moda.
De realçar que deste último contra-rótulo desapareceu a frase assassina “A sua alma nasce do sentimento que os reclusos põem neste trabalho que os liberta”. Que o trabalho liberta era a frase que esperava os presos à entrada do campo da morte de Auschwitz. Há ideias que nunca se deviam ter.
Enfim, o Pinheiro da Cruz já não é aquele vinho que nos surpreende no primeiro impacto, mas ainda assim continuamos a achar que vale a pena tê-lo na garrafeira. Até porque agora se tornou bem mais acessível.

Kroniketas, enófilo esclarecido

Vinho: Pinheiro da Cruz 97 (T)
Região: Vinho de mesa
Produtor: Estabelecimento Prisional de Pinheiro da Cruz
Grau alcoólico: 12,5%
Preço em feira de vinhos: 2775$
Nota (0 a 10): 8

Vinho: Pinheiro da Cruz 99 (T)
Região: Terras do Sado (Grândola)
Produtor: Estabelecimento Prisional de Pinheiro da Cruz
Grau alcoólico: 13%
Preço: cerca de 12 €
Nota (0 a 10): 7

Vinho: Pinheiro da Cruz 2003 (T)
Região: Terras do Sado (Grândola)
Produtor: Estabelecimento Prisional de Pinheiro da Cruz
Grau alcoólico: 14%
Castas: Castelão, Trincadeira, Alicante Bouschet, Aragonês, Syrah, Cabernet Sauvignon
Preço em feira de vinhos: 6,44 €
Nota (0 a 10): 7

sábado, 3 de fevereiro de 2007

No meu copo 85 - Palmela Pingo Doce, Colheita Seleccionada Tinto 2000

Ainda há surpresas agradáveis! À última hora e defrontado com uma bela feijoada de feijoca branca com paio, bom chouriço e farinheira, fui à garrafeira escolher rapidamente um vinho para a acompanhar. Deparei-me com um Palmela DOC - Colheita Seleccionada do Pingo Doce, colheita de 2000, há já alguns anos residente na dita garrafeira.

Numa primeira prova o que se salientou foi o tradicional caramelo da casta Castelão, de que este vinho é produto estreme, que já no aroma se sentira também. Com a permanência no copo evoluiu para um sabor mais alcoólico, embora suave, que o bom corpo ajudou a suportar. De cor vermelha escura, respirava saúde.

Foi uma surpresa porque se revelou em excelente forma para a idade que tinha e o preço que custou! É pena já não haver, visto que transformaram quem em Portugal tinha iniciado as feiras de vinhos numa loja cada vez mais "discount"... Enfim, pode sempre ir-se à origem, visto que este vinho foi engarrafado para o Pingo Doce pela Casa Ermelinda Freitas.

Em suma, um bom castelão, que nos ajuda a perceber como na região Palmela DOC podem surgir (e surgem!) vinhos excepcionais.

tuguinho, enófilo esforçado

Vinho: Palmela Pingo Doce, Colheita Seleccionada 2000 (T)
Região: Terras do Sado (Palmela)
Produtor: Casa Ermelinda Freitas
Grau alcoólico: 13,5%
Casta: Castelão

Preço em feira de vinhos (2004): 3,65 €
Nota (0 a 10): 7,5

quarta-feira, 10 de janeiro de 2007

No meu copo, na minha mesa 79 - Quinta do Sanguinhal 98; William Fevre 2004; Restaurante O Jacinto



Este é um dos restaurantes de Lisboa que conheço há mais tempo. Situa-se numa vivenda em Telheiras, na zona da antiga Quinta de S. Vicente, junto à Azinhaga das Galhardas. Para lá chegar, a melhor forma é apanhar a 2ª circular no sentido Aeroporto-Benfica e sair na primeira a seguir ao Campo Grande. Entra-se directamente na azinhaga e chega-se imediatamente a uma espécie de alameda onde fica o restaurante. Indo do lado de Benfica, ou se vai ao Campo Grande e volta-se para trás para usar esta saída, ou tem de se entrar por Telheiras e, algures nuns semáforos a seguir à escola, virar à direita e andar por umas ruelas sem grande identificação até chegar à rua do restaurante.
Em tempos recuados tinha uma das melhores açordas de marisco da capital, senão a melhor. Valia a pena ir lá para comer a açorda. Também havia uns croquetes quentinhos para entrada que eram uma delícia. Na década de 80 atravessou uma crise que pode ter sido justificada por cortar nos ingredientes. Lembro-me duma açorda que em vez de marisco tinha apenas delícias do mar. Actualmente tem marisco, embora pouco e cortado ao meio, mas a açorda continua a ter aquele paladar que fez as minhas delícias há 30 anos. A verdade é que nas últimas visitas a casa estava cheia, e na última assim aconteceu.
Além da inevitável açorda de marisco, ainda vieram para a mesa um caril de gambas, uma picanha e uma perna de porco assada no forno. Destes só provei a picanha, porque fui lá de propósito para comer a açorda de marisco (isto porque ir ao Pap’Açorda no Bairro Alto nem sempre é prático). A picanha cumpriu como é habitual. A açorda também. Muito bem temperada, com muita salsa, bastante aromática, na consistência certa. Enfim, apesar de modesta na quantidade de marisco, soube bem comer e deixou-me plenamente satisfeito, assim como os restantes comensais que optaram pelo prato.
Para sobremesa vieram apenas duas encharcadas de ovo, talvez um dos melhores doces de ovos que existem. Tal como no Alqueva, comeu-se e ficou a apetecer mais.
O serviço é atencioso, simpático, rápido e eficaz, o ambiente acolhedor, a ementa variada. Não será o melhor restaurante de Lisboa, mas tem todas as condições para ser um dos melhores, e só não será se os responsáveis não quiserem.
Para os líquidos, como havia peixes e carnes, pediu-se um branco e um tinto, e tentámos fugir ao mais habitual, pedindo dois vinhos menos vistos. Apesar de uma carta de vinhos extensa (embora pobre nalgumas regiões), como é frequente nos restaurantes portugueses pede-se um vinho que está na carta e depois não existe na garrafeira. Assim voltou a acontecer por duas vezes, e acabámos por ficar por um William Fevre (branco) e um Quinta do Sanguinhal (tinto).
Foi a minha segunda experiência com um William Fevre. A primeira tinha sido no Chafariz do Vinho, com um Sauvignon Blanc de 2004. Desta vez não era mencionada a casta, mas no contra-rótulo vinha a indicação de ser apenas Chardonnay. Tinha uma bela cor amarelo palha, era frutado como quase todos os Chardonnay, mas desta vez sem ser enjoativo, com um toque floral e bastante equilibrado em termos de corpo e acidez, denotando bastante frescura no paladar. Agradou a todos os presentes, embora eu tivesse gostado mais do Sauvignon Blanc por ser mais suave.
Para o tinto escolhemos este da região de Óbidos, que em tempos já teve algum destaque com o Gaeiras (branco e tinto), mas que na última década tem andado mais ou menos desaparecida. A verdade é que este Quinta do Sanguinhal, de 1998, já com alguma evolução bem presente, revelou-se ainda em grande forma e foi uma agradável surpresa. Bom corpo, uma cor retinta e bons taninos, bom equilíbrio entre o carácter frutado e a madeira nova de carvalho francês, suave e elegante no paladar. Ficámos curiosos acerca deste vinho com menos dois ou três anos, poderá ser um caso a ter muito em conta. Sem dúvida um vinho a rever.

tuguinho e Kroniketas, enófilos esforçados e esclarecidos

Restaurante: O Jacinto
Av. Ventura Terra, 2 (Telheiras)
1600 Lisboa
Telef: 21.759.17.28
Preço médio por refeição: 25 €
Nota (0 a 5): 4

Vinho: William Fevre 2004 (B)
Região: Chablis (França)
Produtor: William Fevre - Chablis
Grau alcoólico: 12%
Castas: Chardonnay
Preço no restaurante: 27,50 €
Nota (0 a 10): 7,5

Vinho: Quinta do Sanguinhal 98 (T)
Região: Estremadura (Óbidos)
Produtor: Companhia Agrícola do Sanguinhal
Grau alcoólico: 12%
Castas: Castelão, Tinta Miúda, Carignan
Preço no restaurante: 15,50 €
Nota (0 a 10): 8

quarta-feira, 3 de janeiro de 2007

No meu copo, na minha mesa 78 - João Pires 2004; Vinha da Defesa 2004; A Travessa do Rio



Para o fim-de-ano juntaram-se no restaurante Travessa do Rio, em Benfica, os faltosos do último repasto com esta metade das Krónikas Vinícolas. Tivemos, portanto, a outra metade dos “Comensais Dionisíacos” de regresso ao local do crime, pois foi naquele local que numa noite de Julho de 2000 foi dado o nome ao grupo e elaborados os estatutos.
Tratando-se de um grupo alargado com outros comensais e mais alguns descendentes, depois de alguns entreténs-de-boca como rissóis, queijos, presunto, ovas e filetes, o pessoal já estava meio jantado quando passámos à ementa. As opções eram variadas e para todos os gostos, mesmo não sendo em número muito elevado. Por consenso entre todos, para 8 adultos e 3 crianças pediram-se 3 doses de filetes de peixe-galo com arroz de marisco e 3 de palleta de cordeiro assada no forno.
Sem ser necessário pedi-lo expressamente, foram servidos primeiro os filetes, que estavam deliciosos assim como o arroz, que veio a acompanhar num prato à parte, malandrinho e de comer e chorar por mais. Rapidamente a minha dose de arroz desapareceu, e o mestre de serviço imediatamente se prontificou a trazer um reforço, mesmo sem eu pedir.
Terminada a função com o peixe, passámos então à carne, que cumpriu o que se esperava. Uns excelentes bocados de cabrito com batatinhas assadas e grelos cozidos, que marcharam até ao fim, embora nesta fase o apetite já fosse desaparecendo, mas perante tão deliciosos pitéus é difícil resistir.
Para acompanhar a refeição pedimos um vinho branco e um tinto. Dados os preços obscenos para o vinho que se continua a praticar nos restaurantes, cada vez é mais difícil escolher vinhos decentes sem ser por valores indecentes. Mas conseguimos fazer duas boas escolhas, dois vinhos que têm lugar assegurado nas nossas sugestões. Para o branco escolheu-se um João Pires, a 9,50 € (preço em feira de vinhos: 4,48 €), por sinal um dos meus brancos preferidos, e para o tinto um Vinha da Defesa, da Herdade do Esporão (que por coincidência foi o vinho bebido há exactamente um ano, na passagem-de-ano anterior), por 14,50 € (preço em feira de vinhos: 6,28 €). Ambos da colheita de 2004.
Como se esperava, estavam os dois excelentes. Já tínhamos feito uma apreciação ao João Pires de 2004. O Vinha da Defesa 2004 tem mais álcool que o de 2003, 14,5%, mostrando um aroma mais exuberante logo de início. Mantém o carácter frutado, com os taninos bem presentes, típicos do Aragonês, mas muito disfarçados por um corpo cheio e um leve toque caramelizado que lhe é dado pelo Castelão. Parece ter melhorado em relação ao de 2003, estar mais apurado, embora quanto a mim continue a verificar-se um excesso de álcool.
Como se aproximava a meia-noite e ainda havia uns doces para degustar em casa com o espumante, abdicámos das sobremesas.
A Travessa do Rio fica num beco entre a Estrada de Benfica e a Avenida Gomes Pereira. A pé pode-se entrar por baixo das arcadas da Estrada de Benfica e está-se imediatamente junto à porta. De carro entra-se pela avenida Gomes Pereira e vira-se para a Travessa do Rio, a última perpendicular antes da Estrada de Benfica. Foi a minha terceira vista a este restaurante, e esta foi a que mais me agradou em termos de refeição e de serviço. Casa cheia e, apesar de tudo, serviço eficiente, pronto, atencioso. Sempre que faltava algo na mesa (nas entradas, nas bebidas ou no prato) logo alguém se prontificava a trazer mais. O serviço de vinhos não é excepcional mas houve o cuidado de servir o vinho tinto em copos adequados, de pé alto, boca larga e em forma de tulipa para podermos arejar e aspirar o aroma do vinho.
Na conta é que fiquei com dúvidas sobre se tínhamos pago mais do que aquilo que comemos nas entradas, pois não sei se todas as doses foram encetadas. Os preços dos pratos não são suaves, na casa dos 15 euros ou mais, mas a qualidade dos mesmos e do serviço compensa largamente. De resto, numa refeição com menos entradas pode-se conseguir pagar um pouco menos. Uma referência a fixar.

Kroniketas, enófilo esclarecido

Restaurante: A Travessa do Rio
Travessa do Rio, 6
1500-551 Lisboa
Telef: 21.716.05.43
Preço por refeição: 30 a 35 €
Nota (0 a 5): 5

Vinho: João Pires 2004 (B)

Vinho: Vinha da Defesa 2004 (T)
Região: Alentejo (Reguengos)
Produtor: Herdade do Esporão
Grau alcoólico: 14,5%
Castas: Aragonês, Castelão
Preço em feira de vinhos: 6,28 €
Nota (0 a 10): 8

domingo, 3 de dezembro de 2006

No meu copo 72 - Reguengos Garrafeira dos Sócios 1999

Este vinho faz parte das nossas garrafeiras há muito tempo e é por nós considerado um dos melhores aqui do rectângulo. Não sendo barato, também não é demasiado dispendioso, e é um valor seguro. Falo, como é óbvio (é só ler o título do post), do Reguengos Garrafeira dos Sócios, a marca de topo da Carmim - Cooperativa Agrícola de Reguengos de Monsaraz.
Confesso que estava um pouco apreensivo antes de libertar o génio da garrafa, porque uma da mesma colheita bebida há cerca de um ano mostrara-se, se não em declínio, pelo menos já fora do auge. Mas os meus receios não tinham razão de ser – o vinho apresentava uma cor grenat profunda e limpa, sem laivos de declínio, e o aroma não possuía odores espúrios. A decantação prévia ajudara o vinho a abrir e, não tendo um aroma exuberante, mostrou na boca sabores secundários agradáveis, uma madeira discreta e um fim de boca que ainda exibia uma ligeira adstringência, como que a mostrar que ainda ali estava para a luta.
Ainda me resta uma garrafa desta colheita de 1999. Vou bebê-la brevemente na esperança de que a evolução tenha sido idêntica. Aos leitores resta comprar a colheita agora à venda. Depois é beber já ou esperar um pouco. Não se vão arrepender.

tuguinho, enófilo esforçado

Vinho: Reguengos Garrafeira dos Sócios 1999 (T)
Região: Alentejo (Reguengos)
Produtor: Carmim (Cooperativa Agrícola de Reguengos de Monsaraz)
Grau alcoólico: 13,5%
Castas: Aragonês, Castelão, Trincadeira

Preço em feira de vinhos: 7,79 €
Nota (0 a 10): 8

sexta-feira, 3 de novembro de 2006

No meu copo 65 - Caves Velhas, 3 “terroirs”; Caves São João Reserva 85


O FC Porto-Benfica de sábado serviu de pretexto para dar um primeiro passo na operação “O desbaste da garrafeira - fase 1”. Perante o excesso de stock que de momento se verifica nas nossas garrafeiras após as compras das feiras, as Krónikas Vinícolas empenham-se no fornecimento dos líquidos para os repastos que se querem frequentes.
Compareceram à chamada o tuguinho (escreve-se sempre com minúscula), o Kroniketas, o Mancha na qualidade de anfitrião, o Pirata e ainda o Politikos na qualidade de artista convidado. Faltou o Caçador, que anda entretido com a caça (vamos ver se dali sai algum material para mais um repasto).
Não tendo havido acordo prévio acerca dos vinhos a servir, decidimos escolher, cada um, dois grupos de 3 garrafas de uma região, para depois submeter à votação.

O tuguinho apresentou 3 varietais do Douro:
- 1 Quinta da Urze Touriga Nacional
- 1 Quinta do Cachão Tinta Roriz
- 1 Quinta do Cachão Tinto Cão
A estes juntaram-se 3 vinhos de Castelão feitos pelas Caves Velhas em 3 regiões diferentes:
- 1 no Ribatejo
- 1 na Estremadura
- 1 em Palmela
O Kroniketas optou por 3 varietais da Casa Cadaval:
- 1 Trincadeira Preta
- 1 Merlot
- 1 Pinot Noir
Como segundo grupo apresentou 3 relíquias da Bairrada:
- 1 Messias Garrafeira de 83
- 1 Vilarinho do Bairro Garrafeira de 83
- 1 Caves São João Reserva de 85
Apareceram ainda um Reserva do Esporão de 1990, levado pelo Pirata, e um Herdade do Pinheiro levado pelo Politikos. O aspecto geral do painel era o que se pode ver no post introdutório a este.

Apesar da insistência do tuguinho, os varietais do Douro foram desde logo rejeitados, porque ninguém estava para aí virado, até porque era inoportuno. Levar vinho do Douro em dia de Porto-Benfica só podia dar azar.
Acabámos por escolher os 3 Caves Velhas, uma compra partilhada de há alguns anos que nos despertou a atenção por terem sido elaborados com a casta Castelão cultivada em 3 regiões diferentes, daí o conjunto ser conhecido como 3 “terroirs”. Deixou-se a respirar o Caves São João, depois de devidamente decantado, para apreciar lá mais para o fim.
Para o repasto compraram-se uns bifes de vazia do Brasil, bem assessorados por uma dose extra de medalhões do lombo da raça Angus. Para a cozinha avançou o Kroniketas, tendo os ditos sido temperados com sal e pimenta e fritos em margarina a que se juntou limão, mostarda, natas e ervas de Provence, que deram um toque aromático excelente. Depois de fritos no ponto certo para deixar a carne tenra e ainda bem rosada, juntaram-se umas gotas de whisky ao molho que ferveu um pouco para engrossar. Regaram-se os bifes com o molho e serviram-se acompanhados por uma dose generosa de batatas fritas.

Passou-se então à degustação dos vinhos.
Começou-se a contenda pelo Caves Velhas do Ribatejo, que pela análise do aroma nos pareceu ser o “mais pronto” para ser bebido. O dito aroma era a frutos vermelhos maduros, o corpo era médio e na boca também se mostrou meão.
Seguiu-se o da Estremadura: o aroma estava um bocado sujo e na boca surgiu com um ligeiro gás a torná-lo desagradável. Parecia demasiado evoluído, mas como muita coisa na vida, nem tudo o que parece é - depois de estagiar por minutos nos copos esse gasoso foi-se e mostrou-se um vinho que, embora não sendo um portento de corpo, revelou sabores que só se apanham num vinho com alguns anos e acabou por ultrapassar o do Ribatejo nas opiniões dos convivas.
A versão Palmela mostrou o que já esperávamos: um Castelão típico, com o sabor a caramelo característico da casta quando criada na suas região de eleição, um corpo razoável e um fim de boca médio.
Mais do que a qualidade intrínseca de cada vinho, que não era nada de extraordinário, o que foi mais interessante nesta prova foi mesmo ver como a mesma casta, em regiões relativamente próximas e com um tratamento idêntico, deu origem a vinhos tão diferentes.
Deixámos o Bairrada para o fim, por respeito aos mais velhos. Mostrou-se saudável, com bons aromas e algo delgado de corpo, embora já não estivesse no seu auge - um Bairrada à moda antiga, daqueles que já se fazem pouco hoje em dia mas que dão muita satisfação a quem sabe esperar para os beber.
Enfim, foi melhor o repasto do que o resultado do futebol.

tuguinho e Kroniketas, enófilos e tudo

Vinhos: Castelão 2000 (T)
Regiões: Ribatejo, Estremadura e Palmela
Produtor: Caves Velhas
Grau alcoólico: 12%
Preço: não disponível
Nota (0 a 10): 6,5


Vinho: Caves São João Reserva 85
Região: Bairrada
Produtor: Caves São João
Grau alcoólico: 12,5%
Preço: cerca de 1600 $
Nota (0 a 10): 7

sábado, 1 de abril de 2006

No meu copo 37 - Montado 2002

Uma boa surpresa. Sabendo que os vinhos alentejanos por princípio não devem ser guardados por muito tempo, e tratando-se dum vinho da gama média-baixa, foi com alguma curiosidade que abri esta garrafa duma colheita quase com 4 anos.
O Montado é produzido pela José Maria da Fonseca a partir de vinhas situadas em duas regiões distintas do Alentejo, Reguengos e Portalegre, com predominância das castas Castelão, Aragonês e Trincadeira.
Pensando que já poderia ter deixado passar tempo de mais, foi com algum espanto que verifiquei estar o vinho em excelente forma. Um bom aroma, ainda jovem, e uma prova extremamente macia, coisa que começa a rarear em muitos vinhos devido a graus alcoólicos exageradamente elevados, num conjunto bastante agradável. Dentro destes preços, diria mesmo que é difícil encontrar melhor, uma vez que se consegue comprar por menos de 3 euros. Uma marca talvez menos conhecida que outras congéneres, como o Monte Velho e o Monsaraz, mas que não lhes fica atrás. Óptima aposta para um consumo frequente a baixo preço.
Já constava das nossas escolhas e justificou a permanência.

Nota: esta garrafa foi aberta para acompanhar o famoso Bife à café, e saiu-se muito bem.

Kroniketas, enófilo esclarecido

Vinho: Montado 2002 (T)
Região: Alentejo (Reguengos e Portalegre)
Produtor: José Maria da Fonseca
Grau alcoólico: 12,5%

Castas: Castelão, Aragonês, Trincadeira
Preço em feira de vinhos: 2,79 €
Nota (0 a 10): 6,5