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quinta-feira, 23 de agosto de 2007

Quinta da Ervamoira, Take 2




Os leitores habituais certamente se recordam do escrito do Kroniketas, nos idos de Abril do ano passado, sobre a Quinta da Ervamoira. Não vou repetir a sua prelecção, agora que esta outra metade das Krónikas Vínicolas visitou também a dita quinta, mas vou deixar aqui as minhas impressões e algumas curiosidades sortidas.
Teve o escriba sorte e azar nesta visita. Sorte porque chovera no dia anterior (ali na quinta, 1mm) e assim as temperaturas de Agosto daquela zona apareceram amenizadas, não mais de 30º. Azar porque devido a essa mesma chuva a vindima, que devia ter sido iniciada no dia da visita, foi adiada quatro dias. Portanto não suámos mas não vindimámos também.
Convém dizer que o acesso à quinta se faz por uma estradinha de terra batida com cerca de oito quilómetros e que, portanto, é mesmo melhor ir no jipe da propriedade, que até já está incluído no preço da visita. O trajecto até inclui o atravessamento da Ribeira de Piscos, que por ali serpenteia.
Tal como o Kroniketas, a nossa visita iniciou-se pelo espaço museológico, espalhado por várias salas da casa da quinta, que conjuga a informação sobre o vinho e a sua produção com os artefactos arqueológicos da villa romana que foi descoberta na propriedade. O último espaço dentro de portas é a loja, na qual podemos ver as garrafas dos vinhos de mesa e do Porto que podemos adquirir, por preços bem simpáticos. Integrando desde 1990 o grupo francês Roederer, também este champanhe pode ser adquirido na loja. Os vinhos, esses não estão ali, e sim numa garrafeira integrada na casa da quinta, com temperatura controlada de 18º. Um cuidado que se salienta.
A visita terminou longamente, visto que incluíramos almoço na dita cuja. Havia-se escolhido um menu simples, com entrada de melão e presunto, um arroz de pato como prato principal, e um gelado de amêndoa caseiro a finalizar. Bebeu-se o Duas Quintas Celebração e à sobremesa o Quinta da Ervamoira Tawny 10 Anos.
Não pretendo fazer nesta peça uma prova destes vinhos (mas fiquem descansados que os escribas deste retiro têm em stock tanto um como outro, para se fazer uma prova bem fundamentada), mas digo-vos que o Celebração, que pretende estar entre o Duas Quintas “normal” e o Reserva, se mostrou pujante, de cor aberta e com taninos domados mas bem presentes, a mostrar que tem estaleca para se aguentar por uns tempos; e que o Tawny, que já conhecia, se mostrou complexamente aromático e ligeiramente seco, e foi servido à temperatura certa. Ficam prometidas as provas.
Uma palavra para o local onde são servidas as refeições, uma espécie de alpendre por onde entra o silêncio mas não o calor, e que dá uma dimensão especial à refeição ali tomada. Depois do almoço terminado foi possível ficar por ali a morangar e também calcorrear as vinhas e apanhar uns quantos cachos bem madurinhos.
Acabo com duas curiosidades.
Este Duas Quintas Celebração pretende comemorar um não-acontecimento: a não construção da barragem no Côa, que deixaria a quinta mais apta para a aquicultura do que para o vinho, sendo portanto um vinho especial e não uma marca nova para integrar o portfólio da Ramos Pinto.
Finalmente (Kroniketas, deixaste passar esta), uma palavra para o nome da quinta. Não foi por quererem que o nome original de Quinta de Santa Maria foi alterado para Quinta da Ervamoira – foi porque já existia uma quinta com o mesmo nome registada anteriormente. E porquê Ervamoira? O nome vem dum romance de uma senhora francesa, Suzanne Chantal, cuja acção se passava no Douro e cujo nome era… “Ervamoïra”! Só foi tirar a trema do “i” e ficou-se com o nome…
Pode ser que um dia destes se volte lá, o bando completo. Eu não me importo nada…


tuguinho, enófilo esforçado

quarta-feira, 3 de maio de 2006

Krónikas duma viagem ao Douro - 3

Quinta da Ervamoira






Ponto alto da viagem foi a visita à Quinta da Ervamoira, propriedade da casa Ramos Pinto no Douro Superior, situada na zona de Vila Nova de Foz Côa, perto da aldeia de Muxagata, em pleno parque arqueológico. Adquirida em 1974 por José António Ramos Pinto Rosas (descendente do fundador Adriano Ramos Pinto), que sonhou fazer ali um local de eleição para a produção de vinho, esta quinta possui condições de solo e de clima (edafoclimáticas, como dizem os entendidos) quase únicas e é um local privilegiado para o cultivo da vinha. Localizada numa zona montanhosa mas a baixa altitude (cerca de 150 metros), está rodeada de montanhas que criam um microclima propício a um bom amadurecimento das uvas (no pico do Verão as temperaturas na quinta podem atingir os 50º C), o que permite fazer a vindima muito mais cedo do que na maioria das outras quintas da Região Demarcada do Douro. É um dos locais que teriam ficado submersos pela Barragem de Foz Côa, se esta tivesse sido construída. Depois de visitá-la, só podemos dizer: ainda bem que não fizeram a barragem!

A Casa Ramos Pinto foi fundada em 1880 por Adriano Ramos Pinto e é conhecida sobretudo como produtora de vinho do Porto, de que podemos encontrar variadíssimas marcas no mercado, tendo mesmo uma garrafa de Porto Ramos Pinto sido enviada no avião de Gago Coutinho e Sacadura Cabral quando estes realizaram a travessia do Atlântico Sul. Foi já na Quinta da Ervamoira, uma das quatro que a Ramos Pinto possui na Região Demarcada do Douro (as outras são a Quinta dos Bons Ares, a Quinta do Bom Retiro e a Quinta da Urtiga), que a Ramos Pinto começou a produção de vinho de mesa, precisamente com a colheita de 1990 do Duas Quintas (que tive o privilégio de conhecer), a que já fizemos referência no início da existência deste blog.

Sob a direcção de João Nicolau de Almeida, sobrinho de José Rosas e filho de Fernando Nicolau de Almeida (o criador do famoso Barca Velha, produzido pela Casa Ferreirinha a partir da Quinta da Leda, situada ali perto, na freguesia de Almendra), que é simultaneamente administrador e enólogo na Ramos Pinto, nos 200 hectares da Quinta da Ervamoira foram plantados de raiz 180 hectares de vinha, com grande predominância de uvas tintas de que foram seleccionadas as 5 melhores castas recomendadas para a região: Touriga Nacional, Tinta Roriz, Touriga Fancesa, Tinta Barroca e Tinto Cão. Esta vinha é considerada um modelo na região do Douro pois foi, segundo os seus responsáveis, a primeira a ser plantada com as vinhas ao alto (em vez dos habituais socalcos na horizontal das encostas mais íngremes) e com as castas separadas por talhões.

Na Quinta da Ervamoira o visitante sente-se num local paradisíaco, em perfeita comunhão com a natureza, onde apetece ficar sentado a contemplar aquela imensidão de vinha tão bem organizada e a perder de vista, numa perfeita harmonia com a paisagem envolvente. Ouvidas as explicações da guia, quase nos sentimos tentados a ir para lá ajudar no que deve ser um trabalho fascinante. João Nicolau de Almeida manda proceder a análises das uvas diariamente durante o período da vindima, o que determina os talhões onde as uvas vão sendo colhidas em função da sua maturação e grau alcoólico. As uvas seleccionadas durante a vindima são transportadas para a Quinta dos Bons Ares, situada mais a Oeste, onde a Ramos Pinto possui um dos seus centros de vinificação. Para produzir o Duas Quintas são vinificadas também as uvas desta quinta, dando então origem ao Duas Quintas (branco e tinto). Da Ervamoira também saem uvas para vinhos do Porto, havendo até um Tawny de 10 anos com o nome da própria quinta.

Para além da contemplação da paisagem, a visita inicia-se numa casa-museu onde nos é contada a história da Ramos Pinto e da própria quinta, que antes de pertencer à Ramos Pinto tinha o nome de Quinta de Santa Maria. Nela estão presentes variados achados arqueológicos para além de diversas ilustrações sobre o ciclo de cultivo da vinha, da história da quinta e dos vinhos da casa. No final é feita uma prova de vinho do Porto acompanhada de castanhas com amêndoa. Para grupos numerosos a prova pode contemplar um Porto Vintage com explicações detalhadas sobre a produção do vinho e há também a opção de fazer um almoço regional na quinta, desde que haja número suficiente de interessados.

Depois de sair da Quinta da Ervamoira sentimo-nos mais ricos e sabedores. Embora longe, fica uma certa nostalgia de nos virmos embora e uma secreta vontade de um dia lá voltar. Talvez numa fase mais adiantada de maturação das uvas ou até após a época da vindima, quando as cores das folhas que vão morrendo a pouco e pouco enchem as encostas duma multiplicidade de tonalidades admiráveis.

Até um dia!

Kroniketas, enófilo esclarecido

PS: Sugre-se a utilização dos links assinalados para consulta de mais informações acerca da Casa Ramos Pinto, da Quinta da Ervamoira e das outras quintas (com fotografias e mapas de localização) e dos vinhos da casa.