As coisas por aqui têm estado tendencialmente paradas. No passado dia 11 de Dezembro fizemos 5 anos de existência neste blog e 7 no seu irmão mais velho, o Krónikas Tugas, sem que, contrariamente a todos os outros anos, a efeméride tivesse sido assinalada. Outros interesses, outras solicitações, mudanças na rotina, o entusiasmo e o apelo para a escrita que já não são os mesmos do início, são tudo factores que têm contribuído para o decréscimo de publicações nestes blogues. É a vida. Mas a intenção, muitas vezes, ainda existe. A vontade é que nem tanto.
Desta vez, contudo, não quisemos deixar de partilhar com quem ainda nos vai visitando uma experiência que tivemos recentemente com um vinho de eleição e um dos nossos preferidos desde há alguns anos: o Quinta da Leda 2007, o terceiro vinho no topo da hierarquia dos vinhos da Casa Ferreirinha, a seguir ao Barca Velha e ao Reserva Especial.
A última vez que aqui escrevemos sobre este vinho, relativamente à colheita de 2001, as nossas expectativas saíram um pouco defraudadas. Daí para cá tivemos oportunidade de conhecer outras colheitas deste vinho e do Callabriga (que está no patamar imediatamente abaixo), sobre as quais nada escrevemos. Esta, contudo, é incontornável.
Aproveitando uma promoção da Garrafeira Nacional, que baixou o preço em 5 euros em relação ao actual, adquirimos duas garrafas a partilhar por cinco comparsas, e um destes fins-de-semana bebemo-las com umas costeletas de novilho.
Começámos por provar um branco que o Politikos adquiriu no Egipto, cujo rótulo é indecifrável. Não fazemos, por isso, a menor ideia das castas que o compõem, mas não foi mau. Alguma mineralidade, frescura e acidez quanto baste, não brilhou mas não desagradou de todo.
Enquanto petiscávamos uns acepipes como entrada bebericando o branco, tratámos do Quinta da Leda de duas formas diferentes: decantámos uma garrafa e deixámos a outra apenas aberta para comparar os dois. Quando passámos às costeletas atacámos então a primeira garrafa, a que estava decantada.
O resultado foi encantador; sentimo-nos esmagados por este vinho. Primeiro que tudo, a extrema elegância e um aroma profundo, com um ligeiro toque a caramelo e fruta adocicada. No prolongamento da prova de boca aparece a madeira muito ligeira e discreta, taninos de seda a envolverem um conjunto de grande harmonia. Finalmente surge a estrutura e persistência a dar um final longo e firme. No confronto com as costeletas de novilho mal passadas, a elegância marcou pontos com o suculento da carne enquanto a estrutura aguentou o tempero com um molho algo condimentado. Apesar de ainda jovem mostrou-se um vinho maduro e plenamente capaz para ser bebido. Poderia degustar-se por várias horas. Um dos comparsas chamou-lhe um Rolls Royce.
Ao passar à segunda garrafa, percebeu-se como foi avisado decantar a primeira. Esta estava com os aromas muito mais fechados que a primeira, sem a mesma exuberância. À medida que se foi esvaziando e arejando foi-se aproximando da anterior, sem nunca atingir o mesmo esplendor. A conclusão é que para usufruir deste vinho em toda a sua plenitude convém dar-lhe tempo para se libertar.
Finalmente, abrimos um Herdade das Servas 2008 que o mais recente comparsa quis partilhar com os restantes comensais. Depois dum Rolls Royce era difícil brilhar, mas ainda deu para perceber uma boa estrutura e um vinho potente e poderoso, capaz de se bater com pratos fortes. Um vinho a rever a solo e uma aposta interessante por um preço aceitável.
Kroniketas, enófilo preguiçoso
Vinho: Quinta da Leda 2007 (T)
Região: Douro
Produtor: Casa Ferreirinha - Sogrape
Grau alcoólico: 14%
Castas: Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinta Roriz
Preço: 24,90 €
Nota (0 a 10): 9,5
Vinho: Herdade das Servas 2008 (T)
Região: Alentejo (Borba - Estremoz)
Produtor: Herdade das Servas
Grau alcoólico: 15%
Castas: Alicante Bouschet, Touriga Nacional, Aragonês, Syrah
Preço: cerca de 8 €
Nota (0 a 10): 8
quinta-feira, 10 de março de 2011
No meu copo 277 - Quinta da Leda 2007; Herdade das Servas 2008
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terça-feira, 26 de janeiro de 2010
No meu copo 263 - Quinta de Pancas 2007
Ao tradicional Cabernet Sauvignon juntaram-se neste Quinta de Pancas “simples” a Touriga Nacional e o Alicante Bouschet. Sem ter as mesmas pretensões do ícone da casa, não deixa de ser um vinho bem elaborado e estruturado, com aroma frutado e algumas notas de compota e especiarias, suave na boca suave e com final persistente. Estagiou 9 meses em carvalho francês e apresenta a madeira bem integrada e discreta conferindo alguma complexidade ao conjunto.
Tratando-se de um vinho de combate, parece-me bem posicionado para ter sucesso nesta gama e bater-se com os campeões de vendas de outras casas. Merece entrar nas nossas escolhas.
Kroniketas, enófilo recatado
Vinho: Quinta de Pancas 2007 (T)
Região: Estremadura (Regional Lisboa)
Produtor: Companhia das Quintas
Grau alcoólico: 13,5%
Castas: Touriga Nacional, Cabernet Sauvignon, Alicante Bouschet
Preço em feira de vinhos: 3,49 €
Nota (0 a 10): 7,5
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segunda-feira, 4 de janeiro de 2010
No meu copo 261 - .Beb Premium 07, Herdade do Paço do Conde Reserva 05; São Rosas (Estremoz)


Como se comprovou, a escolha não poderia ter sido melhor. O São Rosas voltou a mostrar o nível de excelência que eu lhe tinha descortinado na anterior visita. Serviço impecável, rápido, eficiente, atencioso, sem falhas. Dois ou três funcionários revezando-se para o serviço de mesa e um especificamente para o serviço de vinhos, que não se coíbe de aconselhar, sugerir e trocar impressões com os clientes. E, desta vez, até fomos recebidos pela própria Margarida Cabaço, proprietária e criadora daquele espaço.
A primeira dificuldade prendeu-se com a escolha do almoço, dada a variedade de opções. Resolvemos fazer uma partilha de pratos, começando por uma tarte de perdiz, a que seguiram umas migas com entrecosto e, já com o estômago quase cheio, umas burras estufadas. Difícil dizer qual estava melhor, tão boa era a confecção de todos. O erro aqui foi ter pedido três pratos e não apenas dois, pois com a «vaquinha» efectuada acabámos por ficar mais fartos devido à mistura de pratos e à espera entre eles.
Para o final, já bem saciados, apenas se pediu uma encharcada para sobremesa que foi dividida entre dois dos comensais.
Quanto aos líquidos, tendo eu provado na anterior visita um vinho de Tiago Cabaço, filho da proprietária do restaurante, de nome .Com, deparámos agora com um outro na prateleira chamado .Beb 2007, um patamar acima. Não deslustrou. É um vinho jovem, com um aroma predominantemente frutado, corpo médio e um final algo discreto. Tem uma designação original, aliás como os irmãos .Com e Blog, o último dos quais parece ser o topo de gama da marca. Rótulo e contra-rótulo apresentam um design clean. Tudo ali anda, pois, de mão dada, o carácter do vinho e a roupa exterior da garrafa. Um vinho que, não sendo brilhante, é honesto e não defrauda. Terminada a primeira garrafa, a dificuldade de escolha da segunda. Encontrámos na carta uma das nossas paixões, um Sogrape Reserva, escolha desde logo secundada por outro dos convivas, mas infelizmente o escanção não encontrou as garrafas, pelo que acabámos por experimentar, por sugestão do mesmo, um Herdade do Paço do Conde Reserva 2005. Um vinho produzido próximo de Beja, na zona de Baleizão (a terra onde Catarina Eufémia foi morta por um tenente da GNR em 1954). Este mostrou-se mais complexo do que o anterior, com aromas mais profundos, um outro corpo e outra persistência na boca.
No final, saímos plenamente satisfeitos com o magnífico repasto que nos foi proporcionado, por um preço que, não sendo barato, não escandaliza e faz pleno jus à qualidade da casa. Não correrei o risco de errar de forma escandalosa se disser que este deve ser um dos melhores restaurantes do país.
Saídos do restaurante, depois de desfrutarmos um pouco da amenidade da tarde e da paisagem que se avista do castelo de Estremoz, rumámos finalmente ao Monte Seis Reis para a aguardada visita às instalações seguida da prova de vinhos. Mas aí a história já foi outra.
Kroniketas, com Politikos, gastrónomos de barriga cheia
Vinho: .beb Premium 2007 (T)
Região: Alentejo (Estremoz - Borba)
Produtor: Tiago Cabaço
Grau alcoólico: 14%
Castas: Cabernet Sauvignon, Syrah, Alicante Bouschet, Touriga Nacional
Preço em feira de vinhos: 7,45 €
Nota (0 a 10): 7
Vinho: Herdade Paço do Conde Reserva 2005 (T)
Região: Alentejo (Beja)
Produtor: Sociedade Agrícola Encosta do Guadiana
Grau alcoólico: 14%
Castas: Syrah, Touriga Nacional, Alicante Bouschet
Preço no restaurante: 17 €
Nota (0 a 10): 7,5
Restaurante: São Rosas
Nota (0 a 5): 5
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quinta-feira, 19 de novembro de 2009
Pondo a escrita em dia... (2)
No meu copo 254 - Casa Burmester Reserva 05; Quinta de Pancas, Selecção do Enólogo 04; Gouvyas Vinhas Velhas 04; Porto Quinta de La Rosa Vintage 2000
(continuação)
O pontapé de saída foi dado por um Casa Burmester Reserva 2005 que já havia estado escalado várias vezes para jogar na equipa principal mas fora sempre preterido em função de outras escolhas. Entrou agora e teve uma boa prestação. É um vinho frutado mas não em excesso, o que lhe confere elegância e sofisticação. A fruta está lá mas não abafa tudo à sua volta. É uma escolha para ser revisitada.
Seguiu-se um Quinta de Pancas, Selecção do Enólogo 2004, um blend de três castas, muito bem casadas. Um vinho equilibrado, resultado do casamento harmonioso das boas características das 3 castas presentes: Cabernet Sauvignon, Touriga Nacional e Alicante Bouschet, e em que nenhuma se sobrepõe às outras. De realçar a boa integração das especiarias do Cabernet Sauvignon que não são fáceis de abafar mas que ali estão presentes no ponto certo, não sobressaindo em demasia. A mim, convenceu-me, e se pensarmos na relação preço-qualidade, temos ali um vinho muito competitivo para o patamar de preço em que se encontra. É um vinho moderno, bem feito. Uns dirão que um pouco redondo e sem traço de diferenciação com outros, o que é verdade, mas que não deixa, por isso, de ser um bom vinho.
Passámos, então, a um Gouvyas Vinhas Velhas 2004. A opinião geral foi que se tratava de um vinho com grande personalidade. Muito diferente dos anteriores. É um vinho feito à moda antiga, complexo, estruturado, espesso, robusto, que evoca vinhos passados. Atrever-me-ia mesmo a dizer um vinho rústico, descontando aqui a componente negativa da palavra. Integrou-se na refeição e com os vinhos já provados como aquelas mobílias rústicas de boa qualidade que podem estar na mesma divisão com móveis Luís XVI, sem destoar e, pelo contrário, brilhar e até os ofuscar pela diferença. É feito de uvas provenientes de vinhas velhas, o que se nota bem. Não há muitos vinhos como este Gouvyas e os que há só existem no Douro. É um vinho que claramente pode marcar a tal diferenciação que o vinho português procura face aos outros. Sendo eu apreciador de vinho do Porto, e por isso tendencioso, continuo a achar, ao beber estes Douros, ou Douros com este perfil, que estou a provar um Porto, sem aguardente. E que se perdeu ali um belo vintage.
Fechámos a refeição com uma mousse de chocolate, que é uma das incondicionais sobremesas dos repastos da sociedade, acompanhada por um elegante vintage Quinta de La Rosa 2005. É um vinho de cor rubi, límpido no copo. No nariz tem um ataque ainda algo vinoso mas na boca mostrou-se já com a fruta – framboesa e amora – bastante arredondada. Apesar de estar pronto a beber, ganharia ainda mais em sofisticação e elegância se fosse bebido mais tarde. É sempre uma pena bebê-los novos, mas pena maior é não chegar a velho para os beber...
Politikos, artista amador convidado em versão enófilo-futebolística
Vinho: Casa Burmester Reserva 05 (T)
Região: Douro
Produtor: Sogevinus - Casa Burmester
Grau alcoólico: 14%
Castas: Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinta Roriz
Preço em hipermercado: 10,90 €
Nota (0 a 10): 8
Vinho: Quinta de Pancas, Selecção do Enólogo 04 (T)
Região: Estremadura (Alenquer)
Produtor: Companhia das Quintas
Grau alcoólico: 14,5%
Castas: Touriga Nacional, Cabernet Sauvignon, Alicante Bouschet
Preço em hipermercado: 4,99 €
Nota (0 a 10): 8
Vinho: Gouvyas Vinhas Velhas 04 (T)
Região: Douro
Produtor: Bago de Touriga
Grau alcoólico: 14,5%
Preço em hipermercado: 36,5 €
Nota (0 a 10): 8
Vinho: Porto Quinta de La Rosa Vintage 05 (T)
Região: Douro/Porto
Produtor: Quinta de La Rosa
Grau alcoólico: 20%
Nota (0 a 10): 7,5
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sexta-feira, 31 de julho de 2009
Perdizes por um, perdizes para dez
No meu copo 251 - Veuve Roth, Pinot Gris 2007; Delicato, Chardonnay 2005; Delicato, Zinfandel 2005 rosé; Herdade do Pinheiro 2007 rosé; Herdade do Perdigão Reserva 2005; Quinta da Viçosa 2003; Herdade do Meio Garrafeira 2003; Vieux Magon 2001
E pronto, para assinalar o fim do ano de trabalho e ajudar a esgotar o stock de perdizes do caçador de serviço, juntando mais uma operação da missão nunca terminada de “desbaste da garrafeira”, o plenário dos Comensais Dionisíacos reuniu-se em versão familiar para o que já começa a ser um “must” na primeira metade do Verão: o “jantar de fim de época”, desta vez em versão caseira com o Politikos e respectiva consorte e descendência a servirem de anfitriões para o repasto. Compareceram à chamada quase todos os membros efectivos, só havendo faltas por impossibilidade justificada.
Enquanto as senhoras se dedicavam à confecção das aves, os homens entretinham-se com a selecção das garrafas. Para começar optou-se por um Veuve Roth, Pinot Gris 2007, um branco francês que tinha provado há algum tempo na Wine O’Clock. Muito macio, delicado e de grande suavidade, ligeiramente adocicado mas com uma excelente acidez que o torna muito fresco e equilibrado, já me tinha conquistado na prova anterior e voltou a fazê-lo. Não é um vinho para grandes refeições mas como aperitivo ou entrada ou com pratos delicados vai francamente bem.
Seguiu-se um Delicato Chardonnay 2005, desta vez um branco californiano que apareceu mais suave do que a maioria dos Chardonnay, mais frutado e sem aquele amanteigado que marca muitos dos vinhos da casta, com aromas tropicais e sem a habitual marca da madeira que o torna demasiado pesado para o meu gosto.
Passou-se depois para os rosés. O anfitrião insistiu em que experimentássemos outro Delicato que não fez o pleno das opiniões. Um verdadeiro rosé de esplanada, adocicado e não muito gastronómico. No entanto algumas das senhoras preferem os mais doces pelo que ainda houve aproveitamento do conteúdo da garrafa. Passou-se imediatamente a outro rosé que já estava preparado, um Herdade do Pinheiro 2007. Mais seco, persistente e com maior acidez, agradou à generalidade dos presentes.
Quando as perdizes vieram para a mesa, confeccionadas em duas variedades já experimentadas com sucesso (estufadas com couve lombarda e com cogumelos em molho de natas de soja) passou-se então ao painel dos tintos, constituído por belos vinhos do Alentejo. A escolha para início das hostilidades recaiu num Herdade do Perdigão Reserva 2005. Foi um sucesso. Alvo dos maiores encómios, mostrou-se um vinho de grande carácter, pujante, persistente, muito vivo mas arredondado, a mostrar que está para durar. Sem dúvida um vinho a repetir.
Seguiu-se um Quinta da Viçosa 2003, um dos vinhos especiais de João Portugal Ramos. É feito com a melhor casta portuguesa e a melhor casta estrangeira da colheita de cada ano. Neste caso temos uma combinação algo “sui generis “de Touriga Nacional e Merlot, tal como já houve outras combinações improváveis como Aragonês e Petit Verdot ou Trincadeira e Syrah. Este 2003 apresentou-se essencialmente elegante e suave, em claro contraste com o Herdade do Perdigão. Um vinho mais aconselhado para pratos delicados e requintados, talvez pouco adequado para a caça que tínhamos no prato mas que também merece outra oportunidade.
Continuando no Alentejo, experimentámos depois um Herdade do Meio Garrafeira 2003, uma promoção da feira de vinhos do Continente de 2008. A prova anterior desta casa não agradou mas este mostrou outro nível. Muito bem estruturado, encorpado e persistente, com taninos firmes mas domados. Uma bela surpresa pelo preço que custou.
Por fim, o anfitrião ainda fez questão de nos brindar com uma garrafa de vinho da Tunísia, produzido na região da antiga Cartago. Contra as expectativas mais pessimistas, não defraudou. Apresentou-se elegante e suave na boca, medianamente encorpado, com boa concentração de cor e alguma persistência de madeira. Não sendo excepcional, não é de menosprezar.
Para fecho da noite, já atirados a uma mousse e a um gelado de chocolate, tivemos o ponto alto com a abertura duma relíquia que o Politikos tinha lá em casa: um Lacrima Christi sem data, mas com uma indicação de 1908 no contra-rótulo! Sublime! Não há palavras para descrevê-lo. E ainda houve tempo para os mais resistentes provarem uma aguardente de figo da Tunísia, Boukha Gold, com 36% de álcool.
Depois ainda se seguiram algumas baforadas de charuto e cachimbo para os mais aficionados, mas isso são outras histórias... Agora vamos a banhos.
Kroniketas, tuguinho, e os outros todos
Vinho: Veuve Roth, Pinot Gris 2007 (B)
Região: Alsácia (França)
Produtor: Les Caves de La Route du Vin
Grau alcoólico: 12,5%
Casta: Pinot Gris
Preço: 9,50 €
Nota (0 a 10): 8
Vinho: Delicato, Chardonnay 2005 (B)
Região: Califórnia (EUA)
Produtor: Delicato Family Vineyards - Manteca - Califórnia
Grau alcoólico: 13,5%
Casta: Chardonnay
Preço: 4,22 €
Nota (0 a 10): 7
Vinho: Delicato, Zinfandel 2005 (R)
Região: Califórnia (EUA)
Produtor: Delicato Family Vineyards - Manteca - Califórnia
Grau alcoólico: 10%
Casta: White Zinfandel
Preço: 3,96 €
Nota (0 a 10): 5,5
Vinho: Herdade do Pinheiro 2007 (R)
Região: Alentejo (Ferreira)
Produtor: Sociedade Agrícola Silvestre Ferreira
Grau alcoólico: 13,5%
Castas: Touriga Nacional, Cabernet Sauvignon
Preço: 4,88 €
Nota (0 a 10): 7
Vinho: Herdade do Perdigão Reserva 2005 (T)
Região: Alentejo (Monforte)
Produtor: Herdade do Perdigão
Grau alcoólico: 14,5%
Castas: Trincadeira, Aragonês, Cabernet Sauvignon
Preço: 12,50 €
Nota (0 a 10): 8,5
Vinho: Quinta da Viçosa 2003 (T)
Região: Alentejo (Estremoz - Borba)
Produtor: João Portugal Ramos
Grau alcoólico: 14,5%
Castas: Touriga Nacional, Merlot
Preço: 22,10 €
Nota (0 a 10): 8
Vinho: Herdade do Meio Garrafeira 2003 (T)
Região: Alentejo (Portel)
Produtor: Casa Agrícola João & António Pombo - Herdade do Meio
Grau alcoólico: 14,5%
Castas: Trincadeira, Aragonês, Alicante Bouschet, Castelão
Preço em feira de vinhos: 7,99 €
Nota (0 a 10): 8
Vinho: Vieux Magon 2001 (T)
Região: Mornag (Tunísia)
Produtor: Les Vignerons de Carthage - Tunis
Grau alcoólico: 13%
Preço: 9 €
Nota (0 a 10): 7
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quarta-feira, 13 de maio de 2009
Perdizes por um, perdizes por mil
No meu copo 238 - Hexagon 2000; Cartuxa 2006; Porto Taylor’s Vargellas Vintage 2005
Os Comensais Dionisíacos, braço político gastro-etilista que integra os escribas das KV, além dos repastos “oficiais” entre membros celebra também refeições não menos bem regadas, mas mais alargadas em termos de mastigantes, sendo estes supranumerários geralmente os familiares mais próximos.
Sendo caçador um dos associados, é normal que por vezes nestas refeições intervenham como mastigados espécimes das nobres raças abatidas pelo dito cujo ou pelo grupo de caçadores a que se junta na função, geralmente perdizes, lebres ou javalis. Fomos portanto reunidos em casa do Kroniketas (que não é o membro caçador – é mais deglutidor) para degustar um grupo de perdizes incautas, cozinhadas pela consorte do caçador de formas simples mas saborosas: umas com um molho à base de natas e whisky com cogumelos, outras envolvidas em couve lombarda acolitada por tirinhas de bacon.
Outro objectivo que se mantém nestes repastos alargados é acompanhá-los de bons néctares – também conhecido no meio como “desbaste da garrafeira”! Para este em particular escolheram-se, além de alguns brancos sortidos e fresquinhos – provenientes da sempre bem recheada garrafeira do anfitrião (Alvor 2007, Quinta de Camarate branco seco 2007, Murganheira 2007) – para acompanharem as entradas, um Esporão Reserva de 2006, um Hexagon de 2000 em formato magnum (o tal vinho das 6 castas e 6 gerações) e um Cartuxa de 2006 que apareceu à última hora pela mão de um dos convivas. Para as sobremesas abriu-se um Porto Taylor’s Vargellas Vintage de 2005.
Coleccionando as reacções dos presentes, poderá dizer-se que o Esporão Reserva, após a recente experiência, re-deslumbrou, depois de uma travessia do deserto em algumas colheitas anteriores, com o Alicante Bouschet a dar-lhe um toque muito especial. Definitivamente um regressado aos mais altos lugares da nossa consideração vínica. O Hexagon, completamente diferente do anterior, mostrou-se um vinho de alto gabarito, com um perfil austero, ainda mais depois da festa que o Esporão tinha provocado no nariz e na boca dos beberrões, mas com uma estrutura extraordinária e a deixar-nos desconfiados de que ainda havia por ali muita coisa escondida. Comprem e bebam, porque é assim que um vinho excelente deve ser (uma das maneiras de o ser, como é óbvio). (Mete aqui a colherada o Kroniketas para ser mais generoso mas sucinto nos encómios. Só uma palavra: extraordinário!).
Ficou o Cartuxa para o final – uma ou outra ordem teria sempre justificação ou recusa – e não se deixou diminuir perante os outros dois. Sendo mais novo que o Hexagon e da mesma colheita que o Esporão, justificou-se plenamente a vivacidade exuberante, mostrando-se mais corpulento, mais fechado e mais robusto que o seu compadre alentejano, disse bem alto que estava ali para lutar: um vinho excelente que seria o centro das atenções se estivesse só. Teve um pouco de azar com os competidores.
Enfim, para não vos causar mais inveja, direi que, embora pessoalmente prefira os Vintage com um perfil como o utilizado pela Ramos Pinto, o Porto Vintage Vargellas cumpriu em pleno. Um festival de aromas a frutos vermelhos, de grande exuberância na boca e no nariz, pleno de vigor e juventude, a mostrar que está ali pronto para altos voos e longa vida na garrafa. O nosso único problema é comprá-lo e esperar uns 10 ou 20 anos até voltar a prová-lo. A verdade é que nem os morangos, nem a mousse de chocolate ou o bolo rançoso se queixaram.
Em resumo, um repasto que se pautou pela delícia gastronómica e pela excelência vínica. Para recordar.
tuguinho, enófilo impenitente e bloguista intermitente
Vinho: Hexagon 2000 (T) (garrafa magnum)
Região: Terras do Sado
Produtor: José Maria da Fonseca
Grau alcoólico: 14%
Castas: Trincadeira, Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinto Cão, Syrah e Tannat
Preço em supermercado: 53,89 €
Nota (0 a 10): 9,5
Vinho: Cartuxa 2006 (T)
Região: Alentejo (Évora)
Produtor: Fundação Eugénio de Almeida - Adega da Cartuxa
Grau alcoólico: 14,5%
Castas: Aragonês, Trincadeira, Alfrocheiro, Alicante Bouschet
Preço em feira de vinhos: 13,95 €
Nota (0 a 10): 8,5
Vinho: Porto Taylor’s Vargellas Vintage 2005
Região: Douro/Porto
Produtor: Taylor’s
Grau alcoólico: 20%
Preço em hipermercado: 33,48 €
Nota (0 a 10): 9
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quinta-feira, 30 de abril de 2009
No meu copo 236 - Esporão Reserva 2006
Após um período mais ou menos sabático e mais ou menos prolongado, vejo-me impelido a voltar às lides por força dum vinho que me marcou. Falo da colheita 2006 do Esporão Reserva, um ícone do Alentejo, um clássico, um daqueles vinhos que considero incontornáveis. Ainda na minha fase inicial de descoberta, o Esporão era um dos vinhos mais em voga e um que me fez despertar para este mundo. Ficaram-me na memória mais recôndita os aromas frutados que de vez em quando recordo de forma difusa sem saber muito bem onde os encontrava.
Nos últimos anos, tal como acontece com outros vinhos, andei um pouco afastado deste produto. Pareceu-me que a qualidade estava a decair um pouco e que o vinho se estava, de certa forma, a vulgarizar. Comecei a dar preferência aos monocasta e principalmente ao excelente Quatro Castas, que nos últimos anos me pareceu ser claramente melhor que o emblema da casa.
Mas um dia teria de regressar às origens. Foi este mês, por ocasião duma efeméride familiar, comemorada com uma incursão ao Vasku's (outro regresso recorrente às origens) para comer o inigualável fondue do lombo. Olhando para a carta de vinhos e tentando encontrar algo a meio caminho entre o bom e o não muito caro, detive-me na extensa lista de vinhos alentejanos, quase todos entre os 20 e os 30 €. Lá no topo o Esporão constava a 33 €. Pensei “há tanto tempo que não o bebo, e hoje é dia de festa...”. E assim veio para a mesa uma garrafa do dito Reserva 2006, previamente decantado.
Em boa hora o escolhi. Só vos posso dizer que fiquei de novo rendido, perfeitamente encantado com este vinho. Estava lá tudo o que eu tinha nas profundezas da memória. Um vinho extremamente equilibrado em todas as suas componentes: corpo, profundidade aromática com fruto maduro bem evidente mas sem excessos, acidez, macieza, madeira, taninos, persistência e complexidade muito suave, tudo no ponto certo. E os 14,5% de álcool perfeitamente disfarçados pela envolvência do vinho, como é timbre da casa. Um vinho que apetece ir bebendo sempre mais e que não cansa nem enjoa, que se deseja que não acabe. De tal forma que não demorei a adquirir uma garrafa que poucos dias depois foi aberta à mesa com o tuguinho e o Politikos. A opinião foi coincidente entre os três: não conseguimos encontrar nada de menos bom neste vinho. É um regresso em grande e, claro, é para comprar mais e deixar na garrafeira. E um dia destes vou fazer a comparação com o Quatro Castas para tirar as teimas.
Kroniketas, enófilo regressado
Vinho: Esporão Reserva 2006 (T)
Região: Alentejo (Reguengos)
Produtor: Herdade do Esporão
Grau alcoólico: 14,5%
Castas: Aragonês, Trincadeira, Alicante Bouschet, Cabernet Sauvignon
Preço em hipermercado: 15,98 €
Nota (0 a 10): 9
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domingo, 22 de fevereiro de 2009
No meu copo 235 - Três grandes vinhos, ou três vinhos caros?
Caladessa 2003; Herdade das Servas, Touriga Nacional 2003; Mouchão 2003
Falemos então um pouco dos vinhos que motivaram os dois posts anteriores. Estes três vinhos foram servidos com todos os cuidados, para que nada pudesse influenciar negativamente a prova. Tinham em comum vários factores: eram todos do Alentejo, todos de 2003, todos com 14,5% de álcool. Feito o balanço não se pode dizer, de forma alguma, que não são bons vinhos, mas voltamos ao mesmo: esperávamos efectivamente um pouco mais de cada um deles.
O primeiro a ser provado foi o Mouchão, o tal que o tuguinho achou que talvez não valesse a pena comprar pelo preço que custava. Apresentou-se de cor muito concentrada, encorpado e robusto mas ao mesmo tempo elegante. Inicialmente os aromas apresentaram-se fechados, evoluindo para algumas notas de compotas. Ficámos sem perceber se ainda evoluirá positivamente em garrafa ou se já chegou até onde é possível chegar. Pelo que custou, esperávamos algo mais, nomeadamente uma maior persistência na boca. Resumindo, caro para o que mostrou.
O Caladessa e o Herdade das Servas Touriga Nacional foram provados em conjunto. Arrefecidos até à temperatura adequada, abertos e vertidos para os copos com alguma antecipação, fomo-los deixando evoluir para ver como se comportavam.
O Herdade das Servas Touriga Nacional passou por várias fases ao longo da prova. Começou por apresentar um ligeiro gasoso e alguma aspereza. Só depois começou a libertar aromas e a amaciar, mas apresentou-se sempre algo linear. Ficámos com a impressão de faltar ali qualquer coisa adicional para lhe dar outro brilho. Até pode ter sido daquela garrafa específica, mas esteve longe de encantar.
O Caladessa mostrou uma estrutura mais firme (íamos chamar-lhe sólida, mas era capaz de soar mal chamar isso a um líquido...), boa persistência e uma complexidade que se foi desenvolvendo ao longo da refeição, depois duma primeira impressão discreta no nariz. Mostrou que estava ali para durar. Foi talvez o mais equilibrado dos três e aquele que melhor justificou o preço. Mas no conjunto, foi muito dinheiro para o prazer obtido.
tuguinho e Kroniketas, enófilos descapitalizados
Vinho: Caladessa 2003 (T)
Região: Alentejo (Évora)
Produtor: Herdade da Calada
Grau alcoólico: 14,5%
Castas: Trincadeira, Alfrocheiro, Touriga Nacional
Preço em garrafeira: 22,55 €
Nota (0 a 10): 8,5
Vinho: Herdade das Servas, Touriga Nacional 2003 (T)
Região: Alentejo (Estremoz - Borba)
Produtor: Herdade das Servas
Grau alcoólico: 14,5%
Casta: Touriga Nacional
Preço em feira de vinhos: 16,85 €
Nota (0 a 10): 7,5
Vinho: Mouchão 2003 (T)
Região: Alentejo (Sousel)
Produtor: Vinhos da Cavaca Dourada - Herdade do Mouchão
Grau alcoólico: 14,5%
Castas: Alicante Bouschet, Trincadeira
Preço em hipermercado: 28,99 €
Nota (0 a 10): 8
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quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009
No meu copo 233 - Conde de Palma 2006
Este vinho foi adquirido com a Revista de Vinhos de Janeiro e desta vez resolvi fazer o que raramente faço: experimentar bebê-lo imediatamente para ver como está.
Depois das duas provas indicadas nos posts anteriores, aqui está o contra-ponto aos vinhos que tiveram tempo para crescer e amadurecer dentro da garrafa: um vinho ainda novo, com apenas dois anos de idade após a colheita. E confirmou-se aquilo que seria previsível: o vinho está muito “cru” para ser bebido, algo agreste, com os taninos ainda agressivos a torná-lo algo adstringente e difícil.
Parece ter potencial para melhorar e talvez daqui a 2, 3 anos o conjunto esteja mais redondo e polido e aí se possa apreciar melhor os aromas.
Assim se prova mais uma vez que esta tendência para beber os vinhos muito novos é extremamente limitativa do prazer que se obtém. Está na mão dos consumidores inverter esta tendência, ou terão de ser os produtores a tomar a iniciativa?
Kroniketas, enófilo esclarecido
Vinho: Conde de Palma 2006 (T)
Região: Alentejo (Portalegre)
Produtor: Herdade Monte da Cal - Dão Sul/Global Wines
Grau alcoólico: 13,5%
Castas: Trincadeira, Aragonês, Alicante Bouschet
Preço com a Revista de Vinhos: 5,95 €
Nota (0 a 10): 6,5
PS: Por coincidência o Pingas no Copo também apresentou há dias uma prova deste vinho. A opinião dele é mais favorável que a minha.
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terça-feira, 27 de janeiro de 2009
No meu copo 231 - Quatro Castas Reserva 2001
Perdoem-me a insistência, mas beber este vinho é um prazer sempre renovado. Tinha provado a última da mesma colheita há cerca de um ano e agora parece que melhorou. Curiosamente, no blog Os Vinhos existe uma prova da colheita de 2002, onde o Pedro Rafael Barata refere que já passou o seu auge e o final é mediano.
Pois este de 2001, passado um ano, ainda está melhor. Mediano é que o final não é e pelo contrário talvez esteja, agora sim, no auge. O tempo em garrafa só lhe tem feito bem. Um corpo que nunca mais acaba, uma profundidade aromática espantosa, com aromas ainda exuberantes a fruta e algum toque a tostados e especiarias, com boa integração com a madeira e os taninos polidos mas ainda sólidos a darem grande firmeza a um conjunto homogéneo e equilibrado. E nem os 15 graus de álcool destoam do conjunto, tão bem disfarçados estão.
Definitivamente, um vinho que faz sempre os meus encantos por um preço que fica bem abaixo do que se poderia esperar. Para mim é incontornável e, repito o que disse há um ano, o melhor vinho do Esporão daqueles que já provei (continua a faltar o Private Selection e o caríssimo Torre do Esporão...).
Kroniketas, enófilo esclarecido
Vinho: Quatro Castas Reserva 2001 (T)
Região: Alentejo (Reguengos)
Produtor: Herdade do Esporão
Grau alcoólico: 15%
Castas (não mencionadas no contra-rótulo) - as quatro melhores do ano em partes iguais entre estas: Aragonês, Trincadeira, Touriga Nacional, Cabernet Sauvignon, Syrah, Bastardo, Alicante Bouschet
Preço em feira de vinhos: 10,79 €
Nota (0 a 10): 9
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segunda-feira, 5 de janeiro de 2009
No meu copo 225 - Herdade do Meio 2004
Eis um vinho proveniente dum produtor que tem tido algum destaque recentemente. Na última feira de vinhos do Continente vários vinhos estavam em promoção, o que aliás mereceu um post no Saca-a-rolha.
Um dia resolvi comprar este para experimentar. Tendo em conta o preço pareceu-me que estaria num nível superior da gama da casa (ainda não conheço mais nenhum, portanto não posso fazer comparações). No entanto deparei-me, mais uma vez, com um vinho em que o excesso de álcool abafava tudo, tornando-o cansativo.
No último meio ano tenho tentado fugir dos vinhos alentejanos com 14 graus ou mais, porque tem sido um fartote que já não se aguenta. Neste caso arrisquei... e perdi. Perante este panorama praticamente tudo o resto perde interesse. Ao segundo copo já quase não se percebe mais nada. Pode ser que em futuras colheitas voltemos a encontrar vinhos com mais aromas e mais sabores, porque este, definitivamente, não me convenceu.
Apesar de tudo não se pode dizer que seja mau. Bebe-se com algum agrado, para aquilo que custa deveria deixar muito mais recordações.
Kroniketas, enófilo esclarecido
Vinho: Herdade do Meio 2004 (T)
Região: Alentejo (Portel)
Produtor: Casa Agricola João & António Pombo - Herdade do Meio
Grau alcoólico: 14,5%
Castas: Aragonês, Trincadeira, Alfrocheiro, Alicante Bouschet
Preço em hipermercado: 12,99 €
Nota (0 a 10): 6,5
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quarta-feira, 5 de novembro de 2008
No meu copo 210 - Dumonte 2005
Este é um daqueles vinhos pelos quais à partida ninguém dá nada. Mas a verdade é que me surpreendeu pela positiva. Muito equilibrado na boca, aromático quanto baste com alguma predominância a frutos vermelhos, corpo médio, macio mas com alguma estrutura e boa persistência, apesar da gama de preços em que se posiciona consegue portar-se como se valesse 3 ou 4 vezes mais.
O grau alcoólico também ajuda ao bom equilíbrio do conjunto. É um daqueles vinhos que não sendo nada de extraordinário consegue ser guloso e deixar-se beber com agrado. Pelo preço que custa pode ser uma boa aposta para o dia-a-dia.
Kroniketas, enófilo esclarecido
Vinho: Dumonte 2005 (T)
Região: Alentejo
Produtor: Caves Velhas - Enoport
Grau alcoólico: 13%
Castas: Aragonês, Trincadeira, Alicante Bosuchet
Preço em hipermercado: 1,99 €
Nota (0 a 10): 7
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terça-feira, 14 de outubro de 2008
No meu copo, na minha mesa 205 - Monte da Peceguina 2007; O Casalinho (Praia da Rocha)
Outro jantar de férias, no passadiço da Praia da Rocha, junto à descida central da praia. Este restaurante era uma das referências há uns anos antes das obras na praia e da remodelação de todos os bares, e ali comi uma refeição fantástica confeccionada à vista e servida num carrinho. Agora tem duas salas separadas, uma mais restaurante e outra mais para pizzas e afins, mas fomos para a parte das pizzas para ficar mais à vontade e com mais espaço.
A escolha é extensa e variada, permitindo um leque de opções que podem ir desde a pizza ao bife pimenta passando por bacalhau no forno. Tal como há anos, escolhi o bife, enquanto outros escolheram um T-bone e bacalhau à Narcisa, que por sinal estava magnífico, talvez o melhor prato da noite.
O bife estava bastante tenro e suculento, mas o serviço não correspondeu ao que se esperava. Nem o serviço de mesa nem o serviço de vinhos, e o facto de estarmos na pizzaria não serve de desculpa. Primeiro o vinho escolhido veio morno para a mesa, pelo que foi necessário pedir um frappé. Depois, à segunda garrafa um dos empregados serviu vinho no copo de um dos comensais onde ainda estava vinho do copo anterior, o que como se sabe é um erro primário no serviço de vinhos.
Para fecho da noite, foi pedida uma sobremesa (crepes Suzete) que não pôde ser servida porque… a cozinheira estava ocupada com outras coisas e não tinha tempo para a fazer! Esta é original.
Para o vinho escolhemos um Monte da Peceguina, da Herdade da Malhadinha Nova, que se tem tornado notada pelo seu hotel com SPA, situada ali para os lados de Alberona, a sul de Beja, e próxima da Herdade dos Grous e da Casa da Santa Vitória. Já o tinha provado uma vez e não me encantou, e desta vez voltou a não encantar. É um vinho que se bebe com facilidade, com aquele perfil “moderno” que tantos (ainda) elogiam, ainda com o resquício do excesso de álcool e muita fruta. Estagiou parcialmente 7 meses em barricas de carvalho francês e é predominantemente frutado, sem que a madeira se sobreponha aos aromas e relativamente equilibrado entre a acidez e o álcool que neste caso está bem disfarçado. Em suma, fácil de beber mas que não é marcante.
Quanto ao restaurante, sinceramente esperava melhor. Para o nível de preços praticado e a sofisticação nos nomes dos pratos, exige-se algo mais. Mais profissionalismo e eficiência, sobretudo. Lembrei-me dos muitos restaurantes visitados em Portalegre e Estremoz no último ano, e talvez pudessem ensinar alguma coisa a estes.
Kroniketas, enófilo veraneante
Restaurante: O Casalinho
Areal da Praia da Rocha
Portimão
Preço por refeição: 25 €
Nota (0 a 5): 3,5
Vinho: Monte da Peceguina 2007 (T)
Região: Alentejo (Albernoa)
Produtor: Herdade da Malhadinha Nova
Grau alcoólico: 14%
Castas: Alicante Bouschet, Aragonês, Touriga Nacional, Cabernet Sauvignon, Tinta Caiada
Preço em feira de vinhos: 9,65 €
Nota (0 a 10): 7
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quarta-feira, 28 de maio de 2008
Krónikas do Alto Alentejo (XXIV)
No meu copo, na minha mesa 180 - .com 2005; São Rosas (Estremoz)
Foi a minha despedida do Alto Alentejo e das minhas actividades em Portalegre. Com o carro carregado até acima, saí à hora de almoço e em Estremoz fiz a segunda tentativa no São Rosas, o restaurante de Margarida Cabaço (produtora do vinho Monte dos Cabaços) e uma das principais referências gastronómicas da região, dentro das muralhas do castelo. Desta vez estava aberto. Lá deixei o carro com a bagagem à vista ali no largo junto à pousada e não me arrependi.
O espaço não é muito amplo mas mostra-se bastante acolhedor, quase intimista (não tanto como na Cadeia Quinhentista, mas ainda assim...). A zona de refeições fica mais abaixo, à esquerda, e à direita fica um pequeno balcão com o bar, pelo que o visitante tem uma perspectiva de todo o estabelecimento quando franqueia a porta de entrada.
Estando sozinho, fui conduzido à mesa mais ao fundo, ao canto da sala e junto a uma série de prateleiras onde repousam variadas garrafas de vinho, com os respectivos locais devidamente catalogados. Para beber uma era só esticar um braço e tirá-la...
A ementa apresenta-nos uma enorme variedade de opções de pendor regional, mas sendo eu um amante da caça (no prato, não para ir caçar) voltei a optar por um prato de perdiz, tal como tinha feito na Cadeia Quinhentista. Desta vez com o nome Perdiz à Glória, estufada e regada com molho de azeite, acompanhada com batatas, couve e esparregado. Uma verdadeira delícia.
Na sobremesa voltei a deixar-me seduzir pelos doces conventuais e terminei em beleza com uma excelente encharcada.
Para acompanhar estes pitéus escolhi meia garrafa do vinho do “filho da patroa”, como lhe chamou o empregado que me atendeu: o .com, produção de Tiago Cabaço que resolveu voar sozinho. E parece fazê-lo bem. Apesar dos 14 graus de álcool, apresentou-se muito equilibrado, sem aquele perfil pesado e enjoativo que tenho notado em muitos destes vinhos hiper-alcoólicos. Predomina a fruta e mostra-se macio, os taninos estão bem domados e envolvidos por um bom corpo. Pareceu-me ser uma aposta simpática e bem conseguida.
O serviço é 5 estrelas, mais uma vez com grande profissionalismo e eficiência, sem qualquer falha. No final duma excelente refeição não deixei de dar os parabéns ao responsável. Foi o que se chama terminar em beleza e com a certeza de que hei-de lá voltar. Este entra no rol dos obrigatórios.
Kroniketas, gastro-enófilo viajante
Restaurante: São Rosas
Largo D. Diniz, 11
7100-509 Estremoz
Tel: 268.333.345
Preço por refeição: 33 €
Nota (0 a 5): 5
Vinho: .com 2005 (T)
Região: Alentejo (Estremoz - Borba)
Produtor: Tiago Cabaço
Grau alcoólico: 14%
Castas: Alicante Bouschet, Aragonês, Cabernet Sauvignon, Trincadeira
Preço em feira de vinhos: 2,98 €
Nota (0 a 10): 7
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quarta-feira, 30 de abril de 2008
Krónikas do Alto Alentejo (XX)
No meu copo, na minha mesa 176 - Pedra Basta 2005; Monte da Penha Reserva 2003; Restaurante Sever (Marvão)
Não foi a minha última incursão gastronómica em Portalegre, mas foi o último local visitado: o Sever, num local chamado Portagem, a caminho de Marvão, cá em baixo no sopé da serra com um rio a embelezar a paisagem. Tinha-me sido muito recomendado principalmente pelos grelhados, mas preferi avançar para pratos mais tradicionais. E que pratos...
Enquanto se esperava, foram servidos uns deliciosos tortulhos (uma espécie de cogumelos) e uma omeleta de espargos, qual deles o melhor. Isto foi-nos aguçando o apetite para o que vinha aí. E o que vinha aí era nem mais nem menos que um coelho bravo com míscaros e o inevitável arroz de lebre. Simplesmente divinais! O arroz de lebre malandrinho, como convém, claramente melhor que o do Tomba Lobos. Dos melhores que já comi. Nas sobremesas escolhi desta vez uma mousse de chocolate que fez bem o seu papel.
Quanto aos vinhos, mantendo o princípio seguido ao longo desta estada, escolhi os da região e mais dois que não conhecia. Comecei pelo Pedra Basta de 2005, o outro vinho de Rui Reguniga, em parceria com Richard Mayson na Quinta do Centro, que não tinha tido oportunidade de provar no Tomba Lobos quando provei o Terrenus. Não me convenceu. Este, ao contrário do Terrenus, é o tal vinho moderno e de estilo europeu. Achei-o algo agressivo, demasiado adstringente, mais uma vez com excesso de álcool que o torna francamente cansativo. Se achei que o Terrenus é para repetir, este achei que é para esquecer.
Em seguida experimentei o Monte da Penha Reserva 2003, de Francisco Fino, um dos ex-proprietários da Tapada do Chaves. Também não me convenceu. Por um lado achei-o algo delgado de corpo e ao mesmo tempo demasiado marcado pela madeira, que se sobrepõe aos aromas. Um conjunto algo desequilibrado.
No fim, como remate do serão ainda nos foi oferecido pelo dono um brandy espanhol de nome Luís Felipe. Nunca fui apreciador deste tipo de bebidas, mas dados os encómios que lhe foram feitos lá experimentei. Este quase que levanta um morto. O aroma não pode ser aspirado, porque quase nos queima o nariz: é meter à boca e beber de um trago. Depois ficam ali os vapores que nunca mais de vão embora. A cor é assim parecida com o estanho, com o bordo quase a parecer queimado. De facto nunca tinha visto igual. Acredito que para os aficionados deve ser uma bebida magnífica.
Em suma, uma refeição magnífica regada por dois vinhos que não se mostraram à altura de tão deliciosos pitéus. Mas o local vale bem a pena. Um espaço amplo, arejado, num local aprazível (gostava de lá voltar de dia e com bom tempo, ao contrário da noite fria de Inverno em que lá fui) e com um serviço impecável. Excelente.
Kroniketas, enófilo itinerante
Restaurante: Sever
Portagem - Marvão
7330-347 São Salvador de Aramenha
Telef: 245.993.318
Preço por refeição: 37 €
Nota (0 a 5): 5
Vinho: Pedra Basta 2005 (T)
Região: Alentejo (Portalegre)
Produtor: Sonho Lusitano Vinhos
Grau alcoólico: 14,5%
Castas: Trincadeira, Aragonês, Alicante Bouschet, Cabernet Sauvignon
Preço no restaurante: 19,50 €
Nota (0 a 10): 4
Vinho: Monte da Penha Reserva 2003 (T)
Região: Alentejo (Portalegre)
Produtor: Francisco Fino
Grau alcoólico: 13%
Castas: Alicante Bouschet, Aragonês, Trincadeira
Preço no restaurante: 25 €
Nota (0 a 10): 4,5
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segunda-feira, 21 de abril de 2008
No meu copo, na minha mesa 174 - Ensaios Filipa Pato 2006; Soberana 2004; Casa da Dízima (Paço d'Arcos)
O centro histórico de Paço de Arcos organiza-se em torno de dois pólos: os antigos Fornos da Cal e a Rua Costa Pinto, que praticamente liga os citados fornos à zona do antigo porto fluvial, no término da qual também se encontra o Palácio dos Arcos e a antiga casa da alfândega que ao tempo cobrava impostos sobre as mercadorias que por ali passavam.
A Rua Costa Pinto actual, bem como a zona histórica envolvente, foi toda recuperada, ganhou novo empedrado e deixou de ter edifícios degradados. Mas já antes era conhecida por ter muitos restaurantes, tradição que mantém e que até foi reforçada com a abertura há alguns (poucos) anos da Casa da Dízima, restaurante que se acoita entre as paredes do antigo edifício da alfândega, e que manteve tudo o que podia da antiga edificação, o que concedeu um ambiente sui-generis à casa.
Foi nele que fomos cair num sábado à noite, as Krónikas Vinícolas completas e um compincha semi-ocasional. Dispensadas as entradas, porque dois terços dos amesendados vinham directos de uma prova de vinhos em Sintra, passou-se à escolha dos pratos principais e dos vinhos.
Eu, que não vinha de prova nenhuma e já conhecia o restaurante, tentei orientar um pouco os companheiros de mesa, mas nem precisava porque o serviço, além de eficiente, é conhecedor.
Os pratos vêm apresentados com esmero, mas não tão armados que nos impeçam de os comer, e tanto a carne de novilho de um, como a caça de outro e o bacalhau do terceiro se mostraram saborosos e bem confeccionados. O lombo de novilho foi servido acolitado por esparregado, legumes salteados e ligeiramente glaceados, queijo da serra derretido num chapeuzinho folhado e batata frita em palha (sempre incómoda de comer sem usar as mãozinhas…).
A codorniz recheada com alheira e acompanhada com um puré também com um ligeiro aroma a alheira e grelos atados num molho estava excelente, tenra e saborosa, ainda por cima já desossada. O bacalhau apresentou-se inserido num folhado, guarnecido com camarões e acompanhado por cenouras. Excelente aroma e uma combinação de sabores menos habitual tornam o prato invulgar e apetecível.
Para a sobremesa só as Krónikas se apresentaram à chamada, tendo deglutido em uníssono um “petit gâteau” de chocolate (sólido por fora, líquido por dentro) morninho, confrontado com uma bola de gelado de menta.
Passemos aos líquidos. Já se sabe que em antros de restauração a moderação tem de imperar, não tanto por motivos mais nobres, mas mais por motivos financeiros. Resolveu começar-se por um Bairrada dos modernos, para ver o que a filha de Luís Pato andaria a congeminar por aquelas bandas (sim, nós sabemos que o vinho é Regional Beiras; também os do pai o foram durante vários anos por causa das restrições da região, supomos que os da filha ainda o sejam por causa desse passado recente). O Ensaios Filipa Pato 2006 mostrou-se aberto, frutado, de taninos quase ausentes e cor violácea, corpo mediano para o delgado e gritava “bebei-me que fui feito para beber já e agradar a palatos cosmopolitas” – de Bairrada não vimos lá nada, de Baga quase também não porque além dessa casta o grosso do vinho era Touriga Nacional e Alfrocheiro. Não se pense que o vinho era mau! Até se mostrou bastante agradável e decididamente está bem feito mas pronto, nós esperávamos que fosse Bairrada…
Sinceramente, não sei se será por este caminho que os vinhos desta zona devem seguir, agora que se pode fazer quase tudo, desde que ainda seja vinho. Desde a ditadura da casta Baga até à quase total arbitrariedade na utilização de qualquer casta, passou-se do 8 para o 80 e hoje em dia ser um vinho da Bairrada pode não querer dizer absolutamente nada. Dizem por aí que os da casta Baga passaram a ter a denominação “Bairrada clássico”, mas a verdade é que até agora não os tenho visto. Quem gosta dos verdadeiros Bairradas não é com estes que se vai encantar, e quem não gostava dos outros também não vai ficar a saber o que é a Bairrada com os novos.
Para segundo vinho deslocámo-nos para sul, ainda nas Terras do Sado mas já a tresandar Alentejo por todo o lado. Estamos a falar do Torrão, ainda em pleno Alentejo e do Soberana 2004, marca intermédia do produtor, que já tínhamos tido a hipótese de provar há poucas semanas. Mais uma vez as questões burocráticas em que o nosso país é fértil obrigam-no a surgir com a denominação de Regional Terras do Sado, à semelhança do que já tinha acontecido com o Pinheiro da Cruz. Qualquer semelhança com os vinhos das Terras do Sado é mera coincidência.
Não há dúvida que é um grande vinho e merece bem os encómios que as revistas da especialidade lhe têm dedicado. Como referimos há algumas semanas, foi um dos destaques da Blue Wine no seu top 100 relativo a 2007. Confirmou o que já nos mostrara antes, um belo corpo e aromas complexos, um fundo leve de couro tanto no aroma como no sabor, cor profunda, final de boca longo e taninos ainda pungentes, apesar de dobrados. Um excelente trabalho de Paulo Laureano, num vinho que não será fácil para o iniciado mas que indicia uma provável boa evolução nos próximos tempos, apesar de já estar mais que bebível. É sempre a velha questão de qual será a melhor altura para os beber…
Também nesta área o serviço é atencioso, sem ser aborrecido, e sabedor do que sugerir e daquilo que tem na garrafeira. Tomáramos nós que fosse assim nos outros restaurantes!
Concluindo, boa comida, bons vinhos e bom serviço. Pois, não é barato mas também não é nenhum roubo, tendo em conta tudo o que mencionámos antes.
tuguinho, enófilo esforçado
Restaurante: Casa da Dízima
Rua Costa Pinto, 17
2770-046 Paço de Arcos
Telef: 21.446.29.65
Preço por refeição: 40 €
Nota (0 a 5): 4,5
Vinho: Ensaios Filipa Pato 2006 (T)
Região: Regional Beiras
Produtor: Filipa Pato
Grau alcoólico: 13,5%
Castas: Baga, Alfrocheiro, Touriga Nacional
Preço em hipermercado: 7,50 €
Nota (0 a 10): 7
Vinho: Soberana 2004 (T)
Região: Terras do Sado (Torrão)
Produtor: Soc. Agro-Pecuária das Soberanas
Grau alcoólico: 14,5%
Castas: Aragonês, Trincadeira, Alicante Bouschet, Alfrocheiro
Preço em hipermercado: 15 €
Nota (0 a 10): 8,5
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terça-feira, 1 de abril de 2008
Krónikas do Alto Alentejo (XVIII)
Na minha mesa 172 - O Álvaro (Urra)
Esta foi outra visita quase de última hora a um dos locais recomendados na zona de Portalegre. A localidade da Urra fica a cerca de 10 km para sul e numa praça da rua principal fica o Álvaro. Começou por ser uma casa de petiscos que foi ganhando fama e clientes até se afirmar como restaurante.
O espaço não é muito amplo e a entrada está separada da sala de refeições. Na ementa estava recomendado o lacão assado, uma espécie de pernil de porco, e foi essa a escolha feita. Veio acompanhado com ovo mexido e batatas às rodelas, numa dose generosa perfeitamente adequada para duas pessoas. Para sobremesa optou-se por uma mousse de chocolate que não desmereceu.
Em destaque estava o vinho do mês, que já aqui elogiámos, o Casa de Alegrete, e foi a escolha óbvia. Mais uma vez saiu-se a preceito da função e correspondeu às expectativas.
Não sendo a última maravilha ao cimo da terra, foi uma boa refeição, que contudo não pode ombrear com outras servidas noutros locais. Talvez o Álvaro continue a ser mais vocacionado para os petiscos, embora como restaurante não desagrade. O preço também não choca, aliás foi mais caro o vinho (15 €) que o prato (9,5 €).
Kroniketas, enófilo itinerante
Vinho: Casa de Alegrete 2005 (T)
Restaurante: O Álvaro
Largo Capitão António Manuel Simão Redondo, 58
7300-589 Urra
Telef: 245.382.283
Preço por refeição: 17,5 €
Nota (0 a 5): 3
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