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domingo, 6 de junho de 2010

No meu copo 275 - Veuve Clicquot Ponsardin; Quinta de Sant’Ana Sauvignon Blanc 2008; Colares Fundação Oriente branco 2008; Aneto branco 2009

A final da Champions League, que (re)consagrou o português José Mourinho e que desta vez teve lugar a um sábado ao final da tarde, foi ouro sobre azul para mais um encontro do núcleo duro dos Comensais Dionisíacos composto por Kroniketas, Mancha, Politikos e tuguinho. Apesar do oiro e do azul, a contenda iniciou-se com uma evocação vermelha, a vitória do Benfica na Super Liga 2009-2010. Resta dizer, para os que ainda não sabem, que no núcleo duro dos Comensais há um empate entre cores: dois vermelhos – Kroniketas e tuguinho – e dois verdes – Mancha e Politikos. Os vermelhos pagaram o champagne, um Veuve Clicquot Ponsardin, com o qual se iniciou a refeição, brindando os primeiros à vitória do SLB e os segundos «à nossa», não sem deixarem de reconhecer com fair-play que o SLB foi um justo vencedor. Fomos debicando umas lascas de presunto e de queijo e ao mesmo tempo beberricando o champagne que se revelou um excelente companheiro das entradas e confirmou as qualidades que já lhe eram conhecidas de outros prélios. É que o champagne vai bem com tudo. Primeiro estranha-se mas depois entranha-se. Bolha fina e persistência na boca fazem deste Veuve Clicquot sempre uma boa escolha.

O tempo estava quente, pelo que se havia acertado previamente uma refeição só com brancos. Alinharam à mesa: um William Fevre Sauvignon Blanc 2004, um Quinta de Sant’Ana Sauvignon Blanc 2008, um Colares D.O.C. Fundação Oriente 2008 e um Aneto 2009.

O primeiro a vir à liça, o William Fevre Sauvignon Blanc 2004, estava passado, pelo que foi de imediato dispensado. Acontece algumas vezes, felizmente poucas. O vinho é um produto orgânico, um ser vivo, que vive, cresce e morre. E este, ainda que anteriormente provado com excelentes resultados, já havia dado a alma ao Criador!

Passámos ao segundo, uma aquisição muito recente e que nem sequer chegou a ganhar pó na garrafeira comunitária, o Quinta de Sant’Ana Sauvignon Blanc 2008, que se revelou de grande qualidade. É um vinho regional da Estremadura, proveniente da Quinta de Sant’Ana, na aldeia do Gradil, perto de Mafra. Apresenta-se com uma cor dourada, fresco e mineral no nariz, com ligeiro toque floral. Na boca, mostra uma estrutura média, uma acidez domada e no ponto e uma assinalável persistência. Algumas notas vegetais no palato conferem-lhe alguma diferença em relação a outros brancos. Não conhecíamos e foi uma agradável surpresa, das melhores da noite. Tanto que lhe atribuímos a melhor das notas: 8,5. O rótulo e o logótipo da Quinta sendo simples e depurados são também elegantes, como o vinho, aliás. Roupa e produto casam assim na perfeição.

Importa dizer que este e os outros que se lhe seguiram tiveram de se bater com um arroz de tamboril muito malandrinho e caldoso confeccionado por mestre Mancha, com o qual procuramos mostrar-nos menos carnívoros do que habitualmente. E já que estávamos na Estremadura, passámos, sem fugir muito, a um Colares D.O.C. Fundação Oriente 2008, um vinho produzido em chão de areia. Apresenta uma cor de água, quase transparente no copo e um aroma de grande frescura, com notas vegetais. Na boca apresenta-se algo delgado, alguma acidez e um final de boca curto. É um vinho diferente, mais suave, mesmo na graduação alcoólica, 12,5º, com alguma personalidade, não deixando de ser gastronómico, recomendável para pratos simples e despretensiosos.

O último a tomar assento à mesa foi o Aneto 2009, um blend bastante blend que combina as castas Viosinho, Rabigato, Gouveio e Malvasia Fina. É um vinho pujante nos aromas a fruta tropical. No contra-rótulo não se refere a permanência em cave e por consequência em madeira, mas mesmo assim mostra estrutura, carácter e complexidade. A acidez está lá mas não em excesso, o que muitas vezes descaracteriza os brancos. É claramente uma boa aposta para branco e com uma boa relação preço/qualidade. De notar que o enólogo deste vinho, Francisco Montenegro, é o mesmo do Bétula, de que tivemos oportunidade de degustar duas garrafas generosamente oferecidas pelo produtor, e que muito nos agradaram tal como este Aneto.

No final, fechámos a refeição com a já tradicional mousse de chocolate preto com natas, decoradas com granulado de chocolate, e os mais aficionados das bebidas brancas ainda encontraram espaço para um golinho de uma aguardente húngara de nome Meggy feita a partir de cerejas ou ginjas. Suave e macia e com a cereja/ginja muito presente no nariz e na boca. Uma boa aposta em matéria de aguardentes. Para os interessados, o Mancha, que é fã de bebidas brancas, comprou-a no El Corte Inglés.

Politikos e Kroniketas, enófilos desta vez numa de brancos

Vinho: Veuve Clicquot - Champagne Brut (B)
Nota (0 a 10): 9

Vinho: Quinta de Sant’Ana, Sauvignon Blanc 2008 (B)
Região: Estremadura/Lisboa
Produtor: Quinta de Sant’Ana do Gradil
Grau alcoólico: 13,5%
Casta: Sauvignon Blanc
Preço: 16,45 €
Nota (0 a 10): 8,5

Vinho: Colares Fundação Oriente 2008 (B)
Região: Colares
Produtor: Quinta das Vinhas de Areia, Soc. Agrícola
Grau alcoólico: 12,5%
Castas: não mencionadas
Preço: 14,35 €
Nota (0 a 10): 7,5

Vinho: Aneto 2009 (B)
Região: Douro
Produtor: Sobredos – Produção e Comércio de Vinhos
Grau alcoólico: 13%
Castas: Viosinho, Rabigato, Gouveio, Malvasia Fina
Preço : 11,60 €
Nota (0 a 10): 8

sábado, 26 de julho de 2008

No meu copo 192 - Loboseiro branco 05; Plansel Selecta 06

Era quase imperativo não irmos de férias sem voltarmos a fazer uma visita à Petisqueira do Gould. O reencontro com um amigo que não víamos há vários anos foi o pretexto para voltarmos ao “local do crime” pela 4ª vez num ano.
Mais uma vez fomos atendidos com a simpatia e a eficiência do costume pelo sr. Amando Carvalho, a quem deixámos o critério de escolha dos vinhos. Como optámos por fazer duas vaquinhas com uns filetes de peixe-galo e com uma posta mirandesa, resolvemos escolher um branco para início da refeição e depois um tinto. As sugestões, que aceitámos, voltaram a incidir em produtos que não conhecíamos.
Assim, começou por vir para a mesa um branco do Douro, de nome Loboseiro (que raio de nome para um vinho), que nos agradou particularmente. O Loboseiro é um projecto de uma família de antigos proprietários das Caves Raposeira, que engloba quatro quintas situadas nos concelhos de Lamego e Peso da Régua cujas vinhas foram reconvertidas em 45%, com uma aposta principalmente nas castas Touriga Nacional e Franca, Tinta Barroca, Sousão, Malvasia Fina, Gouveio, Cerceal e Viosinho.
Quanto a este Loboseiro branco de 2005, tinha aquela frescura aromática que apreciamos nos brancos, e a opinião foi coincidente entre os três comparsas sentados à mesa. Apesar de ter um grau alcoólico considerável, apresentou-se bastante bem balanceado entre todas as componentes, sem se tornar pesado, com predominância frutada equilibrada com uma componente floral bastante marcada. Fez-me lembrar o Murganheira branco seco que aqui bebemos há um ano, precisamente com uns filetes de peixe-galo. Cá está a Malvasia Fina mais uma vez a mostrar serviço, e posso dizer que até agora não me lembro de um branco com esta casta que não me agradasse. Acho até que não está a ser devidamente valorizada entre as castas brancas, como acontece com o Alfrocheiro nas tintas. Parecem-me duas castas que marcam de forma indelével os vinhos onde entram mas ainda não lhes é dado o devido destaque.
Passando às carnes, foi altura de mudar para o tinto, mais uma vez escolhido pelo sr. Amando. Ainda pensámos em experimentar o Loboseiro tinto, mas acabámos por seguir a sugestão e fomos para um alentejano, o Plansel Selecta de 2006. Não sendo um vinho extraordinário, não deixa de ser agradável de beber, com algumas notas florais e a frutos silvestres a sobressaírem, num conjunto essencialmente marcado pela suavidade, fugindo aos ditames mais recentes da moda. E apesar dos 14% de álcool não se mostrou enjoativo nem pesado, antes bem equilibrado. Poderá não aspirar a grandes voos, mas também não desilude.
E assim cumprimos o nosso ritual de romaria a Paço d’Arcos, que se está a tornar obrigatório, e já podemos ir de férias mais descansados... e reconfortados.

tuguinho e Kroniketas, os diletantes preguiçosos quase a espreguiçar-se ao sol

Vinho: Loboseiro 2005 (B)
Região: Douro
Produtor: Gustavo Alberto Pinto de Lemos do Valle, Herdeiros
Grau alcoólico: 13,5%
Castas: Malvasia Fina, Gouveio, Cerceal
Preço no restaurante: 11 €
Nota (0 a 10): 7,5

Vinho: Plansel Selecta 2006 (T)
Região: Alentejo (Montemor-o-Novo)
Produtor: Jorge Böhm
Grau alcoólico: 14%
Castas: Touriga Nacional, Aragonês, Trincadeira
Preço no restaurante: 12 €
Nota (0 a 10): 7

quinta-feira, 17 de julho de 2008

No meu copo 191 - Planalto 2007; Diálogo 2005


A primeira passagem pel'Os Arcos agradou, pelo que resolvemos voltar à carga, desta vez para um prato de carne. Como o tempo estava quente, resolvemos começar por refrescar com meia garrafa de Planalto, o branco seco do Douro da Sogrape que é sempre uma aposta simpática. À semelhança de outros brancos relativamente leves e secos, este é sempre agradável de beber, com uma boa acidez e notas florais, corpo médio e um final persistente e refrescante. Nota-se a presença da Malvasia Fina a dar um perfil mais arredondado ao vinho dentro do seu carácter predominantemente seco. Neste caso acompanhámo-lo apenas com uns entreténs-de-boca enquanto aguardávamos a “pièce de résistance” que neste caso eram duas, divididas a meias: uma posta à mirandesa e um bife Wellington. Ela na sua tradicional disposição, ele acoitado em massa folhada, muito tenro e suculento.
Para a carne escolhemos um Diálogo, uma das recentes criações de Dirk Niepoort já divulgada por alguns comparsas da blogosfera, como o Vinho da casa e Os Vinhos. Este vinho tem a particularidade de apresentar um rótulo ilustrado pelo cartoonista Luís Afonso, sobejamente conhecido pelos cartoons que faz há muitos anos quer no jornal A Bola quer no Público, com o célebre Bartoon. É aliás nas personagens do Bartoon que este alentejano de Serpa se inspira para ilustrar o diálogo do rótulo entre o barman e um cliente.
Quanto ao conteúdo líquido, encontrámos um vinho macio, pronto a beber, tal como o produtor anuncia adequado “para todos os dias e não apenas para momentos especiais”. Apresenta-se com uma cor carregada, aroma a frutos vermelhos, redondo na boca sem deixar de mostrar alguns taninos bem amansados e um leve toque a especiarias. Apenas 20% da produção estagiou em barrica, pelo que a madeira passa aqui quase despercebida.
Enfim, o que se pode dizer é que é um vinho relativamente despretensioso e que nesse registo cumpre bem a sua função, sem deixar de mostrar uma qualidade apetecível. A macieza e frescura que apresenta podem torná-lo um bom tinto de Verão.

tuguinho e Kroniketas, enófilos e gastrónomos e etc.

Vinho: Planalto 2007 (B)
Região: Douro
Produtor: Sogrape
Grau alcoólico: 12,5%
Castas: Malvasia Fina, Gouveio, Viosinho, Códega
Preço em feira de vinhos: 4,59 €
Nota (0 a 10): 7,5

Vinho: Diálogo 2005 (T)
Região: Douro
Produtor: Niepoort Vinhos
Grau alcoólico: 13%
Castas: Touriga Franca, Touriga Nacional, Tinta Roriz, Tinta Amarela, Tinto Cão
Preço: cerca de 7,5 €
Nota (0 a 10): 7

domingo, 25 de maio de 2008

No meu copo, na minha mesa 179 - Kopke branco 2006; Os Arcos (Paço d’Arcos)



Por ocasião desta última ponte, o núcleo duríssimo dos Comensais Dionisíacos (leia-se os autores das Krónikas Vinícolas) resolveu ter um almoço mais saudável do que uma dose cavalar de entrecôte ou filet mignon. Com esse objectivo demandou novamente Paço de Arcos, desta vez para penetrar no quase homónimo Os Arcos, porventura o decano dos restaurantes da zona, mas continuando no topo, como se comprova pelas salas sempre cheias e pelos Mercedes à porta.
Ultrapassada a luta com um parquímetro que não dava trocos (isso aqui há uns tempos chamava-se roubo, mas agora deve ser arredondamento que se diz), lá descemos a rua Costa Pinto em direcção ao escolhido.
Depois da consulta necessária ao cardápio, secção do peixe - e de se ter evitado uma recaída do Kroniketas para o lado das carnes - optámos por um robalo de mar no capote, devidamente acolitado por feijão verde salteado e batatas a murro. O capote mais não é que uma envoltura em massa de pão que permite manter os sucos do animalejo enquanto é cozido, resultando numa preparação assaz suculenta quando comparada com algumas grelhaduras que o deixam firme e hirto como uma barra de ferro.
Não nos arrependemos da escolha, e até o envoltório de pão se finou pela garganta abaixo dos mastigantes, com evidente satisfação (dos mastigantes, não do pão).
Para beber com o nadador compulsivo escolhemos um branco relativamente recente no mercado, da casa Kopke, anteriormente produtora exclusiva de vinhos do Porto. Com um discreto aroma floral e uma magnífica cor amarelo-citrino, mostrou-se na boca suave, com um fundo mineral que complementou muito bem as notas florais que em primeiro se mostraram, tudo muito bem envolvido por uma acidez tão equilibrada quanto discreta. Álcool muito bem integrado com uma graduação certíssima (e raríssima nos tempos mais recentes), temperatura de serviço ideal e mais um branco do Douro a ter em conta quando formos às compras, até porque é barato (no mercado deverá andar por baixo dos 4 €).
Para compensar o pecado do peixe (muito mais grave a nosso ver que o pecado da carne!), escolhemos para sobremesa uma surpresa de chocolate, fatia com base de bolo de chocolate húmido e recheio estilo mousse de chocolate, que apesar desta constituição não se mostrou enjoativa.
Pode dizer-se que esta primeira arremetida contra Os Arcos se saldou por nota muito positiva, em que teremos de incluir o serviço atencioso e esmerado, que trata clientes e produtos servidos muito bem. Havemos de voltar para atacar uma posta à mirandesa da qual nos foram tecidas loas muito atraentes. Ou então um valente bife... O preço é bem puxado, mas vale aquilo que custa.

tuguinho e Kroniketas, os diletantes preguiçosos

Restaurante: Os Arcos
Rua Costa Pinto, 47
2780-582 Paço de Arcos
Telef: 21.443.33.74
Preço por refeição: 40 €
Nota (0 a 5): 5

Vinho: Kopke 2006 (B)
Região: Douro
Produtor: Kopke
Grau alcoólico: 12,5%
Castas: Arinto, Gouveio
Preço no restaurante: 12 €
Nota (0 a 10): 7,5

terça-feira, 3 de julho de 2007

No meu copo 126 - Porca de Murça Reserva branco 2005

Já conheço esta marca há muitos anos, praticamente desde que comecei a interessar-me por estas coisas e ainda não sabia quase nada. O Porca de Murça branco foi desde logo um dos meus preferidos. Com o passar dos anos fui conhecendo outras marcas e esquecendo este, mas mantive sempre a lembrança de ser um branco agradável.

Os Reserva nem existiam. Agora já existem. E este branco Reserva não me convenceu. Pouco apelativo, pouco aromático, um pouco rústico, que é coisa que eu não suporto num vinho branco. Falta-lhe elegância. Muito álcool mas pouco suportado pelo corpo e pela acidez. Parafraseando o nosso amigo Pingus Vinicus, quis falar com o vinho mas ele não me disse nada. E eu fiquei sem saber que mais lhe dizer.

Acho que na próxima ocasião vou tentar rever o branco normal, que era o tal de que eu gostava, para ver se ainda gosto. Se calhar, com menos pretensões, as memórias que guardei de há 15 ou 20 anos ainda lá estão.

Kroniketas, enófilo esclarecido

Vinho: Porca de Murça Reserva 2005 (B)
Região: Douro
Produtor: Real Companhia Velha
Grau alcoólico: 14%
Castas: Boal, Cerceal, Codega, Gouveio

Preço em feira de vinhos: 3,58 €
Nota (0 a 10): 5,5

quarta-feira, 27 de junho de 2007

No meu copo, na minha mesa 124 - Montevalle Reserva 02, Casa de Santar 03, Murganheira Branco Seco 06; Petisqueira do Gould (Paço d'Arcos)




Continuando nos arredores da capital, aproveitámos uma folga para dar um saltinho a Paço d’Arcos. Indo pela Avenida Marginal em direcção a Cascais, sai-se na primeira saída para Paço d’Arcos, desembocando-se logo na Rua Costa Pinto, onde o nº 47 aloja o restaurante Os Arcos e alguns metros à frente, no nº 93, se encontra a Petisqueira do Gould. Na mesma zona, quase em frente, há a Casa Gallega e ainda um restaurante italiano e, num patamar mais abaixo, a Marítima e um restaurante asiático. Há muito por onde escolher.
Depois de espreitarmos à montra d’Os Arcos e da Petisqueira do Gould, ali a 100 metros um do outro, optámos por este último, ficando Os Arcos para próxima oportunidade. Franqueada a porta, encontrámos um espaço reduzido, quase intimista (a sala dispõe apenas de 30 lugares), onde somos conduzidos à mesa pelo anfitrião, o Sr. Amando Carvalho, dono daquele espaço.
Como entretém-de-boca apareceram na mesa umas tirinhas de presunto, pão de alho torrado e um creme à base de sapateira servido na própria concha.
Quando passamos à escolha dos pratos, a oferta, não sendo excessivamente extensa, é bastante variada, o que dificulta a escolha. Nos pratos do dia há arroz de garoupa com gambas, costeletinhas de borrego e posta mirandesa, entre outros. Como somos mais carnívoros, olhámos mais para o lado das carnes e chamou-nos a atenção a alheira de caça, o entrecôte grelhado e o tornedó, e ficámos ali a matutar no que escolher. Perante a nossa indecisão, o dono aproxima-se e sugere-nos a posta mirandesa, de carne certificada. Para fazer parelha acabámos por escolher o tornedó à portuguesa, frito em azeite e alho.
Os pratos foram apresentados num carrinho de servir e pedimos para dividir as doses em partes iguais, de modo partilhar os dois pratos. O dono acabou por servir-nos primeiro a posta mirandesa e guardou o tornedó na estufa. Obviamente, ambos mal passados.
A posta estava muito tenra, salpicada por um tempero original, em que se notaram algumas notas de canela e de ervas não identificadas pelos mastigantes.
Quanto ao tornedó, extremamente suculento e tenro, de carne de Lafões, sobressaiu precisamente pela simplicidade da confecção, que permitiu que a qualidade da carne se exibisse sem peias.
E quanto ao vinho? A decisão tinha sido esta: almoçar num restaurante desconhecido e beber um vinho desconhecido. A carta era extensa, principalmente no Douro e ainda mais no Alentejo. Estávamos de olho num Gouvyas quando o dono nos sugeriu um Montevalle Reserva 2002, da empresa Bago de Touriga, de Luís Soares Duarte e João Roseira. Trata-se de um vinho feito com uvas de vinhas velhas cultivadas em Soutelo, no Cima Corgo, e São João de Lobrigos, no Baixo Corgo. Fermentado 100% em lagar e engarrafado após 24 meses de estágio em barricas usadas, é um vinho de produção limitada, que não é habitual ver no circuito comercial. Em conversa connosco ao longo da refeição, o dono disse-nos que tinha encomendado 80 caixas mas que só lhe vão chegando a pouco e pouco.
O vinho foi servido inicialmente num copo de prova, sendo o resto decantado sem que fosse necessário pedi-lo. Pedimos, sim, um frappé porque o vinho se apresentou com a temperatura um pouco elevada. Após uns 10 minutos com o decanter dentro do balde com gelo, o vinho ficou à temperatura adequada, podendo então ser devidamente apreciado, para o que foram devidamente apresentados copos em forma de tulipa.
Fugindo um pouco ao habitual, este vinho não contém a quase omnipresente Touriga Nacional, ficando-se pelas habituais Touriga Franca, Tinta Roriz e Tinta Barroca. Apresenta uma cor com tonalidades violáceas, aroma frutado e a denotar alguma juventude. Na boca é medianamente encorpado e equilibrado, com uma acidez moderada e grau alcoólico não excessivo. Apesar dos 24 meses de estágio, a madeira não se sobrepõe no conjunto, deixando um fim de boca suave e fresco com um toque apimentado.
Como a garrafa se esgotou, ainda tivemos que recorrer a meia garrafa do que houvesse disponível, e a escolha recaiu num Casa de Santar 2003, que se mostrou bem à altura do desafio. Há cerca de um ano tínhamos provado uma garrafa desta colheita, e devemos dizer que esta meia garrafa nos surpreendeu favoravelmente. Muito equilibrado, muito macio mas suficientemente encorpado e persistente para não ficar perdido nas sobras do vinho anterior. Merece uma revisão da nota apresentada anteriormente.
Pelo meio, foram chegando mais uns reforços de pão torrado, batatas fritas às rodelas muito finas e os copos sempre preenchidos graças à extrema atenção do anfitrião, com quem fomos trocando algumas impressões acerca de outros vinhos, da origem das carnes e de outras sugestões que nos foi apresentando. Para finalizar, pedimos um delicioso e muito macio bolo de chocolate com gelado de nata, que rematou o repasto da melhor forma.
A grande surpresa aconteceu apenas três dias depois. Há coisas que não se preparam antecipadamente, simplesmente acontecem porque calha. Encontrámo-nos nesse fim-de-semana a propósito dum evento cultural ali para os lados de São Domingos de Rana e, já cerca das 21 horas, com os estômagos meio vazios depois de termos enganado a fome com uns croquetes e rissóis, resolvemos ir petiscar qualquer coisa para fechar a noite. Tinha-se pensado num belo bife, mas dado o adiantado da hora achámos melhor ficar por uma coisa mais leve, pensando-se então no peixe. Como já dissemos, não somos grandes piscícolas, pelo que não é fácil escolher o que comer. A hipótese de ir para o peixe grelhado, sugerida pelo tuguinho, foi desde logo liminarmente rejeitada. Queria-se peixe, sim, mas qualquer coisa que soubesse bem. Estando ali pela zona, acabámos por voltar ao local do crime, e fomos outra vez parar a Paço d’Arcos. Toca a fazer a mesma volta do outro dia, e na montra d’Os Arcos os preços do peixe eram algo assustadores. Com alguma renitência do tuguinho, fomos outra vez bater à porta da Petisqueira!
Fomos outra vez magnificamente atendidos, voltando a trocar alguns dedos de conversa com o Sr. Amando Carvalho, aproveitando o facto de termos ficado noutro ponto da sala onde pontificam alguns recortes de jornais para nos inteirarmos da origem daquele espaço. Ficámos a saber que a Petisqueira surgiu depois da ourivesaria que a antecedeu ter sido assaltada e os proprietários despojados dos seus pertences. Para refazerem o negócio montaram um restaurante com um desenho interior que mereceu um prémio da Câmara Municipal de Oeiras.
Quase com as 10 horas da noite a bater, olhámos então, desta vez, para os peixes, e optámos pelos filetes de peixe-galo com arroz mariscado. Estavam soberbos, muito saborosos, assim como o arroz, malandrinho como convém. Desta vez rejeitámos as entradas e ficámos suficientemente preenchidos sem exagerar, que era o que se pretendia.
Para terminar, repetimos a sobremesa. Não havia opção que nos agradasse mais.
Quanto ao vinho, voltámos a seguir a sugestão do Sr. Amando e escolhemos o Murganheira Branco Seco. Confirmou tudo o que se esperava: um vinho de grande elegância, com grande frescura na boca devido a uma acidez correcta e um grau alcoólico adequado (12%), que aumenta o prazer de beber sem nos pesar nem se tornar enjoativo, como muitos brancos fermentados em madeira e cheios de álcool que temos encontrado ultimamente. Este, sim, é mais ao nosso gosto. Frutado quanto baste, com alguma predominância floral que é proporcionada pela Malvasia Fina, uma casta que temos encontrado em brancos muito elegantes.
Quanto ao preço, tratando-se de duas refeições muito diferentes, o dispêndio também acabou por sê-lo. Na primeira pagámos 45 € por cada refeição, com uma garrafa de vinho a 26 € e ainda mais meia, enquanto na segunda, sem entradas, com apenas uma garrafa de vinho a 10 € e sem cafés, ficámo-nos por uns singelos 20 € por cabeça. Donde se conclui facilmente que é precisamente nas entradas e nos vinhos, mais que nos pratos, que se estabelece a diferença de preços. Mas não custa pagar o que pagámos da primeira vez quando se sai dum restaurante com o nível de satisfação que este nos proporcionou.
Perante este serviço de pratos e de vinhos irrepreensível, a qualidade da confecção e a atenção, afabilidade e simpatia do dono, só podemos considerar este restaurante como excelente. No final de duas visitas, prometemos voltar, não com três dias de intervalo, mas este local tornou-se visita obrigatória para nós. Não é preciso grandes poses para se atingir a excelência - apenas simpatia, competência e qualidade.

tuguinho e Kroniketas, os diletantes preguiçosos

Restaurante: A Petisqueira do Gould
Rua Costa Pinto, 93
2770-213 Paço de Arcos
Telef: 21.443.33.76
Preço médio por refeição: 35 €
Nota (0 a 5): 5

Vinho: Montevalle Reserva 2002 (T)
Região: Douro
Produtor: Bago de Touriga Vinhos Lda.
Grau alcoólico: 13,5%
Castas: Touriga Franca, Tinta Roriz, Tinta Barroca
Preço no restaurante: 26 €
Nota (0 a 10): 7,5

Vinho: Casa de Santar 2003 (T) (garrafa de 375 ml)
Nota (0 a 10): 7

Vinho: Murganheira Branco Seco 2006 (B)
Região: Távora-Varosa
Produtor: Sociedade Agrícola e Comercial do Varosa
Grau alcoólico: 12%
Castas: Malvasia Fina, Cerceal, Gouveio Real
Preço no restaurante: 10 €
Nota (0 a 10): 8

segunda-feira, 29 de janeiro de 2007

No meu copo 83 - Vinha Grande branco 2005

O Vinha Grande 2005 é o primeiro branco da Casa Ferreirinha, actualmente propriedade do grupo Sogrape. Segundo informações apresentadas no guia de João Paulo Martins para 2007 (que naturalmente carecem de confirmação prática), este branco vem substituir o Douro Reserva Sogrape, à semelhança do que vai acontecer com os outros vinhos de reserva da marca, que serão substituídos por outras marcas já existentes na empresa.
Pela parte que me toca, para já acho que não ficamos a ganhar. O Douro Sogrape Reserva branco era um dos nossos brancos preferidos (aliás faz parte das nossas sugestões) e este Vinha Grande não me convenceu. Enquanto aquele apresentava uma boa estrutura e robustez na boca mas era equilibrado no seu conjunto, este Vinha Grande pareceu-me ainda pouco moldado e algo rústico.
Tem uma cor citrina carregada e algum frutado, mas como às vezes acontece nos brancos com madeira, esta pareceu-me um pouco sobreposta aos sabores do vinho. Tem alguma complexidade e poderá bater-se com peixes gordos ou mesmo com algumas carnes brancas, mas achei-o algo áspero.
Definitivamente, não sou grande fã dos brancos com madeira, mas curiosamente, por contraste, depois deste provei um outro branco de que falarei no próximo post e, embora com mais álcool e também com madeira, me pareceu mais bem conseguido.
Quanto a esta substituição dos Reservas Sogrape por outras marcas, a confirmar-se, vamos ver se a maior empresa de vinhos do país conseguirá apostas tão certeiras como foram ao longo de mais de uma década os Reservas Douro, Dão, Bairrada e Alentejo. Vou sentir falta deles. Tenho de fazer um reforço do stock antes que desapareçam.

Kroniketas, enófilo esclarecido

Vinho: Vinha Grande 2005 (B)
Região: Douro
Produtor: Casa Ferreirinha - Sogrape
Grau alcoólico: 13%
Castas: Malvasia Fina, Viosinho, Gouveio

Preço em feira de vinhos: 8,57 €
Nota (0 a 10): 6

domingo, 14 de maio de 2006

Krónikas duma viagem ao Douro - 5

No meu copo, na minha mesa 44 - Planalto; Cacho D’Oiro (Régua)

De passagem por Peso da Régua, uma sugestão dum guia de restaurantes encaminha-nos para o centro da cidade à procura do restaurante Cacho D’Oiro. A procura não é grande, porque aparece uma placa a indicar o restaurante num beco sem saída. Há uns quantos lugares para estacionar, mas é preciso fazer umas quantas manobras para virar o carro no pouco espaço disponível sem bater nos que lá estão.
Franqueada a porta, encontramos um espaço amplo, com escada para um andar superior e mesas em quantidade. É sábado ao almoço, pelo que é fácil sentar, mas a pouco e pouco começam a chegar grupos de pessoas que acabam por lotar o espaço.
A ementa é variada dentro dos pratos normais na região. Escolheu-se uns filetes de polvo e um cabrito assado. Os filetes são tenros e saborosos, mas trazem um acompanhamento pouco adequado, batatas fritas, o que torna necessário pedir arroz branco. Não há mais nenhum, nem de tomate nem de feijão, o que se lamenta. O cabrito cumpre aquilo que sempre se espera deste prato, com acompanhamento de batatas e legumes.
Para acompanhar pediu-se vinho branco Planalto, da Sogrape. É um vinho de cor citrina seco e aromático, frutado quanto baste, com boa acidez que vai muito bem com os filetes e bebe-se de forma gulosa. Não sendo muito leve, acompanha pratos de peixe com algum tempero, mas não convém exagerar. Convém mantê-lo num frappé ou numa manga de refrigeração para que não aqueça durante a refeição.
O atendimento é simpático e eficiente, com pessoal jovem e solícito que responde rapidamente às chamadas. A refeição é satisfatória, mas nada de extraordinário nem de nos deixar de boca aberta. Ou seja, estando na Régua vale a pena ir lá, mas não valerá ir lá de propósito como a Valhelhas para ir ao Vallecula.

Kroniketas, enófilo esclarecido

Restaurante: Cacho D’Oiro
Rua Branca Martinho
5050-292 Peso da Régua
Telef: 254.321.455
Preço médio por refeição: 20 €
Nota (0 a 5): 3

Vinho: Planalto (B)
Região: Douro
Produtor: Sogrape
Grau alcoólico: 12,5%

Castas: Malvasia Fina, Viosinho, Gouveio
Preço em feira de vinhos: 3,95 €
Nota (0 a 10): 7