segunda-feira, 29 de maio de 2006

Krónikas duma viagem ao Douro - 7

Na minha mesa 47 - Ramalhão



De regresso a casa, última paragem para um repasto em local recomendado pelo guia de restaurantes. Descendo de Viseu, dirigimo-nos ao Ramalhão, em Montemor-o-Velho, no caminho entre Coimbra e a Figueira da Foz.
Montemor-o-Velho é uma localidade não muito grande, onde vamos entrando pela rua principal e rapidamente, sem procurar, encontramos um portão com uma placa que tem escrito “Ramalhão”. A entrada é fora do comum: entra-se por um quintal com ar meio desarrumado, subimos umas escadas para o interior duma casa onde encontramos uma casa de banho, continuamos a subir e chegamos a uma porta que dá para outra rua. Temos então que entrar pela esquerda, junto à cozinha, para chegar à sala do restaurante.
A sala é relativamente grande, com um ar meio rústico. A primeira expectativa é prometedora. Começa a desvanecer-se quando um casal já com uma idade respeitável (mais ele do que ela) vem à mesa. Ao contrário dos outros locais por onde passámos, aqui o atendimento é frio e distante. Somos olhados com um ar de desconfiança e parece que nos estão a fazer algum favor. Não há um sorriso, não há um aceno de simpatia, as respostas são secas e ríspidas. Rapidamente começamos a sentir algum incómodo por estar ali.
A ementa é variada e apetitosa, à base de pratos regionais. Pedimos uma dose de cabrito e uma de arroz de galinha vadia, porque os mais jovens comem pouco, o que nos faz ser olhados de soslaio pela reduzida quantidade do pedido. O cabrito mais uma vez cumpriu as expectativas e o arroz de galinha, num género de cabidela em tacho de barro, estava delicioso e malandrinho.
Quanto a bebidas, um singelo Frei João que também fez o papel que dele se espera. Os mais novos querem Ice Tea mas o dono responde rispidamente que “aqui não temos disso, bebem água”.
Começamos a ter vontade de devorar rapidamente a comida para desandar dali para fora. Quando chega a fase das sobremesas, estamos à espera da ementa mas uma necessidade fisiológica obriga a uma deslocação à casa de banho. Ao contrário do normal em locais públicos, esta casa de banho tem toalha de pano onde toda a gente limpa as mãos e tem sabonete de glicerina ao invés de sabonete líquido.
O dono chega entretanto e atira de chofre “eu ia dizer as sobremesas mas como a sua mulher não está cá eu volto depois”. Fico a olhar para ele sem sequer ter tempo de reagir. Quando a família está de novo completa à mesa, não escolhemos nada: ele decide que traz um prato com os vários doces existentes para provarmos um pouco de cada. Assim se fará.
Entre pudins, bolos e tartes despachámos as sobremesas e pagámos a conta. Saímos sem grande vontade de voltar. O almoço foi bom, mas não soube tão bem naquele ambiente tão pouco acolhedor.
Em síntese, na última etapa da viagem podemos criar aquilo que nos tinham pedido na primeira, quando parámos no Almourol: um slogan para o restaurante. E para este é fácil: “se quer ser recebido com simpatia e atenção, não vá ao Ramalhão”.
No final desta visita, ficamos a pensar o que leva os guias de restaurantes a tecer tantos encómios a um local com este tipo de atendimento. Será porque quando lá vão são recebidos nas palminhas, comem do bom e do melhor e se calhar no fim ainda têm a refeição de borla? E nem uma palavra acerca das casas de banho, com utensílios que já não se usam em locais públicos? Não basta que a comida seja boa, é preciso que o cliente se sinta bem onde está e este não foi, definitivamente, o caso.

Kroniketas, enófilo esclarecido

Restaurante: Ramalhão
Rua Tenente Valadim, 24
3140-255 Montemor-o-Velho
Telef: 239.689.435
Preço médio por refeição: 20 €
Nota (0 a 5): 2