Quinta da Ervamoira
Ponto alto da viagem foi a visita à Quinta da Ervamoira, propriedade da casa Ramos Pinto no Douro Superior, situada na zona de Vila Nova de Foz Côa, perto da aldeia de Muxagata, em pleno parque arqueológico. Adquirida em 1974 por José António Ramos Pinto Rosas (descendente do fundador Adriano Ramos Pinto), que sonhou fazer ali um local de eleição para a produção de vinho, esta quinta possui condições de solo e de clima (edafoclimáticas, como dizem os entendidos) quase únicas e é um local privilegiado para o cultivo da vinha. Localizada numa zona montanhosa mas a baixa altitude (cerca de 150 metros), está rodeada de montanhas que criam um microclima propício a um bom amadurecimento das uvas (no pico do Verão as temperaturas na quinta podem atingir os 50º C), o que permite fazer a vindima muito mais cedo do que na maioria das outras quintas da Região Demarcada do Douro. É um dos locais que teriam ficado submersos pela Barragem de Foz Côa, se esta tivesse sido construída. Depois de visitá-la, só podemos dizer: ainda bem que não fizeram a barragem!
A Casa Ramos Pinto foi fundada em 1880 por Adriano Ramos Pinto e é conhecida sobretudo como produtora de vinho do Porto, de que podemos encontrar variadíssimas marcas no mercado, tendo mesmo uma garrafa de Porto Ramos Pinto sido enviada no avião de Gago Coutinho e Sacadura Cabral quando estes realizaram a travessia do Atlântico Sul. Foi já na Quinta da Ervamoira, uma das quatro que a Ramos Pinto possui na Região Demarcada do Douro (as outras são a Quinta dos Bons Ares, a Quinta do Bom Retiro e a Quinta da Urtiga), que a Ramos Pinto começou a produção de vinho de mesa, precisamente com a colheita de 1990 do Duas Quintas (que tive o privilégio de conhecer), a que já fizemos referência no início da existência deste blog.
Sob a direcção de João Nicolau de Almeida, sobrinho de José Rosas e filho de Fernando Nicolau de Almeida (o criador do famoso Barca Velha, produzido pela Casa Ferreirinha a partir da Quinta da Leda, situada ali perto, na freguesia de Almendra), que é simultaneamente administrador e enólogo na Ramos Pinto, nos 200 hectares da Quinta da Ervamoira foram plantados de raiz 180 hectares de vinha, com grande predominância de uvas tintas de que foram seleccionadas as 5 melhores castas recomendadas para a região: Touriga Nacional, Tinta Roriz, Touriga Fancesa, Tinta Barroca e Tinto Cão. Esta vinha é considerada um modelo na região do Douro pois foi, segundo os seus responsáveis, a primeira a ser plantada com as vinhas ao alto (em vez dos habituais socalcos na horizontal das encostas mais íngremes) e com as castas separadas por talhões.
Na Quinta da Ervamoira o visitante sente-se num local paradisíaco, em perfeita comunhão com a natureza, onde apetece ficar sentado a contemplar aquela imensidão de vinha tão bem organizada e a perder de vista, numa perfeita harmonia com a paisagem envolvente. Ouvidas as explicações da guia, quase nos sentimos tentados a ir para lá ajudar no que deve ser um trabalho fascinante. João Nicolau de Almeida manda proceder a análises das uvas diariamente durante o período da vindima, o que determina os talhões onde as uvas vão sendo colhidas em função da sua maturação e grau alcoólico. As uvas seleccionadas durante a vindima são transportadas para a Quinta dos Bons Ares, situada mais a Oeste, onde a Ramos Pinto possui um dos seus centros de vinificação. Para produzir o Duas Quintas são vinificadas também as uvas desta quinta, dando então origem ao Duas Quintas (branco e tinto). Da Ervamoira também saem uvas para vinhos do Porto, havendo até um Tawny de 10 anos com o nome da própria quinta.
Para além da contemplação da paisagem, a visita inicia-se numa casa-museu onde nos é contada a história da Ramos Pinto e da própria quinta, que antes de pertencer à Ramos Pinto tinha o nome de Quinta de Santa Maria. Nela estão presentes variados achados arqueológicos para além de diversas ilustrações sobre o ciclo de cultivo da vinha, da história da quinta e dos vinhos da casa. No final é feita uma prova de vinho do Porto acompanhada de castanhas com amêndoa. Para grupos numerosos a prova pode contemplar um Porto Vintage com explicações detalhadas sobre a produção do vinho e há também a opção de fazer um almoço regional na quinta, desde que haja número suficiente de interessados.
Depois de sair da Quinta da Ervamoira sentimo-nos mais ricos e sabedores. Embora longe, fica uma certa nostalgia de nos virmos embora e uma secreta vontade de um dia lá voltar. Talvez numa fase mais adiantada de maturação das uvas ou até após a época da vindima, quando as cores das folhas que vão morrendo a pouco e pouco enchem as encostas duma multiplicidade de tonalidades admiráveis.
Até um dia!
Kroniketas, enófilo esclarecido
PS: Sugre-se a utilização dos links assinalados para consulta de mais informações acerca da Casa Ramos Pinto, da Quinta da Ervamoira e das outras quintas (com fotografias e mapas de localização) e dos vinhos da casa.
quarta-feira, 3 de maio de 2006
Krónikas duma viagem ao Douro - 3
Publicada por Krónikas Vinícolas à(s) 23:50
Etiquetas: Ervamoira, Ramos Pinto, Viagens
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