domingo, 6 de maio de 2007

Krónikas duma viagem a Paris - 2















No último dia em Paris tive oportunidade de deslocar-me a um supermercado para ver os preços dos vinhos. Curiosamente, era de um grupo que também está em Portugal, o Auchan, proprietário dos hipermercados Jumbo.
Se em Portugal a oferta de marcas e regiões já é por muitos considerada excessiva, ao pé do que se vê em França não é nada. As denominações de origem, que aqui são fáceis de identificar, em França têm uma panóplia de variações com as sub-regiões e os tipos de vinho que deixam qualquer um menos informado completamente à nora.
Em Bordéus, por exemplo, podem aparecer vinhos do Médoc ou de Saint-Emilion, duas das sub-regiões. Depois há as várias classificações (como os Premier Cru, Grand Cru, etc), que definem a categoria do vinho, provavelmente como cá os Reserva e os Garrafeira, e que variam conforme a região. Isto só olhando de relance, porque as variantes são imensas. No meio de tantas designações por vezes não é fácil perceber de que região se trata a não ser pela indicação “Appellation Contrôlée”, onde normalmente consta o nome da região a que a denominação de origem se refere.
O mais notável nas centenas de vinhos presentes nas prateleiras foi o nível de preços praticados. Em todas as regiões, com excepção de Champagne, existem vinhos a 2, 3, 4, 6 euros. Brancos, tintos e rose. São poucos os que ultrapassam os 10 euros e ainda menos os que ficam acima dos 20 euros.
Não sei se a imensa galeria de vinhos que encontrei é representativa dos vinhos franceses, pois certamente, lá como cá, haverá garrafeiras especializadas onde se encontram as raridades a preços mais caros. Mas o que mais me surpreendeu foi ver que a percentagem de vinhos acima dos 5 euros é muitíssimo inferior ao que vemos por cá. Ora sabendo-se que se trata do país vinícola mais famoso do mundo, não deixa de espantar que essa fama não seja usada para inflacionar os preços. Pelo menos é a isso que estamos habituados por cá, onde basta um vinho ganhar fama para duplicar o preço, e às vezes já é caro antes de ter fama.
Deste modo, parece-me que não será apenas pelos maiores volumes de produção que os preços são mais baixos, mas antes pela política de preços praticada quer pelos produtores quer pelos revendedores. Sempre me pareceu que em Portugal se exagera nos preços de modo injustificado e não deixa de ser um pouco amargo verificar que para lá dos Pirinéus se pode comprar vinho mais facilmente a preços acessíveis. Talvez os nossos produtores devessem ir lá aprender alguma coisa.
Dadas as limitações agora existentes para o transporte de líquidos nos aviões, e com muita pena minha, não podendo trazer vinho como bagagem de mão limitei-me a comprar duas garrafas de vinho branco da Alsácia, um da casta Riesling e outro da casta Gewurztraminer, a preços entre os 4 e os 6 euros. E vieram bem embrulhadas dentro da mala de roupa, felizmente chegando cá inteiras...
Quero ainda destacar aquilo que vi numa montra, algures por Montparnasse: uma caixa de vinhos com um champanhe Brut Premier e um vinho do Porto 10 anos da Ramos Pinto, por 60 euros. Noutra caixa estão várias bebidas entre as quais um Porto Dow’s 10 anos. É verdade, estão ali as fotos a confirmá-lo. Os franceses consideram o vinho do Porto ao mesmo nível do seu próprio champanhe. É notável.

Kroniketas, enófilo viajante