quinta-feira, 31 de maio de 2007

Prova à Quinta - O sétimo


Pera-Manca branco 2003; Periquita 2004

Para este desafio lançado em tempo oportuno pelo Vinho da Casa, para encontrar vinhos produzidos por casas com mais de 20 anos, resolvemos seleccionar dois vinhos, a exemplo do que já fizemos nos dois desafios anteriores, em que apresentámos 4 na prova de Cabernet Sauvignon e 2 na prova de brancos varietais. Escolhemos um branco e um tinto com tradição secular: o Pera-Manca e o Periquita.

No caso do Pera-Manca, estamos perante um dos vinhos brancos mais famosos (e caros) do país. Já existe desde o século XV e obteve medalhas de ouro em Bordéus nos já longínquos anos de 1897 e 1898. Contudo, andei anos (não desde o século XV...) para me decidir a comprá-lo por duvidar que valesse o elevado preço que custa, até pela minha desconfiança em relação aos brancos alentejanos, que já tive oportunidade de referir em mais que uma ocasião. Mas como a vida também é feita de alguns mitos, por vezes é preciso ir ao seu encontro para sabermos da razão ou não da sua existência. No caso dos vinhos trata-se, tão-somente e na maior parte dos casos, de abrir os cordões à bolsa.
Este foi comprado numa feira de vinhos em 2004 e ficou à espera de uma oportunidade que justificasse abri-lo. Foi num almoço de família à volta dum pargo assado no forno, tendo havido o cuidado de o refrescar de véspera, para garantir que à hora de bebê-lo não íamos encontrar um vinho meio morno.
Perante tão grande expectativa, o mínimo que posso dizer é que o vinho não defraudou. De facto, apresenta alguma elegância que é raro encontrar nos brancos alentejanos, sem deixar de fazer prevalecer um corpo com alguma pujança, um aroma frutado e complexo em equilíbrio com uma boa acidez, que resultam num fim de boca fresco e prolongado. Sem dúvida um vinho adequado para pratos de peixe elaborados, como o pargo ou o bacalhau no forno. Feito com 85% de Antão Vaz e 15% de Arinto, a sua boa estrutura e acidez permitem uma boa ligação com os sabores intensos e a gordura destes pratos. Como ainda não o tinha provado, não sei se mudou o perfil ou não, mas não é, seguramente, um vinho da moda.
Continuo, contudo, a ser mais fã de outro tipo de brancos, mas não rejeito a hipótese de voltar a este Pera-Manca, porque estes brancos também fazem falta. E também podemos deliciar-nos com a arte do rótulo, que é uma coisa rara. Como entretanto mudaram o rótulo, esta garrafa ficou como recordação.

No caso do Periquita, é apenas a marca de vinho mais antiga comercializada em Portugal, desde 1850, daí a razão da nossa escolha. Segundo a José Maria da Fonseca, é também o vinho tinto português mais vendido no estrangeiro. Também há algum tempo que não o consumia, mas o vinho modernizou-se um pouco, seguindo agora o perfil dos vinhos com muito álcool (embora sem exagero, apesar de tudo), com algum frutado. Na boca é medianamente encorpado com taninos suaves e bem integrados com um toque discreto de madeira e apresenta um fim prolongado, com bastante especiaria. É um vinho que pede pratos grelhados ou assados com algum condimento, embora sem exageros.
A garrafa também se modernizou, passando da tradicional borgonhesa que durante décadas marcou a imagem do vinho para a bordalesa que ostenta agora. Sendo agora um vinho mais moderno, não sei, contudo, se é melhor do que era. Se calhar tornou-se igual a muitos outros.

Kroniketas, enófilo esclarecido

Vinho: Pera-Manca 2003 (B)
Região: Alentejo (Évora)
Produtor: Fundação Eugénio de Almeida - Adega da Cartuxa
Grau alcoólico: 14%
Castas: Antão Vaz, Arinto
Preço em feira de vinhos: 12,89 €
Nota (0 a 10): 8

Vinho: Periquita 2004 (T)
Região: Terras do Sado
Produtor: José Maria da Fonseca
Grau alcoólico: 13%
Castas: Castelão, Aragonês, Trincadeira
Preço em feira de vinhos: 3,29 €
Nota (0 a 10): 6