Os leitores habituais certamente se recordam do escrito do Kroniketas, nos idos de Abril do ano passado, sobre a Quinta da Ervamoira. Não vou repetir a sua prelecção, agora que esta outra metade das Krónikas Vínicolas visitou também a dita quinta, mas vou deixar aqui as minhas impressões e algumas curiosidades sortidas.
Teve o escriba sorte e azar nesta visita. Sorte porque chovera no dia anterior (ali na quinta, 1mm) e assim as temperaturas de Agosto daquela zona apareceram amenizadas, não mais de 30º. Azar porque devido a essa mesma chuva a vindima, que devia ter sido iniciada no dia da visita, foi adiada quatro dias. Portanto não suámos mas não vindimámos também.
Convém dizer que o acesso à quinta se faz por uma estradinha de terra batida com cerca de oito quilómetros e que, portanto, é mesmo melhor ir no jipe da propriedade, que até já está incluído no preço da visita. O trajecto até inclui o atravessamento da Ribeira de Piscos, que por ali serpenteia.
Tal como o Kroniketas, a nossa visita iniciou-se pelo espaço museológico, espalhado por várias salas da casa da quinta, que conjuga a informação sobre o vinho e a sua produção com os artefactos arqueológicos da villa romana que foi descoberta na propriedade. O último espaço dentro de portas é a loja, na qual podemos ver as garrafas dos vinhos de mesa e do Porto que podemos adquirir, por preços bem simpáticos. Integrando desde 1990 o grupo francês Roederer, também este champanhe pode ser adquirido na loja. Os vinhos, esses não estão ali, e sim numa garrafeira integrada na casa da quinta, com temperatura controlada de 18º. Um cuidado que se salienta.
A visita terminou longamente, visto que incluíramos almoço na dita cuja. Havia-se escolhido um menu simples, com entrada de melão e presunto, um arroz de pato como prato principal, e um gelado de amêndoa caseiro a finalizar. Bebeu-se o Duas Quintas Celebração e à sobremesa o Quinta da Ervamoira Tawny 10 Anos.
Não pretendo fazer nesta peça uma prova destes vinhos (mas fiquem descansados que os escribas deste retiro têm em stock tanto um como outro, para se fazer uma prova bem fundamentada), mas digo-vos que o Celebração, que pretende estar entre o Duas Quintas “normal” e o Reserva, se mostrou pujante, de cor aberta e com taninos domados mas bem presentes, a mostrar que tem estaleca para se aguentar por uns tempos; e que o Tawny, que já conhecia, se mostrou complexamente aromático e ligeiramente seco, e foi servido à temperatura certa. Ficam prometidas as provas.
Uma palavra para o local onde são servidas as refeições, uma espécie de alpendre por onde entra o silêncio mas não o calor, e que dá uma dimensão especial à refeição ali tomada. Depois do almoço terminado foi possível ficar por ali a morangar e também calcorrear as vinhas e apanhar uns quantos cachos bem madurinhos.
Acabo com duas curiosidades.
Este Duas Quintas Celebração pretende comemorar um não-acontecimento: a não construção da barragem no Côa, que deixaria a quinta mais apta para a aquicultura do que para o vinho, sendo portanto um vinho especial e não uma marca nova para integrar o portfólio da Ramos Pinto.
Finalmente (Kroniketas, deixaste passar esta), uma palavra para o nome da quinta. Não foi por quererem que o nome original de Quinta de Santa Maria foi alterado para Quinta da Ervamoira – foi porque já existia uma quinta com o mesmo nome registada anteriormente. E porquê Ervamoira? O nome vem dum romance de uma senhora francesa, Suzanne Chantal, cuja acção se passava no Douro e cujo nome era… “Ervamoïra”! Só foi tirar a trema do “i” e ficou-se com o nome…
Pode ser que um dia destes se volte lá, o bando completo. Eu não me importo nada…
tuguinho, enófilo esforçado
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