Decorre no blog Vinho a copo uma interessante discussão por causa duma opinião ali expendida pelos seus autores acerca dos vinhos sem indicação da data de colheita. Deixem-me meter a colherada, mas prefiro fazê-lo aqui do que na caixa de comentários, pois há mais espaço para escrever... e para ler.
À partida não concordo muito com o princípio da data de validade pelas razões já amplamente expostas, pois vinhos como um Dado ou um Duas Quintas Celebração (só para falar de dois que estão agora no mercado) à partida dão-nos garantias de qualidade e de uma boa evolução em garrafa. Por quanto tempo, isso já é muito mais incerto, pois as surpresas tanto podem surgir pela positiva como pela negativa.
Mas quando se abre uma garrafa de vinho com 20 anos, este tanto pode estar feito vinagre como estar uma pomada fabulosa, coisa que só depois de abrir é que se sabe. E isso, meus amigos, não há data de validade que resolva. Além de que há quem goste de vinhos novos e de vinhos velhos. Ainda há uns meses bebi um Dão Meia Encosta de 73, no Curral dos Caprinos, que estava fantástico, mas só eu é que gostei dele. E se tivesse prazo de validade ultrapassado, será que alguém o ia beber?
O problema, quanto a mim, reside a montante, na ausência de data de colheita nos rótulos, por imposição legal. Se repararem no rótulo do Dado, é referido expressamente que a lei não permite, nos vinhos de mesa (i. e., sem denominação de origem) a menção às castas utilizadas nem ao ano de colheita, o que acho uma completa estupidez. Assim, toda a gente que acha que o Dado é um vinho excepcional não tem qualquer informação no rótulo sobre as suas características. Faria sentido ter prazo de validade? E o Duas Quintas Celebração, porque não seguiu lá as normas todas para ser DOC ou Regional, deveria ter prazo de validade? Quanto a mim, não. Então e o Mateus? Será que deveria, apenas porque é um vinho de grande consumo e custa 10 vezes menos que o outro? Não pode ser esse o critério. Quando muito, poderia fazer sentido nesses embalados em bag-in-box, ou em pacotes de cartão, ou em garrafão. Mas se todos tivessem uma data de colheita ou, em sua substituição, a data em que foi produzido ou engarrafado, as coisas tornavam-se bem mais simples. Assim como está, ninguém pode rejeitar um Mateus pela idade que tem, ao contrário dos datados. O busílis reside todo aqui.
Data de colheita, de produção ou de engarrafamento, sim. Prazo de validade, não, excepto, talvez, nos exemplos apontados acima.
Quanto ao facto de a Revista de Vinhos classificar ou não estes vinhos, lá está: não teríamos uma classificação do Dado nem do Mateus. Alguém ficaria a ganhar com isso?
Parece-me uma boa discussão para continuar no próximo encontro de Eno-blogs, não acham?
domingo, 16 de setembro de 2007
Vinhos sem data de colheita. E com prazo de validade?
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