Volto a este tema porque de vez em quando a questão é levantada na blogosfera. O mês passado, antes de ir para férias, deixei um apontamento acerca da “retoma dos brancos” que tinha sido levantada há um ano, depois de ter provado um Quinta de Camarate branco seco de 2007 que me encheu as medidas.
De repente dei por mim a provar uma diversidade de brancos nacionais que julgaria impensável há pouco mais de um ano. Mas não há dúvida que algumas descobertas recentes fizeram-me encarar o panorama de forma diferente. Para isso terão contribuído algumas visitas a restaurantes com o tuguinho onde nos foram sendo sugeridos brancos que ainda não conhecíamos ou de que andávamos afastados. Mais surpreendente ainda, comecei a ver-me tentar fugir à “ditadura” dos tintos, quebrando todos os cânones mais tradicionais. Acho que o tempo quente é propício a isso, mas apetecia-me beber brancos ou rosés mesmo quando estava perante um prato de carne. Ainda antes da partida para as férias algarvias fui almoçar fora com os meus filhos perto de casa e com uns escalopes com cogumelos resolvi pedir um Quinta da Alorna rosé! E como me soube bem aquela garrafa! De tal modo que bebi mais de ¾ sozinho e levei o resto para casa…
Serei eu que estou com mais abertura para os vinhos brancos e por isso gosto mais deles, ou serão os brancos nacionais que estão claramente melhores? Ou será que estou com maior abertura porque eles estão efectivamente melhores? Acho que as duas situações se conjugam. Como já aqui referi há tempos, na segunda visita que fizemos aos Arcos sugeri ao tuguinho que bebêssemos um “branco fresquinho” enquanto esperávamos pelo prato principal, e assim nos regalámos com meia-garrafa de Planalto.
Olhando para o resumo da segunda centena de provas verifiquei que as repetições em relação à primeira centena foram de valores mais que confirmados e as novidades foram quase todas de muito bom nível, e nos verdes em particular a qualidade média é bastante elevada. A maioria das pontuações que demos foi de 7,5 para cima, o que não deixou de me surpreender. Por outro lado, a pontuação média passou de 6,6 para 7,5, o que é significativo tendo em conta que o número de provas de brancos nesta segunda centena duplicou (de 14 para 29), e a pontuação mais frequente passou de 6,5 para 7,5.
Tivemos algumas boas novidades como o Kopke, o Loboseiro, o Quinta de S. Francisco e o Albis e uma série de confirmações ou melhorias como os inevitáveis João Pires, Bucellas Caves Velhas, Prova Régia e Planalto, mais os reaparecidos Murganheira e Quinta de Camarate seco, além de excelentes verdes como o Borges, o Deu La Deu, o Portal do Fidalgo nos Alvarinhos, mais o Quinta do Ameal e o Quinta de Azevedo.
Olhando para o preço destes vinhos verifico que são quase todos bastante acessíveis, nada de exorbitâncias, e no entanto são vinhos bastante agradáveis, que certamente não envergonham ninguém quando os servir, com o bónus de serem moderadamente alcoólicos, o que é outra vantagem relativamente aos tintos de agora. Daqui se conclui que não é preciso grandes complicações nem andar à procura nos lugares mais recônditos para comprar brancos agradáveis. Acho que acabei por descobrir neste tipo de brancos (e também nos novos rosés) as vantagens de alguma versatilidade que os tintos dificilmente proporcionam. É mais fácil beber um branco com um prato de carne não muito pesado do que um tinto com aperitivos, peixes, mariscos ou saladas.
O que é preciso é descobrir o perfil de branco adequado para a ocasião e para o gosto de cada um. Eu, que já não sou grande fã de muita madeira nos tintos, definitivamente não aprecio brancos com madeira, salvo algumas excepções. Esses, normalmente, não os peço nem os compro.
Kroniketas
quinta-feira, 18 de setembro de 2008
Eu, enófilo, me confesso: gosto cada vez mais de brancos
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