sábado, 28 de outubro de 2006

No meu copo 63 - Quinta de Cabriz, Experiência VL-1 1999



Odeio pargo! Convém especificar que é apenas quando cozido, porque adoro um bom pargo legítimo assado no forno! E foi precisamente esse o prato que acompanhou o vinho de que aqui vou falar. Bem assadinho, coberto de cebola às rodelas e com batatinhas aos cubos bem embebidas no molho que, como não podia deixar de ser, também leva vinho.
Esta experiência da Quinta do Cabriz foi uma espécie de vinho em sentido contrário ao que se devia fazer. Como diz no contra-rótulo: “Em vez de mosto de gota usámos mosto de prensa; em vez de corrigir a acidez optámos por manter o desequilíbrio dos ácidos; em vez de fermentar abaixo de 20°, fermentou bem acima; em vez de 3 meses de madeira, teve exactamente um ano! É um vinho difícil, mas estimula-nos os sentidos.” - Virgílio Loureiro, o seu criador, dixit!*
Esta garrafa foi-me oferecida pelo Continente (Obrigado Doutor Belmiro! E ainda dizem que é forreta, veja lá!), no âmbito do seu Clube de Vinhos, já nos idos de 2002. A cor era dourada, a denunciar o prolongado contacto com a madeira. O aroma era discreto e não muito atractivo, mas sem odores estranhos, bastante limpo.
Na boca revelou-se excelente, com os 13 graus de álcool discretos e elegantemente casados com a madeira, também ela nada impositiva. Um fim de boca que muitos tintos não possuem concluiu as manifestações deste bom vinho nos meus sentidos.
É actuando assim que se evita que todos os vinhos fiquem iguais. Podem não se conquistar os clientes que procuram sempre o mesmo, mas de certeza que se vão ganhar outros que se tornarão fiéis.
A moda por vezes pode ser uma ditadura. E as ditaduras têm de ser contrariadas. Quase sempre dá bons resultados.

tuguinho, enófilo esforçado

Vinho: Quinta do Cabriz Experiência VL-1 1999 (B)
Região: Dão
Produtor: Dão Sul, Sociedade Vitivinícola - Quinta de Cabriz
Grau alcoólico: 13%
Preço: não foi comercializado
Nota (0 a 10): 7


* Virgílio Loureiro é um dos enólogos mais reputados do país. Professor no ISA, doutorado em Microbiologia Alimentar e especialista em Análise Sensorial, tem uma paixão pelo Dão, donde é originário, e pelos vinhos brancos, de que resulta esta experiência que baptizou com as suas iniciais. Colabora no Clube de Vinhos do Continente e na selecção dos vinhos para a Feira de Vinhos.