Foi com alguma expectativa que me desloquei a este restaurante às portas de Lisboa, na localidade de Queijas, entre Carnaxide e o Estádio Nacional. Havia muitas e boas referências ao mesmo, quer em termos da comida quer da garrafeira, e até das possibilidades de conseguir uma vaga, pois só com marcação se consegue lá ir. E às vezes, quando as expectativas são muito altas, acabam por sair defraudadas.
Não digo que a minha visita ao Orelhas tenha sido decepcionante, mas ficou um pouco aquém do esperado. Desde logo, um aspecto desagradável é a má renovação do ar, pois os cheiros da cozinha, que fica à vista da sala, vão-se acumulando tornando-se um pouco sufocantes e entranhando-se na roupa. Quando se sai de lá, todos nós cheiramos a fumo de fritos ou grelhados.
Em termos de atenção, dificilmente seria melhor. Os empregados estão sempre em cima do acontecimento e respondem aos pedidos com rapidez. Nessa atenção está incluída a sugestão dos pratos e dos vinhos a escolher. E aqui é que as coisas se passam de modo diferente do habitual. Não há uma ementa para escolher: somos perguntados se queremos carne ou peixe e em função da preferência são dadas 2 ou 3 opções, que no caso da carne era só uma, costeletas de cabrito fritas em azeite e alho, em que recaiu a minha preferência. No caso do peixe, a escolha (largamente maioritária, aliás), foi robalo grelhado.
No meu caso as costeletas de cabrito cumpriram satisfatoriamente a função mas esperava mais, dada a qualidade da matéria-prima. Do robalo não posso falar porque não o provei, mas sei que 11 pessoas pagaram cerca de 255 € pelo peixe!
No caso dos vinhos, outra grande fama da casa, é de ficar sem respiração: a vasta carta, bem recheada com vinhos de qualidade de todas as regiões, é completamente proibitiva em termos de preços. A esmagadora maioria dos vinhos estão listados a mais de 100 € a garrafa, sendo que não mais de 5, no total, custavam menos de 20 €. Seguramente mais de 90% das opções custam mais de 50 €. Um despautério!
Assim sendo, as escolhas para quem não quer pagar por uma garrafa de vinho mais que o preço de todo o jantar, tem pouco por onde escolher. A nossa escolha seria um Duas Quintas branco, a 14 €, e um Monte da Peceguina tinto, a 15 €, mas o empregado que nos atendeu orientou-nos noutro sentido, e trouxe um Três Bagos, de Sauvignon Blanc, e um Herdade dos Grous.
O Três Bagos não agradou a ninguém. Um sabor enjoativo, demasiado amanteigado, e pouco aroma. Uma surpresa pela negativa. Tendo em conta experiências anteriores com esta casta, e à semelhança da Chardonnay, começo a desconfiar que estas castas brancas francesas não têm grandes condições para dar bons vinhos em Portugal, ao contrário das tintas, talvez devido ao clima. Provavelmente precisam de climas mais frios para darem vinhos com maior frescura e suavidade, ao passo que as tintas beneficiam de maior calor para dar vinhos mais macios. Recordo que ainda o ano passado bebi dois excelentes vinhos franceses destas castas, e não deve ser por acaso que não gostei das versões portuguesas.
Quanto ao tinto, um dos recentes vinhos alentejanos, de Albernoa, entre Beja e Castro Verde, portou-se bem. De cor carregada, aroma frutado, encorpado e macio na boca. Feito a partir das castas Aragonês, Alicante Bouschet, Syrah e Touriga Nacional, apresenta uma acidez bem equilibrada com a madeira e com o álcool, que foge à tendência actual do exagero, ficando-se por uns razoáveis 13,5 graus, que não abafam os aromas e paladares do vinho. Não me parecendo excepcional, mostrou-se elegante e equilibrado, tendo todas as condições para agradar. É um vinho de perfil moderno, fácil de beber já, que certamente vai merecer novas oportunidades de prova.
Globalmente, a refeição foi agradável mas as diversas condicionantes apontadas fizeram com que as expectativas saíssem algo defraudadas. As escolhas são demasiado limitadas e os preços, definitivamente, não são nada meigos. Por um preço semelhante comemos bem mais e melhor na Travessa do Rio.
Kroniketas, enófilo esforçado
Restaurante: O Orelhas
Rua Cesário Verde, 80 - Loja F
2795 Queijas
Telef: 21.416.45.97
Preço médio por refeição: 35 €
Não digo que a minha visita ao Orelhas tenha sido decepcionante, mas ficou um pouco aquém do esperado. Desde logo, um aspecto desagradável é a má renovação do ar, pois os cheiros da cozinha, que fica à vista da sala, vão-se acumulando tornando-se um pouco sufocantes e entranhando-se na roupa. Quando se sai de lá, todos nós cheiramos a fumo de fritos ou grelhados.
Em termos de atenção, dificilmente seria melhor. Os empregados estão sempre em cima do acontecimento e respondem aos pedidos com rapidez. Nessa atenção está incluída a sugestão dos pratos e dos vinhos a escolher. E aqui é que as coisas se passam de modo diferente do habitual. Não há uma ementa para escolher: somos perguntados se queremos carne ou peixe e em função da preferência são dadas 2 ou 3 opções, que no caso da carne era só uma, costeletas de cabrito fritas em azeite e alho, em que recaiu a minha preferência. No caso do peixe, a escolha (largamente maioritária, aliás), foi robalo grelhado.
No meu caso as costeletas de cabrito cumpriram satisfatoriamente a função mas esperava mais, dada a qualidade da matéria-prima. Do robalo não posso falar porque não o provei, mas sei que 11 pessoas pagaram cerca de 255 € pelo peixe!
No caso dos vinhos, outra grande fama da casa, é de ficar sem respiração: a vasta carta, bem recheada com vinhos de qualidade de todas as regiões, é completamente proibitiva em termos de preços. A esmagadora maioria dos vinhos estão listados a mais de 100 € a garrafa, sendo que não mais de 5, no total, custavam menos de 20 €. Seguramente mais de 90% das opções custam mais de 50 €. Um despautério!
Assim sendo, as escolhas para quem não quer pagar por uma garrafa de vinho mais que o preço de todo o jantar, tem pouco por onde escolher. A nossa escolha seria um Duas Quintas branco, a 14 €, e um Monte da Peceguina tinto, a 15 €, mas o empregado que nos atendeu orientou-nos noutro sentido, e trouxe um Três Bagos, de Sauvignon Blanc, e um Herdade dos Grous.
O Três Bagos não agradou a ninguém. Um sabor enjoativo, demasiado amanteigado, e pouco aroma. Uma surpresa pela negativa. Tendo em conta experiências anteriores com esta casta, e à semelhança da Chardonnay, começo a desconfiar que estas castas brancas francesas não têm grandes condições para dar bons vinhos em Portugal, ao contrário das tintas, talvez devido ao clima. Provavelmente precisam de climas mais frios para darem vinhos com maior frescura e suavidade, ao passo que as tintas beneficiam de maior calor para dar vinhos mais macios. Recordo que ainda o ano passado bebi dois excelentes vinhos franceses destas castas, e não deve ser por acaso que não gostei das versões portuguesas.
Quanto ao tinto, um dos recentes vinhos alentejanos, de Albernoa, entre Beja e Castro Verde, portou-se bem. De cor carregada, aroma frutado, encorpado e macio na boca. Feito a partir das castas Aragonês, Alicante Bouschet, Syrah e Touriga Nacional, apresenta uma acidez bem equilibrada com a madeira e com o álcool, que foge à tendência actual do exagero, ficando-se por uns razoáveis 13,5 graus, que não abafam os aromas e paladares do vinho. Não me parecendo excepcional, mostrou-se elegante e equilibrado, tendo todas as condições para agradar. É um vinho de perfil moderno, fácil de beber já, que certamente vai merecer novas oportunidades de prova.
Globalmente, a refeição foi agradável mas as diversas condicionantes apontadas fizeram com que as expectativas saíssem algo defraudadas. As escolhas são demasiado limitadas e os preços, definitivamente, não são nada meigos. Por um preço semelhante comemos bem mais e melhor na Travessa do Rio.
Kroniketas, enófilo esforçado
Restaurante: O Orelhas
Rua Cesário Verde, 80 - Loja F
2795 Queijas
Telef: 21.416.45.97
Preço médio por refeição: 35 €
Nota (0 a 5): 3,5
Vinho: Três Bagos, Sauvignon Blanc 2003 (B)
Região: Douro
Produtor: Lavradores de Feitoria
Grau alcoólico: 13,5%
Casta: Sauvignon Blanc
Vinho: Três Bagos, Sauvignon Blanc 2003 (B)
Região: Douro
Produtor: Lavradores de Feitoria
Grau alcoólico: 13,5%
Casta: Sauvignon Blanc
Preço no restaurante: 14 €
Nota (0 a 10): 4
Vinho: Herdade dos Grous 2004 (T)
Região: Alentejo (Albernoa)
Produtor: Herdade dos Grous
Grau alcoólico: 13,5%
Castas: Alicante Bouschet, Aragonês, Touriga Nacional, Syrah
Nota (0 a 10): 4
Vinho: Herdade dos Grous 2004 (T)
Região: Alentejo (Albernoa)
Produtor: Herdade dos Grous
Grau alcoólico: 13,5%
Castas: Alicante Bouschet, Aragonês, Touriga Nacional, Syrah
Preço em feira de vinhos: 8,40 €
Nota (0 a 10): 7
Nota (0 a 10): 7
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