domingo, 1 de julho de 2007

No meu copo 125 - Casa Ferreirinha Reserva 96, Quinta da Leda 2001, Callabriga 2000


Estes estavam à espera duma oportunidade. Desde há cerca três anos, quando descobrimos o Callabriga e o Quinta da Leda, começámos a apostar na gama de vinhos da Casa Ferreirinha, mais propriamente naqueles que se situam nos patamares do meio para cima (acima do Esteva e do Vinha Grande e abaixo do Barca Velha).
Para estas provas reservámos duas garrafas de cada e fizemo-las separadamente ao longo dos últimos meses, reunindo os “Comensais Dionisíacos”, já com o Politikos, a aquisição mais recente, na equipa titular.

Comecemos por cima, pelo filho bastardo do Barca Velha, ou aquele que não chegou a sê-lo mas que poderia lá ter chegado: o Reserva 96, que já se chamou Reserva Especial, mais tarde só Reserva, e agora apenas Colheita. Tudo no ponto certo: os decanters limpos e arejados (um para cada garrafa), os copos de pé alto e boca larga, em forma de tulipa, a temperatura de serviço, os sedimentos deixados no fundo da garrafa. Para que nada falhasse. Afinal, o momento era solene e era a estreia absoluta nos nossos copos. À espera, um cabritinho do Alto Alentejo assado no forno com todos os requisitos e acompanhado com um belíssimo arroz de miúdos confeccionado especialmente pela senhora-mãe do Mancha Negra.
Começou por mostrar uma cor rubi ligeiramente atijolada e aromas discretos a fruta madura. Macio na boca, final de duração média, corpo na mesma. A primeira garrafa ainda teve alguma evolução no decanter, pelo que a segunda foi decantada com maior antecedência. Surpreendentemente, esta revelou-se menos exuberante e, longe de ganhar com o tempo de abertura, pareceu esvair-se. Dos três, este é o vinho mais suave (até pela idade), mas quando se esperava que desse o salto para cima… pareceu morrer nos copos. Declínio ou necessidade de esperar mais tempo? Também há mais duas garrafas, teremos que deixá-las esperar mais um ano, dois, cinco ou dez?
No final, o sentimento foi unânime: esperava-se mais deste vinho, que acabou por ficar aquém das expectativas. Sem dúvida que eram altas, mas não correspondeu de todo. Será que houve ali... preconceito?

Segue-se na escala o Quinta da Leda 2001. Foi a grande descoberta de há uns 3 anos no Encontro com o Vinho e logo ali o achámos excepcional. O preço também o é, mas é daqueles vinhos que nos enchem as medidas até mais não poder. Ou era...
O processo seguido foi o mesmo: decantado previamente, com antecedência suficiente para libertar os aromas mais profundos. Copos e temperatura adequados e a outra metade do cabrito assado no forno acompanhado com batatinhas e grelos, desta vez confeccionado pela senhora-mãe do tuguinho. A primeira garrafa foi decantada com duas horas de antecedência em relação à hora de consumo e foi uma completa decepção. Logo no aroma se verificou alguma falha, com o bouquet muito discreto e a prova a confirmá-lo, com um corpo surpreendentemente delgado e um final curto.
Não lhe tendo feito bem a decantação, optámos por não decantar a segunda garrafa, abrindo imediatamente antes de beber, para ver como se comportava. Igual. Ainda pareceu apresentar inicialmente algum vigor, mas rapidamente se esvaiu. A grande complexidade que lhe conhecíamos não estava lá de todo. Foi a grande decepção desta tripla prova. Perante isto, só nos resta esperar para provar a colheita seguinte de que dispomos, a de 2004. Pode ser que tenha sido apenas azar com o ano. Senão, os quase 20 € gastos em cada garrafa foram mal empregues.

Finalmente, o Callabriga 2000, que é o produto que está acima do Vinha Grande, sendo apontado como a aposta da casa para a exportação. Abrimos as duas garrafas com os já célebres (entre nós) bifes de novilho de raça Angus com ervas de Provence, que o mestre cozinheiro Kroniketas tem vindo a apurar. Mais uma vez, seguindo o conselho do contra-rótulo, foram previamente decantados para libertar os aromas e para nos livrarmos dos sedimentos da garrafa. Como já aconteceu algumas vezes, quando o líquido estava a acabar estava o vinho a atingir o seu máximo esplendor.
Revelou uma boa concentração de cor, com um aroma profundo algo frutado. Redondo na boca mas com boa estrutura, taninos discretos e acidez suave, madeira muito disfarçada, tudo muito equilibrado. Fim de boca suave mas prolongado. Com o passar da refeição foram-se libertando os aromas terciários, alguma especiaria a vir lá do fundo tornando o final mais persistente, mostrando que temos ali um vinho para altos voos e capaz de estar algumas horas a fazer-nos companhia. Foi pena ter acabado no melhor da festa, mas para a próxima decantamo-lo mais cedo (sim, porque ainda há umas garrafitas de reserva). Pena é que tenham mudado o formato da garrafa nas últimas colheitas (tal como ao Quinta da Leda, aliás), pois esta borgonhesa era a imagem de marca da casa e ficava-lhe muito bem.

Em suma, desta trilogia de Ferreirinhas, o balanço que se pode fazer é que as altas expectativas saíram globalmente defraudadas, sendo que foi o vinho no patamar mais baixo que melhor se comportou. Não encontramos explicação para o sucedido com o Reserva e o Quinta da Leda, pois ambos estavam em perfeitas condições de consumo, mas não apresentaram nem a estrutura, nem a persistência, nem a complexidade aromática que esperávamos de vinhos desta gama. Se as garrafas de que ainda dispomos confirmarem estas impressões, terão de ser apostas a esquecer... Infelizmente. Não estávamos habituados a estas decepções nos vinhos da Sogrape...

tuguinho e Kroniketas, os diletantes preguiçosos

Região: Douro
Produtor: Casa Ferreirinha - Sogrape

Vinho: Reserva Ferreirinha 96 (T)
Grau alcoólico: 12,5%
Preço em hipermercado: 39,99 €
Nota (0 a 10): 8

Vinho: Quinta da Leda 2001 (T)
Grau alcoólico: 13%
Castas: Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinta Roriz
Preço em feira de vinhos: 17,86 €
Nota (0 a 10): 7

Vinho: Callabriga 2000 (T)
Grau alcoólico: 13%
Castas: Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinta Roriz
Preço em feira de vinhos: 13,75 €
Nota (0 a 10): 9