O sentido prático do Kroniketas conseguiu despachar a receita de mousse num parágrafo e depois tecer vários de considerações, embora todas oportunas.
Por isso mesmo, e para terem algo que mastigar no texto desta receita, aqui vai a versão tuguinho da mesmíssima gulodice. Se ainda não leu o post do Kroniketas, vá aqui abaixo deste e leia-o! Depois volte.
Obtenha, por qualquer meio, sete ovos completos e sem gripe. Peça emprestada à Nestlé uma tablete de chocolate culinário, de quarto de quilo. Roube às formigas a quantidade de açúcar necessária ao enchimento de sete colheres de sopa e arranje uma das mesmas colheres (mas sem açúcar!) cheia de manteiga magra (aqui em casa não se usa margarina para cozinhar).
Neste momento tem disponível tudo o que a mousse vai conter, o que não quer dizer que se juntar tudo e bater bem venha a obter mousse. Há mais 2 ou 3 coisinhas que vai ter que fazer e por uma certa ordem. Sim, eu sei que é difícil, mas vá lá, você também tirou a carta à terceira! Vai ver que consegue.
Parta a casca dos ovos (não use um martelo, bata com eles suavemente numa esquina da banca de cozinha e depois aproveite esse buraquinho para meter os dedos – não seja alarve, não é disso que estou a falar! – e separar a casca em duas calotes, uma das quais conterá a gema e a clara) e faça despenhar as gemas para um recipiente, colocando as claras noutro.
Peça a alguém para bater as claras em castelo… onde é que você vai?!... qual castelo de São Jorge, qual carapuça! Você vai bater as claras em castelo com a batedeira (exige menos esforço), ou com um garfo (se precisar de exercitar os músculos do braço), mas não as bata em excesso. Como dizia o Kroniketas, queremos uma mousse e não um balde de cimento cor de chocolate.
Entretanto, o chocolate, partido aos pedaços, deve sofrer um auto-de-fé conjunto com a manteiga, até se transformar numa massa pastosa (eu bem ouvi a sua mente perversa a resvalar para a escatologia!). O ideal seria fazê-lo num pequeno recipiente em banho-maria (poderia fazer piada com a expressão, mas não vou fazer), mas se o fizer directamente sobre lume brando também dá.
Entrementes (não quis repetir entretanto), os embriões falhados (ah, agora surpreendi-o; aposto que nunca pensou nas gemas nesta perspectiva!) devem ser misturados de forma homogénea com a tal massa pastosa, de forma rápida para evitar que as gemas talhem (aposto que já se tinha esquecido que o chocolate derretido estava quente!). Adicione depois as tais sete colheres de açúcar (sem formigas). Aqui por casa nunca apareceram granhões, seja lá o que isso for, mas de qualquer forma tenha cuidado porque podem morder. Pode acontecer é que se formem grânulos se for azelha a fazer a incorporação…
Finalmente, depois de esta mistura ser escorrida para um recipiente com tonelagem para a totalidade da mousse, deve misturar pouco a pouco as claras que foram batidas em castelo (foi azar, elas hão-de ganhar para a próxima vez, quando jogarem em casa…). Vai ver que a coisa engrossa (irra, mas você só pensa nisso?!) e fica com um aspecto lustroso, enchendo todo o espaço do vasilhame escolhido. Cubra-a com uma prata mas não seja mão-fechada: use papel de alumínio e deixe a prata do chocolate em paz.
Deve repousar no frigorífico durante a noite, para poder ser comida à vontade no dia seguinte.
E pronto, caro(a) leitor(a). Como viu, foi fácil. Agora veja lá não abuse, que eu não quero ser considerado o culpado pelas suas artérias entupidas.
tuguinho, gastrónomo popular
quinta-feira, 30 de março de 2006
Na nossa cozinha 36 1/2 - Mousse de Chocolate
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