Volto a este tema por causa do editorial de Luís Lopes na Revista de Vinhos de Janeiro, a propósito duma prova de vinhos efectuada pela Proteste, revista da DECO.
Diz Luís Lopes que aquela publicação “quando fala de vinhos, em vez de informar, desinforma e induz em erro os consumidores. A Proteste avalia vinhos como avalia máquinas de lavar roupa, ou seja em função do seu desempenho em “banco de ensaios” e da medição de parâmetros como o álcool, acidez total, açúcar, dióxido de enxofre e ácido sórbico. É um pouco como avaliar a qualidade de uma pintura em função da tinta utilizada.
Mais adiante, acerca da prova de vinhos tintos da Bairrada que foi “a gota de água que fez transbordar o copo”, Luís Lopes diz que “a revista começa por indicar ao leitor que entre os chamados VQPRD, o tinto da Bairrada está entre os mais consumidos. Acho que só esta pérola reflecte o grau de conhecimento do mercado de quem escreve a peça”.
E para terminar o explanar da sua indignação, refere que “o que fundamentalmente me choca é o pressuposto que está na base da conclusão final: já que o vinho mais barato custa 1,49 € e é melhor que o mais caro que custa 27 €, então pode comprar 18 garrafas do mais barato pelo preço do mais caro”. (!!!)
De facto, eu também tive, em tempos, oportunidade de ler algumas provas de vinhos feitos na Proteste e nunca percebi muito bem qual era o critério de avaliação. Se um automóvel pode ser medido em termos de performance, consumo, segurança, número de avarias, etc., utilizar critérios semelhantes para uma bebida como esta (em que ainda por cima está em causa uma avaliação tão subjectiva que depende do gosto de cada um) é uma verdadeira aberração. Ainda por cima com critérios aritméticos para aconselhar a compra...
É um facto, como referimos nos posts anteriores, que nem sempre achamos que o vinho merece o que pagámos por ele. Mas se isso se aplica a vinhos caros, por maioria de razão se aplicará, ainda com mais premência, aos mais baratos, porque nalguns casos até 1,49 € poderá ser caro. É verdade que às vezes me choca a facilidade com que se fala de preços a tender para o exorbitante ou se diz, como já li noutro blog, que o preço de uma refeição não interessa (como se pagar 100 euros por uma refeição fosse vulgar e despiciendo). Às vezes fico com a sensação de que, além de corrermos o risco de beber rótulos, também há quem ande a beber preços e compre só porque sendo caro parece bem e sendo caro tem que se dizer que é óptimo.
Mas não é menos verdade que há quem ache que só vale a pena comprar vinhos abaixo dos 3 ou 4 €. Claro que comprar caro pesa no bolso e é para quem pode fazê-lo, mas quem quer ser apreciador e abrir os horizontes a outro nível se subir um patamar nota logo a diferença, e a partir daí cada vez será mais difícil encontrar um vinho a menos de 3 € que ache minimamente satisfatório. Há vinhos bons e caros, há bons e baratos e depois há os baratos que de bons não têm nada, e acabam por se tornar caros de tão imbebíveis que são.
Neste aspecto, os senhores da Proteste deviam, realmente, fazer um curso de prova acelerado para que começassem a avaliar os vinhos de forma que faça sentido, e não os misturem com máquinas de lavar, torradeiras ou secadores de cabelo.
Kroniketas, enófilo às vezes um pouco gastador
sábado, 28 de fevereiro de 2009
Quanto vale um vinho? - 3ª parte: o bom e o barato
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