domingo, 2 de maio de 2010

No meu copo 272 - Os brancos da Casa Santos Lima

Arinto 2008; Fernão Pires 2008; Sauvignon Blanc 2008



Após um interregno de quase dois meses devido a afazeres diversos (cada vez temos menos vida para isto, mas lá vamos tentando manter a chama acesa…), voltamos à Estremadura para falar de 3 brancos da Casa Santos Lima, uma estreia nas nossas provas aqui nas Krónikas.
A Casa Santos Lima, situada na zona de Alenquer, entre Sobral de Monte Agraço e a Merceana é uma das que têm continuado a apostar nos vinhos monocasta mesmo depois do decréscimo da moda deste tipo de vinhos que teve o seu grande incremento na década de 90. Ainda há algumas semanas, no programa “A hora de Baco” (RTP N) um dos seus responsáveis realçava que esta empresa é provavelmente a que tem maior variedade de vinhos monocasta no seu portefólio, quer em brancos quer em tintos, até em castas que não se vêem noutros produtores.
Neste caso tivemos oportunidade de provar o Arinto, o Fernão Pires e o Sauvignon Blanc. Não consigo destacar nenhum deles, pois todos me agradaram, dentro das suas características próprias.
O Arinto mostra aquela secura e acidez tão típicas da casta e que se destacam sobretudo na Estremadura, resultando num vinho de grande frescura. O Fernão Pires apresenta-se um pouco mais estruturado e floral, também com alguma frescura, intensidade aromática e boa acidez. Finalmente, o Sauvignon Blanc mostra a suavidade e elegância habituais e um toque mais adocicado.
No conjunto, três vinhos agradáveis e fáceis de beber, para pratos não muito exigentes em termos de tempero, e que são uma excelente aposta até para o dia-a-dia por um preço praticamente imbatível. Pelo que custam são muito melhores do que se poderia supor.

Kroniketas, enófilo cansado

Região: Estremadura/Lisboa (Alenquer)
Produtor: Casa Santos Lima

Vinho: Casa Santos Lima, Arinto 2008 (B)
Grau alcoólico: 13%
Casta: Arinto
Preço: 2,65 €
Nota (0 a 10): 7,5

Vinho: Casa Santos Lima, Fernão Pires 2008 (B)
Região: Estremadura/Lisboa (Alenquer)
Produtor: Casa Santos Lima
Grau alcoólico: 13%
Casta: Fernão Pires
Preço: 2,79 €
Nota (0 a 10): 7,5

Vinho: Casa Santos Lima, Sauvignon Blanc 2008 (B)
Região: Estremadura/Lisboa (Alenquer)
Produtor: Casa Santos Lima
Grau alcoólico: 13%
Casta: Arinto
Preço: 2,52 €
Nota (0 a 10): 7,5

domingo, 25 de abril de 2010

segunda-feira, 8 de março de 2010

No meu copo 271 - Porta da Ravessa branco 2008

E agora algo completamente diferente. Um branco simples, barato e despretensioso. Não tinha grandes expectativas mas acabou por ser uma surpresa agradável, pois este Porta da Ravessa branco revelou-se bem melhor do que eu estava à espera.

Apresentou cor citrina e algumas notas limonadas a marcarem o aroma, boca leve e fresca e boa acidez a dar equilíbrio ao conjunto, certamente devido à introdução do Arinto no lote. Acompanhou bem um peixe assado no forno. Tendo em conta o preço, até não se saiu nada mal.

Kroniketas, enófilo esclarecido

Vinho: Porta da Ravessa 2008 (B)
Região: Alentejo (Redondo)
Produtor: Adega Cooperativa de Redondo
Grau alcoólico: 12,5%
Castas: Roupeiro, Arinto, Fernão Pires
Preço em feira de vinhos: 1,98 €
Nota (0 a 10): 6

quinta-feira, 4 de março de 2010

No meu copo 270 - Vinha da Nora, Syrah 2005

Nem de propósito: o último programa da Hora de Baco, transmitido no passado fim-de-semana (e a nossa querida RTP continua na prática ancestral de mudar constantemente o horário dos programas sem aviso prévio), esteve à conversa com José Bento dos Santos na Quinta do Monte d’Oiro, onde o produtor falou dos seus vinhos, da nova imagem dos rótulos do vinho, sobre as tendências actuais da culinária e do vinho e deu mais uma magistral lição de ligações entre o vinho e a comida.
Por coincidência, há poucos dias eu tinha provado a última colheita do Vinha da Nora, talvez o vinho emblemático da casa. Nas anteriores colheitas já era feito exclusivamente com Syrah mas só agora a casta teve direito a menção específica no rótulo.
Tal como das vezes anteriores, ficou-me a sensação (e ocorreu-me novamente a mesma expressão) de estar perante um vinho aristocrático. É duma suavidade extrema, elegante sem deixar de ser bem estruturado e persistente, com notas de fruta madura e compotas, adequado para pratos requintados.
A primeira vez que ouvi falar do Vinha da Nora foi há bastantes anos num debate na RTP, em que foi referido que era o vinho recomendado num dos melhores restaurantes de Paris. Provando-o percebe-se porquê. E o preço é bastante convidativo, pelo que é um vinho sempre a revisitar.
Curiosamente, no portefólio de vinhos apresentado este não foi referido. Será para desaparecer? Esperemos que não.

Kroniketas, enófilo esclarecido


Vinho: Vinha da Nora, Syrah 2005 (T)
Região: Estremadura (Alenquer)
Produtor: José Bento dos Santos - Quinta do Monte d’Oiro
Grau alcoólico: 14%
Casta: Syrah
Preço em feira de vinhos: 9,24 €
Nota (0 a 10): 8,5

sábado, 27 de fevereiro de 2010

No meu copo 269 - Os Follies da Aveleda

Alvarinho 06; Alvarinho 07; Alvarinho-Loureiro 08; Loureiro-Trajadura 07; Chardonnay-Maria Gomes 06




A Quinta da Aveleda é conhecida desde há muito pelos seus vinhos verdes, de que o mais conhecido é um branco de combate com o nome da Quinta que se bebe com facilidade. Por altura da Expo 98, um dos pavilhões presentes no certame era do G7, que englobava as 7 maiores empresas vinícolas do país, uma das quais era a Aveleda.
Nos últimos anos a empresa alargou o leque de produtos a partir do conceito de Follies, que foi buscar à arquitectura. Segundo a informação do site da empresa, “a Folly coincide com uma estrutura decorativa, não funcional, excêntrica e simbólica, erguida por alguém que se alimenta pela simples paixão de construir.”
Assim, foram lançados brancos e tintos de várias regiões do país que celebram, através de cada um dos seus rótulos, as Follies da Aveleda, dos quais já tivemos oportunidade de provar alguns brancos.
Começamos pelos Alvarinhos, cuja Folly é a Fonte das Quatro Irmãs. Voltando à informação constante no site, “a Fonte das Quatro Irmãs representa a dinâmica da Vida em constante mutação, o fim que retorna ao princípio, renascendo para uma dimensão nova. Erguida na década de 1920, a fonte foi finalizada pelo Mestre João da Silva ao gravar nela os perfis em mármore das quatro irmãs Guedes, filhas do proprietário da Quinta, Fernando Guedes da Silva da Fonseca. Cada Senhora personifica uma das Quatro Estações do ano ou, noutra perspectiva, as diversas fases na dança perpétua da vinha e do vinho, sempre igual mas simultaneamente sempre diferente.”
Dos Alvarinhos já tivemos a oportunidade de provar o 2006 e o 2007. Não se nota grande diferença entre as colheitas. Trata-se de um vinho bem estruturado e muito equilibrado, que prima pela elegância, com a acidez característica dos Alvarinhos e boa intensidade aromática. Mais um bom Alvarinho para juntar a outros recomendáveis.
Temos em seguida duas combinações de Loureiro com outra casta, representados por uma janela manuelina do século XVI. Passemos à História. “Foi numa casa da Ribeira, no Porto, que a Rainha D. Filipa de Lancastre deu à luz o seu filho Infante D. Henrique, o mesmo local onde muitos reis haviam pernoitado aquando das suas visitas à cidade Invicta. Havia uma janela especial onde, segundo a tradição, D. João IV terá sido aclamado Rei de Portugal. A janela foi doada, mais tarde, a Manoel Pedro Guedes da Silva da Fonseca, que a transportou para os jardins da Quinta da Aveleda, sua propriedade.”
O Alvarinho-Loureiro de 2008 apresenta-se com aroma intenso, elegante e com final prolongado, com aquele perfil arredondado e a frescura do Loureiro, uma casta que não costuma ser muito badalada na região dos Vinhos Verdes mas que nos últimos anos tem vindo a ser cada vez mais valorizada. Temos aqui, sem dúvida, um bom casamento com o Alvarinho.
Noutra combinação surge um lote Loureiro-Trajadura de 2007, menos exuberante no aroma mas igualmente muito fresco e apelativo. Menos encorpado, não deixa de ser um vinho bastante agradável que se recomenda para refeições de Verão.
Da região dos Vinhos Verdes passamos agora para a Bairrada, donde vem um lote de Chardonnay e Maria Gomes, representado pela Torre das Cabras. “Numa ode à natureza e às antigas gerações da Quinta da Aveleda, foi edificada uma torre de três andares, com uma rampa em espiral de madeira para albergar cabras anãs. Símbolo da fertilidade e da abundância, a cabra protagoniza o mito de uma terra que soube sempre dar o seu melhor fruto.”
Este Chardonnay-Maria Gomes de 2006 acabou por ser o mais surpreendente de todos estes brancos, e aquele de que mais gostei. Tem perfil para pratos de peixe mais exigentes que os outros brancos, pois apresenta uma boa estrutura na boca, final persistente e delicado e muito equilíbrio. Fermentado em cascos de carvalho, o Chardonnay aparece bem contrabalançado pela Maria Gomes que dá ao conjunto um toque mais floral e aromático que contraria a habitual untuosidade do Chardonnay. Um bom branco de Inverno.
E assim terminamos este primeiro périplo pelos Follies da Aveleda, deixando já na calha futuras visitas aos tintos e às novas colheitas de brancos que for possível encontrar. Não são vinhos que se vejam muito à venda e estes brancos agora provados foram quase todos encontrados no Verão passado numa garrafeira de Alvor, contando com a prestimosa colaboração do confrade Politikos que assegurou a aquisição e o transporte dos mesmos. A excepção foi o Alvarinho-Loureiro, adquirido com a Revista de Vinhos de Julho de 2009.

Kroniketas, enófilo esclarecido

Produtor: Sociedade Agrícola e Comercial Quinta da Aveleda

Vinho: Follies Alvarinho 2006 (B)
Região: Vinhos Verdes
Grau alcoólico: 12,5%
Casta: Alvarinho
Preço em feira de vinhos: 6,72 €
Nota (0 a 10): 8

Vinho: Follies Alvarinho 2007 (B)
Região: Vinhos Verdes
Grau alcoólico: 12,5%
Casta: Alvarinho
Preço: 8,99 €
Nota (0 a 10): 8

Vinho: Follies Alvarinho-Loureiro 2008 (B)
Região: Regional Minho
Grau alcoólico: 12%
Castas: Alvarinho, Loureiro
Preço com a Revista de Vinhos: 5,95 €
Nota (0 a 10): 7,5

Vinho: Follies Loureiro-Trajadura 2007 (B)
Região: Vinhos Verdes
Grau alcoólico: 11,5%
Castas: Loureiro, Trajadura
Preço: 5,19 €
Nota (0 a 10): 7

Vinho: Follies Chardonnay-Maria Gomes 2006 (B)
Região: Bairrada
Grau alcoólico: 13%
Castas: Chardonnay, Maria Gomes
Preço: 5,19 €
Nota (0 a 10): 8

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

No meu copo 268 - Cono Sur, Pinot Noir 2007

Numa incursão à Wine o’Clock de uma pequena delegação da comunidade de eméritos bebedores de Os Comensais Dionisíacos, comprei – comprámos que o Kroniketas também levou uma para ele – um Pinot Noir 2007 da conhecida empresa chilena Cono Sur. Sendo adepto e consumidor frequente de alguns dos vinhos daquela casa, designadamente do Cono Sur Cabernet Sauvignon, cuja relação preço-qualidade reputo de muito boa, a aquisição para prova e primeira experiência do Pinot Noir revelou-se natural. Quando peguei na garrafa, porém, e mesmo perante o vidro escuro, o vinho pareceu-me ter uma tonalidade aclarada de mais, porventura mais perto de um rosé do que de um tinto. Razão pela qual as expectativas ficaram desde logo colocadas numa fasquia baixa. É sobretudo por outras, mas também por estas, que se fazem provas em copos opacos. Sem desvalorizar o facto de que o contacto visual com o vinho nos pode fornecer de imediato uma ideia da limpidez/ausência de turvação, do unto e do corpo do vinho, o facto é que por vezes, como neste caso, nos faz baixar injustamente as expectativas, condicionando a avaliação.


Esforçando-me para pôr de lado este preconceito, posso dizer que, fora disso, o Pinot Noir passou a prova. Na boca revela uma nota predominante a frutos vermelhos, amora e framboesa. O corpo é mediano. A acidez é equilibrada e os taninos estão muito mas mesmo muito arredondados, o que é uma marca distintiva dos vinhos daquelas paragens e uma das razões do seu sucesso. É que de tão redondos, são vinhos que fazem facilmente o pleno de opiniões favoráveis sobretudo em refeições familiares e de amigos mais ou menos apreciadores de vinho. É, pois, um vinho sem arestas, mas longe de ser liso. Tem alguma persistência na boca onde depois da fruta ficam com razoável permanência alguns tostados e algum especiado. A mim agradou-me. Cumpriu plenamente o que dele se exigia em termos de custo-qualidade. É, por isso, a juntar ao Cabernet Sauvignon daquela Casa, uma escolha a repetir para consumo frequente.

Politikos, enófilo amador e apreciador dos vinhos do Novo Mundo

Vinho: Cono Sur Pinot Noir 2007
Região: Central Valley (Chile)
Produtor: Cono Sur Vineyards & Winery - Santiago
Grau alcoólico: 14%
Casta: 100% Pinot Noir
Preço: 4,95€
Nota (0 a 10): 7,5

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

No meu copo 267 - Domingos Soares Franco Colecção Privada: Verdelho branco 08; Moscatel Roxo rosé 08

Domingos Soares Franco (DSF)tem sido um precursor e um inovador no estudo das castas portuguesas. Nas vinhas plantadas na Quinta de Camarate, que acolhe uma colecção ampelográfica de cerca de 500 castas, o enólogo-chefe e vice-presidente da empresa José Maria da Fonseca – produtora do vinho de mesa mais antigo em Portugal, o Periquita, criado em 1850 – tem levado a cabo amplas experiências na caracterização de inúmeras castas, aproveitando os conhecimentos adquiridos para a modelagem dos seus vinhos.

Foi um dos primeiros a introduzir a minhota Alvarinho no sul do país, introduziu o Verdelho, juntamente com aquela, no Quinta de Camarate branco seco, e recuperou a quase desaparecida Moscatel Roxo. É precisamente de duas destas castas que falamos agora, a propósito dum branco de Verdelho e dum rosé de Moscatel Roxo.

No contra-rótulo das garrafas, Domingos Soares Franco conta em poucas palavras as motivações que o levaram a criar estes dois monocastas que incluiu numa nova linha que baptizou como Colecção Privada. O Verdelho, casta branca até há poucos anos quase só conhecida na Madeira, já chegou à Austrália e foi lá que DSF encontrou o estilo que mais lhe agradou para moldar este excelente branco. Marcadamente seco e aromático, com boa persistência e algumas notas cítricas, revelou-se um excelente companheiro de mesa para pratos requintados de peixe mas também para acompanhar uns acepipes de entrada ou ser bebido a solo.

Quanto ao rosé de Moscatel Roxo, apareceu pela primeira vez na colheita de 2007, causando alguma celeuma pela utilização duma casta quase esquecida e mais habitual no Moscatel de Setúbal para elaboração de um rosé, que como se sabe ainda é um tipo de vinho mal-amado em Portugal. A verdade é que logo no primeiro ano o sucesso foi tal que o vinho desapareceu rapidamente do mercado.

Devo dizer, no entanto, que este não me encheu as medidas como o Verdelho. É um rosé com uma cor salmão desmaiada, leve como gosto num rosé mas achei-lhe falta de mais algum corpo e estrutura. Curiosa a descrição do contra-rótulo, referindo a “fineza e exuberância aromática das flores de jasmim”. É recomendado para refeições ligeiras ou pratos orientais, mas parece ser mais adequado para beber no Verão como aperitivo do que para acompanhar a refeição.

De qualquer modo, com sensações diferentes causadas por estes dois vinhos originais, não deixa de ser uma experiência que vale a pena. E no caso do Verdelho, fiquei fã incondicional.

Kroniketas, enófilo esclarecido

Região: Terras do Sado
Produtor: José Maria da Fonseca

Vinho: Domingos Soares Franco Colecção Privada, Verdelho 2008 (B)
Grau alcoólico: 13%
Casta: Verdelho
Preço em feira de vinhos: 7,95 €
Nota (0 a 10): 8,5

Vinho: Domingos Soares Franco Colecção Privada, Moscatel Roxo 2008 (R)
Grau alcoólico: 13%
Casta: Moscatel Roxo
Preço: 10,95 €
Nota (0 a 10): 7

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

No meu copo 266 - Periquita branco 2008


Na linha duma certa renovação que a José Maria da Fonseca tem vindo a empreender na sua gama de vinhos, ao clássico Periquita tinto - a marca de vinho mais antiga produzida em Portugal - juntou-se o Periquita rosé e também este Periquita branco, que alarga o portefólio de brancos onde se incluem o Quinta de Camarate seco e doce, o BSE, o Pasmados e mais recentemente um Verdelho monocasta.

O Periquita branco, seguindo uma certa linha da casa, é um vinho eminentemente fresco e com boa acidez, uma certa leveza e boa intensidade aromática, resultando num bom casamento do tradicional Moscatel com o indispensável Arinto, com a frescura e acidez deste a equilibrar a maior doçura daquele.

Um bom branco para acompanhar pratos leves de peixe ou entradas, ou mesmo para funcionar como aperitivo. Mais uma boa aposta do enólogo Domingos Soares Franco, na linha de outras de que falaremos proximamente.

Kroniketas, enófilo esclarecido


Vinho: Periquita 2008 (B)
Região: Terras do Sado
Produtor: José Maria da Fonseca
Grau alcoólico: 12%
Castas: Moscatel, Arinto
Preço em feira de vinhos: 3,69 €
Nota (0 a 10): 7

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

No meu copo 265 - Champanhe Germain Brut Réserve

De vez em quando sabe bem variar, e pelo menos uma vez por ano é altura de experimentar champanhes e espumantes. O ano passado, na época das compras, resolvi provar um champanhe que estava a um preço um pouco inferior ao habitual. Chama-se Germain Brut e é produzido a partir de três castas, com mistura de brancas (Chardonnay) e tintas como acontece frequentemente.
Este não fugiu muito do habitual, embora estivesse alguns furos abaixo de outros como o Veuve Clicquot, que é escolha habitual. Com bolha fina e elegante na boca, aroma frutado não muito exuberante, boa persistência, cumpriu o que se esperava dum champanhe genuíno. Tendo em conta o preço não fiquei mal servido.

Kroniketas, enófilo borbulhante

Vinho: Germain - Champagne Brut Réserve (B)
Região: Champagne (França)
Produtor: Champagne Vranken - Tours-sur-Marne
Grau alcoólico: 12%
Castas: Pinot Noir, Pinot Meunier, Chardonnay
Preço em feira de vinhos: 26,90 €
Nota (0 a 10): 8,5

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

No meu copo 264 - Cabriz Reserva 2004

Já se tornou um clássico nas nossas escolhas, a par do Casa de Santar Reserva. Este Reserva da Dão Sul é um dos bons exemplos do que pode ser um vinho de qualidade acima da média por um preço que não escalda.

Esta colheita de 2004 foi degustada precisamente em pendant com o exemplar restante do Casa de Santar Reserva 2003, já aqui anteriormente apreciado. É uma prova que vale a pena fazer para comparar o perfil de dois vinhos com algumas semelhanças mas com diferenças evidentes.

Nesta prova comparada o Cabriz mostrou-se um pouco mais robusto, como seria de esperar, mas sem deixar de ser elegante. Muito frutado com predominância de frutos vermelhos e flores silvestres, com final persistente e um toque a especiarias. O Casa de Santar mostrou-se ainda em grande forma mas com mais elegância e um bouquet mais profundo. Foram servidos a acompanhar umas deliciosas costeletas de borrego grelhadas e quer um quer outro saíram-se muito bem da contenda. Vale a pena comprar e recomprar, porque são daqueles vinhos para os quais uso uma frase que gosto de repetir: nunca nos deixam ficar mal.

Kroniketas, fã do Dão e da Dão Sul

Vinho: Cabriz Reserva 2004 (T)
Região: Dão
Produtor: Dão Sul, Sociedade Vitivinícola
Grau alcoólico: 13,5%
Castas: Touriga Nacional, Alfrocheiro, Tinta Roriz
Preço em feira de vinhos: 6,95 €
Nota (0 a 10): 8

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

No meu copo 263 - Quinta de Pancas 2007


Uma nova versão para a gama de entrada dum clássico da Quinta de Pancas, agora propriedade da Companhia das Quintas, que desde que tomou conta da produção de Pancas renovou o portefólio da casa, agrupando os seus vinhos numa designação comum chamada “The Quinta Collection”.

Ao tradicional Cabernet Sauvignon juntaram-se neste Quinta de Pancas “simples” a Touriga Nacional e o Alicante Bouschet. Sem ter as mesmas pretensões do ícone da casa, não deixa de ser um vinho bem elaborado e estruturado, com aroma frutado e algumas notas de compota e especiarias, suave na boca suave e com final persistente. Estagiou 9 meses em carvalho francês e apresenta a madeira bem integrada e discreta conferindo alguma complexidade ao conjunto.

Tratando-se de um vinho de combate, parece-me bem posicionado para ter sucesso nesta gama e bater-se com os campeões de vendas de outras casas. Merece entrar nas nossas escolhas.

Kroniketas, enófilo recatado


Vinho: Quinta de Pancas 2007 (T)
Região: Estremadura (Regional Lisboa)
Produtor: Companhia das Quintas
Grau alcoólico: 13,5%
Castas: Touriga Nacional, Cabernet Sauvignon, Alicante Bouschet
Preço em feira de vinhos: 3,49 €
Nota (0 a 10): 7,5

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

No meu copo 262 - Dona Ermelinda 2006

Não temos passado muito pelos vinhos desta produtora, que estão um pouco na moda, principalmente desde que um Syrah de 2005 ganhou um primeiro prémio num concurso mundial (o que levou logo a uma extrapolação exagerada para expressões como “o melhor vinho do mundo”!). Como não podemos ir a todas, mesmo que quiséssemos, acabamos por ir dando mais atenção a outros produtores, mas chega sempre a ocasião em que a ocasião chega.

Um dia destes tive oportunidade de almoçar com um amigo num restaurante já aqui referido, o Estrela do Bico, em Massamá, onde a carta de vinhos não é muito vasta e por isso as opções também não permitem grande criatividade. Como lá estava o vinho da Ermelinda, resolvi experimentá-lo com os habituais bifinhos.

Tinha mais curiosidade do que expectativas, por falta de referências. Mas o vinho saiu-se bem da prova. Estando posicionado na gama dos vinhos próximos dos 4 €, cumpriu o que se esperava. Encorpado e aromático quanto baste, de cor carregada e aroma predominante a fruto maduro, madeira discreta (6 meses de estágio) e bem casada, final com boa persistência, é um vinho bem feito e que tem tudo para agradar à primeira sem encantar e que pode ser competitivo nesta gama. Pelo preço que custa, é um dinheiro que se pode considerar bem empregue. O mesmo se pudesse dizer do que foi referido no post anterior.

Kroniketas, enófilo em recolha de inverno

Vinho: Dona Ermelinda 2006 (T)
Região: Terras do Sado (DOC Palmela)
Produtor: Casa Ermelinda Freitas
Grau alcoólico: 13,5%
Casta: Castelão
Preço em feira de vinhos: 3,49 €
Nota (0 a 10): 7

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Seis Reis sem coroa



Ao repasto no São Rosas seguiu-se a visita ao Monte Seis Reis, uma herdade próxima de Estremoz, situada na estrada para Sousel e logo a seguir à Quinta da Esperança, onde são produzidos os vinhos Encostas de Estremoz. O Monte, adquirido em 1997, tem cerca de 50 hectares, 30 de sobreiro, 8 de uva tinta e 4 de uva branca, em solos de xisto e argila, tendo produção própria de vinho desde 2003.
Chegados à recepção, onde se pode adquirir uma grande variedade de produtos da casa e da região, foi-nos proporcionado, juntamente com outros visitantes, um circuito pela adega, sala de barricas e museu, onde estão expostos utensílios agrícolas, objectos, fotografias e quadros evocativos da história e do fabrico do vinho e da região, bem como dos seis reis que deram o nome ao Monte. Em anexo, uma galeria de arte moderna procura conferir maior densidade cultural ao espaço. O projecto, integrado e claramente pensado também para o enoturismo, está globalmente bem conseguido. Na adega, um varandim permite uma panorâmica global sobre toda a adega, valorizada pelo facto de a vista ser feita de uma cota superior. Um placard explicativo das diversas fases do fabrico do vinho permite-nos perceber como se desenrola todo o processo. O museu, com uma forte componente visual, muito ilustrado com fotografias e desenhos, onde até nem falta um mapa das regiões vitivinícolas, tem também esta interessante componente pedagógica, ilustrando não só as diferentes fases da produção do vinho, mas também a sua história e a da região. Numa sala anexa, um vídeo complementa a visita antes da prova. Já a galeria de arte, pelas peças expostas e pela organização do espaço, nos parece algo pífia, prometendo mais do que pode dar.
Passámos, finalmente, à sala de degustação, um espaço amplo, com uns balcões que permitem o convívio e a explicação à volta do que se vai bebendo e de cujas janelas se vislumbram os vinhedos em redor. Uma sala de jantar anexa permite ainda a realização de festas e eventos. Aí foram-nos postos à disposição um branco, um rosé e quatro tintos: Boa Memória (branco e tinto), Monte Seis Reis Rosé, Bolonhês, Monte Seis Reis Touriga Nacional e Monte Seis Reis Syrah. O Reserva, apesar das insistências do grupo junto da guia, não foi provado. Aqui, porém, começou a parte negativa, porque os vinhos manifestamente não nos convenceram. Desde o tinto mais barato (4,50 €) ao mais caro (25 €), achámos todos inflacionados para a qualidade que apresentam. Por menos de 4,50 € compra-se vinho bem melhor em Portugal, nomeadamente o Cabriz e o Casa de Santar, já para não falar em muitos outros a começar, e porque estamos no Alentejo, no Monte Velho.
Fomos por aí acima nos diversos patamares e sempre que nos era dito o preço de um vinho imediatamente me ocorriam meia dúzia deles muito melhores. Nos 10, nos 15 ou nos 25 €, nenhum fez jus ao preço que apresenta. Talvez se reduzissem os preços para metade os vinhos ficassem posicionados no escalão que realmente merecem.
Como balanço final, distinguimos duas partes: o merchandising e os produtos. A primeira, englobando loja, adega, museu, galeria de arte e acolhimento, merece uma nota francamente positiva. A segunda, o produto, afinal aquilo que mais interessa, atentos os preços, fica-se apenas pelo sofrível. E é pena porque o lugar e todo o projecto mereciam que os vinhos que dali saem estivessem à altura.

Kroniketas e Politikos, visitantes decepcionados

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

No meu copo 261 - .Beb Premium 07, Herdade do Paço do Conde Reserva 05; São Rosas (Estremoz)













Um destes fins-de-semana juntaram-se três convivas para uma incursão a Estremoz, com o objectivo de visitar o Monte Seis Reis aproveitando um «voucher» que possibilitava uma prova grátis. Mas o pretexto foi, obviamente, aproveitado para complementar o passeio com um bom repasto na zona. Hipóteses eram várias, desde fazer um desvio por Évora para ir almoçar ao Fialho, ou seguir para São Manços para nos deliciarmos com um arroz de lebre no Chico, mas isso implicava um trajecto mais demorado, pelo que decidimos seguir directos a Estremoz. Nesse caso havia ainda a possibilidade de parar em Arraiolos, mas a escolha acabou por recair no São Rosas, que eu já tinha visitado há cerca de dois anos, no regresso de uma permanência de três meses em Portalegre.
Como se comprovou, a escolha não poderia ter sido melhor. O São Rosas voltou a mostrar o nível de excelência que eu lhe tinha descortinado na anterior visita. Serviço impecável, rápido, eficiente, atencioso, sem falhas. Dois ou três funcionários revezando-se para o serviço de mesa e um especificamente para o serviço de vinhos, que não se coíbe de aconselhar, sugerir e trocar impressões com os clientes. E, desta vez, até fomos recebidos pela própria Margarida Cabaço, proprietária e criadora daquele espaço.
A primeira dificuldade prendeu-se com a escolha do almoço, dada a variedade de opções. Resolvemos fazer uma partilha de pratos, começando por uma tarte de perdiz, a que seguiram umas migas com entrecosto e, já com o estômago quase cheio, umas burras estufadas. Difícil dizer qual estava melhor, tão boa era a confecção de todos. O erro aqui foi ter pedido três pratos e não apenas dois, pois com a «vaquinha» efectuada acabámos por ficar mais fartos devido à mistura de pratos e à espera entre eles.
Para o final, já bem saciados, apenas se pediu uma encharcada para sobremesa que foi dividida entre dois dos comensais.
Quanto aos líquidos, tendo eu provado na anterior visita um vinho de Tiago Cabaço, filho da proprietária do restaurante, de nome .Com, deparámos agora com um outro na prateleira chamado .Beb 2007, um patamar acima. Não deslustrou. É um vinho jovem, com um aroma predominantemente frutado, corpo médio e um final algo discreto. Tem uma designação original, aliás como os irmãos .Com e Blog, o último dos quais parece ser o topo de gama da marca. Rótulo e contra-rótulo apresentam um design clean. Tudo ali anda, pois, de mão dada, o carácter do vinho e a roupa exterior da garrafa. Um vinho que, não sendo brilhante, é honesto e não defrauda. Terminada a primeira garrafa, a dificuldade de escolha da segunda. Encontrámos na carta uma das nossas paixões, um Sogrape Reserva, escolha desde logo secundada por outro dos convivas, mas infelizmente o escanção não encontrou as garrafas, pelo que acabámos por experimentar, por sugestão do mesmo, um Herdade do Paço do Conde Reserva 2005. Um vinho produzido próximo de Beja, na zona de Baleizão (a terra onde Catarina Eufémia foi morta por um tenente da GNR em 1954). Este mostrou-se mais complexo do que o anterior, com aromas mais profundos, um outro corpo e outra persistência na boca.
No final, saímos plenamente satisfeitos com o magnífico repasto que nos foi proporcionado, por um preço que, não sendo barato, não escandaliza e faz pleno jus à qualidade da casa. Não correrei o risco de errar de forma escandalosa se disser que este deve ser um dos melhores restaurantes do país.
Saídos do restaurante, depois de desfrutarmos um pouco da amenidade da tarde e da paisagem que se avista do castelo de Estremoz, rumámos finalmente ao Monte Seis Reis para a aguardada visita às instalações seguida da prova de vinhos. Mas aí a história já foi outra.

Kroniketas, com Politikos, gastrónomos de barriga cheia

Vinho: .beb Premium 2007 (T)
Região: Alentejo (Estremoz - Borba)
Produtor: Tiago Cabaço
Grau alcoólico: 14%
Castas: Cabernet Sauvignon, Syrah, Alicante Bouschet, Touriga Nacional
Preço em feira de vinhos: 7,45 €
Nota (0 a 10): 7

Vinho: Herdade Paço do Conde Reserva 2005 (T)
Região: Alentejo (Beja)
Produtor: Sociedade Agrícola Encosta do Guadiana
Grau alcoólico: 14%
Castas: Syrah, Touriga Nacional, Alicante Bouschet
Preço no restaurante: 17 €
Nota (0 a 10): 7,5

Restaurante: São Rosas
Nota (0 a 5): 5

quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

No meu copo 260 - Reguengos Garrafeira dos Sócios 2001


Para finalizar o ano, nada melhor que assinalar a quadra festiva com um dos nossos vinhos de referência, já aqui mencionado várias vezes: o Garrafeira dos Sócios da Cooperativa Agrícola de Reguengos de Monsaraz.

Desta vez escolhemos uma garrafa da colheita de 2001 que, tal como as colheitas anteriores, não fugiu ao que se esperava. Sempre a mesma suavidade, o aroma frutado profundo, e ainda assim mantendo uma persistência e um fim de boca assinalável.

De colheita para colheita mantém as mesmas características, sempre muito equilibrado, com a madeira na conta certa e conjugando uma estrutura que mantém alguma vivacidade com o aveludado habitual.

E assim terminamos o ano da melhor forma. Desejamos a todos boas provas para 2010.

Kroniketas, enófilo celebrante


Vinho: Reguengos Garrafeira dos Sócios 2001 (T)
Região: Alentejo (Reguengos)
Produtor: Carmim (Coop. Agrícola de Reguengos de Monsaraz)
Grau alcoólico: 13,5%
Castas: Aragonês, Castelão, Trincadeira
Preço em feira de vinhos: 12,99 €
Nota (0 a 10): 8,5

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

No meu copo 259 - Cartuxa 2005

Este não tem sido um dos vinhos mais provados cá pela casa, embora seja um dos que mais prestígio ostenta em terras do Alentejo. Não sendo o topo de gama da Fundação Eugénio de Almeida (esse lugar está reservado para o Pêra Manca branco e tinto), será contudo o seu principal ícone, assim como uma espécie de “Esporão da Adega da Cartuxa”.
Com ele tenho mantido uma relação algo distante e nem sempre fácil. Conheço-o há muitos anos mas nem sempre me convenceu de que valia a pena pagar por ele o preço que custa (e a comparação com os vinhos do Esporão é quase inevitável neste patamar de preços). A última prova, contudo, já tinha deixado uma óptima impressão com a colheita de 2006. Agora este 2005 que estava guardado, bebido em quadra natalícia a acompanhar uma perna de borrego, esteve excelente. Pujante, vigoroso, com grande estrutura e um longo fim de boca, muito fechado no início ganhou bastante com a decantação quando começou a libertar os aromas e a amaciar um pouco os taninos.
Mostrou estar ali para durar, parecendo ser um vinho para durar uns 10 anos em plena forma e até pareceu estar mais vivo que o de 2006 que tínhamos provado em Maio. Ou já tinha evoluído melhor ou então a idade faz-lhe bem e está ainda na fase ascendente. Se assim for teremos um grande vinho (que já é) daqui por uma boa meia-dúzia de anos.
A verdade é que esta garrafa convenceu-me plenamente, pelo que o Cartuxa passará a ser um vinho a revisitar com maior frequência.

Kroniketas, enófilo natalício

Vinho: Cartuxa 2005 (T)
Região: Alentejo (Évora)
Produtor: Fundação Eugénio de Almeida - Adega da Cartuxa
Grau alcoólico: 13,5%
Castas: Aragonês, Trincadeira, Tinta Caiada
Preço em feira de vinhos: 14,85 €
Nota (0 a 10): 8,5

sábado, 19 de dezembro de 2009

No meu copo 258 - Espumante Martini Brut Cuvée Speciale; Martini Brut Cuvée Speciale Sparkling Wine

Nesta quadra em que se pretende festejar muita coisa sem se saber bem o quê, é inevitável o recurso aos vinhos espumantes. Quando não estamos no champanhe tentamos escolher espumantes que primem por uma qualidade que não envergonhe, por isso vamos experimentando aqui e ali, tanto portugueses como estrangeiros.

Dois dos mais recentes foram da Martini, que eu nem sabia que fazia espumantes. Até agora só tinha bebido uns quantos Asti ranhosos, que só servem para molhar a boca e parecem mais Seven-Up com álcool. Estes, sendo da Martini e sendo brutos, pareceram-me ser merecedores da experiência.

Desta vez não fiquei defraudado. Dentro do género cumpriram perfeitamente o que se espera de um espumante. O Sparkling é mais leve e menos complexo, enquanto o Cuvée Special tem um pouco mais de estrutura, é mais aromático e mais persistente. Ambos têm bolha fina e aroma frutado com algumas notas tropicais.

Pelo preço, ambos merecem a aposta.

Kroniketas, enófilo borbulhante

Vinho: Martini Brut Cuvée Speciale
Produtor: Martini & Rossi (Itália)
Grau alcoólico: 11,5%
Preço em feira de vinhos: 11,91 €
Nota (0 a 10): 8

Vinho: Martini Brut Cuvée Speciale Sparkling Wine
Produtor: Martini & Rossi (Itália)
Grau alcoólico: 11,5%
Preço: 10,75 €
Nota (0 a 10): 7,5

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Dissertações em sóbrio



No princípio era o vinho… ou seja, já bebíamos e apreciávamos mas guardávamos as opiniões para nós. Quando iniciámos as Krónikas Tugas foi naturalmente que surgiram vários posts sobre o vinho e a arte de o apreciar. E daí à autonomia e à independência foi menos tempo do que o que levamos a dizer “touriga”!
Depois deste começo não sei se devo parar por aqui…
Agora a sério, é bom fazer anos e ter quem se interesse pelas nossas opiniões sobre vinhos e afins (não confundir com afídios) – ainda para mais quando a única coisa que nos move, além das pernas, é o gosto pelos bons vinhos que se fazem em Portugal e por esse mundo fora.
Ao fim de quatro anos de beberricanço e enfardanço o Krónikas Vinícolas continua de boa saúde, sem sinal de cirrose ou de outras maleitas. Enquanto for assim, está muito bom.
Brindemos pois a mais um aniversário e obrigado por estarem aí desse lado.

tuguinho e Kroniketas, investigadores de colheitas

domingo, 6 de dezembro de 2009

No meu copo 257 - Bétula 2008; Duas Quintas Reserva 2003; Concha y Toro Late Harvest, Reserva Privada 2006

O último Sporting-Benfica, que já vimos escrito algures ter sido o pior derby de sempre, levou a mais uma reunião gastrónomo-etilista do grupo restrito dos Comensais Dionisíacos, ou seja, os suspeitos do costume. E se o jogo foi fraquinho, o repasto não o foi, sobretudo ao nível dos bebes, como adiante se verá. Abriu-nos as portas e disponibilizou o ecrã gigante o confrade tuguinho.

Na abertura provámos um branco duriense de seu nome Bétula, ofertado pelo produtor às Krónikas Vinícolas, o que publicamente agradecemos. Talvez por aqui já se tenha dito – mas não é demais repetir e também foi dito ao produtor – que somos todos amantes e amadores do vinho. Somos compradores e bebedores e não críticos, só que gostamos de escrever e de partilhar as provas. Não estimulamos as ofertas mas aceitamo-las, porque nos permitem conhecer novidades, não significando a aceitação das mesmas, como é bom de ver, nenhuma garantia de uma apreciação mais favorável. Aqui não se fazem jeitos. 10 000 euros, caixas de robalos ou equipamentos desportivos não são endereçáveis a esta confraria...

Posto isto e dito assim de forma crua, atirámo-nos ao Bétula 2008 bem fresco, virgens de espírito e sem nenhumas expectativas. Ao mesmo tempo fomos debicando umas lascas de presunto e de outros enchidos, acompanhadas de pão escuro. E o Bétula passou com distinção na prova! Trata-se de um vinho feito com as castas Viognier, fermentada em carvalho francês, e Sauvignon Blanc, fermentada em inox. Apresenta-se com uma cor citrina carregada, madeira ligeira, muito discreta e muito bem integrada no vinho. A madeira nos vinhos é um pouco como o tempero nos alimentos, tem de ser usada na conta certa sob pena de os descaracterizar, e neste Bétula a madeira está presente na dose certa, conferindo-lhe alguma complexidade mas permitindo-lhe manter a fruta, de notas tropicais, a frescura e uma acentuada mineralidade. O Bétula é um daqueles vinhos que provam que se podem fazer bons brancos portugueses. Degustámos apenas uma garrafa, deixando a outra para uma próxima oportunidade.

Prontas a comer vieram umas costeletinhas de novilho grelhadas que de diminutivo só tinham mesmo o nome, tal a generosidade das doses, acolitadas por arroz branco e batatas fritas. A acompanhá-las abrimos duas garrafas de Duas Quintas Reserva 2003, que tínhamos em stock na garrafeira dos Comensais. É um vinho com seis meses de estágio em pipas de carvalho novo, que depois de engarrafado na Quinta dos Bons Ares envelheceu dois anos em garrafa. Apresentou-se retinto na cor, exuberante nos aromas, já com algum bouquet, uma grande estrutura, onde predominam os frutos vermelhos, e um final de boca muito prolongado. A madeira está lá mas nem se nota. Os taninos, ligeiros e muito bem domados, completam o leque. É um vinho de grande, grande nível, diríamos quase perfeito. Houve grandes loas ao dito por parte dos comensais. Um ou outro aventuraram-se mesmo a dizer que está no lote dos melhores vinhos portugueses que já beberam. Temos também umas garrafitas do Duas Quintas Reserva Especial (adquiridas para a comunidade pelo Kroniketas depois de ter conhecido o vinho numa prova com João Nicolau de Almeida, na Wine O’Clock) no qual, após esta prova, depositamos legitimamente grandes expectativas. É um daqueles vinhos na presença dos quais se percebe melhor a expressão popular: «que grande pomada!». É realmente um vinho untuoso, que se mastiga e que escorrega como mel. Um êxtase para os sentidos.

Para finalizar, aletria, arroz doce e uma mousse de chocolate negro com natas, debruada de farripas de chocolate igualmente negro, permitiram-nos provar um Concha Y Toro Late Harvest Reserva Privada 2006, da região de Maule Valley no Chile - um verdadeiro néctar, com notas de mel, passas e fruta muito madura. Muito doce e muito exuberante no olfacto e no palato. Para alguns de nós foi uma estreia na prova destes Colheitas Tardias e uma revelação. A exuberância no nariz e na boca é tão grande que quase passa por licoroso.

Politikos, artista amador e convidado, a puxar a carroça do KV, com Kroniketas, tuguinho e Mancha

Vinho: Bétula 2008 (B)
Região: Douro (Regional Duriense)
Produtor: Catarina Montenegro - Quinta do Torgal
Grau alcoólico: 13,5%
Castas: Viognier (50%), Sauvignon (50%)
Nota (0 a 10): 8

Vinho: Duas Quintas Reserva 2003 (T)
Região: Douro
Produtor: Ramos Pinto
Grau alcoólico: 14%
Castas: Touriga Nacional (2/3), Touriga Franca, Tinta Barroca
Preço em feira de vinhos: 19,59 € (comprado em 2007)
Nota (0 a 10): 9,5

Vinho: Late Harvest Reserva Privada 2006 (B)
Região: Maule Valley (Chile)
Produtor: Concha Y Toro
Grau alcoólico: 12%
Casta: Sauvignon Blanc
Nota (0 a 10): 8

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

No meu copo 256 - Quatro Castas Reserva 2005

Ainda com as colheitas de 2002 e 2003 em casa, uma passagem pela Makro fez-nos deparar com a colheita de 2005 já à venda, que aproveitámos para comprar e beber de imediato ao jantar. Mais uma vez este tinto do Esporão, feito com as melhores quatro castas de cada ano (daí o nome) e que temos seguido desde o seu lançamento, encheu-nos as medidas, guindando-se a um patamar que rivaliza com o ícone da casa, o Esporão Reserva.

Não tendo decantado previamente a garrafa, o vinho começou por se apresentar um pouco fechado e com os aromas escondidos. Parecia algo curto e delgado na boca. Mas logo o tempo se encarregou de corrigir a situação. Meia hora e meia garrafa depois, aí estava ele em todo o seu esplendor, a mostrar toda a sua estrutura e robustez e a soltar toda uma panóplia de aromas. Mantém o perfil a que nos habituou, com um corpo e uma exuberância aromática notáveis, taninos bem firmes mas elegantes, madeira muito equilibrada e o álcool muito bem disfarçado e integrado no conjunto.

Correndo o risco de repetir o que já disse acerca deste vinho em posts anteriores, continuo a considerar que se bate de igual para igual com a marca que ostenta o nome da casa e por vezes o supera. São vinhos de perfis diferentes mas ambos excelentes. As recentes provas de ambos levam-nos a considerar para uma ocasião propícia uma prova comparada dos dois. Estou certo de que vai valer a pena.

Kroniketas, enófilo esclarecido

Vinho: Quatro Castas Reserva 2005 (T)
Região: Alentejo (Reguengos)
Produtor: Herdade do Esporão
Grau alcoólico: 14,5%
Castas: Aragonês, Trincadeira, Touriga Nacional, Syrah (em partes iguais)
Preço em feira de vinhos: 12,26 €
Nota (0 a 10): 9

sábado, 28 de novembro de 2009

No meu copo 255 - Porta dos Cavaleiros Reserva, Touriga Nacional 2007

As Caves São João são uma das mais antigas empresas de produção de vinho em Portugal, com uma origem que remonta a 1920.
Alguns dos seus vinhos emblemáticos são nossos conhecidos há muitos anos, como o Frei João, o Frei João Reserva, o Caves São João Reserva e o Porta dos Cavaleiros. Já tivemos algumas experiências extraordinárias com algumas relíquias desta casa, como aconteceu com uma garrafa magnum de Porta dos Cavaleiros Reserva Seleccionada de 1975. Nos últimos anos os vinhos destas caves andaram um pouco longe da ribalta, e durante algum tempo era praticamente impossível encontrar o Frei João Reserva, o Caves São João Reserva e o Porta dos Cavaleiros Reserva. O reencontro de certa forma ocorreu numa das últimas edições do Encontro com o vinho, onde a empresa estava representada com novos lançamentos destes vinhos. Neste momento já é possível encontrá-los à venda.
Há alguns meses experimentámos uma garrafa de Porta dos Cavaleiros Reserva 2002 que não convenceu, ficando em suspenso uma nova prova para tirar dúvidas. Mas entretanto encontrámos à venda uma versão monocasta deste vinho, que desde logo tratámos de adquirir.
Foi uma boa revelação. Trata-se de um vinho suave e aromático, com aroma predominantemente frutado e floral que lhe é conferido pela Touriga Nacional. Na boca é medianamente encorpado com boa persistência e final adocidado e aveludado, mas em que se notam taninos firmes.
Pareceu ter potencial para melhorar com mais um ou dois anos de garrafa, e tendo em conta o preço moderado parece ser uma boa opção de compra. Uma prova a repetir e uma marca a considerar nos recomendáveis.

Kroniketas, enófilo esclarecido

Vinho: Porta dos Cavaleiros Reserva, Touriga Nacional 2007 (T)
Região: Dão
Produtor: Caves São João
Grau alcoólico: 13%
Castas: Touriga Nacional (100%)
Preço em feira de vinhos: 5,85 €
Nota (0 a 10): 7,5

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Pondo a escrita em dia... (2)

No meu copo 254 - Casa Burmester Reserva 05; Quinta de Pancas, Selecção do Enólogo 04; Gouvyas Vinhas Velhas 04; Porto Quinta de La Rosa Vintage 2000


(continuação)

O pontapé de saída foi dado por um Casa Burmester Reserva 2005 que já havia estado escalado várias vezes para jogar na equipa principal mas fora sempre preterido em função de outras escolhas. Entrou agora e teve uma boa prestação. É um vinho frutado mas não em excesso, o que lhe confere elegância e sofisticação. A fruta está lá mas não abafa tudo à sua volta. É uma escolha para ser revisitada.
Seguiu-se um Quinta de Pancas, Selecção do Enólogo 2004, um blend de três castas, muito bem casadas. Um vinho equilibrado, resultado do casamento harmonioso das boas características das 3 castas presentes: Cabernet Sauvignon, Touriga Nacional e Alicante Bouschet, e em que nenhuma se sobrepõe às outras. De realçar a boa integração das especiarias do Cabernet Sauvignon que não são fáceis de abafar mas que ali estão presentes no ponto certo, não sobressaindo em demasia. A mim, convenceu-me, e se pensarmos na relação preço-qualidade, temos ali um vinho muito competitivo para o patamar de preço em que se encontra. É um vinho moderno, bem feito. Uns dirão que um pouco redondo e sem traço de diferenciação com outros, o que é verdade, mas que não deixa, por isso, de ser um bom vinho.
Passámos, então, a um Gouvyas Vinhas Velhas 2004. A opinião geral foi que se tratava de um vinho com grande personalidade. Muito diferente dos anteriores. É um vinho feito à moda antiga, complexo, estruturado, espesso, robusto, que evoca vinhos passados. Atrever-me-ia mesmo a dizer um vinho rústico, descontando aqui a componente negativa da palavra. Integrou-se na refeição e com os vinhos já provados como aquelas mobílias rústicas de boa qualidade que podem estar na mesma divisão com móveis Luís XVI, sem destoar e, pelo contrário, brilhar e até os ofuscar pela diferença. É feito de uvas provenientes de vinhas velhas, o que se nota bem. Não há muitos vinhos como este Gouvyas e os que há só existem no Douro. É um vinho que claramente pode marcar a tal diferenciação que o vinho português procura face aos outros. Sendo eu apreciador de vinho do Porto, e por isso tendencioso, continuo a achar, ao beber estes Douros, ou Douros com este perfil, que estou a provar um Porto, sem aguardente. E que se perdeu ali um belo vintage.
Fechámos a refeição com uma mousse de chocolate, que é uma das incondicionais sobremesas dos repastos da sociedade, acompanhada por um elegante vintage Quinta de La Rosa 2005. É um vinho de cor rubi, límpido no copo. No nariz tem um ataque ainda algo vinoso mas na boca mostrou-se já com a fruta – framboesa e amora – bastante arredondada. Apesar de estar pronto a beber, ganharia ainda mais em sofisticação e elegância se fosse bebido mais tarde. É sempre uma pena bebê-los novos, mas pena maior é não chegar a velho para os beber...

Politikos, artista amador convidado em versão enófilo-futebolística

Vinho: Casa Burmester Reserva 05 (T)
Região: Douro
Produtor: Sogevinus - Casa Burmester
Grau alcoólico: 14%
Castas: Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinta Roriz
Preço em hipermercado: 10,90 €
Nota (0 a 10): 8

Vinho: Quinta de Pancas, Selecção do Enólogo 04 (T)
Região: Estremadura (Alenquer)
Produtor: Companhia das Quintas
Grau alcoólico: 14,5%
Castas: Touriga Nacional, Cabernet Sauvignon, Alicante Bouschet
Preço em hipermercado: 4,99 €
Nota (0 a 10): 8

Vinho: Gouvyas Vinhas Velhas 04 (T)
Região: Douro
Produtor: Bago de Touriga
Grau alcoólico: 14,5%
Preço em hipermercado: 36,5 €
Nota (0 a 10): 8

Vinho: Porto Quinta de La Rosa Vintage 05 (T)
Região: Douro/Porto
Produtor: Quinta de La Rosa
Grau alcoólico: 20%
Nota (0 a 10): 7,5

Pondo a escrita em dia... (1)

No meu copo 253 - Veuve Roth, Riesling 07; Château Sainte-Marie 06

Com todo este atraso de provas acumuladas, continuamos a tentar pôr a escrita em dia. Os posts que vão aparecendo não reflectem uma ordem cronológica nem sequer a época do ano em que são publicados. Vamos tentar recuperar algum do tempo perdido, referindo as provas mais relevantes. A que se segue foi a propósito de mais uma incursão gastrónomo-etílico-futebolística dos Comensais Dionisíacos. O relato volta a ser do Politikos, que perante a preguiça dos nossos escribas resolveu avançar para a escrita... que nós publicamos.
Ainda com um certo espírito de “rentrée”, após o defeso de Verão, reuniu mais uma vez o núcleo duro dos Comensais Dionisíacos, composto pelos quatro convivas mais assíduos. Era para ter sido uma reunião plenária da sociedade que se iria bater com um javali, mas impossibilidades supervenientes de alguns dos membros, relativas já à nova época de caça, goraram o intento.
O pretexto foi, mais uma vez, um jogo de futebol, no caso da selecção nacional. Embora, neste particular, a opinião dos comensais divirja. É que há quem pense que o pretexto é o vinho, sendo os jogos mero contexto, ou seja, meras balizas temporais! Seja como for, enquanto no campo alinhavam 22 jogadores, em casa alinharam 6 néctares na equipa principal: dois brancos, três tintos e um Porto.
Para o aquecimento, embora bem refrescados que o tempo ainda se apresentava quente, apresentaram-se à liça dois brancos, já conhecidos de outros prélios. Um Veuve Roth, Riesling 2007, um branco suave, com a acidez certa, o que lhe confere aquela delicadeza típica dos brancos franceses e da casta. Embora não fosse a combinação certa, para espanto meu, aguentou-se bem a acompanhar umas lascas de presunto serrano com pão de Mafra com que se iniciaram as hostilidades...
Dever-se-ia seguir um Château Sainte-Marie 2006, outro gaulês, que resulta do feliz casamento entre as castas Sauvignon Blanc, Sémillon e Muscadelle. Proveniente da região demarcada de Entre-Deux-Mers, que deve o seu nome ao facto de estar encravada entre os rios Dordogne e Garonne, e integra a grande região de Bordéus, é um vinho fresco e frutado, cuja igualmente bem domada acidez deixa vir ao de cima o doce e o sabor inconfundíveis do moscatel. Ficou aprovadíssimo em prova anterior, revelando-se um excelente branco. Mais uma vez os brancos franceses a brilhar e a marcar pontos nas nossas preferências. Mas desta vez, para nosso azar, nem chegou a ir a jogo. Dois dos convivas deram-lhe um gole e concluíram que estava passado. Acontece! Antes disso, e para comparação, ainda foi distribuído pelos comensais umas lágrimas – o que sobejava do consumo da semana – de um branco da Região do Sado de seu nome Lisa, 100% moscatel graúdo, para se poder aferir a diferença entre dois vinhos com moscatel. A intenção era boa…
Não era, porém, por falta de jogadores que em casa não se jogava, pelo que fizemos alinhar de imediato os tintos que se haviam de bater à mesa com umas gravatinhas de porco, muito bem temperadas, acompanhadas de batata frita, transportadas de Benfica duma sucursal do famoso David da Buraca em versão mais moderna e requintada, que neste caso dá apenas pelo nome de David.

(continua no próximo post)

Vinho: Veuve Roth, Riesling 2007 (B)
Região: Alsácia (França)
Produtor: Les Caves de La Route du Vin
Grau alcoólico: 12,5%
Casta: Riesling
Preço: 6,57 €
Nota (0 a 10): 7,5

Vinho: Château Sante Marie 06 (B)
Região: Entre-deux-mers - Borgonha (França)
Produtor: Château Sante Marie
Grau alcoólico: 12,5%
Castas: Sauvignon (62%), Sémillon (29%), Muscadelle (9%)
Nota (0 a 10): 8,5

sábado, 14 de novembro de 2009

No meu copo 252 - Poeira 2004; Redoma 2003; Batuta 2004; Portal 30 anos

A propósito dum evento futebolístico, juntou-se o núcleo duro dos Comensais Dionisíacos na casa do Politikos, a jogar em casa nas duas vertentes. Para o evento reservámos umas compras especiais que tinham sido adquiridas em conjunto.
Tivemos perante nós uma plêiade de tintos do Douro de altíssimo nível que resolvemos guardar para ocasião propícia a fim de os desfrutar em confronto com uns bifes à minha moda. A dúvida estava em saber por qual começar. Assim sendo, resolvemos decantá-los com alguma antecedência, depois de os colocar à temperatura adequada, e servimos um pouco de cada para uma primeira aproximação ao modo como cada um iria evoluir.
Acabámos por optar, em primeiro lugar, pelo Poeira 2004, porque foi o que se mostrou desde logo com grande vivacidade. Uma exuberância de aromas frutados e uma estrutura a marcarem a prova, final longo e persistente, a madeira muito discreta e os taninos muito vivos, a conferirem complexidade ao conjunto, foram os traços marcantes deste vinho que já é uma marca de referência nos grandes tintos do Douro, e bem o justificou.
Ficámos então com um duo de tintos Niepoort para o resto da refeição. Depois de eu e o Politikos já termos tido contacto com o portefólio da Niepoort, no fantástico jantar Niepoort promovido pela Wine O’Clock no Jacinto, tínhamos agora a possibilidade de confrontar os vinhos que o integram com os de colheitas já com alguns anos, possivelmente menos marcados pela juventude dos da prova anterior e num patamar de evolução mais favorável à expressão das suas qualidades.
Começámos obviamente pelo Redoma 2003, o do nível intermédio, que acabou por se apresentar com um perfil semelhante ao de 2006, provado anteriormente. Alguma complexidade, macieza e estrutura média, ainda com uma certa frescura na boca. Estava num bom momento para consumir.
Finalmente o Batuta 2004, o topo de gama da casa, que se voltou a mostrar um vinho extraordinário, como já tinha acontecido no jantar da Wine O’Clock, onde se guindou ao primeiro lugar das nossas preferências. Aqui bastante mais domado que o anterior, num patamar de evolução mais tranquilo mas a prometer poder expressar ainda mais qualquer coisa. É um vinho ao mesmo tempo complexo e suave, distinto e elegante. O preço penaliza o consumo, mas esta prova abriu o apetite para voltarmos à carga. A Revista de Vinhos classificou-o, não há muito tempo, como um vinho a caminho da perfeição...
Para finalizar, mais uma surpresa da garrafeira do Politikos na área dos Portos: um 30 anos da Quinta do Portal. Não paro de me surpreender com as provas de vinho do Porto que tive oportunidade de fazer ultimamente, e depois do branco extra-seco de 1939, no jantar Niepoort, e do Lacrima Christi de 1908, no jantar de perdizes antes de férias, este conseguiu subir ainda mais alto e tocar os céus. É provavelmente o melhor vinho do Porto que já bebi. Para fim de noite não podia ter sido melhor. Se o Lacrima Christi foi sublime, este só pode ser celestial! É possivelmente o vinho perfeito.
Feliz noite esta em que tivemos a felicidade de degustar quatro vinhos extraordinários.
Ah, é verdade, também houve um jogo de futebol, que não acabou bem como se desejava. Mas quem se lembrou dele?

tuguinho, Kroniketas, Mancha e Politikos a jogar em casa

Vinho: Poeira 2004 (T)
Região: Douro
Produtor: Jorge Moreira
Grau alcoólico: 14,5%
Preço: 25,90 €
Nota (0 a 10): 8,5

Vinho: Redoma 2003 (T)
Região: Douro
Produtor: Niepoort Vinhos
Grau alcoólico: 13,5%
Castas: Touriga Franca, Touriga Nacional, Tinta Roriz, Tinta Amarela, Tinto Cão
Preço: 26,32 €
Nota (0 a 10): 8

Vinho: Batuta 2004 (T)
Região: Douro
Produtor: Niepoort Vinhos
Grau alcoólico: 14%
Castas: Tinta Roriz, Touriga Franca, Touriga Nacional e outras
Preço: 57,50 €
Nota (0 a 10): 9

Vinho: Portal 30 anos
Região: Douro/Porto
Produtor: Quinta do Portal
Grau alcoólico: 20%
Nota (0 a 10): 10

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Encontro com o Vinho e com os Sabores 2009


Começou hoje no Centro de Congressos de Lisboa (antiga FIL, na Junqueira), mais uma edição do evento anual organizado pela Revista de Vinhos. Durante este fim-de-semana, como já é tradição, vamos lá.
Se tivermos vontade e pachorra (o que cada vez vai faltando mais), aqui daremos conta de algumas impressões relevantes.

tuguinho (em pré-reforma) e Kroniketas (quase a caminho), os diletantes cada vez mais preguiçosos

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Coisas do Vinho e coisas do vinho: a propósito de Colares



Mais de 3 meses depois do último post, devido a afazeres diversos que não têm permitido alimentar este blog com a frequência desejável, voltamos com uma opinião dum artista convidado, neste caso o nosso mui estimado Politikos do blog Polis&etc e membro do núcleo duro dos Comensais Dionisíacos.

Aqui fica o relato.

Nas coisas do vinho, como em tudo, há o muito bom e o muito mau. Habituei-me, porém, a ver no sector da comercialização, divulgação e promoção do vinho cada vez mais profissionalismo e até mesmo alguma excelência. Daí já estranhar a ausência de qualidade quando a vejo.

A revista Time Out, da semana de 21 a 27 de Outubro, apresentou um dossier temático sobre o vinho. Numa reportagem sobre o vinho de Colares, intitulada O mistério do vinho de Sintra, assinada por João Cepeda, com fotografias de Ana Luzia, discorreu-se sobre o vinho de Colares, entrevistando-se, entre outros, Vicente Paulo, o presidente da Adega Regional de Colares. A dado passo, diz Vicente Paulo: «a maior parte das pessoas não sabe mas pode visitar-nos». E, acrescenta a revista, «regras: marcar com um dia de antecedência e reunir um grupo com 15 pessoas no máximo. Custa cinco euros por pessoa». Perante isto, propus aos membros do núcleo duro dos Comensais Dionisíacos uma visita à Adega de Colares e prontifiquei-me a fazer os contactos e a acertar datas.

Começa aqui o calvário. Atiro-me ao Google e consigo sem dificuldade de maior o contacto telefónico da Adega Regional de Colares. Do outro lado, atende-me uma funcionária remansosa mas com um mínimo de diligência e simpatia. Explica-me que não há visitas guiadas, nem provas, mas que se lá formos podemos percorrer a Adega por nossa conta e visitar a loja. Digo-lhe que o que pretendíamos era uma visita com algum enquadramento, obter algumas explicações, visitar a Adega, a vinha, e fazer uma prova. Diz-me que são apenas dois funcionários e que isso não é possível mas que há uma empresa, a Coisas do Vinho, que organiza visitas, mas que não sabe mais pormenores. E dá-me o contacto da dita Coisas.

Ligo, então, para as Coisas do Vinho. Do outro lado, uma empregada cuja atitude eu qualificaria como sobranceira e algo snobe. Não foi malcriada, nem incorrecta, mas eu não queria a trabalhar comigo, nem a poria em nenhuma função de atendimento público que coordenasse. Falta-lhe em atitude, simpatia e acolhimento, o que lhe sobra em sobranceria, antipatia e rigidez. É daquelas pessoas que consegue inverter os termos da relação. Ou seja, em que o cliente se transforma em empregado e vice-versa. Diz-me a dita que sim, que organizam visitas mas que o mínimo são 15 pessoas. Disse-lhe que éramos 4, repetiu que o mínimo eram 15. Não me deu nenhuma explicação sobre as visitas e/ou sobre as provas. Falei-lhe na reportagem da Time Out. Disse que não conhecia. Falei-lhe no nome de Vicente Paulo, retorquiu-me que era o Eng.º Vicente Paulo, presidente da Adega. Fiquei a achar que aquele Eng.º soava a remoque. Se calhar, ela acha que a profissão e/ou a formação fazem parte do nome! Por último, mandou-me telefonar para a Adega quando expressamente lhe havia dito que já o tinha feito. Por insistência minha, mandou-me a tabela de provas de 2009, que recebi no mail.

Em resumo:

1.º A Adega Regional de Colares publicita, através de uma revista, visitas a €5, com 15 pessoas no máximo, quando o que parece haver são provas de €6 a €25 – sem IVA – com 15 pessoas no mínimo – o máximo deve ser o infinito!;

2.º A Adega Regional de Colares concessionou as provas – visitas não sei se há e a tabela não esclarece – à empresa Coisas do Vinho, mas nenhuma delas parece saber minimamente o que faz a outra, nem haver nenhum tipo de interligação entre elas; ao visitante/cliente é-lhe indiferente que seja a Adega ou as Coisas do Vinho a organizar as visitas/provas, quer é ligar para um número e obter a informação;

3.º A Adega Regional de Colares, com uma empregada que me parece de linha, ainda procurou responder com alguma diligência às minhas perguntas e acomodar a situação: disse-me que podia visitar a Adega e comprar vinho na loja; a Coisas do Vinho, com uma empregada aparentemente mais profissionalizada, funciona em código binário, 0 ou 1, ou há 15 pessoas ou não há prova; será que à Coisas do Vinho não ocorreu ficar com o meu contacto e quando reunisse mais 11 interessados, contactar-me?! Quantos não terão interesse em fazer esta prova e não farão por causa desta limitação?

Enfim, há, como se vê, ainda bastante caminho a percorrer nas coisas do vinho e mais ainda nas Coisas do Vinho… Bem pode quem planta, trata, colhe e fabrica o vinho de Colares fazer tudo bem… mas falhando esta última linha, falha tudo… O vinho de Colares pode ser excelente, diferente, singular e único, mas com esta promoção não vai longe…

Ficará para uma próxima, se calhar nunca, uma visita/prova às vinhas e aos vinhos produzidos em chão de areia de Colares…

Politikos, enófilo mais-que-amador, no caso chateado com Colares