Nem todos se recordarão do que vou referir a seguir: em tempos que já lá vão, as tabernas (espécie de antecessor do Café como ponto de encontro do povo, em que o mais servido era o copo três de vinho e não a bica) vendiam também carvão e petróleo. Este último alimentava máquinas manuais a vácuo, que serviam para cozinhar quando os fogões a gás não eram tão prosaicos como nos dias de hoje.
Perguntar-se-ão: e porquê este arrazoado aqui, nas Krónikas Vinícolas, que deviam tratar apenas de gargantas e estômagos e sua estimulação? Ora bem, tudo isto se deve ao facto de vos querer ilustrar correctamente a cor do vinho que foi vítima ao almoço deste dia nobre: o dito cujo era da cor do referido petróleo para consumo doméstico, uma cor vermelha aguada, mas de grande impacto visual.
O vinho em causa era nem mais nem menos do que o magnífico clarete da Quinta do Monte D’Oiro, situada na Estremadura, e produtora de alguns dos melhores vinhos de Portugal, incluindo o Homenagem a António Carqueijeiro 1999, a quem já teceram loas que cheguem do outro lado do Atlântico.
Este clarete, da colheita de 2003, referia no contra-rótulo que devia ser consumido de preferência nos 2 primeiros anos, o que significaria que eu já estaria atrasado um ano! Mas não. O vinho mostrou-se em plena pujança, com a magnífica cor já referida, uma ligeira sugestão gasosa e um sabor fresco, livre de taninos, mais do que adequado para o prato com que o consumi: a quase célebre cataplana de robalo e gambas!
Este vinho é proveniente da casta francesa Cinsaut, e foi sujeito a uma curta maceração de forma a manter a tal cor adequada a um rosé. Mas não se iludam! O néctar possui 13,5º e uma estrutura de fazer inveja a muitos tintos!
Em conclusão, “caiu que nem ginjas” com a tal cataplana, não abafando os sabores do prato e jogando muito bem com a sua leveza condimentada.
Fechou-se o repasto com uns morangos ao natural acompanhados por um LBV filtrado da Graham’s, de 1998, servido nos estupendos cálices desenhados por Siza Vieira (vá lá, deixem-me ser “gabarolas” só por um momento!).
O final verdadeiro tinha de ser executado por um café expresso, com açúcar, obviamente – aos puristas que só bebem café sem qualquer adoçante só digo uma coisa: não sabem o que perdem! –, secundado por um magnífico chocolate puro Solitaire da Guylian. Depois disto aquela história do paraíso e até as suas variações que incluem virgens e assim deixam de fazer muito sentido…
Tenham uma boa vida.
tuguinho, enófilo esforçado
Vinho: Quinta do Monte D'Oiro - Clarete 2003 (Rosé)
Região: Estremadura (Alenquer)
Produtor: José Bento dos Santos - Quinta do Monte D'Oiro
Grau alcoólico: 13,5%
Castas: Cinsault
Preço em feira de vinhos: cerca de 6 €
Nota (0 a 10): 8
domingo, 12 de fevereiro de 2006
Reincidências - No meu copo 19 - Quinta do Monte D'Oiro Clarete 2003
Publicada por Krónikas Vinícolas à(s) 16:50
Etiquetas: Alenquer, Cinsault, Estremadura, Monte d'Oiro, Peixes, Rosé
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