Um convívio interbloguista levou o núcleo duro do Grupo Gastrónomo-Etilista ao Vasku’s, um dos nossos restaurantes preferidos da capital. Fugindo ao habitual fondue, os quatro comensais optaram por um bife do lombo com molho pimenta, que estava delicioso como se esperava.
Claro que o grande tema do repasto não se fez à volta do prato mas à volta do copo. Para fugirmos também aos habituais alentejanos onde já não há muito por descobrir, e face à escassez de opções em regiões como a Bairrada, o Dão, o Ribatejo e a Estremadura (da Península de Setúbal não havia um único tinto), fomos para o Douro e começámos por escolher um Bons Ares tinto. Foi-nos apresentada uma sugestão pelo chefe de serviço que dava pelo nome de Passadouro como valendo a pena experimentar. Como se tratava de uma marca desconhecida de todos, resolvemos seguir a sugestão e começar por este.
É um vinho da zona do Pinhão, de cor muito escura, compacta, a tender para o violeta. Foi um pouco decepcionante. É um daqueles vinhos que, como já tenho aqui referido, me fazem questionar porque é que o Douro tem assim tanta fama nos vinhos de mesa. Pareceu-me (e não foi só a mim) perfeitamente vulgar e, tratando-se dum vinho de 2003, os aromas apresentaram-se ainda muito crus, pouco definidos e pouco exuberantes. O final de boca também é curto e não deixa grandes memórias, apesar dos 14% de álcool que não me pareceu que o beneficiem grande coisa. Pode ser que ainda melhore muito na garrafa mas daí até ser um excelente vinho vai uma grande distância. O meu comentário foi simples: não é vinho que me vá apetecer ter na garrafeira.
Esgotado o líquido da primeira garrafa, insistimos no Bons Ares, da Ramos Pinto. Esta é sempre daquelas casas que nos oferecem apostas seguras e tal como o seu primo Duas Quintas, aqui amplamente divulgado, este não nos deixou ficar mal na escolha. A Quinta dos Bons Ares é uma das duas donde saem as uvas para o Duas Quintas (a outra é a da Ervamoira, já por nós visitada). Neste caso a Ramos Pinto fez outro vinho apenas com uvas desta quinta, mais a jusante no rio Douro e situada em maior altitude, o que confere mais frescura e vivacidade aos vinhos ali produzidos. Curiosamente, por uma dessas particularidades em que é fértil a nossa legislação, este vinho não tem denominação de origem Douro mas sim Regional Trás-os-Montes, porque uma das castas usadas é o Cabernet Sauvignon. Mesmo sendo usada de norte a sul do país, vinho onde entre passa a ser vinho regional, porque não faz parte das castas recomendadas. Em nenhuma região. Vá-se lá saber porquê! Há uns 15 anos que bebo vinhos de Cabernet e esta casta tem-me proporcionado alguns dos melhores que tive oportunidade de provar...
Misturada em 40% com a famosa Touriga Nacional (60%), daí resultou um vinho, este sim, excelente. Cheio de estrutura e corpo, com um final prolongado e aromas muito mais exuberantes, extremamente equilibrado em todas as componentes, depois de se beber ainda se fica a saborear. Este é daqueles que não enganam e obviamente faz parte da minha garrafeira e das nossas escolhas. E é vinho para se bater bem com pratos mais pesados e condimentados. Um dos convivas comentou que “daria um excelente vinho do Porto”. Pois, dali também saem desses...
Considero que este vinho não é inferior ao Duas Quintas, pelo contrário, é até ligeiramente superior, pelo que o classifico uns pozinhos acima. O que até faz sentido, pois é mais caro.
No final do repasto foram apresentadas aos comparsas as duas garrafas de Reserva Ferreirinha recentemente compradas. Puderam admirá-las e manipulá-las, mas não apreciar o conteúdo, porque agora vão repousar na garrafeira do tuguinho, que fica como fiel depositário (é mesmo o que se pode chamar o fiel de armazém). Quando já não fizer calor, então vamos abri-las. Agora foi só para abrir o apetite…
E não digo mais nada porque vou de férias. O tuguinho que trate do estaminé durante o mês de Agosto. Boas provas.
Kroniketas, enófilo esclarecido
Vinho: Passadouro 2003 (T)
Região: Douro (Pinhão)
Produtor: Quinta do Passadouro - Sociedade Agrícola
Grau alcoólico: 14%
Preço no restaurante: 21 €
Nota (0 a 10): 6,5
Vinho: Bons Ares 2002 (T)
Região: Trás-os-Montes (regional)
Produtor: Ramos Pinto
Grau alcoólico: 13%
Castas: Touriga Nacional, Cabernet Sauvignon
Preço em feira de vinhos: 11,99 €
Nota (0 a 10): 8
PS: Este post foi escrito acompanhado do som e da imagem do DVD do ano: Pink Floyd - Pulse. Para falar de grandes vinhos, nada como encontrar inspiração em grandes músicas.
sexta-feira, 28 de julho de 2006
No meu copo 55 - Bons Ares 2002, Passadouro 2003
Publicada por Krónikas Vinícolas à(s) 20:03
Etiquetas: Cabernet Sauvignon, Douro, Lisboa, Passadouro, Ramos Pinto, Restaurantes, Tintos, Touriga Nacional, Tras-os-Montes
Subscrever:
Comment Feed (RSS)
|