Na minha mesa, no meu copo 41 - Vallecula; Quinta de Cabriz Colheita Seleccionada 2003, Quinta de Saes 2003
Algures no sopé da Serra da Estrela, entre a Covilhã, Guarda e Manteigas, existe um local paradisíaco onde corre o Zêzere e onde o tempo parece não passar. Chama-se Valhelhas e é daqueles locais onde se consegue ouvir o silêncio, os pássaros, o rio... E existe ali, naquele local recôndito, um restaurante de nome Vallecula, numa casa feita em pedra.
Só de propósito é que alguém lá vai parar, mas vale bem a viagem. Uma sala que alberga umas 30 pessoas, um único funcionário (que por sinal é o dono) a atender os clientes e a dar conselhos. Ele mostra a lista mas explica o que há. Para comilões e em especial amantes de carne, é um maná.
Javali de montaria na carqueja, filete de vitela, borrego grelhado, peixinhos do rio para entrada, queijo fresco de cabra, alheira de caça, arroz doce com leite de cabra, cocktail de frutos secos, as iguarias são de fazer crescer água na boca, do princípio ao fim da refeição. Os comensais renderam-se a um magnífico prato de borrego, grelhado no ponto ainda rosado, tenro de quase se desfazer na boca, e um não menos magnífico javali estufado com molho espesso que parecia sempre pouco no prato. Tudo acompanhado por arroz e umas excelentes migas e não menos excelente esparregado. Nas sobremesas o arroz doce fez sucesso, assim como o cocktail de frutos secos.
Os vinhos listados são exclusivamente da região da Serra da Estrela, fazendo jus à característica de restaurante regional. Dão e Cova da Beira estão bem representados numa lista com cerca de 60 nomes. Infelizmente um dos vinhos pedidos não existia, pelo que optou-se primeiro por um Dão Quinta de Cabriz Colheita Seleccionada, que cumpriu o seu papel dentro daquilo que se esperava: é um vinho fácil de beber, aberto e macio, com uma bela cor rubi característica dos tintos do Dão, e que acompanha bem praticamente todos os pratos de carne. Em seguida pediu-se um Quinta de Saes, que mostrou um sabor algo estranho, resultante de qualquer componente desconhecido que os presentes não conseguiram identificar. Um defeito do vinho, ou uma característica a que não estamos habituados? Fica a dúvida para uma próxima oportunidade, mas a verdade é que, apesar do aroma mais pronunciado e profundo e dum corpo mais cheio, parecendo que era “mais vinho” que o anterior, acabámos por não ficar a ganhar com a troca. A culminar a opípara refeição ainda foi oferecido (só um dos presentes aceitou) um cálice de aguardente, mais um produto da região. Até a água gaseificada era da região.
O dono é de uma simpatia extrema, desdobrando-se em atenções pelas várias mesas da sala, tentando sempre que nada falte a ninguém. Enquanto vai atendendo os nossos pedidos vai conversando com os clientes, criando um ambiente que, embora sossegado, é descontraído e acolhedor e faz-nos esquecer o passar das horas. Neste caso, o grupo entrou às 8 da noite e abandonou quase às 10 e meia, sem grande pressa para sair. Mas ficou a vontade de voltar. A não perder na próxima passagem pela Serra da Estrela.
Kroniketas, enófilo esclarecido
Restaurante: Vallecula
Praça Dr. José de Castro
6300-235 Valhelhas
Telef: 275.487.123
Preço médio por refeição: 20 €
Nota (0 a 5): 5
Vinho: Quinta de Cabriz, Colheita Seleccionada 2003 (T)
Região: Dão
Produtor: Dão Sul, Sociedade Vitivinícola - Quinta de Cabriz
Grau alcoólico: 13%
Preço em feira de vinhos: 2,72 €
Nota (0 a 10): 6,5
Vinho: Quinta de Saes 2003 (T)
Região: Dão
Produtor: Álvaro Castro
Grau alcoólico: 12,5%
Castas: Alfrocheiro, Tinta Roriz, Touriga Nacional
Preço em feira de vinhos: 3,35 €
Nota (0 a 10): 5
sexta-feira, 28 de abril de 2006
Krónikas duma viagem ao Douro - 2
Publicada por Krónikas Vinícolas à(s) 00:50
Etiquetas: Alfrocheiro, Alvaro Castro, Beira Baixa, Cabriz, Dao, Dao Sul, Restaurantes, Tinta Roriz, Tintos, Touriga Nacional, Viagens
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