domingo, 5 de março de 2006

Na minha cozinha 25 - Surf'n'Turf com legumes chineses no wok

Primeira coisa a dizer: quem não tem wok, caça com frigideira! Ou seja, se não tem um wok, use uma frigideira grande e funda.
Segunda coisa a dizer: porquê surf’n’turf? Resolvi armar ao snob e usar a expressão americana para pratos que têm carne e peixe ou marisco na sua composição. “Prontos”, achei que Terra e Mar não ficava tão bem…
Depois destas ressalvas, falemos um pouco dos ingredientes. Suporemos que os convivas são quatro. Vamos precisar de carne, gambas, a tal mistura de legumes chineses e batatas, além de uma garrafa de um bom single malt da terra dos kilts. A carne que costumo usar é o entrecote de vaca, que geralmente está disponível em bifes com boa altura. Ponha em sentido dois bifes destes e prepare-os para a batalha. As gambas devem ser duas dúzias se forem de calibre 20/30, para calibres mais baixos multiplique proporcionalmente (não queria que eu fosse fazer as contas agora, pois não?). A parte da mistura de legumes chineses é fácil: vá ao Pingo Doce e compre dois pacotes. Estão na secção de congelados. Deve haver produtos semelhantes noutros super ou hipermercados, mas só conheço este. As batatas são para fritar, para acompanhamento. Reserve a garrafa de whisky.
Para a confecção, comece por abrir a garrafa de whisky, encha meio copo e dê uns bons goles. Sente-se melhor, não sente? Bem me parecia. Agora vamos tratar da comida.
Parta os bifes em pedaços de tamanho médio (um pouco mais pequenos do que os pedaços para fondue), tempere-os com sal, alho cortadinho e um pouco de pimenta e reserve.
Vamos cozer as gambas. Passe-as por água fria e coloque-as num tacho com água a ferver temperada com sal. Não se distraia com o whisky, não as deixe cozer demais!
Noutro tacho deite a água suficiente para cozinhar a mistura de legumes, ponha-lhe sal e pimenta e deixe-a ferver. Quando isso acontecer, faça os legumes tomarem banho nela, vindos directamente do congelador. Convém retirá-los da embalagem de plástico antes de irem ao banho. Beba mais um pouco de whisky. Se já não houver, vá buscar a garrafa e deite mais no copo. O banho deve demorar entre 5 e 8 minutos.
Lembra-se das gambas? Estão à sua espera. Tire-as da água assim que estiverem cozidas, passe-as por água fria e descasque-as. Se molhar as mãos com água evitará queimaduras de 3º grau. Reserve meio copo da água da cozedura, previamente coada.
Entretanto os legumes já devem ter o banho tomado. Escorra-os e reserve.
Convém que nesta altura as batatas já estejam fritas e guardadas em local aconchegado, para não arrefecerem. Não pense que lhe vou dizer como se fritam, mas use azeite, que é mais saudável.
Podemos agora dar novamente atenção à carne. No wok (ou na tal frigideira grande e funda) verta um pouco de azeite, o suficiente para fritar os bifes. Maneje o wok (ou a tal frigideira grande e funda) de modo a que o azeite passe por toda a sua superfície.
Coloque-o em lume forte. Quando o azeite estiver quente, reduza o lume e deite os pedaços do entrecote lá para dentro. Aloure todas as faces dos pedaços de carne e retire-as do wok (ou da tal frigideira grande e funda) para um prato ou travessa. Se conseguir, vá beberricando o seu whisky entre as manobras.
Suba o lume e coloque a mistura de legumes naquilo que vocês sabem, mexendo sempre para saltear bem. Após alguns momentos, junte as gambas e verta um pouco da água da sua cozedura nesta mistura. Por favor não se engane no copo porque corre o perigo de estragar o seu whisky.
Deixe reduzir um pouco o molho, mexendo sempre, e adicione a carne. Não a deixe fritar muito. Se não gosta da carne mal passada, vá ler outro post.
Retire do lume e leve à mesa no próprio wok (ou na tal frigideira grande e funda).
Neste momento, se é um habitué do destilado escocês, deve estar bem disposto e com fome. Se está mais próximo do tipo abstémio, a sua família deve estar a sofrer com a sua imitação do Andrea Bocelli. Neste caso cale-se, tente manter-se em pé e avance para a mesa. Peça a outra pessoa para levar a comida.
Quanto a líquidos, largue o whisky e abra uma garrafa de tinto jovem e frutado, ou mesmo de um branco com madeira (espero que este não seja o primeiro post que lê neste blog, para não andar à procura de pedaços de madeira dentro da garrafa…). Como é um prato com frescura, não se aconselham os tintos velhos. Como não é tão leve como isso, também não se aconselham brancos “normais”, mas é uma questão de gosto. Um tintinho de 2003 cai bem de certeza.
Para sobremesa prefira fruta. Termine com um praliné acompanhado por um whisky de malte suave. Sugiro um Cragganmore, difícil de encontrar mas de suavidade garantida.
Depois de tudo isto vai estar cheio de certeza. Sente-se no sofá e espere que passe. Vai ver que pela hora do jantar já nem se lembra.

tuguinho, gastrónomo popular