(republicação adaptada; post original de 31 de Julho de 2004, nas Krónikas Tugas)
Para concluir este conjunto de reflexões vou-me debruçar (sem entornar) sobre o último dogma: branco e verde bebem-se frescos e tinto bebe-se à temperatura ambiente.
Se a primeira premissa está certa, nada de mais errado para a segunda. “Temperatura ambiente” no Verão significa beber o vinho a 30 graus. Isso seria se o vinho tivesse acabado de sair duma cave fresca. Qualquer livro ou revista refere as temperaturas a que os vinhos devem ser bebidos e nunca vi nenhum que recomendasse beber o vinho tinto a mais de 18º C. O que é grave é a falta de noção que existe nos nossos restaurantes a este respeito. Já tivemos algumas situações hilariantes com empregados de mesa ignorantes na matéria, havendo um que teimava que um vinho que trouxe morno para a mesa estava a 17º!!! Também tenho surpreendido alguns comparsas à mesa ao pedir um frappé, o que motiva este invariável comentário: “não sabia que se refrescava o vinho tinto”. A minha resposta também é invariável: “não se refresca, não se pode é beber morno”. Nada que uma hora no frigorífico ou um balde com gelo e água ou mesmo uma manga de refrigeração não resolvam (esta última, aliás, até refresca mais depressa que qualquer uma das outras opções). Se for no restaurante, não hesitem em pedir para arrefecer o vinho se este vier morno, porque fica imbebível e só se sente cortiça na boca, perdendo completamente os aromas.
Quanto aos brancos, verdes, rosés e espumantes, não há problema: se ficarem frios demais (o que também os faz perder os aromas, e não se deve cair no exagero oposto), ao irem para a mesa e serem servidos nos copos a temperatura começa rapidamente a subir, por isso depressa atingirão uma temperatura ideal. Mesmo os tintos, depois de arrefecidos, começam a aquecer depois de servidos. E no Verão a questão da temperatura é fundamental para não se andar a beber vinho “quente”. Porque não comprar um termómetro de vinho para tirar as dúvidas? Pode-se colocar o termómetro no copo ou na garrafa, quando esta ainda está cheia, e certamente haverá muitas surpresas em relação à temperatura a que se está a beber o vinho.
Em resumo, e seguindo algumas indicações que se podem obter por aí, dum modo geral as temperaturas do vinho deverão andar à volta destas:
- Espumantes e champanhes - 6 a 8 ºC
- Brancos jovens e secos; rosés - 8 a 10 ºC
- Brancos encorpados ou fermentados em madeira - 10 a 12 ºC
- Tintos jovens e ligeiros - 12 a 14 ºC
- Tintos jovens encorpados - 14 a 16 ºC
- Tintos velhos ou de reserva - 16 a 18 ºC
Para os vinhos generosos, a regra é mais ou menos a mesma. Os Portos tintos andarão entre os 14 e os 18º C, conforme a idade, e os brancos, assim como os moscatéis e madeiras, entre os 10 e os 14 ºC.
Isto são tendências gerais, servem apenas como indicadores, mas o gosto pessoal pode variar, pelo que cada um depois adapta a temperatura às suas preferências, mas o que é importante é termos a noção de que o vinho, sendo tinto, não se bebe morno, porque não é sopa, mas também não se bebe fresco - apenas nos muito jovens, como o Alandra, ou nos claretes se bebe ligeiramente refrescado - e o branco tem que ser obrigatoriamente refrescado para não saber a xarope. E ter em atenção que quanto mais doce o vinho mais fresco deve ser bebido.
À vossa!
Kroniketas, enófilo esclarecido e de termómetro no copo
quarta-feira, 15 de março de 2006
Reflexões à volta da garrafa (5) - Beber tinto à temperatura ambiente?
Publicada por Krónikas Vinícolas à(s) 23:55
Etiquetas: Artigos, Servico vinhos
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