quarta-feira, 22 de novembro de 2006

Na minha mesa 69 - Restaurante Arcoense (Braga)



Levaram-me os afazeres profissionais até à cidade dita dos arcebispos, Braga.
Aproximando-se inexoravelmente a hora do jantar e não havendo ninguém disposto a jantar no hotel, um daqueles vetustos no parque do Bom Jesus, sugeri eu a Adega Arcoense, restaurante a que já não ia há uns anos, mas que belíssimas recordações me deixara.
Não vou aqui entrar em grandes pormenores sobre as peripécias que passámos para encontrar o dito retiro, porque eu tinha apenas recordações da zona da cidade onde se encontrava e faltou-nos um golpe de asa para o atingirmos sozinhos. Depois de quase uma hora a deambular pela urbe ao volante, valeu-nos o dono do restaurante que nos serviu de navegador telefónico e nos levou a bom porto (neste caso Braga, mas enfim).
Em boa hora insistimos e não desistimos. Na mesa já preparada encontravam-se um prato com rodelas de um enchido assim entre o paio e o salame, um belíssimo queijo amanteigado e pão do bom. Foram chegando pimentos guisados, pataniscas, jaquinzinhos bem fritos, gambas al ajillo, outras simplesmente cozidas, pimentos morrones, choquinhos fritos naquela polpa que se usa para os “calamares”, um salpicão de porco preto com grelos sateados, alheira de caça com batatinhas assadas, e outros acepipes que de tanta variedade acabaram por me baralhar a memória.
Este rol de entradas já seria o suficiente para muitos estômagos. Algures pelo meio foi-nos descrita a ementa, cheia de coisas boas, de um misto de carnes assadas ao lombo estufado de boi com arroz de caça, do sarrabulho até ao bom bacalhau cozinhado de várias formas.
Optámos pelo assado misto, mas conseguimos trazer à prova o arroz de caça, feito na hora apenas para acompanhamento do tal boi (de que também havia notícia de uns nacos grelhados apenas com sal…), e de que o simpático proprietário obteve o excedente do que tinha feito um pouco antes para uma outra mesa. Profuso de carniças várias, com um ligeiro toque de sangue a lembrar remotamente as cabidelas, bem untuoso sem ser um pingo de enjoativo, teve o aval entusiasta dos amesendados.
O tal assado que escolhemos (Assado Misto na Pingadeira) incluía cabrito, vitela (uns nacos bem suculentos e tenros) e costela mindinha (penitencio-me já aqui, porque esta foi a peça que mais me agradou, mas não sei de que alimária era…), acolitados por batatinha nova e castanha saborosa, reforçados com uma travessita de grelos de couve salteados e arroz de forno feito com os miúdos da bestita mais ligeira, o cabrito. Tudo no ponto e de qualidade e frescura irrepreensíveis, para as quais também contribui o facto de muitos dos ingredientes, inclusive carnes das bestitas mais avantajadas, provirem de uma quinta que pertence ao dono do restaurante.
Para acompanhar condignamente este roteiro gastronómico escolhemos um valor seguro: um Sogrape Reserva do Douro, colheita de 2001, que esteve mais que à altura de tudo o que se provou. Um grande bem haja para a Sogrape, que nunca me deixou mal.
Mudou de nome, perdeu um balcão que tinha à entrada, mas não perdeu nenhuma das qualidades de que eu me recordava. Pelo contrário, achei-o ainda melhor. Portanto, quando for a Braga, e mesmo que não o encontre às primeiras, não desista! Vai ver que vale a pena.
(não há fotos, porque aqui o quadrúpede regenerado não levou a máquina)

tuguinho, enófilo esforçado

Restaurante: Arcoense
Rua José Justino Amorim, 96
4715-023 Braga
Telef: 253278952
Preço médio por refeição: 40 €
Nota (0 a 5): 5