Uma refeição diferente levou-me, um destes fins-de-semana, a fazer uma prova diferente com o núcleo duro dos “Comensais dionisíacos”. Planeada a confecção dos saborosos filetes de robalo com agrião, para fugir à “ditadura” das carnes, decidi aproveitar a ocasião para fugir também à “ditadura” dos tintos e provar uns rosés que comprei nas feiras de vinhos.
Compareceram à ocasião um Clarete da Quinta do Monte d’Oiro, que o tuguinho já analisou em tempos, e um Vinha da Defesa, rosé, da Herdade do Esporão.
O tempo ainda estava quente e o arrefecimento dos líquidos não se processou como era desejável, apesar das várias horas que as garrafas estiveram no frigorífico e de ainda terem passado pelo congelador. Já estou a ver algumas pessoas a arrepelarem-se com esta heresia. Pois é, às vezes o recurso ao congelador, mau grado o que dizem os cânones expressos nos livros, é inevitável e a única solução para arrefecer um vinho até ao ponto desejado (mesmo os tintos no Verão, que normalmente estão mornos). E olhem que alguns críticos menos dogmáticos já o escreveram: um bocado de congelador não traz mal nenhum ao mundo nem ao vinho, desde que não nos esqueçamos dele lá...
Utilizado o termómetro de vinho no Clarete, este acusava 16 graus, que é uma boa temperatura para os tintos. Nem mesmo a manga de refrigeração chegou a tempo. Desta forma, apesar de apresentar uma suavidade assinalável, o Clarete não fez as delícias dos presentes.
A seguir experimentou-se o Vinha da Defesa, que tinha ficado no frio mais algum tempo e já se conseguiu baixar até aos 12 graus (embora o contra-rótulo aconselhasse entre os 8 e os 10). Depois do Clarete, mais seco, este Vinha da Defesa, mais adocicado, feito com as castas Aragonês e Syrah, também não fez o consenso à mesa, parecendo um pouco deslocado naquele filme. O próprio contra-rótulo o indica como bom aperitivo, mas valia a pena ver como se comportava com um prato de peixe, com agrião, ovo cozido, natas e pimenta. Apesar de também não ter brilhado, a metade que sobrou voltou para o frigorífico e no dia seguinte, mais fria, foi consumida com uma tarte de bacalhau com espinafres, e a sensação foi substancialmente diferente. Sem a pimenta e o ovo cozido a baralhar os sabores, o Vinha da Defesa pôde mostrar ali a sua verdadeira face, com outra frescura e os aromas muito mais exuberantes, notando-se algum frutado e um toque a frutos vermelhos.
É de facto um bom vinho para aperitivo, dada a sua delicadeza, pelo que poderá ser convenientemente apreciado com entradas não muito condimentadas, mas que merecerá, certamente, uma segunda prova para tirar as dúvidas. Sobretudo depois de devidamente refrescado.
Kroniketas, enófilo esclarecido
Vinho: Vinha da Defesa 2005 (R)
Região: Alentejo (Reguengos)
Produtor: Herdade do Esporão
Grau alcoólico: 12,5%
Castas: Aragonês, Syrah
Preço em feira de vinhos: 4,58 €
Nota (0 a 10): 6,5
quarta-feira, 8 de novembro de 2006
No meu copo 67 - Vinha da Defesa Rosé 2005
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