terça-feira, 30 de junho de 2009

Quinta da Bacalhôa





Junto à estrada nacional 10, que atravessa Vila Fresca, Vila Nogueira e Brejos de Azeitão, entre o Casal do Marco e Setúbal, situam-se as instalações de dois dos maiores produtores nacionais do sector vinícola: a José Maria da Fonseca e a Bacalhôa Vinhos. Foi a esta última que me desloquei há algumas semanas a convite dum amigo para passarmos uma tarde juntos.
Ao contrário do que se possa pensar, a quinta que se vê em destaque à entrada de Vila Nogueira de Azeitão não é a Quinta da Bacalhôa mas a Quinta da Bassaqueira. É aqui que estão situadas as cubas de fermentação, a adega de armazenamento e envelhecimento dos vinhos de mesa e do moscatel, a loja de vinhos e uma boa porção de vinha. A Quinta da Bacalhôa propriamente dita, onde se situa o Palácio que serve de morada de férias à família Berardo, fica já em Vila Fresca, paredes meias com a José Maria da Fonseca, na zona em que a estrada começa a subir a Arrábida em direcção a Setúbal. Aí se situa a vinha donde saem as uvas para o vinho mais emblemático da empresa, o Quinta da Bacalhôa, assim como uma enorme galeria de azulejos da colecção de Joe Berardo, além do jardim adjacente ao palácio.
Após a compra das Caves Aliança e da Quinta do Carmo o grupo Bacalhôa tornou-se o 2º maior produtor nacional, com cerca de 20 milhões de litros anuais. Para além destas instalações, a Bacalhôa detém ainda a Herdade das Ânforas, perto de Arraiolos, e a Quinta dos Loridos, perto do Cadaval.
A produção dos vinhos oriundos da Bacalhôa é obtida a partir das uvas da Quinta da Bassaqueira, da Quinta da Bacalhôa e ainda de outras uvas provenientes da serra da Arrábida.
No espaço exterior da Quinta da Bassaqueira podemos passear pelo jardim, passar junto ao lago, descansar debaixo de algumas oliveiras, ver o desenvolvimento das uvas Merlot ou Cabernet Sauvignon, ou admirar os painéis de azulejos que contam a história do vinho nas paredes da adega de envelhecimento dos moscatéis, onde a temperatura interior chega a atingir os 40 graus. Na loja pode-se ainda encontrar à venda todo o portefólio de vinhos das várias empresas do grupo, incluindo um vinho dedicado ao centenário do Benfica, e realizar algumas provas enquanto se descansa do passeio.
E assim ficamos a conhecer uma pequena parte do imenso património do comendador Berardo. Talvez a continuação se faça um dia no jardim japonês da Quinta dos Loridos.

Kroniketas, enófilo viajante

Bacalhôa Vinhos de Portugal
Estrada Nacional 10
Vila Nogueira de Azeitão
2925-901 Azeitão
Telef: 21.219.80.60
Fax: 21.219.80.66

sexta-feira, 19 de junho de 2009

A adega de design da Quinta do Encontro





Num sábado destes, quatro dos Comensais Dionisíacos – Kroniketas, tuguinho, Mancha e Politikos – rumaram à Anadia para visitar a Quinta do Encontro. O Mancha tinha um convite e o encontro foi prévia e convenientemente agendado para meio da tarde, a fim de antes os comensais poderem fazer jus ao título. Após recolha dos convivas, a partida de Lisboa aconteceu pelas 11h00. O carro era confortável e veloz e a auto-estrada venceu-se em menos de nada. Por volta das 13h30 estávamos já refastelados no Pedro dos Leitões, na Mealhada, frente a uma travessa com pedaços dos mesmos, acompanhada de batata frita e salada. A refeição foi regada primeiro com um espumante branco a que logo se seguiu, por sugestão da casa, um espumante tinto da região. O dia estava quente, aquele néctar fresco é guloso e o leitão pedia. O bicho estava no ponto, com a pele estaladiça, como convém. O serviço também foi competente, com alguma proximidade mas sem nunca ser intrusivo. Dois dos convivas ainda se bateram com duas sobremesas sem história, outro com uma aguardente velha e o restante ficou a zeros. Todos alinharam nos cafés.
Mais uns quilómetros, sem GPS mas com mapa e algumas indicações que trazíamos, e demos com facilidade com a Quinta do Encontro. A dita fica situada em S. Lourenço do Bairro, em pleno coração da Bairrada, e deve o seu nome à chamada Cruz do Encontro, espécie de pelourinho que deve ter sido em tempos um ponto de encontro e que o Portugal modernaço logo transformou em rotunda, quase em frente à entrada da Quinta.
Embora até agora se tenha falado na Quinta do Encontro, na verdade o que os Comensais foram ver foi a adega de design da Dão Sul, situada naquela propriedade. No meio dos vinhedos, e sobre um pequeno outeiro, surge um edifício cilíndrico, imponente e com design moderno a fazer lembrar uma secção de uma barrica. O amplo espaço circundante permite o recuo necessário à apreciação da arquitectura do edifício. Este estranha-se na ruralidade circundante mas, percebendo-se as ligações ao vinho presentes nos mais pequenos detalhes, no exterior e no interior, admira-se o arrojo do projecto.
A adega tem três pisos. O térreo onde tem a loja e uma pequena sala de estar e o restaurante. A sala de estar, circular, tem um cariz intimista mas moderno e uma lareira ao centro, cuja chaminé se projecta verticalmente até à clarabóia por onde a luz zenital ilumina o espaço.
O piso superior, concebido para área multiusos, pode servir para reuniões e festas. As vidraças em redor da sala permitem-nos apreciar os vinhedos à volta e divisar as Serras do Caramulo e Buçaco. Muitas delas dão acesso às varandas onde podemos, ao abrigo da estrutura em madeira a lembrar as aduelas de uma pipa, degustar um vinho, utilizando uma espécie de balcão de apoio que circunda o amplo varandim.
O piso inferior, para o qual se desce por uma rampa espiralada cujas luzes, ao nível do chão, se vão acendendo à nossa passagem, é a adega propriamente dita. À medida que vamos imergindo nesta, vamos sentindo a temperatura a baixar. Segundo nos disseram, a adega tem climatização natural, para o que ajuda a estrutura em betão armado revestida no exterior por paredes de pedra e o facto de em parte se situar abaixo do solo. Está equipada com moderna tecnologia de vinificação em que as temperaturas, a fermentação e outros parâmetros são monitorizados por um programa informático. O monitor do PC que gere o programa é, aliás, a fonte de luz mais forte da adega. Ao centro, cubas de inox de vários tamanhos e no corredor que as circunda barricas de madeira onde os néctares estagiam. Podemos apreciar, ainda que à distância, a «zona suja» onde é descarregada, prensada e desengaçada a uva que para ali entra por esteiras rolantes. Notável é a limpeza imaculada de tudo aquilo. Como se costuma dizer, podia lamber-se o chão...
Como remate da visita e para mais tarde degustar, a comunidade mais restrita dos Comensais Dionisíacos adquiriu na loja alguns dos néctares da Quinta e não só, sobre cujas provas a seu tempo falaremos. E ainda tivemos direito à oferta de um espumante branco Quinta do Encontro!
A visita foi agradável, para o que contribuiu a recepção simultaneamente profissional e calorosa da nossa anfitriã.
Resta dizer que a Quinta do Encontro possui 20 hectares, sendo 10 de vinha. Os solos argilo-calcários têm plantadas as castas tintas Baga, Touriga Nacional, Merlot, Cabernet Sauvignon, Tinta Roriz e Castelão e as brancas Bical, Maria Gomes e Arinto.
Foi pena que a visita à Quinta tenha afinal sido só à Adega. Com alguma imaginação, podia-se fazer uma visita a alguns pontos da propriedade. Um vídeo ilustrando o processo de fabrico e o acesso à «zona suja» da adega seriam também aspectos a ter em conta.
Mas foi sem dúvida um dia bem passado a repetir nesta e noutras rotas.

Politikos, no papel de eno-escriba convidado, com Kroniketas e tuguinho, diletantes e desta vez ainda mais preguiçosos

Quinta do Encontro - Sociedade Vitivinícola, Lda.
Apartado 246
S. Lourenço do Bairro
3781-907 Anadia
Tel: 231.527.155
Fax: 232.961.203

sábado, 13 de junho de 2009

No meu copo 247 - Dão Pipas 96

Outro clássico do Dão, que também anda algo perdido. Vem dos primeiros tempos da Sogrape na região, com o nome Vinícola do Vale do Dão, ainda antes do projecto da Quinta dos Carvalhais. Na minha fase de descoberta provei muitas colheitas da década de 80 e 90 a par com os primeiros Reservas Sogrape.
Esta garrafa magnum foi encontrada na Makro e tentei reencontrar nela memórias de outros tempos. Também já tivemos outras provas magníficas com garrafas magnum dos anos 70. Tivemos oportunidade de fazer algumas provas de confronto com o Reserva Sogrape e este Dão Pipas mostrou-se sempre um pouco mais macio que o Reserva. Este magnum de 96 mostrou-se ainda em boa forma, com um bouquet bastante pronunciado, bom corpo e boa persistência mas sempre marcado pela elegância. Vai-se espraiando no copo ao longo do tempo mas, dada a idade, já não sobe mais alto por muito tempo.
Ainda andam por aí umas garrafas de 99 mas começam também a reaparecer colheitas mais recentes, pelo que será também uma marca a revisitar proximamente.

Kroniketas, enófilo esclarecido



Vinho: Dão Pipas 96 (T) (garrafa magnum)
Região: Dão
Produtor: Sogrape
Grau alcoólico: 12,5%
Preço em hipermercado: 16,49 €
Nota (0 a 10): 8

terça-feira, 9 de junho de 2009

No meu copo 246 - Porta dos Cavaleiros Reserva 2002

Este é um clássico do Dão que há muito tempo eu não bebia. As Caves São João andaram numa espécie de hibernação durante alguns anos, com alguns dos seus produtos mais emblemáticos, como Caves São João Reserva, Frei João Reserva e Porta dos Cavaleiros Reserva, a desaparecerem das prateleiras. Em tempos mais ou menos distantes, alguns destes vinhos, como uma garrafa magnum de Porta dos Cavaleiros Reserva Seleccionada de 1975, proporcionaram-nos magníficos momentos de convívio e de prova.
No penúltimo “Encontro com o vinho e sabores”, em 2007, falei com alguém no stand das Caves São João, onde voltaram a aparecer alguns dos produtos habituais e onde me foi dito que estava a ser criado um novo fôlego para o relançamento das marcas da casa. E ultimamente eles voltaram a aparecer, pelo que aproveitei para revisitar o Porta dos Cavaleiros Reserva.
Devo dizer que me decepcionou um pouco. Talvez não o tenha apreciado devidamente ou preparado a prova nas melhores condições, mas achei-o um pouco curto e algo discreto de aromas. Mas como agora já está no mercado a colheita de 2005 dentro em breve vou aproveitar para voltar à carga e refazer a prova com todo o cuidado. Não fiquei convencido com esta prova.

Kroniketas, enófilo esclarecido

Vinho: Porta dos Cavaleiros Reserva 2002 (T)
Região: Dão
Produtor: Caves São João
Grau alcoólico: 12,5%
Preço em feira de vinhos: 4,95 €
Nota (0 a 10): 7

sábado, 6 de junho de 2009

No meu copo 245 - Miolo Terroir, Merlot 2005

O Vale dos Vinhedos é uma pequena região de 82 quilómetros quadrados situada no estado brasileiro do Rio Grande do Sul, a cerca de 130 km de Porto Alegre, na zona de serra. Daí veio esta garrafa pela mão de alguém ligado à família. Uma garrafa pesada, mais que o habitual (mais de 1 kg) e com um vinho surpreendente lá dentro. Nunca tinha bebido um vinho do Brasil e foi uma completa revelação.

Sabendo-se como costumam ser os vinhos de Merlot, marcados essencialmente pela suavidade, a maior surpresa foi encontrar neste Miolo Terroir uma estrutura, um corpo e grande persistência a fazer lembrar outras castas que costumam conferir aos vinhos maior robustez. Claro que as características habituais da casta não deixaram de estar lá, mas este vinho pareceu dar uma nova faceta ao Merlot. Pareceu ser um vinho ao estilo do velho mundo, talvez pela latitude a que é produzido (cerca de 29º Sul), já bem afastada do trópico e com um clima atlântico.

Ficou a curiosidade para ver como serão outros vinhos do Brasil, nomeadamente os do tão badalado paralelo 8. Aguardamos a oportunidade.

Kroniketas, enófilo esclarecido

Vinho: Miolo Terroir, Merlot 2005 (T)
Região: Vale dos Vinhedos (Brasil)
Produtor: Vinícola Miolo
Grau alcoólico: 14%
Casta: Merlot
Nota (0 a 10): 8,5

quarta-feira, 3 de junho de 2009

No meu copo 244 - Lello 2006


Num almoço de rotina resolvi pedir este vinho para acompanhar a refeição. Nunca tinha experimentado e para vinho do dia-a-dia não me pareceu mau. Bom corpo, paladar frutado e marcado por especiarias, alguma macieza e boa persistência. Bastante aceitável para um vinho sem grandes pretensões e a preço reduzido.

Kroniketas, enófilo esclarecido

Vinho: Lello 2006 (T)
Região: Douro
Produtor: Sociedade dos Vinhos Borges & Irmão
Grau alcoólico: 13,5%
Castas: Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinta Roriz, Tinta Barroca
Preço em feira de vinhos: 2,79 €
Nota (0 a 10): 7

domingo, 31 de maio de 2009

No meu copo 243 - Ribamar Garrafeira 96

Este vinho foi escolhido numa ida a Sintra após uma prova no Hotel da Penha Longa. Num restaurante local onde um dos convivas é cliente habitual, para uma refeição despretensiosa, ao olhar para a carta de vinhos deparei com um nome que há mais de 10 anos foi, durante algum tempo, presença frequente à mesa das nossas refeições: António Bernardino Paulo da Silva, produtor da região de Colares (em Azenhas do Mar, para ser mais preciso) que actualmente assina o Colares Chitas. Mas nessa altura descobrimos por acaso, num restaurante entretanto desaparecido (Adivinha quem vem jantar, em Alcântara), um vinho chamado simplesmente Paulo da Silva, com o rótulo gravado no próprio vidro da garrafa. Ficámos encantados e durante uns 5 anos sempre que podíamos comprávamos e bebíamos os vinhos deste produtor. Entretanto descobrimos outra marca, Colecção Privada, e num restaurante do Bairro Alto descobrimos um chamado Beira-Mar.
Pois agora vi um vinho chamado Ribamar e, com algum receio e alguma renitência dos outros comensais, resolvi pedi-lo. Era um garrafeira de 96 cujo estado suscitou algumas dúvidas, mas lá se experimentou.
Não se mostrou já de perfeita saúde mas ainda se conseguiram encontrar ali alguns aromas frutados, algum corpo, uma certa persistência e um resto de estrutura que em tempos terá tido. Depois de decantado ainda se libertou de um certo cheiro a mofo e conseguiu apresentar-se com os aromas mais limpos. No fundo, foi uma prova mais para matar saudades. Agora teremos de nos virar para o Colares Chitas que ainda anda por aí.

Kroniketas, enófilo saudoso

Vinho: Ribamar Garrafeira 96 (T)
Região: Colares
Produtor: António Bernardino Paulo da Silva
Grau alcoólico: 12,5%
Preço no restaurante: 12,50 €
Nota (0 a 10): 6

quarta-feira, 27 de maio de 2009

No meu copo 242 - Quinta do Peru branco 2008; Dão Borges, Touriga Nacional 2005

Uma surtida com o tuguinho e o Politikos levou-nos aos Arcos, já um lugar obrigatório pela excelência do serviço e da culinária, para repetir o saboroso robalo no capote e o bife Wellington, desta vez complementados com um delicioso e suculento bife pimenta. Tal como nas visitas anteriores, 5 estrelas.
Para os líquidos, com uma vasta escolha à disposição, estivemos algo indecisos. O objectivo, como fazemos muitas vezes nestas ocasiões, era experimentar vinhos que não conhecêssemos, e assim acabámos por seguir a sugestão do escanção de serviço, quer para o acompanhamento do peixe quer da carne.
Deste modo travámos conhecimento com um Quinta do Peru branco de 2008, produzido em Azeitão, que fomos bebericando enquanto esperávamos pacientemente pela confecção do robalo no capote. Apresentou-se um vinho com bom aroma como é habitual nos brancos da península de Setúbal que, apesar dos seus 13,5 graus de álcool, não se mostrou pesado nem com o teor alcoólico excessivamente marcado. Uma pouco habitual combinação de duas castas que começam a impor-se um pouco por todo o lado, Viosinho e Verdelho, resultou neste branco em que uma acidez correcta, boca fresca, corpo e final medianos, cor entre o citrino e o palha e algumas notas de frutos brancos foram as características mais evidentes. Acompanhou com agrado o robalo e os entreténs-de-boca, de tal modo que ainda tivemos que pedir um reforço antes de passarmos aos substanciais bifes.
Para os bifes, seguindo novamente a sugestão do escanção, apontámos ao Dão para um Touriga Nacional da Borges de 2005 que foi uma belíssima revelação. Era um vinho debaixo de olho há muito tempo mas ainda não tinha calhado cruzar-me com ele. Veio na melhor altura, batendo-se em grande estilo com os bem temperados bifes. Tivemos aqui um exemplar da Touriga Nacional ao melhor nível, fugindo um pouco ao habitual floral e marcado por uma evidente robustez e taninos bem firmes. Ganhou com a decantação e foi-se revelando em aromas frutados ao longo da refeição, mantendo sempre uma admirável persistência. Ficámos rendidos a este belíssimo representante do novo fôlego do Dão.
Ainda deixámos umas gotas para o misto de sobremesas que encerrou o magnífico repasto, onde fomos reencontrar algumas já provadas nas anteriores visitas. O preço foi bem puxado (53 € por cabeça), mas caramba, para aquele nível até não se pode considerar chocante.

Kroniketas, com tuguinho e Politikos em trânsito pela marginal

Vinho: Quinta do Peru 2008 (B)
Região: Terras do Sado
Produtor: Sociedade Agrícola Ribeira da Várzea
Grau alcoólico: 13,5%
Castas: Viosinho, Verdelho
Preço em hipermercado: 9,46 €
Nota (0 a 10): 7

Vinho: Borges, Touriga Nacional 2005 (T)
Região: Dão
Produtor: Sociedade dos Vinhos Borges
Grau alcoólico: 13,5%
Casta: Touriga Nacional
Preço em hipermercado: 22,90 €
Nota (0 a 10): 8,5

sábado, 23 de maio de 2009

No meu copo 241 - Porto Ramos Pinto LBV 2000; Porto Graham’s LBV 2003



Voltamos ao registo dos vinhos do Porto, desta vez com dois LBV. Depois da excelente impressão causada pelo Vintage da Graham’s, este LBV a bom preço despertou-me a atenção e resolvi experimentar. Quanto ao Ramos Pinto, é já um clássico nas nossas escolhas.

Dois exemplos de LBV bastante diferentes, diria mesmo contrastantes. Se o Ramos Pinto manteve o perfil que dele se esperava, com a suavidade habitual, uma predominância adocicada e algumas notas a frutos maduros, já o Graham’s mostrou que, ou ainda não estabilizou e precisa de casar melhor os aromas, ou não foi um produto muito bem conseguido, apresentando-se algo agreste no copo. Talvez precise de tempo na garrafa para mostrar o que vale.

Kroniketas


Região: Douro/Porto

Vinho: Porto Ramos Pinto LBV 2000
Produtor: Ramos Pinto
Grau alcoólico: 19,5%
Preço em hipermercado: 12,35 €
Nota (0 a 10): 8

Vinho: Porto Graham’s LBV 2003
Produtor: Graham’s Port
Grau alcoólico: 20%
Preço em hipermercado: 11,99 €
Nota (0 a 10): 7

quarta-feira, 20 de maio de 2009

No meu copo 240 - Grand’Arte, Touriga Nacional rosé 2007



Como habitualmente por esta época, começam a surgir as oportunidades a pedir
vinhos frescos que substituam os habituais tintos das grandes comezainas. Este rosé foi adquirido o ano passado com a Revista de Vinhos de Julho.

À semelhança do rosé feito de Touriga Nacional da Quinta da Alorna, que me encheu as medidas, este Grand’Arte apresenta um aroma frutado com predominância a morangos e framboesas, complementado com algum floral típico da casta.

Com um grau alcoólico moderado que se saúda neste tempo a caminhar para o quente, o que o torna mais apelativo, apresenta-se muito equilibrado nas suas componentes e muito fresco na prova. Uma boa companhia para dias de verão ou para entradas ou refeições leves. Muito agradável.

Kroniketas, enófilo esclarecido



Vinho: Grand’Arte, Touriga Nacional 2007 (R)
Região: Estremadura
Produtor: DFJ Vinhos
Grau alcoólico: 12%
Casta: Touriga Nacional
Preço com a Revista de Vinhos: 5,95 €
Nota (0 a 10): 7,5

domingo, 17 de maio de 2009

No meu copo 239 - Porto Graham’s Vintage 94

Continuando no registo dos Portos, temos aqui outro Vintage que fez sucesso entre os degustantes cá do grupo. Com um perfil completamente diferente do Taylor’s Vargellas referido no post anterior, e também com mais idade, este Graham’s é marcado pela suavidade e elegância, sem deixar de mostrar alguma robustez.
Na prova apresenta uma predominância a frutos secos com um final longo e marcado por um toque amendoado. É um Vintage em plena maturidade que parece ter entrado num patamar estável de evolução, que dá uma prova muito agradável. Não é fácil encontrá-lo nem é barato, mas pelo prazer que dá é uma aposta inteiramente ganha e que merece uma abertura dos cordões à bolsa.

Kroniketas, enófilo esclarecido

Vinho: Porto Graham’s Vintage 94
Região: Douro/Porto
Produtor: Graham’s Port
Grau alcoólico: 20%
Preço em hipermercado: 55,80 €
Nota (0 a 10): 9

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Perdizes por um, perdizes por mil

No meu copo 238 - Hexagon 2000; Cartuxa 2006; Porto Taylor’s Vargellas Vintage 2005

Os Comensais Dionisíacos, braço político gastro-etilista que integra os escribas das KV, além dos repastos “oficiais” entre membros celebra também refeições não menos bem regadas, mas mais alargadas em termos de mastigantes, sendo estes supranumerários geralmente os familiares mais próximos.
Sendo caçador um dos associados, é normal que por vezes nestas refeições intervenham como mastigados espécimes das nobres raças abatidas pelo dito cujo ou pelo grupo de caçadores a que se junta na função, geralmente perdizes, lebres ou javalis. Fomos portanto reunidos em casa do Kroniketas (que não é o membro caçador – é mais deglutidor) para degustar um grupo de perdizes incautas, cozinhadas pela consorte do caçador de formas simples mas saborosas: umas com um molho à base de natas e whisky com cogumelos, outras envolvidas em couve lombarda acolitada por tirinhas de bacon.
Outro objectivo que se mantém nestes repastos alargados é acompanhá-los de bons néctares – também conhecido no meio como “desbaste da garrafeira”! Para este em particular escolheram-se, além de alguns brancos sortidos e fresquinhos – provenientes da sempre bem recheada garrafeira do anfitrião (Alvor 2007, Quinta de Camarate branco seco 2007, Murganheira 2007) – para acompanharem as entradas, um Esporão Reserva de 2006, um Hexagon de 2000 em formato magnum (o tal vinho das 6 castas e 6 gerações) e um Cartuxa de 2006 que apareceu à última hora pela mão de um dos convivas. Para as sobremesas abriu-se um Porto Taylor’s Vargellas Vintage de 2005.
Coleccionando as reacções dos presentes, poderá dizer-se que o Esporão Reserva, após a recente experiência, re-deslumbrou, depois de uma travessia do deserto em algumas colheitas anteriores, com o Alicante Bouschet a dar-lhe um toque muito especial. Definitivamente um regressado aos mais altos lugares da nossa consideração vínica. O Hexagon, completamente diferente do anterior, mostrou-se um vinho de alto gabarito, com um perfil austero, ainda mais depois da festa que o Esporão tinha provocado no nariz e na boca dos beberrões, mas com uma estrutura extraordinária e a deixar-nos desconfiados de que ainda havia por ali muita coisa escondida. Comprem e bebam, porque é assim que um vinho excelente deve ser (uma das maneiras de o ser, como é óbvio). (Mete aqui a colherada o Kroniketas para ser mais generoso mas sucinto nos encómios. Só uma palavra: extraordinário!).
Ficou o Cartuxa para o final – uma ou outra ordem teria sempre justificação ou recusa – e não se deixou diminuir perante os outros dois. Sendo mais novo que o Hexagon e da mesma colheita que o Esporão, justificou-se plenamente a vivacidade exuberante, mostrando-se mais corpulento, mais fechado e mais robusto que o seu compadre alentejano, disse bem alto que estava ali para lutar: um vinho excelente que seria o centro das atenções se estivesse só. Teve um pouco de azar com os competidores.
Enfim, para não vos causar mais inveja, direi que, embora pessoalmente prefira os Vintage com um perfil como o utilizado pela Ramos Pinto, o Porto Vintage Vargellas cumpriu em pleno. Um festival de aromas a frutos vermelhos, de grande exuberância na boca e no nariz, pleno de vigor e juventude, a mostrar que está ali pronto para altos voos e longa vida na garrafa. O nosso único problema é comprá-lo e esperar uns 10 ou 20 anos até voltar a prová-lo. A verdade é que nem os morangos, nem a mousse de chocolate ou o bolo rançoso se queixaram.
Em resumo, um repasto que se pautou pela delícia gastronómica e pela excelência vínica. Para recordar.

tuguinho, enófilo impenitente e bloguista intermitente

Vinho: Hexagon 2000 (T) (garrafa magnum)
Região: Terras do Sado
Produtor: José Maria da Fonseca
Grau alcoólico: 14%
Castas: Trincadeira, Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinto Cão, Syrah e Tannat
Preço em supermercado: 53,89 €
Nota (0 a 10): 9,5

Vinho: Cartuxa 2006 (T)
Região: Alentejo (Évora)
Produtor: Fundação Eugénio de Almeida - Adega da Cartuxa
Grau alcoólico: 14,5%
Castas: Aragonês, Trincadeira, Alfrocheiro, Alicante Bouschet
Preço em feira de vinhos: 13,95 €
Nota (0 a 10): 8,5

Vinho: Porto Taylor’s Vargellas Vintage 2005
Região: Douro/Porto
Produtor: Taylor’s
Grau alcoólico: 20%
Preço em hipermercado: 33,48 €
Nota (0 a 10): 9

domingo, 10 de maio de 2009

Na minha mesa 237 - O Alpendre (Arraiolos)


A caminho de Vila Viçosa para o Vinum Callipole, parei em Arraiolos para almoçar com a família que me acompanhou. Não levei qualquer referência prévia, pelo que fui à mercê do que encontrasse. Em tempos tinham-me falado num restaurante mas não me lembrava do nome.
Chegado ao centro da vila fui seguindo as placas que indicavam restaurantes, até que num cruzamento havia uma para cada lado. Segui pela da esquerda e encontrei o Alpendre, com a indicação de “restaurante típico” e “cozinha regional” na porta. Depois de espreitada a ementa e trocadas algumas impressões, resolvemos entrar.
Deparámos com um espaço decorado com bastantes referências à tourada e utensílios ligados à agricultura, mas desde logo se percebeu que estávamos num local de gabarito. Pela montra de sobremesas e entradas (uma enorme panóplia de doces conventuais), pela garrafeira recheada de grandes marcas do Alentejo (grande parte dos mais conceituados estavam expostos e até o Barca Velha e o Vale Meão marcavam presença), pela decoração das mesas, pela roupa dos empregados.
Franqueada a porta sentámo-nos a uma mesa bastante provida de entradas, em que acabámos por praticamente não tocar, pois isso iria retirar o espaço para a refeição propriamente dita, e resolvemos desde logo passar aos pratos fortes. E que pratos: migas de espargos com carne do alguidar e presas de porco preto com esparregado.
Ambos os pratos excelentes, com a carne do alguidar tenríssima e as presas extremamente saborosas, tudo acolitado com bons acompanhamentos.
Para as sobremesas, o problema foi escolher, tantas eram as opções. A escolha recaiu num leite-creme e numas migas de ganhões, que eram assim uma espécie de doce de ovos a meio caminho entre a sopa dourada e a barriga de freira. Ambos muito bons.
Serviço excelente, rápido, eficiente, preços não muito exagerados, bom ambiente, em suma, mais um espaço gastronómico de grande qualidade no coração do Alentejo.
Como o resto do dia ia ser dedicado às provas, o almoço foi acompanhado apenas por meia garrafa de Comenda Grande, um produtor ali da zona, que cumpriu razoavelmente a função mas sem razão para grandes encómios. O mais importante ficou para depois.

Kroniketas, gastrónomo em trânsito

Restaurante: O Alpendre
Bairro Serpa Pinto, 22
7040-014 Arraiolos
Telef: 266.419.024
Preço aproximado por refeição: 25 €
Nota (0 a 5): 4,5

terça-feira, 5 de maio de 2009

Vinum Callipole 2009

À terceira consegui comparecer neste evento organizado pelo Copo de 3 e que decorreu no passado dia 2 em Vila Viçosa. Tive oportunidade de provar os vinhos das Altas Quintas, Granacer (Tapada do Barão), Sociedade Agrícola Vale de Joana (Grou), Gravato, Quinta do Zambujeiro e Casal Figueira. Notadas foram as ausências da Herdade das Servas e da Herdade do Portocarro.
Para o fim ainda houve a possibilidade de degustar mais em recato quatro vinhos velhos: Bairrada Real Vinícola 82, J. P. 88, Portalegre 95 e um Gaeiras já mais morto que vivo. Em grande forma mostrou-se o Portalegre e o Bairrada era daqueles à moda antiga, quase eternos.
Notas de prova? Procurem-nas talvez no Copo de 3 ou no Pingamor, que levou um caderninho de apontamentos. Eu, pessoalmente, já deixei há muito tempo de tentar fazer notas de prova neste tipo de eventos. Prova-se muito em pouco tempo mas não se tem… tempo para apreciar o vinho devidamente, por isso não gosto de formar uma opinião muito elaborada. Fica-se com uma ideia para mais tarde se ter alguma orientação do que poderá interessar.
Apesar da curta permanência, gostei desta participação. Deu para conversar com calma com os produtores presentes, principalmente na mesa das Altas Quintas onde para além dos 7 vinhos provados o produtor João Lourenço estava acompanhado pelo director de vendas, João Cancella de Abreu, primo do conhecido enólogo Nuno Cancella de Abreu. Conversa puxa conversa e quase dava para passar ali toda a tarde. Numa próxima oportunidade tentarei certamente fazer uma estada mais prolongada, não para beber mais mas principalmente para conversar com os outros convivas.
O meu obrigado ao Copo de 3 e, quem sabe, até para o ano.
De caminho ainda tive oportunidade de almoçar em Arraiolos, no restaurante O Alpendre, de que darei conta em próximo post.

Kroniketas, enófilo em trânsito

quinta-feira, 30 de abril de 2009

No meu copo 236 - Esporão Reserva 2006

Após um período mais ou menos sabático e mais ou menos prolongado, vejo-me impelido a voltar às lides por força dum vinho que me marcou. Falo da colheita 2006 do Esporão Reserva, um ícone do Alentejo, um clássico, um daqueles vinhos que considero incontornáveis. Ainda na minha fase inicial de descoberta, o Esporão era um dos vinhos mais em voga e um que me fez despertar para este mundo. Ficaram-me na memória mais recôndita os aromas frutados que de vez em quando recordo de forma difusa sem saber muito bem onde os encontrava.
Nos últimos anos, tal como acontece com outros vinhos, andei um pouco afastado deste produto. Pareceu-me que a qualidade estava a decair um pouco e que o vinho se estava, de certa forma, a vulgarizar. Comecei a dar preferência aos monocasta e principalmente ao excelente Quatro Castas, que nos últimos anos me pareceu ser claramente melhor que o emblema da casa.
Mas um dia teria de regressar às origens. Foi este mês, por ocasião duma efeméride familiar, comemorada com uma incursão ao Vasku's (outro regresso recorrente às origens) para comer o inigualável fondue do lombo. Olhando para a carta de vinhos e tentando encontrar algo a meio caminho entre o bom e o não muito caro, detive-me na extensa lista de vinhos alentejanos, quase todos entre os 20 e os 30 €. Lá no topo o Esporão constava a 33 €. Pensei “há tanto tempo que não o bebo, e hoje é dia de festa...”. E assim veio para a mesa uma garrafa do dito Reserva 2006, previamente decantado.
Em boa hora o escolhi. Só vos posso dizer que fiquei de novo rendido, perfeitamente encantado com este vinho. Estava lá tudo o que eu tinha nas profundezas da memória. Um vinho extremamente equilibrado em todas as suas componentes: corpo, profundidade aromática com fruto maduro bem evidente mas sem excessos, acidez, macieza, madeira, taninos, persistência e complexidade muito suave, tudo no ponto certo. E os 14,5% de álcool perfeitamente disfarçados pela envolvência do vinho, como é timbre da casa. Um vinho que apetece ir bebendo sempre mais e que não cansa nem enjoa, que se deseja que não acabe. De tal forma que não demorei a adquirir uma garrafa que poucos dias depois foi aberta à mesa com o tuguinho e o Politikos. A opinião foi coincidente entre os três: não conseguimos encontrar nada de menos bom neste vinho. É um regresso em grande e, claro, é para comprar mais e deixar na garrafeira. E um dia destes vou fazer a comparação com o Quatro Castas para tirar as teimas.

Kroniketas, enófilo regressado

Vinho: Esporão Reserva 2006 (T)
Região: Alentejo (Reguengos)
Produtor: Herdade do Esporão
Grau alcoólico: 14,5%
Castas: Aragonês, Trincadeira, Alicante Bouschet, Cabernet Sauvignon
Preço em hipermercado: 15,98 €
Nota (0 a 10): 9

sábado, 25 de abril de 2009

35 anos de 25 de Abril


Um brinde com um copo de bom vinho à revolução dos cravos.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Os “segundos vinhos”

O número de Março da Revista de Vinhos traz um painel de prova de vinhos tintos com preços situados em média entre os 7 e os 10 euros. São 53 vinhos com pontuações entre os 15 e os 17 valores e uma maioria nos 16, o que é uma bela classificação.
Segundo os autores João Paulo Martins e João Afonso estamos perante um conjunto de vinhos de elevada qualidade e ainda segundo o editorial do director Luís Lopes trata-se de vinhos que estão cada vez melhores e que são tão bons como eram os “primeiros vinhos” há seis ou sete anos. E Luís Lopes realça que em muitos casos os “segundos vinhos” obtêm classificações apenas um ponto ou meio ponto abaixo dos “primeiros vinhos”. E fica a questão: vale a pena, muitas vezes, pagar 3 ou 4 vezes mais pelo “primeiro vinho” por um acréscimo de qualidade às vezes pouco relevante?
Esta questão prende-se com a que levantei nos posts anteriores a propósito das últimas provas. Há vinhos caros preço me levanta muitas dúvidas em relação ao seu real valor. E já tive oportunidade de referir que é muitas vezes neste patamar dos 10 euros que tenho encontrado excelentes relações preço/qualidade, com muito bons vinhos a preços não muito picantes. Só para citar alguns exemplos deste painel, o Casa de Santar Reserva, o Cabriz Reserva, o Herdade do Peso, o Cortes de Cima, o Vinha Grande ou o Vinha da Defesa são vinhos que me parecem merecedores de toda a atenção e que não deixam ninguém ficar mal quando os serve.
Claro que há sempre algumas tendências de snobismo ou novo-riquismo que acham que vinhos destes são apenas medianos, honestos ou bem feitos, e para quem o caro é sempre bom e o bom tem que ser sempre caro. A minha opinião é completamente diferente e, a julgar por estes artigos, não estou sozinho.

Kroniketas, enófilo mais ou menos poupado

terça-feira, 31 de março de 2009

Vinhos fora de prazo

Ainda acerca do tema do último post (já lá vão 3 longas semanas, mas outros afazeres às vezes tiram-nos o tempo e a disposição), não resisto a voltar à carga, porque entretanto tive o azar de me cruzar com mais dois vinhos em más condições.
Uma garrafa de José de Sousa Mayor de 2001, que recebi via Revista de Vinhos e acerca do qual alimentava uma grande expectativa, apresentou sinais evidentes de declínio, com os aromas a morrerem. Pior aconteceu com um Bairrada Messias Garrafeira de 1990, adquirido no Corte Inglês por 13 euros, e que se apresentou completamente passado. Não havia hipótese e lá se foram mais uns euros pelo cano. Assim não.
No espaço de 3 meses apanhei 3 garrafas de vinho em más condições, uma ainda bebível mas em queda e duas imbebíveis. Insisto no mesmo: o que se poderá fazer perante situações destas? Levar a garrafa aberta à loja e pedir para trocar ou receber o dinheiro de volta? Como é que o consumidor se pode defender de vinhos vendidos em más condições?


Kroniketas, enófilo enganado outra vez

sábado, 7 de março de 2009

Vender vinho... em que condições?

As últimas provas apresentadas suscitaram-me um conjunto de reflexões acerca da comercialização do vinho e dos preços praticados, que muitas vezes estão bastante inflacionados nos locais de venda. Um exemplo claro do que afirmo é o Casa de Alegrete, aqui amplamente referido durante o tempo que passei em Portalegre, e que tive oportunidade de adquirir ao produtor por 7 € a garrafa.
Na última feira de vinhos do Jumbo este vinho apareceu à venda a cerca de 10 €, mas no dia seguinte ao fim da feira passou para 16 €, como ainda se encontra. Assim se vê onde chega a especulação!
Mas para além do exagero nalguns preços praticados, outra questão relevante é em que condições os vinhos são armazenados nas lojas. Se é verdade que cada vez mais existe a preocupação de manter os vinhos em ambiente climatizado a temperaturas relativamente baixas que não acelerem o envelhecimento do líquido, não é menos verdade que também nos deparamos com muitos locais em que os vinhos estão expostos em condições altamente discutíveis. Desde a incidência directa dos focos de luz até salas que mais parecem sauna, há de tudo.
A garrafa de Caladessa, que adquiri numa loja gourmet do Centro Comercial Fonte Nova, em Benfica, estava seguramente a mais de 20 ºC no momento da compra. Aliás, tive oportunidade de referir à pessoa que estava na loja o meu desagrado pela excessiva temperatura ambiente, bem acima dos 20 ºC. Também já me aconteceu, numa noite de Verão, entrar numa garrafeira em Alvor e estar mais calor lá dentro do que na rua, de tal forma que quase se transpirava. E estávamos de manga curta...
No final do ano passado, por ocasião do meu aniversário, foi-me oferecida uma garrafa de litro e meio de Vinha Grande de 1997. Pois bem, no último fim-de-semana resolvi abri-la, precisamente no aniversário de quem ma tinha oferecido. Aconteceu que o vinho estava turvo.
Decantei-o, deixei-o repousar, provei-o, mirei e remirei o copo na esperança que com o tempo o turvo desaparecesse. Em vão, naturalmente. Aquele vinho não estava próprio para consumo. O que se pergunta é: como é que um vinho destes é colocado à venda nestas condições? Não é crível que se tenha deteriorado desta forma nos dois meses após a compra, pelo que é provável que já estivesse à venda assim. Eu vi-o em vários locais por altura do Natal e fim-de-ano, dentro duma embalagem toda catita como é hábito nessa quadra. Mas não deveria haver um controlo do produtor sobre o estado do produto antes de o enviar para as prateleiras? Sim, porque depois de aberta a garrafa não se imagina que alguém volte ao local da compra a pedir o dinheiro de volta. Mas devia haver uma forma de responsabilizar os produtores pelo estado em que os vinhos chegam ao consumidor.
De qualquer modo, este assunto ainda vai chegar ao conhecimento da Sogrape. Como maior empresa do sector não pode, nem deve, permitir que situações destas aconteçam.

Kroniketas, enófilo enganado

sábado, 28 de fevereiro de 2009

Quanto vale um vinho? - 3ª parte: o bom e o barato

Volto a este tema por causa do editorial de Luís Lopes na Revista de Vinhos de Janeiro, a propósito duma prova de vinhos efectuada pela Proteste, revista da DECO.
Diz Luís Lopes que aquela publicação “quando fala de vinhos, em vez de informar, desinforma e induz em erro os consumidores. A Proteste avalia vinhos como avalia máquinas de lavar roupa, ou seja em função do seu desempenho em “banco de ensaios” e da medição de parâmetros como o álcool, acidez total, açúcar, dióxido de enxofre e ácido sórbico. É um pouco como avaliar a qualidade de uma pintura em função da tinta utilizada.
Mais adiante, acerca da prova de vinhos tintos da Bairrada que foi “a gota de água que fez transbordar o copo”, Luís Lopes diz que “a revista começa por indicar ao leitor que entre os chamados VQPRD, o tinto da Bairrada está entre os mais consumidos. Acho que só esta pérola reflecte o grau de conhecimento do mercado de quem escreve a peça”.
E para terminar o explanar da sua indignação, refere que “o que fundamentalmente me choca é o pressuposto que está na base da conclusão final: já que o vinho mais barato custa 1,49 € e é melhor que o mais caro que custa 27 €, então pode comprar 18 garrafas do mais barato pelo preço do mais caro”. (!!!)
De facto, eu também tive, em tempos, oportunidade de ler algumas provas de vinhos feitos na Proteste e nunca percebi muito bem qual era o critério de avaliação. Se um automóvel pode ser medido em termos de performance, consumo, segurança, número de avarias, etc., utilizar critérios semelhantes para uma bebida como esta (em que ainda por cima está em causa uma avaliação tão subjectiva que depende do gosto de cada um) é uma verdadeira aberração. Ainda por cima com critérios aritméticos para aconselhar a compra...
É um facto, como referimos nos posts anteriores, que nem sempre achamos que o vinho merece o que pagámos por ele. Mas se isso se aplica a vinhos caros, por maioria de razão se aplicará, ainda com mais premência, aos mais baratos, porque nalguns casos até 1,49 € poderá ser caro. É verdade que às vezes me choca a facilidade com que se fala de preços a tender para o exorbitante ou se diz, como já li noutro blog, que o preço de uma refeição não interessa (como se pagar 100 euros por uma refeição fosse vulgar e despiciendo). Às vezes fico com a sensação de que, além de corrermos o risco de beber rótulos, também há quem ande a beber preços e compre só porque sendo caro parece bem e sendo caro tem que se dizer que é óptimo.
Mas não é menos verdade que há quem ache que só vale a pena comprar vinhos abaixo dos 3 ou 4 €. Claro que comprar caro pesa no bolso e é para quem pode fazê-lo, mas quem quer ser apreciador e abrir os horizontes a outro nível se subir um patamar nota logo a diferença, e a partir daí cada vez será mais difícil encontrar um vinho a menos de 3 € que ache minimamente satisfatório. Há vinhos bons e caros, há bons e baratos e depois há os baratos que de bons não têm nada, e acabam por se tornar caros de tão imbebíveis que são.
Neste aspecto, os senhores da Proteste deviam, realmente, fazer um curso de prova acelerado para que começassem a avaliar os vinhos de forma que faça sentido, e não os misturem com máquinas de lavar, torradeiras ou secadores de cabelo.

Kroniketas, enófilo às vezes um pouco gastador

domingo, 22 de fevereiro de 2009

No meu copo 235 - Três grandes vinhos, ou três vinhos caros?

Caladessa 2003; Herdade das Servas, Touriga Nacional 2003; Mouchão 2003



Falemos então um pouco dos vinhos que motivaram os dois posts anteriores. Estes três vinhos foram servidos com todos os cuidados, para que nada pudesse influenciar negativamente a prova. Tinham em comum vários factores: eram todos do Alentejo, todos de 2003, todos com 14,5% de álcool. Feito o balanço não se pode dizer, de forma alguma, que não são bons vinhos, mas voltamos ao mesmo: esperávamos efectivamente um pouco mais de cada um deles.
O primeiro a ser provado foi o Mouchão, o tal que o tuguinho achou que talvez não valesse a pena comprar pelo preço que custava. Apresentou-se de cor muito concentrada, encorpado e robusto mas ao mesmo tempo elegante. Inicialmente os aromas apresentaram-se fechados, evoluindo para algumas notas de compotas. Ficámos sem perceber se ainda evoluirá positivamente em garrafa ou se já chegou até onde é possível chegar. Pelo que custou, esperávamos algo mais, nomeadamente uma maior persistência na boca. Resumindo, caro para o que mostrou.
O Caladessa e o Herdade das Servas Touriga Nacional foram provados em conjunto. Arrefecidos até à temperatura adequada, abertos e vertidos para os copos com alguma antecipação, fomo-los deixando evoluir para ver como se comportavam.
O Herdade das Servas Touriga Nacional passou por várias fases ao longo da prova. Começou por apresentar um ligeiro gasoso e alguma aspereza. Só depois começou a libertar aromas e a amaciar, mas apresentou-se sempre algo linear. Ficámos com a impressão de faltar ali qualquer coisa adicional para lhe dar outro brilho. Até pode ter sido daquela garrafa específica, mas esteve longe de encantar.
O Caladessa mostrou uma estrutura mais firme (íamos chamar-lhe sólida, mas era capaz de soar mal chamar isso a um líquido...), boa persistência e uma complexidade que se foi desenvolvendo ao longo da refeição, depois duma primeira impressão discreta no nariz. Mostrou que estava ali para durar. Foi talvez o mais equilibrado dos três e aquele que melhor justificou o preço. Mas no conjunto, foi muito dinheiro para o prazer obtido.

tuguinho e Kroniketas, enófilos descapitalizados

Vinho: Caladessa 2003 (T)
Região: Alentejo (Évora)
Produtor: Herdade da Calada
Grau alcoólico: 14,5%
Castas: Trincadeira, Alfrocheiro, Touriga Nacional
Preço em garrafeira: 22,55 €
Nota (0 a 10): 8,5

Vinho: Herdade das Servas, Touriga Nacional 2003 (T)
Região: Alentejo (Estremoz - Borba)
Produtor: Herdade das Servas
Grau alcoólico: 14,5%
Casta: Touriga Nacional
Preço em feira de vinhos: 16,85 €
Nota (0 a 10): 7,5

Vinho: Mouchão 2003 (T)
Região: Alentejo (Sousel)
Produtor: Vinhos da Cavaca Dourada - Herdade do Mouchão
Grau alcoólico: 14,5%
Castas: Alicante Bouschet, Trincadeira
Preço em hipermercado: 28,99 €
Nota (0 a 10): 8

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Quanto vale um vinho? - 2ª parte



Piano digital Casio AP45 - 1460 euros
Château Petrus 2004 - 1777 euros

Este piano foi comprado em Janeiro para tocar cá em casa, onde pai e filho o utilizam. Esta garrafa de vinho está à venda na Wine o’clock. A questão do post anterior era basicamente esta: o que é que pode justificar o preço de um vinho em comparação com outros produtos? Por muito bom, raro, sofisticado que seja um vinho, será que se justifica realmente pagar por uma garrafa de 7,5 dl de bebida mais do que custa um piano digital?
Claro que o valor das coisas é muito relativo, de acordo com quem as compra e acha que vale ou não a pena pagar esse preço. E se estão à venda por um preço é porque há, necessariamente, compradores para elas. Mas se eu tivesse de escolher entre um piano, que dura uma vida, e uma garrafa de Chateau Petrus (ou simplesmente Petrus, como parece ser mais correcto dizer-se) que se consome numa noite... O prazer e o usufruto que posso retirar de cada um poderão ser equiparáveis?
Isto sou eu a dissertar... É claro que quem pode pagar tal preço por um vinho é porque não precisa do dinheiro para outras coisas. Por exemplo, para um piano...

Kroniketas, músico e enófilo amador

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Quanto vale um vinho?

Recentemente tivemos oportunidade de provar, no espaço de poucos dias, 3 vinhos que no conjunto nos fizeram sair da carteira quase 70 € (nada de confusões, são 14 contos na moeda antiga, o que dá uma média de quase 5 contos por garrafa), e de que falaremos mais em detalhe no próximo post. Eram vinhos acerca dos quais tínhamos alguma curiosidade e depois de ponderada a vontade de prová-los (de certa forma induzida pelo nome dos mesmos) com o custo que iriam acarretar, acabámos por abrir os cordões à bolsa e distribuir os gastos.
A compra de vinhos muito acima dos 10 euros deixa-nos sempre de pé um pouco atrás, porque independentemente da fama que os acompanha existe sempre a retracção inerente ao elevado custo, por um lado, e a dúvida acerca do prazer que nos irão proporcionar. E aqui é que a porca torce o rabo.
Quando damos 15, 20, 30 euros por uma garrafa de vinho, aquilo que esperamos obter do mesmo é um prazer muito acima do “normal”, que seria impossível encontrar nos vinhos da gama média ou mesmo nos que andam ali pelos 10-12 euros, e a decepção acontece muitas vezes quanto o vinho em causa não corresponde às expectativas. É da relação qualidade/preço que estamos a falar. Já temos gasto bom dinheiro em muito bons vinhos e demo-lo por bem empregue (33 € pelo Hexagon, e tivemos comentários no blog que achavam que também ele não era assim tão bom e que era possível encontar bem melhor por muito menos).
Nas últimas feiras de vinhos vimos à venda o Mouchão de 2003 a cerca de 27 euros. Falámos na hipótese de comprá-lo a meias mas acabámos por não o fazer, achando que o risco talvez fosse demasiado. Mas recentemente, a propósito de um encontro familiar, o dito vinho acabou por nos vir parar à mesa, por 28,99 €. Depois deste resolvemos experimentar o Caladessa de 2003, agora que a Herdade da Calada anda em fase de remodelação do seu portefólio, e lá foram mais 22,55 €. E por fim juntámos ao rol um Herdade das Servas Touriga Nacional, igualmente de 2003, que o tuguinho já tinha comprado por 16,95 €.
Feito o balanço, a sensação que ficou foi de dinheiro gasto em excesso para o prazer que os ditos vinhos nos proporcionaram. Havia razão para as dúvidas. Para valer a pena gastar tanto dinheiro temos que estar perante vinhos quase excepcionais. Não que não fossem bons vinhos, longe disso, só que tínhamos a legítima expectativa de que fossem bem melhores!
A verdade é que temos retirado muito mais prazer de alguns vinhos a metade do preço destes do que destes três na generalidade. Desde há algum tempo que temos neste blog uma ligação para outra página onde listamos os vinhos que para nós valem a pena pelo preço que custam. Independentemente de serem melhores ou piores (e se não os acharmos bons, obviamente não os aconselhamos a ninguém), o importante aqui é sabermos que estamos a dar um valor que consideramos justo pelo vinho em causa. E assim já sabemos à partida com o que é que podemos contar. O problema é quando damos 20 ou 30 € por um produto que não está à altura do que custou. Tomando como exemplo o Duas Quintas, que conhecemos desde o seu lançamento e que costuma andar pelos 8 a 10 euros, embora isto não seja uma equação matemática não será pertinente questionar se o Duas Quintas Reserva, que custa o dobro, nos irá proporcionar um prazer a dobrar? E quanto ao Duas Quintas Reserva Especial, será que vale a pena pagar por ele 4 a 5 vezes mais?

tuguinho e Kroniketas, enófilos descapitalizados

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Na minha mesa 234 - O Ganhão (Venda Nova)

Vamos então falar do Ganhão, local de peregrinação do núcleo duro dos Comensais Dionisíacos e um dos vários restaurantes alentejanos bem referenciados na zona da capital.
Eu já lá tinha passado um dia ao almoço para conhecer o espaço. Deparei com uma sala quase “forrada” a aguardentes, conhaques e whiskies, além de uma enorme garrafeira descrita numa extensa carta de vinhos com bastantes raridades e alguns restos de colecção que por ali estão à espera que alguém repare neles. Foi nessa ocasião que reparei, numa prateleira elevada a um canto da sala, numa garrafa de litro e meio de Reguengos Garrafeira dos Sócios de 97 que desde logo ficou marcada para a primeira oportunidade.
Tendo-se juntado quatro comensais, lá rumámos à Venda Nova para uma refeição em regra. O Ganhão fica logo a seguir às portas de Benfica, junto aos laboratórios Vitória. O estacionamento é relativamente fácil de encontrar do outro lado da rua, junto aos prédios aí existentes.
A garrafa já estava à nossa espera e à temperatura adequada e veio para a mesa enquanto nos entretínhamos com os primeiros acepipes. Perante as sugestivas propostas que nos foram apresentadas, resolvemos fazer uma vaquinha e pedir três pratos para dividir por todos: bacalhau à Ganhão, no forno, ensopado em azeite com cobertura de alho e batatas fritas às rodelas; grelhada mista de secretos e vitela; e lombinhos de porco com migas de espargos. Qual deles o mais apetitoso. O bacalhau naturalmente comeu-se primeiro e foi um bom início das hostilidades, enquanto o Garrafeira dos Sócios se começava a mostrar nos copos. Em seguida vieram as carnes que se foram intercalando uma com a outra e chegaram para as despesas. Excelentes lombinhos e migas e muito bons grelhados.
Para as sobremesas escolheu-se a inevitável encharcada, a que aderiram três dos comensais, mais uma torta de canela. No final ainda houve direito à prova de duas aguardentes (oferta da casa).
Com o prolongar do serão, as nossas conversas foram-se cruzando com as dos donos, que entretanto se sentavam noutra mesa para cear. Já só restávamos nós na sala e já bem para lá da meia-noite falava-se de provas de vinhos, de lojas e restaurantes, de críticos e revistas, de vinhos caros e baratos. Enfim, o serão podia-se prolongar pela noite dentro.
Ficaram os contactos para futuras divulgações e a promessa de lá voltarmos. Para além da boa qualidade da confecção e da simpatia do serviço, o destaque foi o fim da noite em amena cavaqueira, coisa que não é vulgar acontecer. Assim vale a pena lá estar e nem dá vontade de vir embora. Um local a revisitar com frequência, até porque a casa dispõe ao lado de uma loja e também faz apresentações de vinhos, pelo que há mais motivos para outras visitas.

tuguinho e Kroniketas com Politikos e Mancha, os Comensais Dionisíacos

Restaurante: O Ganhão
Rua Elias Garcia, 24/26
Venda Nova
2700-327 Amadora
Telef: 21.474.62.26
Preço médio por refeição: 30 €
Nota (0 a 5): 4,5

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

No meu copo 233 - Conde de Palma 2006

Este vinho foi adquirido com a Revista de Vinhos de Janeiro e desta vez resolvi fazer o que raramente faço: experimentar bebê-lo imediatamente para ver como está.

Depois das duas provas indicadas nos posts anteriores, aqui está o contra-ponto aos vinhos que tiveram tempo para crescer e amadurecer dentro da garrafa: um vinho ainda novo, com apenas dois anos de idade após a colheita. E confirmou-se aquilo que seria previsível: o vinho está muito “cru” para ser bebido, algo agreste, com os taninos ainda agressivos a torná-lo algo adstringente e difícil.

Parece ter potencial para melhorar e talvez daqui a 2, 3 anos o conjunto esteja mais redondo e polido e aí se possa apreciar melhor os aromas.

Assim se prova mais uma vez que esta tendência para beber os vinhos muito novos é extremamente limitativa do prazer que se obtém. Está na mão dos consumidores inverter esta tendência, ou terão de ser os produtores a tomar a iniciativa?

Kroniketas, enófilo esclarecido


Vinho: Conde de Palma 2006 (T)
Região: Alentejo (Portalegre)
Produtor: Herdade Monte da Cal - Dão Sul/Global Wines
Grau alcoólico: 13,5%
Castas: Trincadeira, Aragonês, Alicante Bouschet
Preço com a Revista de Vinhos: 5,95 €
Nota (0 a 10): 6,5


PS: Por coincidência o Pingas no Copo também apresentou há dias uma prova deste vinho. A opinião dele é mais favorável que a minha.

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

No meu copo 232 - Reguengos Garrafeira dos Sócios 97 e 99

E como estamos numa onda de regressos, eis aqui outra repetição. A última prova desta colheita tinha sido colocada pelo tuguinho há uns dois anos, quando ele ainda escrevia uns posts para este blog. Daí para cá já tive oportunidade de provar outras colheitas, mais recentes e mais antigas, a última há cerca de um ano. Mas como este vinho, tal como o do post anterior, é um daqueles que tenho sempre em stock, as colheitas vão-se juntando na garrafeira e os vinhos vão ficando por ali à espera de serem lembrados.
Assim sendo, depois do Quatro Castas resolvi ir revisitar o Garrafeira dos Sócios da Cooperativa Agrícola de Reguengos de Monsaraz. Não é novidade nenhuma dizer que quanto mais tempo esperamos para consumir um vinho maior é a probabilidade de termos uma surpresa desagradável. Felizmente não tenho tido tantas como receava, embora por vezes o azar bata à porta. Mas quando a surpresa é boa, sentimo-nos recompensados pela espera e ultimamente o deus Baco tem-me presenteado com alguns néctares deliciosos que só têm dado razão às vozes que cada vez mais se levantam contra febre da venda e do consumo dos vinhos acabados de fazer (voltarei a este tema no próximo post).
Já contei na última prova a história da nossa relação com este vinho, um caso de verdadeira paixão. E esta prova da colheita de 99 não defraudou: estava lá tudo, e também aqui parece que o tempo em garrafa, ao invés de o fazer decair, o fez melhorar e lhe deu um vigor rejuvenescido. Continua com as características que sempre gostei nele mas mantém-se vivo na boca, prolongado e aveludado.
Posteriormente a esta prova houve a oportunidade de beber, no restaurante O Ganhão, uma garrafa de litro e meio da colheita de 97. Para isso juntámos o núcleo duro dos Comensais Dionisíacos, tendo reservado previamente a dita garrafa. O resultado não defraudou minimamente as expectativas. Apresentou uma cor acastanhada a denotar a evolução já evidente, mas desta vez não achámos necessário decantá-lo, porque os aromas iniciais se apresentaram totalmente limpos, sem qualquer vestígio de mofo, e tal como tinha acontecido há um ano com o de 96 no restaurante A Gruta, em Portalegre, à medida que foi arejando os aromas foram-se libertando e toda a macieza e o aveludado que sempre esperamos aí estavam a marcar presença. Já não apresentava a mesma vivacidade do de 99, mas para um vinho com esta idade a saúde estava notável.
Após estas três últimas provas (estas duas e o Quatro Castas) fiquei com a sensação de ter provado três vinhos que estavam na idade adulta. É certo que já não se espera que possam melhorar, mas se não os tivesse deixado repousar durante todos estes anos (o Quatro Castas, comprado com 3 anos de idade, esperou 4 anos depois da compra e o Garrafeira dos Sócios 99, comprado com 4 anos, esperou 5) e não tivesse referenciado aquela garrafa magnum de 97 no Ganhão, teria agora o prazer de desfrutar de três vinhos verdadeiramente maduros e completos?

Kroniketas, enófilo esclarecido

Região: Alentejo (Reguengos)
Produtor: Carmim (Coop. Agrícola de Reguengos de Monsaraz)
Castas: Aragonês, Castelão, Trincadeira
Preço em feira de vinhos: 11,95 €

Vinho: Reguengos Garrafeira dos Sócios 97 (T) (garrafa de 1,5 L)
Grau alcoólico: 13%
Nota (0 a 10): 8,5

Vinho: Reguengos Garrafeira dos Sócios 99 (T)
Grau alcoólico: 13,5%
Nota (0 a 10): 8,5

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

No meu copo 231 - Quatro Castas Reserva 2001

Perdoem-me a insistência, mas beber este vinho é um prazer sempre renovado. Tinha provado a última da mesma colheita há cerca de um ano e agora parece que melhorou. Curiosamente, no blog Os Vinhos existe uma prova da colheita de 2002, onde o Pedro Rafael Barata refere que já passou o seu auge e o final é mediano.

Pois este de 2001, passado um ano, ainda está melhor. Mediano é que o final não é e pelo contrário talvez esteja, agora sim, no auge. O tempo em garrafa só lhe tem feito bem. Um corpo que nunca mais acaba, uma profundidade aromática espantosa, com aromas ainda exuberantes a fruta e algum toque a tostados e especiarias, com boa integração com a madeira e os taninos polidos mas ainda sólidos a darem grande firmeza a um conjunto homogéneo e equilibrado. E nem os 15 graus de álcool destoam do conjunto, tão bem disfarçados estão.

Definitivamente, um vinho que faz sempre os meus encantos por um preço que fica bem abaixo do que se poderia esperar. Para mim é incontornável e, repito o que disse há um ano, o melhor vinho do Esporão daqueles que já provei (continua a faltar o Private Selection e o caríssimo Torre do Esporão...).

Kroniketas, enófilo esclarecido

Vinho: Quatro Castas Reserva 2001 (T)
Região: Alentejo (Reguengos)
Produtor: Herdade do Esporão
Grau alcoólico: 15%
Castas (não mencionadas no contra-rótulo) - as quatro melhores do ano em partes iguais entre estas: Aragonês, Trincadeira, Touriga Nacional, Cabernet Sauvignon, Syrah, Bastardo, Alicante Bouschet
Preço em feira de vinhos: 10,79 €
Nota (0 a 10): 9