quarta-feira, 27 de junho de 2007

No meu copo, na minha mesa 124 - Montevalle Reserva 02, Casa de Santar 03, Murganheira Branco Seco 06; Petisqueira do Gould (Paço d'Arcos)




Continuando nos arredores da capital, aproveitámos uma folga para dar um saltinho a Paço d’Arcos. Indo pela Avenida Marginal em direcção a Cascais, sai-se na primeira saída para Paço d’Arcos, desembocando-se logo na Rua Costa Pinto, onde o nº 47 aloja o restaurante Os Arcos e alguns metros à frente, no nº 93, se encontra a Petisqueira do Gould. Na mesma zona, quase em frente, há a Casa Gallega e ainda um restaurante italiano e, num patamar mais abaixo, a Marítima e um restaurante asiático. Há muito por onde escolher.
Depois de espreitarmos à montra d’Os Arcos e da Petisqueira do Gould, ali a 100 metros um do outro, optámos por este último, ficando Os Arcos para próxima oportunidade. Franqueada a porta, encontrámos um espaço reduzido, quase intimista (a sala dispõe apenas de 30 lugares), onde somos conduzidos à mesa pelo anfitrião, o Sr. Amando Carvalho, dono daquele espaço.
Como entretém-de-boca apareceram na mesa umas tirinhas de presunto, pão de alho torrado e um creme à base de sapateira servido na própria concha.
Quando passamos à escolha dos pratos, a oferta, não sendo excessivamente extensa, é bastante variada, o que dificulta a escolha. Nos pratos do dia há arroz de garoupa com gambas, costeletinhas de borrego e posta mirandesa, entre outros. Como somos mais carnívoros, olhámos mais para o lado das carnes e chamou-nos a atenção a alheira de caça, o entrecôte grelhado e o tornedó, e ficámos ali a matutar no que escolher. Perante a nossa indecisão, o dono aproxima-se e sugere-nos a posta mirandesa, de carne certificada. Para fazer parelha acabámos por escolher o tornedó à portuguesa, frito em azeite e alho.
Os pratos foram apresentados num carrinho de servir e pedimos para dividir as doses em partes iguais, de modo partilhar os dois pratos. O dono acabou por servir-nos primeiro a posta mirandesa e guardou o tornedó na estufa. Obviamente, ambos mal passados.
A posta estava muito tenra, salpicada por um tempero original, em que se notaram algumas notas de canela e de ervas não identificadas pelos mastigantes.
Quanto ao tornedó, extremamente suculento e tenro, de carne de Lafões, sobressaiu precisamente pela simplicidade da confecção, que permitiu que a qualidade da carne se exibisse sem peias.
E quanto ao vinho? A decisão tinha sido esta: almoçar num restaurante desconhecido e beber um vinho desconhecido. A carta era extensa, principalmente no Douro e ainda mais no Alentejo. Estávamos de olho num Gouvyas quando o dono nos sugeriu um Montevalle Reserva 2002, da empresa Bago de Touriga, de Luís Soares Duarte e João Roseira. Trata-se de um vinho feito com uvas de vinhas velhas cultivadas em Soutelo, no Cima Corgo, e São João de Lobrigos, no Baixo Corgo. Fermentado 100% em lagar e engarrafado após 24 meses de estágio em barricas usadas, é um vinho de produção limitada, que não é habitual ver no circuito comercial. Em conversa connosco ao longo da refeição, o dono disse-nos que tinha encomendado 80 caixas mas que só lhe vão chegando a pouco e pouco.
O vinho foi servido inicialmente num copo de prova, sendo o resto decantado sem que fosse necessário pedi-lo. Pedimos, sim, um frappé porque o vinho se apresentou com a temperatura um pouco elevada. Após uns 10 minutos com o decanter dentro do balde com gelo, o vinho ficou à temperatura adequada, podendo então ser devidamente apreciado, para o que foram devidamente apresentados copos em forma de tulipa.
Fugindo um pouco ao habitual, este vinho não contém a quase omnipresente Touriga Nacional, ficando-se pelas habituais Touriga Franca, Tinta Roriz e Tinta Barroca. Apresenta uma cor com tonalidades violáceas, aroma frutado e a denotar alguma juventude. Na boca é medianamente encorpado e equilibrado, com uma acidez moderada e grau alcoólico não excessivo. Apesar dos 24 meses de estágio, a madeira não se sobrepõe no conjunto, deixando um fim de boca suave e fresco com um toque apimentado.
Como a garrafa se esgotou, ainda tivemos que recorrer a meia garrafa do que houvesse disponível, e a escolha recaiu num Casa de Santar 2003, que se mostrou bem à altura do desafio. Há cerca de um ano tínhamos provado uma garrafa desta colheita, e devemos dizer que esta meia garrafa nos surpreendeu favoravelmente. Muito equilibrado, muito macio mas suficientemente encorpado e persistente para não ficar perdido nas sobras do vinho anterior. Merece uma revisão da nota apresentada anteriormente.
Pelo meio, foram chegando mais uns reforços de pão torrado, batatas fritas às rodelas muito finas e os copos sempre preenchidos graças à extrema atenção do anfitrião, com quem fomos trocando algumas impressões acerca de outros vinhos, da origem das carnes e de outras sugestões que nos foi apresentando. Para finalizar, pedimos um delicioso e muito macio bolo de chocolate com gelado de nata, que rematou o repasto da melhor forma.
A grande surpresa aconteceu apenas três dias depois. Há coisas que não se preparam antecipadamente, simplesmente acontecem porque calha. Encontrámo-nos nesse fim-de-semana a propósito dum evento cultural ali para os lados de São Domingos de Rana e, já cerca das 21 horas, com os estômagos meio vazios depois de termos enganado a fome com uns croquetes e rissóis, resolvemos ir petiscar qualquer coisa para fechar a noite. Tinha-se pensado num belo bife, mas dado o adiantado da hora achámos melhor ficar por uma coisa mais leve, pensando-se então no peixe. Como já dissemos, não somos grandes piscícolas, pelo que não é fácil escolher o que comer. A hipótese de ir para o peixe grelhado, sugerida pelo tuguinho, foi desde logo liminarmente rejeitada. Queria-se peixe, sim, mas qualquer coisa que soubesse bem. Estando ali pela zona, acabámos por voltar ao local do crime, e fomos outra vez parar a Paço d’Arcos. Toca a fazer a mesma volta do outro dia, e na montra d’Os Arcos os preços do peixe eram algo assustadores. Com alguma renitência do tuguinho, fomos outra vez bater à porta da Petisqueira!
Fomos outra vez magnificamente atendidos, voltando a trocar alguns dedos de conversa com o Sr. Amando Carvalho, aproveitando o facto de termos ficado noutro ponto da sala onde pontificam alguns recortes de jornais para nos inteirarmos da origem daquele espaço. Ficámos a saber que a Petisqueira surgiu depois da ourivesaria que a antecedeu ter sido assaltada e os proprietários despojados dos seus pertences. Para refazerem o negócio montaram um restaurante com um desenho interior que mereceu um prémio da Câmara Municipal de Oeiras.
Quase com as 10 horas da noite a bater, olhámos então, desta vez, para os peixes, e optámos pelos filetes de peixe-galo com arroz mariscado. Estavam soberbos, muito saborosos, assim como o arroz, malandrinho como convém. Desta vez rejeitámos as entradas e ficámos suficientemente preenchidos sem exagerar, que era o que se pretendia.
Para terminar, repetimos a sobremesa. Não havia opção que nos agradasse mais.
Quanto ao vinho, voltámos a seguir a sugestão do Sr. Amando e escolhemos o Murganheira Branco Seco. Confirmou tudo o que se esperava: um vinho de grande elegância, com grande frescura na boca devido a uma acidez correcta e um grau alcoólico adequado (12%), que aumenta o prazer de beber sem nos pesar nem se tornar enjoativo, como muitos brancos fermentados em madeira e cheios de álcool que temos encontrado ultimamente. Este, sim, é mais ao nosso gosto. Frutado quanto baste, com alguma predominância floral que é proporcionada pela Malvasia Fina, uma casta que temos encontrado em brancos muito elegantes.
Quanto ao preço, tratando-se de duas refeições muito diferentes, o dispêndio também acabou por sê-lo. Na primeira pagámos 45 € por cada refeição, com uma garrafa de vinho a 26 € e ainda mais meia, enquanto na segunda, sem entradas, com apenas uma garrafa de vinho a 10 € e sem cafés, ficámo-nos por uns singelos 20 € por cabeça. Donde se conclui facilmente que é precisamente nas entradas e nos vinhos, mais que nos pratos, que se estabelece a diferença de preços. Mas não custa pagar o que pagámos da primeira vez quando se sai dum restaurante com o nível de satisfação que este nos proporcionou.
Perante este serviço de pratos e de vinhos irrepreensível, a qualidade da confecção e a atenção, afabilidade e simpatia do dono, só podemos considerar este restaurante como excelente. No final de duas visitas, prometemos voltar, não com três dias de intervalo, mas este local tornou-se visita obrigatória para nós. Não é preciso grandes poses para se atingir a excelência - apenas simpatia, competência e qualidade.

tuguinho e Kroniketas, os diletantes preguiçosos

Restaurante: A Petisqueira do Gould
Rua Costa Pinto, 93
2770-213 Paço de Arcos
Telef: 21.443.33.76
Preço médio por refeição: 35 €
Nota (0 a 5): 5

Vinho: Montevalle Reserva 2002 (T)
Região: Douro
Produtor: Bago de Touriga Vinhos Lda.
Grau alcoólico: 13,5%
Castas: Touriga Franca, Tinta Roriz, Tinta Barroca
Preço no restaurante: 26 €
Nota (0 a 10): 7,5

Vinho: Casa de Santar 2003 (T) (garrafa de 375 ml)
Nota (0 a 10): 7

Vinho: Murganheira Branco Seco 2006 (B)
Região: Távora-Varosa
Produtor: Sociedade Agrícola e Comercial do Varosa
Grau alcoólico: 12%
Castas: Malvasia Fina, Cerceal, Gouveio Real
Preço no restaurante: 10 €
Nota (0 a 10): 8

Coisas

O respeito pelos pais é muito bonito! Por isso aqui evocamos uma efeméride que se comemora aqui no blog ao lado, o nosso papá Kronikas Tugas. Dizem que já publicaram mil posts! Não sei se será de acreditar, mas podem ler o que foi escrito aqui.

tuguinho e Kroniketas, enófilos bem comportados

domingo, 24 de junho de 2007

No meu copo, na minha mesa 123 - Muxagat 2003; O Nobre (Montijo)



Uma ida à “outra margem” para ver um espectáculo musical levou as Krónikas Vinícolas a passar junto a este famoso restaurante, que visitámos há 8 anos ainda na Ajuda, em Lisboa. Desde logo ficou a vontade de redescobrir este espaço com tradição na gastronomia, junto à Praça de Toiros do Montijo. E uma bela noite lá fomos pela ponte Vasco da Gama a caminho do novo Nobre.
O novo espaço é amplo e arejado, com um grande parque de estacionamento logo à chegada e entrada para uma sala enorme. As mesas estão dispostas de modo a haver um generoso espaço de circulação, e mesmo assim tem capacidade para uma boa centena de pessoas.
A recepção aos clientes é atenciosa e desde logo somos confrontados com algumas entradas na mesa, ao que se segue uma enorme ementa de entradas, especialidades, peixes, carnes, etc. O difícil é escolher.
Escolhemos um folhado de caça brava e uma costeleta de vitela à mirandesa. Mas antes experimentámos a já famosa sopa de santola, que veio dentro da concha da própria santola e se revelou bastante saborosa.
O folhado vinha acompanhado de alface com umas rodelinhas de maçã, para refrescar o folhado, embora qualquer acompanhamento mais sólido não fizesse mal nenhum. A costeleta trouxe um acompanhamento mais habitual, batatas fritas e brócolos cozidos, regada com azeite. Ambos estavam bastante saborosos e, a meio do folhado, já começávamos a ficar atestados.
Para sobremesa ainda tivemos coragem para avançar para uma sopa dourada, que veio servida num prato enorme polvilhado à volta com açúcar em pó e canela. Uma delícia que já foi difícil derrotar, mas aguentámos estoicamente o desafio até ao fim.
Para os líquidos a oferta também era enorme. Surpreendentemente, para o nível do restaurante, os preços praticados não são obscenos, conseguindo-se escolher vinhos na casa dos 20 €, e foi precisamente um desses que escolhemos. Uma novidade: Muxagat 2003, produzido por Mateus Nicolau de Almeida, filho de João Nicolau de Almeida (enólogo e administrador da Ramos Pinto) e neto de Fernando Nicolau de Almeida, o criador do Barca Velha. Portanto, a 3ª geração também já voa sozinha e já tem o seu próprio vinho, que deve o seu nome ao local onde se situa a vinha, próximo da localidade de Muxagata, a poucos quilómetros de Vila Nova de Foz Côa. Bem no coração do Douro Superior, portanto, ali nas vizinhanças da Quinta da Ervamoira (já visitada por nós o ano passado), da Quinta da Leda, da Quinta do Vale Meão, berços de alguns dos melhores vinhos da região… e do país.
E que dizer deste Muxagat? Para começar, pouca informação no contra-rótulo, o que não nos permite saber quais são as castas utilizadas. Presumivelmente lá estarão a Touriga Nacional, a Tinta Roriz, a Tinta Barroca, a Touriga Franca ou o Tinto Cão. Fazendo fé na informação indicada neste post do Vinho da Casa, destas só a Tinta Barroca não está lá.
Na cor é bastante concentrado, a puxar para o retinto, no aroma apresenta sugestões de frutos vermelhos maduros. Na prova é bem encorpado, com um ligeiro toque apimentado, uma acidez correcta bem casada com a madeira, que não se sobrepõe a um conjunto equilibrado com final persistente. Para esse equilíbrio contribui também o grau alcoólico moderado, “apenas” 13%, o que é raro nos tempos que correm, principalmente no Douro, mas que talvez revele uma nova tendência para voltarmos a graus alcoólicos “normais”, o que seria bastante agradável. Em suma, um vinho simpático por um preço teoricamente acessível.
Resta acrescentar que esta era a única garrafa existente no restaurante e, segundo o chefe de sala, é um vinho pouco solicitado, que só é pedido por conhecedores. Imaginem... Esta calhou-nos bem.
Quanto ao restaurante, já íamos preparados para abrir os cordões à bolsa, recordando a despesa de há 8 anos. Logo o preço dos pratos ameaçava fazer subir a parada. Depois, o preço do vinho acabou por equilibrar a coisa. No final, duas refeições por 91 euros. Mas pela qualidade do serviço e da confecção, vale a pena ir lá. Não é todos os anos, mas de vez em quando sabe bem fazer uma pequena extravagância destas. Até porque nos ficou a luzir no olho uma perdiz à transmontana que estava na ementa...

tuguinho e Kroniketas, os diletantes preguiçosos

Restaurante: O Nobre
Avenida de Olivença
2870 Montijo
Telef: 21.231.75.11/96.982.52.78 - Fax: 21.231.75.14
E-mail: nobremontijo@sapo.pt
Preço médio por refeição: 45/50 €
Nota (0 a 5): 5

Vinho: Muxagat 2003 (T)
Região: Douro
Produtor: Muxagat Vinhos
Grau alcoólico: 13%
Castas: Tinta Roriz, Tinto Cão, Touriga Nacional, Touriga Franca
Preço no restaurante: 19,50 €
Nota (0 a 10): 7

quinta-feira, 21 de junho de 2007

No meu copo 122 - Hexagon 2003

O fascínio por este vinho vem desde o 1º encontro de eno-blogs, realizado em Janeiro na York House. Na altura, para mim foi a grande surpresa da noite.
Um dia destes, numa visita à Makro deparámo-nos com este à venda, tendo sido adquirida uma singela garrafa para dividir por dois. E não perdemos muito tempo a bebê-la. Fizemo-lo a acompanhar umas costeletas de novilho grelhadas.
É curiosa a referência ao nome do vinho no contra-rótulo: os seis lados do hexágono relacionados com seis castas e seis gerações da família José Maria da Fonseca, onde agora predomina como enólogo Domingos Soares Franco. “Hexagon é a procura da excelência que tem marcado a minha geração e a minha família ao longo dos tempos”, diz Soares Franco. E com este vinho conseguiu-a.
Não decantámos o vinho, mas ele merecia. Fomo-lo degustando calmamente e ao longo de uma hora desenvolveu aromas fantásticos, apresentando um fim de boca que nunca mais acaba. Um vinho que nos enche a boca e que apetece ficar ali a saborear por tempo indeterminado. Taninos bem firmes mas redondos, madeira bem integrada num conjunto de grande complexidade de aromas e sabores. É o topo de gama da José Maria da Fonseca, e está lá muito bem.

Kroniketas, enófilo esclarecido

Vinho: Hexagon 2003 (T)
Região: Terras do Sado
Produtor: José Maria da Fonseca
Grau alcoólico: 14%
Castas: Touriga Nacional, Touriga Franca, Syrah, Tinto Cão, Trincadeira, Tannat
Preço em hipermercado: 33,04 €
Nota (0 a 10): 9

terça-feira, 19 de junho de 2007

No meu copo 121 - Reguengos Reserva 99, 2000, 2001


Terminamos esta ronda por terras do Alentejo voltando a Reguengos de Monsaraz e à Carmim para falar do Reserva, que acompanhamos há muitos anos e que tínhamos em stock desde Janeiro de 2004. Quando provámos a colheita de 99 fomos logo a seguir comprar umas quantas garrafas, que ficaram esquecidas até há pouco tempo, quando achámos que era tempo de fazer uma rotação de stock porque o tempo útil de consumo já tinha sido ultrapassado.
A verdade é que o vinho se mostrou ainda em forma. Nas colheitas que saem para o mercado é um vinho de cor granada e bastante encorpado, com a madeira bem marcada mas sem ser em excesso, resultado dos cerca de 4 anos de estágio a que é submetido. Apresenta normalmente um fim de boca prolongado, taninos bem presentes mas redondos.
A curiosidade aqui era ver como se comportavam estas três colheitas. A de 99 mostrou-se ainda em boa forma, sem mostrar sinais claros de declínio, podendo beber-se desde logo e aguentando mesmo uma garrafa aberta até ao dia seguinte sem afectar a frescura do vinho. Não deixando de ser uma surpresa, dado ser um vinho alentejano já com quase 8 anos, a verdade é que fez jus à apreciação que mereceu no final de 2003 e que nos levou a apostar nele para guardar durante uns anos.
Já a colheita de 2000 apresentou-se muito mais fechada, com um aroma inicial com algum mofo, que tornou necessário decantá-lo para o deixar respirar e limpar mais os aromas. Ao fim de uma hora a evolução era evidente, desenvolvendo aromas a passas e especiarias e mostrando um fim de boca cada vez mais persistente.
O da colheita de 2001 tinha um problema: a garrafa tinha vertido algumas gotas e receávamos que estivesse passado. Depois de retirada a rolha que, apesar de ter vertido, estava em bom estado, ao cheirar o vinho perpassou pelas nossas mentes a lembrança do vinho do Porto, o que não era bom presságio. Verteu-se um pouco para o copo. A cor, granada profunda como já referido, não denotava a evolução que o odor deixava prever e, quando o provámos, o sabor era óptimo, a especiarias e madeira bem casada, os taninos redondos mas vincados e um fim de boca suave e de média duração. Aliás, cheirado no copo, o vinho do Porto não estava lá, apenas um aroma também discreto e complexo, a mostrar a boa saúde do vinho.
Não sendo nenhuma das colheitas mais recentes e não tendo a vivacidade que aquelas normalmente apresentam, estas três demonstraram, ainda assim, que este Reserva pode ser guardado algum tempo sem nos pregar uma partida e é uma excelente aposta para acompanhar pratos de carne alentejanos tradicionais, daqueles bem fortes e consistentes que pedem um vinho robusto sem ser agressivo. Tem também a vantagem de apresentar um preço bastante convidativo, podendo actualmente comprar-se a menos de 4 €. Em 2000 chegou a comprar-se a 1125$. Recentemente, uma promoção no Pingo Doce apresentava 6 garrafas ao preço de 5, o que resultava em 3,325 € por garrafa, que é um excelente preço para o vinho em questão.

Nota: este vinho usa as uvas do mesmo lote que, depois de devidamente seleccionadas, servem para fazer o topo de gama da casa, o Garrafeira dos Sócios.

tuguinho e Kroniketas, enófilos esforçado e esclarecido (respectivamente)

Vinho: Reguengos Reserva 99 (T)
Grau alcoólico: 13%

Vinho: Reguengos Reserva 2000 (T)
Grau alcoólico: 13,5%

Vinho: Reguengos Reserva 2001 (T)
Grau alcoólico: 14%

Região: Alentejo (Reguengos)
Produtor: Carmim (Cooperativa Agrícola de Reguengos de Monsaraz)
Castas: Aragonês, Trincadeira, Castelão, Moreto
Preço em feira de vinhos: 3,78 €
Nota (0 a 10): 8

quinta-feira, 14 de junho de 2007

Prova à Quinta - O oitavo


Montebérin, Lambrusco di Modena Rosato

Este desafio proposto pelo Copo de 3 foi o mais difícil para mim até agora, simplesmente porque sardinhas fazem parte do meu cardápio uma ou duas vezes por ano, no máximo, e com alguma relutância.
Curiosamente, calhou no passado fim-de-semana prolongado estar no Algarve num encontro de amigos que se realiza todos os anos por esta altura, aproveitando um dos feriados, e um dos almoços acaba sempre por ser uma sardinhada. Então lá faço um pouco de sacrifício para comer 3 ou 4 sardinhas bem disfarçadas por muita salada de tomate.
E qual foi o vinho usado para a prova? No meio de algumas cervejas e dum verde sem rótulo que por lá apareceu, socorri-me de um rosé italiano que comprei na feira de vinhos do Jumbo em 2006: leve, aberto, aromático quanto baste, ligeiramente frisante, com grau alcoólico muito baixo e muita frescura, um vinho de verão que se mostrou adequado para a época e até ligou muito bem com as sardinhas, de tal forma que o conteúdo da garrafa desapareceu rapidamente. Curiosamente foram as senhoras presentes que mais depressa o consumiram, enquanto alguns dos homens se mantiveram na cerveja até ao fim.
E pronto, assim cumpri a dupla função duma só vez: comi a minha sardinhada anual e arranjei um vinho para esta Prova à Quinta. Só não cumpri um dos requisitos do desafio, que era não ser um vinho de entrada de gama. Tenho muita pena, mas foi o que se pôde arranjar.

Kroniketas, enófilo esclarecido

Vinho: Monteberín, Lambrusco di Modena (frisante) (R)
Região: Emilia Romagna (Itália)
Produtor: Monteberín - Modena
Grau alcoólico: 9%
Preço em feira de vinhos: 1,99 €
Nota (0 a 10): 7

terça-feira, 12 de junho de 2007

No meu copo 120 - Herdade Penedo Gordo: branco 2006, tinto 2005


Uma cerimónia religiosa seguida do tradicional almoço trouxe-me ao copo dois vinhos alentejanos cuja existência eu desconhecia. Para localizar a sua origem tive que fazer uma pesquisa de modo a localizar Orada no código postal 7150. Resultado: concelho de Borba. E lá provámos o branco e o tinto da Herdade do Penedo Gordo.
O branco de 2006 foi bebido com o prato de peixe, um arroz de marisco com tamboril, ou arroz de tamboril com marisco... Como me acontece quase sempre com os brancos alentejanos, não me agradou. É rústico, pouco aromático, falta-lhe elegância, como a (se calhar, digo eu...) 99% dos brancos alentejanos. Não deixa memórias.
Quanto ao tinto de 2005, a acompanhar lombinhos de porco com castanhas, embora bem mais bebível, também não trouxe nada de novo. Mostrou um carácter predominantemente frutado, tanto no nariz como na boca, embora tivesse evoluído, ao fim de algum tempo, para um fim de boca mais prolongado e marcado por especiarias. Só que... no meio de tantos, ficou-me a sensação de ser apenas mais um para engrossar a interminável lista de novos produtores, mas que dificilmente marcará alguma diferença. Até porque no panorama actual não é fácil.
Não faço ideia do preço destes vinhos, mas pelo seu perfil calculo que andem pelos 4 ou 5 euros. Posicionam-se, certamente, na gama média ou média-baixa. A verdade é que uma semana depois já não me lembrava do nome. Se não fossem as fotos tinham passado rapidamente ao esquecimento.

Kroniketas, enófilo esclarecido

Região: Alentejo (Borba)
Produtor: António M. Esteves Monteiro

Vinho: Herdade Penedo Gordo 2006 (B)
Grau alcoólico: 13%
Castas: Antão Vaz, Roupeiro
Preço: desconhecido
Nota (0 a 10): 5

Vinho: Herdade Penedo Gordo 2005 (T)
Grau alcoólico: 13,5%
Castas: Aragonês, Trincadeira, Alicante Bouschet, Touriga Nacional
Preço: desconhecido
Nota (0 a 10): 6

sexta-feira, 8 de junho de 2007

No meu copo 119 - Carmim, Aragonês e Trincadeira 99

Nos primeiros tempos das Krónikas Vinícolas apreciámos aqui dois varietais da Cooperativa Agrícola de Reguengos de Monsaraz (Carmim), o Bastardo e o Cabernet Sauvignon de 2000, que estiveram em grande e, se calhar, pela última vez, pois foram as últimas colheitas que vi à venda. O tempo passa sem darmos por ele e agora verifico que já passou quase um ano e meio e desde aí nunca mais tinha provado nenhum destes varietais da Carmim, apesar de haver sempre alguns na garrafeira. Agora resolvi ir buscar os outros dois, que se mantêm no mercado. O Aragonês e o Trincadeira já foram lançados há uns 6 ou 7 anos, e tive oportunidade de conhecer todas as colheitas iniciais, ainda com um rótulo claro.
Desde sempre foram vinhos que se pautaram por uma grande dose de adstringência, puxando bem pelas características mais fortes de cada uma das castas - contrariamente ao que acontece, por exemplo, nos varietais do Esporão, ali vizinho, que são muito mais macios. Curioso é também verificar que aqui, na Carmim, o Trincadeira é tão ou mais pujante que o Aragonês, enquanto no Esporão há uma diferença significativa entre as duas, com a Trincadeira muito mais amaciada e a dar vinhos cheios e envolventes, ficando para o Aragonês as despesas dos vinhos mais robustos e taninosos.
Estas duas garrafas foram consumidas com uma boa perna de borrego no forno e revelaram-se, como não podia deixar de ser, perfeitamente adequados para este prato tão típico do Alentejo. Claro que já não tinham a frescura de quando foram comprados (já residiam na garrafeira desde 2002) mas depois de respirarem um pouco ficaram mais limpos de aromas. Perderam um pouco daquela vivacidade que os caracteriza, como é normal, mas ficaram bem mais macios, sem perder um fundo muito marcado a especiarias, que é habitual nestes varietais.
Mais tempo na garrafeira não lhes ia trazer nada de bom, e felizmente ainda fui buscá-los bem bebíveis, mas... provavelmente não seria por muito mais tempo. Quem os tiver, não os guarde mais de dois ou três anos. Já foram vinhos caros (quando foram lançados cheguei a comprá-los por mais de 2000$ a garrafa), mas depois entraram na normalidade e agora conseguem-se comprar por cerca de 4 euros, o que é um excelente preço para a qualidade que costumam ter. Fazem parte das nossas escolhas permanentes.

Kroniketas, enófilo esclarecido

Região: Alentejo (Reguengos)
Produtor: Carmim (Cooperativa Agrícola de Reguengos de Monsaraz)

Vinho: Aragonês 99 (T)
Grau alcoólico: 13,5%
Casta: Aragonês

Preço em feira de vinhos: 4,15 €
Nota (0 a 10): 8

Vinho: Trincadeira 99 (T)
Grau alcoólico: 14%
Casta: Trincadeira

Preço em feira de vinhos: 3,88 €
Nota (0 a 10): 8

quarta-feira, 6 de junho de 2007

No meu copo, na minha mesa 118 - Alandra; Restaurante Tia Rosa (Melides)



Foi há 12 anos que conheci este restaurante, após uma estada no parque de campismo da Praia da Galé, próximo de Melides. Era recomendado pelo pato no forno. Passados 12 anos, voltei lá com o mesmo casal com que tinha estado da outra vez, mas agora acompanhados de mais 3 crianças que naquela altura. E voltámos ao pato.
O restaurante fica mesmo junto à estrada. Para quem apanha o ferry-boat para Tróia em Setúbal, depois de passar pela Comporta vira-se em direcção a Melides e depois de passar Pinheiro da Cruz e alguns parques, encontra-se o Tia Rosa à esquerda. Tem duas salas contíguas, uma mais iluminada que a outra, sendo que esta se torna algo escura se ficarmos longe da janela. Se bem me lembro, há 12 anos só existia a primeira sala, pelo que deve ter havido ampliação do espaço.
O pato assado no forno, primeira opção da ementa, vem cortado em metades, acompanhado de batatinhas assadas e rodelas de laranja. O molho é que se torna um pouco gorduroso demais, pelo que é preferível evitá-lo. Mas a melhor parte é o arroz de miúdos que vem à parte, que também passa pelo forno. Uma verdadeira delícia. Vale a pena lá ir pelo pato.
Para acompanhar pedimos um Alandra, o mais baixo da gama da Herdade do Esporão. Logo à entrada há umas estantes com várias garrafas em exposição, onde estão os varietais do Esporão, vários outros vinhos alentejanos e, claro, o Pinheiro da Cruz (que fica logo ali ao lado), embora na ementa só constem meia-dúzia de referências, e escolhemos a mais barata, a 4,5 €. Curiosamente, em cima das mesas estavam garrafas de Conventual, ao preço de 7,5 €, mas rejeitámos essa opção por ser um vinho que não nos convence.
Continua a ser um vinho simples mas que se bebe com agrado. Aconselha-se até que seja ligeiramente refrescado, o que não era o caso, mas não deixa de ser uma aposta simpática. De cor rubi brilhante, ligeiramente frutado, aberto, leve, macio, ainda assim com um final de boca simpático. Sem grandes pretensões, bom quanto baste e barato, para o dia-a-dia.

Kroniketas, enófilo esclarecido

Restaurante: Tia Rosa
Estrada Nacional 261 - Fontainhas do Mar
7560-661 Melides
Telef: 269.907.144
Preço médio por refeição: 20 €
Nota (0 a 5): 4

Vinho: Alandra (T) - sem data de colheita
Região: Alentejo (Reguengos)
Produtor: Herdade do Esporão
Grau alcoólico: 13%
Castas: Moreto, Castelão
Preço em feira de vinhos: 1,72 €
Nota (0 a 10): 6

terça-feira, 5 de junho de 2007

Por detrás do Moita

Este blog não é o ideal do que todos os outros deviam fazer. Não, o ideal são as opiniões do José Moita a propósito das sugestões que fizémos. As nossas opiniões só nos vinculam a nós próprios, e valem o que valem. Assim como as suas acerca dos 4 ou 5 blogs mais reputados, presumo que reputados por si. Ainda bem que a nossa escala lhe dá vontade de rir; assim sempre se diverte um bocadinho. Se bem que ficamos sempre com a sensação de que quem se ri por tudo e por nada não passa de um pateta alegre...
Sabe, como não temos a mania que somos sabichões nem que somos os maiores, nem andamos aqui armados em cagões, às vezes podemos cometer gaffes naquilo que escrevemos, como referir “sabores” quando queríamos referir “aromas”. Ainda bem que não referimos “cheiros”, senão lá vinha o Moita passar-nos o devido correctivo. Somos apenas amadores/amantes do vinho, não somos enólogos, nem produtores, nem viticultores, nem provadores, nem redactores da Revista de Vinhos ou de outra qualquer, apenas consumidores. Como tal, temos o direito a errar e até a dizer baboseiras se nos apetecer. Só não aceitamos lições de quem faz afirmações gratuitas sem nos provar a razão daquilo que diz. E você, é o quê?
Mas é pena que não conheça sabores terciários, sabe, porque já me aconteceu, no mesmo vinho, ao fim de uma hora encontrar sabores (e não só aromas) que não encontrava no início. Deveria chamar-lhes quaternários? O Prof. Virgílio Loureiro, com quem fiz um curso de prova, talvez lhe conseguisse explicar isso.
Mas já agora, você que se acha tão importante e sabedor e se arroga o direito de dar lições aos outros, explique-nos lá (se for capaz) porque é que a escala de 0 a 10 lhe dá vontade de rir. E já agora, a escala de 1 a 5 rolhas, usada pelo blog “Vinho a copo”, também dá vontade de rir? Sabe quem é o João Paulo Martins? Sabia que ele começou a fazer os seus guias de vinhos numa escala de 1 a 8? Há algum manual do bloguista, escrito por algum guru, onde se imponham normas para fazer uma apreciação do vinho numa escala numérica obrigatória? E se há, foi você que o escreveu? Porque se não apresentar razões válidas para a nossa escala lhe dar vontade de rir, nós é que teremos motivos para rir das suas pseudo-lições.
Quanto aos vinhos modernos que provamos ou deixamos de provar, isso é problema nosso, não acha? Ou será que também há um manual escrito por si dos vinhos que é obrigatório provar? E do dinheiro que é preciso gastar em cada um? Temos que provar todos os mesmos vinhos? E gastar 30 euros por garrafa? Para provar todas as novidades há a Revista de Vinhos. E quem lhe disse que queremos ser iguais aos outros blogs ou aproximar-nos de quem quer que seja? Isso também é uma norma escrita por si? Vinhos modernos e a sair para o mercado? Vinhos muito frutados, cheios de álcool e que sabem todos ao mesmo? É isso que define um bom blog ou um bom apreciador de vinhos? É ir na carneirada e alinhar nos ditames da moda e usar a escala de 0 a 20? Já agora, fique a saber que não andamos aqui a escrever para agradar ou fazer favores a quem quer que seja, porque não pertencemos a lobbies nem interesses instalados. Se é isso que lhe interessa, veio bater à porta errada. E experimente provar um Bairrada dos anos 80, pode ser que descubra alguma coisa que escapa à sua suprema sapiência.
Se você acha que a nossa escala dá vontade de rir, os seus comentários são patéticos. Lança aqui meia-dúzia de atoardas sem qualquer sustentação e sem justificar aquilo que diz. E olhe, se não percebe o sentido daquilo que escrevemos e aproveita partes de frases para fazer citações fora do contexto e com elas tentar ser engraçadinho, sugerimos-lhe que tenha umas aulas de português para ver se aprende a interpretar textos antes de nos vir dar lições sobre a roda dos aromas.

PS: E continuamos à espera do vinho com cheiro a cão molhado. Está na roda dos aromas.

tuguinho e Kroniketas, enófilos desalinhados

domingo, 3 de junho de 2007

No meu copo 117 - Tinto da Talha 2004

Já aqui falámos do Tinto da Talha Grande Escolha, o topo de gama da Roquevale, e agora temos o Tinto da Talha normal, que fica no meio da gama. É um vinho com uma bela cor brilhante entre rubi e granada, encorpado e macio, sem grande adstringência, com algum frutado e final médio, que se bebe com agrado.
Denotando ainda alguma juventude, é adequado seguramente para pratos regionais do Alentejo mas não demasiadamente temperados. O preço é bastante simpático pelo que temos aqui mais uma boa escolha para o dia-a-dia, um vinho bom e barato para quem comprar... barato.

Kroniketas, enófilo esclarecido

Vinho: Tinto da Talha 2004 (T)
Região: Alentejo (Redondo)
Produtor: Roquevale
Grau alcoólico: 13%
Castas: Castelão, Trincadeira

Preço em feira de vinhos: 2,59 €
Nota (0 a 10): 6

sexta-feira, 1 de junho de 2007

Um punhado de sugestões

Caríssimos comparsas, nos últimos tempos tenho pensado no intercâmbio de informação que aqui fazemos e como poderíamos melhorá-lo, com proveito para todos. Assim, deixo aqui algumas sugestões para utilizarem nos vossos blogs, se quiserem, claro:

- Indicar a região a que pertence o vinho provado. Às vezes só pelo nome não vamos lá.
- Indicar o preço a que o vinho foi adquirido. Essa indicação pode ser importante para percebermos em que patamar o vinho se situa.
- Indicar, se possível, locais onde o vinho pode ser adquirido. Aqui nas KV indicamos sempre o preço de super ou hipermercado, mas há vinhos que não se vêem nos supermercados, só em garrafeiras. Isso pode fazer toda a diferença em termos de facilidade de aquisição do vinho... e em termos de preço.
- Na Prova à Quinta, o autor do blog onde o desafio for lançado fazer o balanço das provas apresentadas, nos comentários ou num post autónomo, como nós fizemos no último desafio.
- Quando o tempo e a disponibilidade o permitir, na Prova à Quinta pode-se sempre apresentar mais que um vinho, onde o próprio autor da prova apresenta as comparações entre os vinhos provados, como fizemos nas últimas três provas.
- Sempre que encontrarem noutro blog um vinho que já foi objecto de prova no vosso próprio blog, fazer menção dessa prova nos comentários do outro blog, indicando onde a mesma pode ser lida. Depois disso, o autor da nova prova poderia também pôr um post scriptum no final do post a indicar precisamente o outro blog onde a prova anterior pode ser encontrada. Como certamente concordarão, não é fácil a cada um de nós, sempre que coloca uma prova, ir à procura de outra prova nos outros blogs, sem fazer ideia de onde poderá existir. É bem mais fácil quem já a fez dar essa indicação.

São só algumas ideias que penso que ajudariam a agilizar a troca de informação. Agora cabe-vos a vocês fazer uso delas ou não.

Saudações enófilas.

Kroniketas, enófilo esclarecido

quinta-feira, 31 de maio de 2007

Prova à Quinta - O sétimo


Pera-Manca branco 2003; Periquita 2004

Para este desafio lançado em tempo oportuno pelo Vinho da Casa, para encontrar vinhos produzidos por casas com mais de 20 anos, resolvemos seleccionar dois vinhos, a exemplo do que já fizemos nos dois desafios anteriores, em que apresentámos 4 na prova de Cabernet Sauvignon e 2 na prova de brancos varietais. Escolhemos um branco e um tinto com tradição secular: o Pera-Manca e o Periquita.

No caso do Pera-Manca, estamos perante um dos vinhos brancos mais famosos (e caros) do país. Já existe desde o século XV e obteve medalhas de ouro em Bordéus nos já longínquos anos de 1897 e 1898. Contudo, andei anos (não desde o século XV...) para me decidir a comprá-lo por duvidar que valesse o elevado preço que custa, até pela minha desconfiança em relação aos brancos alentejanos, que já tive oportunidade de referir em mais que uma ocasião. Mas como a vida também é feita de alguns mitos, por vezes é preciso ir ao seu encontro para sabermos da razão ou não da sua existência. No caso dos vinhos trata-se, tão-somente e na maior parte dos casos, de abrir os cordões à bolsa.
Este foi comprado numa feira de vinhos em 2004 e ficou à espera de uma oportunidade que justificasse abri-lo. Foi num almoço de família à volta dum pargo assado no forno, tendo havido o cuidado de o refrescar de véspera, para garantir que à hora de bebê-lo não íamos encontrar um vinho meio morno.
Perante tão grande expectativa, o mínimo que posso dizer é que o vinho não defraudou. De facto, apresenta alguma elegância que é raro encontrar nos brancos alentejanos, sem deixar de fazer prevalecer um corpo com alguma pujança, um aroma frutado e complexo em equilíbrio com uma boa acidez, que resultam num fim de boca fresco e prolongado. Sem dúvida um vinho adequado para pratos de peixe elaborados, como o pargo ou o bacalhau no forno. Feito com 85% de Antão Vaz e 15% de Arinto, a sua boa estrutura e acidez permitem uma boa ligação com os sabores intensos e a gordura destes pratos. Como ainda não o tinha provado, não sei se mudou o perfil ou não, mas não é, seguramente, um vinho da moda.
Continuo, contudo, a ser mais fã de outro tipo de brancos, mas não rejeito a hipótese de voltar a este Pera-Manca, porque estes brancos também fazem falta. E também podemos deliciar-nos com a arte do rótulo, que é uma coisa rara. Como entretanto mudaram o rótulo, esta garrafa ficou como recordação.

No caso do Periquita, é apenas a marca de vinho mais antiga comercializada em Portugal, desde 1850, daí a razão da nossa escolha. Segundo a José Maria da Fonseca, é também o vinho tinto português mais vendido no estrangeiro. Também há algum tempo que não o consumia, mas o vinho modernizou-se um pouco, seguindo agora o perfil dos vinhos com muito álcool (embora sem exagero, apesar de tudo), com algum frutado. Na boca é medianamente encorpado com taninos suaves e bem integrados com um toque discreto de madeira e apresenta um fim prolongado, com bastante especiaria. É um vinho que pede pratos grelhados ou assados com algum condimento, embora sem exageros.
A garrafa também se modernizou, passando da tradicional borgonhesa que durante décadas marcou a imagem do vinho para a bordalesa que ostenta agora. Sendo agora um vinho mais moderno, não sei, contudo, se é melhor do que era. Se calhar tornou-se igual a muitos outros.

Kroniketas, enófilo esclarecido

Vinho: Pera-Manca 2003 (B)
Região: Alentejo (Évora)
Produtor: Fundação Eugénio de Almeida - Adega da Cartuxa
Grau alcoólico: 14%
Castas: Antão Vaz, Arinto
Preço em feira de vinhos: 12,89 €
Nota (0 a 10): 8

Vinho: Periquita 2004 (T)
Região: Terras do Sado
Produtor: José Maria da Fonseca
Grau alcoólico: 13%
Castas: Castelão, Aragonês, Trincadeira
Preço em feira de vinhos: 3,29 €
Nota (0 a 10): 6

segunda-feira, 28 de maio de 2007

No meu copo 116 - Escolha António Saramago 2001

Abrimos este vinho num jantar futeboleiro de Sábado, em conjunto com um Quatro Castas do ano anterior. Acabámos por fazer uma prova cruzada ao longo do jantar, ora provando um, ora provando outro.
Apesar de ser um bom vinho, decepcionou-nos um pouco. A cor, se bem que retinta, já resvalava para um vermelho cansado. Mostrou corpo e veludez, como quase todos os vinhos alentejanos, e foi na boca que se mostrou mais envelhecido, com sabores terciários que não esperávamos encontrar. Melhorou com a permanência no copo mas não se alcandorou ao nível que esperávamos, perdendo mesmo para o Quatro Castas mais velhito.
Em suma, um bom tinto alentejano mas não excepcional, e que não convém ter tanto tempo em garrafa como nos querem fazer crer, visto que esta colheita nos surgiu nas feiras de vinhos do ano transacto. Se o encontrarem a tempo, bebam-no com um máximo de 4 anos de vida - presumo que vos dará maior prazer.

tuguinho, enófilo esforçado

Vinho: Escolha António Saramago 2001 (T)
Região: Alentejo
Produtor: António Saramago
Grau alcoólico: 14º
Preço em feira de vinhos: 8,97 €
Nota (0 a 10): 7

sexta-feira, 25 de maio de 2007

No meu copo 115 - Aragonês de São Miguel dos Descobridores 2005

Comprei este vinho porque o vi recomendado no catálogo da feira de vinhos do Continente de 2006 pelo Prof. Virgílio Loureiro, enólogo, professor no Instituto Superior de Agronomia e especialista em análise sensorial, e ainda consultor do Continente para a área de vinhos e responsável pelo clube de vinhos do mesmo.

Dizia ele no catálogo:
«Um autêntico “bombom”.
Vale a pena partir à descoberta deste Aragonês. Foi concebido para encantar quem o cheira pela primeira vez, apresentando um aroma delicioso e intenso. As notas aromáticas evidenciam a fruta vermelha sobremadura, as plantas silvestres e um abaunilhado cativante. Na boca, confirma tudo o que o aroma promete: é amplo, encorpado, muito aveludado, com uma acidez harmoniosa e um final aromático e ligeiramente adocicado, que convida a beber um pouco mais. Um autêntico “bombom”, que não precisa de comida por perto para animar uma conversa entre amigos. Muito bem feito!»


Depois de tão eloquente descrição, quem sou eu para acrescentar seja o que for? De facto, na primeira prova nota-se uma grande frescura, muito aroma e muita juventude, com a particularidade curiosa de apresentar uma espuma rosada escura ao ser servido no copo, por cima de uma cor retinta muito concentrada. Vai bem com pratos de carne bem temperados, pois com os mais leves pode sobrepor-se aos sabores da comida. Sem dúvida um produto a merecer uma nova prova.

Kroniketas, enófilo esclarecido

Vinho: Aragonês de São Miguel dos Descobridores 2005 (T)
Região: Alentejo (Redondo)
Produtor: Casa Agrícola Alexandre Relvas - Herdade de São Miguel
Grau alcoólico: 13,5%
Casta: Aragonês

Preço em feira de vinhos: 5,85 €
Nota (0 a 10): 7,5

quarta-feira, 23 de maio de 2007

Nova ligação na nossa lista



Acrescentámos uma ligação ao blog QVinho - Vinhos e Gastronomia, um blog de vinhos do lado de lá do charco chamado Atlântico, e que iniciou agora a sua actividade.
Boa sorte e bem vindos, ao Jomar e resto dos blogueiros do QVinho!

tuguinho e Kroniketas, enófilos e assim

terça-feira, 22 de maio de 2007

No meu copo 114 - Herdade do Pinheiro 2002

Iniciamos agora um pequeno périplo por alguns vinhos alentejanos que temos provado nos últimos tempos. Não existe um critério nem uma selecção ou ordem pré-determinada dos vinhos, apenas a ordem em que vamos escrevendo sobre alguns vinhos que nos passam pela mesa.
Começamos esta ronda por um Herdade do Pinheiro 2002. Foi a nossa primeira prova deste vinho, nascido no coração do Baixo Alentejo, em Ferreira do Alentejo, quase lá para a minha zona. Já tinha uma na garrafeira, mas num dos nossos repastos “dionisíacos”, de que qualquer dia daremos conta, o Politikos resolveu contribuir com esta.
Gostámos. É um vinho de cor rubi e aroma pronunciado a frutos vermelhos não muito maduros. Na boca mostra-se bastante cheio, com os taninos arredondados, um toque especiado e a dose certa de madeira, terminando com um fim de boca longo, daqueles que quase se mastigam. Acidez correcta e um grau alcoólico que permite apreciar os aromas sem os abafar. Parece ter estaleca para se bater com pratos de carne bem temperados. De notar que é feito com as duas castas mais emblemáticas do Alentejo, Aragonês e Trincadeira, bem secundadas pela Cabernet Sauvignon, aqui tão falada nos últimos dias, que também se dá muito bem na região. Sendo assim, tem tudo para dar certo desde que saibam tratar dele.
Em suma, para primeira abordagem agradou bastante, prometendo novas visitas. O preço de referência que temos é o da colheita de 2004, que o coloca num patamar médio-alto. Se as outras colheitas cumprirem o que esta prometeu, temos vinho para se impor. Parece-nos que não é apenas “mais um” no Alentejo, como tantos outros que temos encontrado.

Kroniketas, enófilo esclarecido

Vinho: Herdade do Pinheiro 2002 (T)
Região: Alentejo (Ferreira)
Produtor: Sociedade Agrícola Silvestre Ferreira
Grau alcoólico: 13%
Castas: Aragonês, Trincadeira, Cabernet Sauvignon

Preço em feira de vinhos: 7,29 €
Nota (0 a 10): 7,5

sexta-feira, 18 de maio de 2007

Provas de Cabernet Sauvignon - O balanço


Fazendo o balanço das provas aqui colocadas pelos caríssimos comparsas eno-bloguistas e restantes enófilos, a conclusão é que... há gostos e gostos. Tal como na anterior Prova à Quinta vi tecer rasgados elogios a um vinho branco de que não gostei nada (Três Bagos, um Sauvignon Blanc feito pela Lavradores de Feitoria), agora vi provas de Cabernet Sauvignon que não agradaram nada e outras que agradaram bastante. Houve de tudo, o que só prova que não há conhecimento que resista ao paladar de cada um.
Parece que o grande pomo de discórdia em relação a esta casta prende-se com o aspecto vegetal que predomina em muitos vinhos, e nesses casos o veredicto é normalmente desfavorável. No entanto, também houve quem encontrasse bons motivos para elogiar os vinhos provados, precisamente aqueles em que a componente vegetal estava menos presente. O que se pode concluir daqui é que é necessário escolher o vinho certo, em qualquer casta ou em qualquer região, pois o que é elogiado por uns (que provaram o vinho certo) pode ser detestado por outros (que provaram o vinho errado).
Vejamos o que diz David Baverstock, enólogo da Herdade do Esporão, acerca do Cabernet Sauvignon no catálogo da Feira de Vinhos do Pingo Doce de 1998:

“A maior parte do vinho de qualidade produzido em todo o mundo é elaborado a partir de Cabernet Sauvignon. Esta casta francesa é bem sucedida em Bordéus e em quase todos os países vitícolas devido às suas características muito próprias. Possui pequenos bagos com uma película rica em fenóis, o que lhe permite apresentar uma boa relação de cor e taninos para a quantidade de mosto. Os vinhos, logo após a vinificação, apresentam-se de cor púrpura, fruta intensa e muito taninosos. (...) Os vinhos jovens são caracterizados por um aroma a pimentos verdes e fruta do tipo amoras e groselha preta, com uma boa estrutura de taninos. Possuem uma boa afinidade com o estágio em barricas novas de carvalho francês e, com algum tempo em garrafeira, podem ganhar aromas do tipo cedro e tabaco. Como é uma casta tardia, em climas menos quentes (como Bordéus, por exemplo) é necessário lotear Cabernet Sauvignon com Merlot para dar vinhos mais redondos e menos adstringentes. Em climas mais quentes (como no Alentejo, Austrália, Chile, Califórnia, etc.), o vinho tem ganho fama como monocasta, ou vinho varietal, dado que as uvas, por ficarem bem maduras, originam taninos mais ricos e mais álcool, o que ajuda a amaciar o paladar, sendo o fruto cheio e redondo com sabores a amoras, groselha preta e chocolate.”

Como se vê, é tudo uma questão de tratar bem o vinho para anular a predominância do vegetal. O que provámos do Esporão vem mais ao encontro das características descritas na parte final, e é este aspecto que mais nos agrada nesta casta. Mas eu também não me tenho dado bem com os Chardonnay portugueses, pelo que não me surpreende que haja quem se dê mal com o Cabernet.


Em resumo, tivemos as seguintes apreciações:
- Encosta do Sobral 2003 – 16 e 17
- Aliança Galeria 97 – 17
- Solar dos Loendros 2003 – 13,5
- Tapada da Falca 2001 – Bom
- Dom Hermano 2003 – Médio
- Quinta do Valdoeiro PN11 2001 – 13,5
- Alfaraz 2004 – 16,5
- Fiúza 2004 (também provado por nós) – Médio/fraco

Portanto, parece que o Cabernet ou se ama ou se detesta. Ou quase isso.

Kroniketas, enófilo esclarecido

PS: Novo desafio lançado no Vinho da Casa

quinta-feira, 17 de maio de 2007

Prova à Quinta - O sexto


Cabernet Sauvignon portugueses

Para este desafio aqui lançado há duas semanas, as Krónikas Vinícolas foram às garrafeiras vasculhar o que havia de Cabernet Sauvignon, escolheram, escolheram, foram às várias regiões, reuniram e provaram não um, não dois, não três, mas quatro vinhos, a saber:

- Cabernet Sauvignon do Esporão 98, do Alentejo
- Quinta do Poço do Lobo 91, da Bairrada
- Fiúza Cabernet Sauvignon 2004, do Ribatejo
- Caves Velhas Cabernet Sauvignon 2000, da Estremadura

Estes vinhos representam as regiões onde têm sido feitos monovarietais de Cabernet com maior regularidade, faltando apenas os de Terras do Sado. Tivemos três vinhos já com alguma idade e um mais recente. De fora ficaram o Casa Cadaval de 99 e o Quinta de Pancas de 2001, por já terem sido feitas provas de exemplares desses vinhos, e para não ficarmos completamente embriagados no final...

Cabernet Sauvignon (Esporão) 1998
Começámos pelo Cabernet Sauvignon do Esporão. Apresentou-se macio, muito bem integrado e com aroma a frutos secos. A madeira estava bem casada no aroma e sem excessos, com um ligeiro fumado. Na boca mostrou um fundo de frutos muito maduros, ainda alguma adstringência e fim de boca prolongado e suave. Não se nota o álcool e a acidez está correcta. Um vinho com bom corpo, sendo já do ano de 1998.

Quinta do Poço do Lobo, Cabernet Sauvignon 1991
Este vinho foi comprado numa das feiras mais recentes, apesar da idade, e com o único intuito de ver como estaria um vinho desta casta com esta idade. Foi decantado cerca de uma hora antes da refeição e vertido para o copo com uns minutos de antecedência, para que pudesse abrir mais. Apesar de denotar a idade, mostrou estrutura e sabor ainda agradável, embora já não no seu auge. De cor granada escura, foi uma boa experiência, embora em circunstâncias normais já se devesse ter bebido.

Fiúza, Cabernet Sauvignon 2004
O Fiúza presenteou-nos com um aroma agressivo no bom sentido (pujante) e um fundo de erva fresca muito agradável. A boca estava no ponto, com alguns taninos e, se bem que curto, o fim de boca mostrou-se saboroso e com um ataque forte.
Ao fim de uma hora, como seria de esperar, estava muito mais macio, sem a tal agressividade inicial. Bom corpo. Bebeu-se o que restou no almoço do dia seguinte (esteve devidamente rolhado com rolha de vácuo) e mostrou-se algo decaído.

Caves Velhas, Cabernet Sauvignon 2000
Para o fim ficou o Caves Velhas de 2000, um dos melhores na prova. Aroma muito fumado, com fundo vegetal omnipresente mas sem subjugar os outros odores e uma cor rubi muito agradável.
Sabor a couro e vegetal, macio na boca mas persistente, com uma adstringência suave. Fim de boca longo com fundo de frutos secos. Mediano de corpo. Ao contrário do Fiúza, no dia seguinte mostrou-se ainda melhor.

Em conclusão, tivemos vinhos com algumas semelhanças devido à casta e até devido à idade algo avançada que lhes retirou alguma vivacidade, mas com perfis um pouco diferentes. Os mais equilibrados foram o do Esporão e o das Caves Velhas, com um bom balanço entre a acidez, o corpo e os aromas. O Poço do Lobo mostrou-se algo cansado e o Fiúza, embora vivo e mais exuberante que os outros, acabou por mostrar algum excesso de álcool, conquanto não chegasse a desequilibrar o vinho.

No conjunto, o do Esporão confirmou aquilo que se esperava dele, com um frutado ainda marcante e um belo corpo, sem dar sinais de exagero na componente vegetal, mais presente no Fiúza. De todo o modo, não se notou qualquer predominância dos famigerados pimentos verdes, que como diz o Copo de 3 parecem ensombrar os vinhos desta casta e parecem também tomar conta do imaginário dos enófilos. Como dissemos num comentário no post onde lançámos o desafio, um vinho bem feito não deve saber a pimentos verdes, senão algo está mal. Nesse aspecto, o Cabernet do Esporão, que entretanto deixou de ser feito, pede meças a qualquer outro, pois sempre teve uma predominância a frutos secos e vermelhos muito bem integrada com a madeira, com uma acidez correcta e um grau alcoólico moderado.

É pena que os caríssimos eno-bloguistas já não o possam provar (a não ser que ainda haja à venda nalgum sítio esquecido, ou na Herdade do Esporão), pois aqueles que não gostam desta casta talvez mudassem de ideia. Nós conhecemos este vinho desde o seu lançamento, com a colheita de 91, e acompanhámo-lo até ao fim, já em garrafas de meio-litro. As últimas sete, desta colheita de 98, foram compradas numa garrafeira da Praia da Rocha, em 2003, a 11 € cada uma. Ainda nos restam 2, para saborear os últimos prazeres.

Em conclusão, se esta casta é plantada em todo o mundo por alguma razão há-de ser. E para encontrar bons exemplares, mesmo portugueses, só há que procurá-los.

tuguinho e Kroniketas, enófilos esforçados e esclarecidos

Vinho: Cabernet Sauvignon (Esporão) 98 (T) (garrafa de ½ litro)
Região: Alentejo (Reguengos)
Produtor: Herdade do Esporão
Grau alcoólico: 13%
Preço: 11,37 €
Nota (0 a 10): 8

Vinho: Caves Velhas, Cabernet Sauvignon 2000 (T)
Região: Estremadura
Produtor: Caves Velhas
Grau alcoólico: 12,5%
Preço em feira de vinhos: 4,81 €
Nota (0 a 10): 7,5

Vinho: Fiúza, Cabernet Sauvignon 2004 (T)
Região: Ribatejo
Produtor: Fiúza & Bright
Grau alcoólico: 14,5%
Preço em feira de vinhos: 3,92 €
Nota (0 a 10): 7

Vinho: Quinta do Poço do Lobo, Cabernet Sauvignon 91 (T)
Região: Bairrada
Produtor: Caves São João
Grau alcoólico: 13%
Preço em feira de vinhos: 4,35 €
Nota (0 a 10): 6

quarta-feira, 16 de maio de 2007

Desafio Prova à Quinta - 6ª ronda


Cabernet Sauvignon portugueses

Propomos aos caros enófilos um novo desafio: tintos portugueses monocasta, feitos com Cabernet Sauvignon. Esta casta, como sabem, é provavelmente a casta tinta mais famosa a nível mundial, sendo usada, salvo melhor informação, em todo o mundo, tendo actualmente uma clara predominância nos países produtores do novo mundo.

Há meia-dúzia de anos foi usada em vinhos varietais em quase todas as regiões do sul do país, tendo depois passado a moda. Já aqui o disse, tenho uma paixão por esta casta e tenho obtido alguns momentos de grande prazer com estes vinhos. Por isso, vamos lá desencantar o que ainda houver por aí feito exclusivamente com Cabernet Sauvignon, e vamos ver como é que, depois do grande boom de há alguns anos, esta casta está a ser usada actualmente em extreme.

As vossas opiniões deverão ser colocadas neste post até ao dia 17 de Maio. Boas provas.

Kroniketas, enófilo esclarecido

PS: Continuem a deixar aqui as vossas provas. Amanhã colocaremos a nossa com alguns comentários e um apanhado das vossas opiniões. Entretanto vão pensando na próxima. Alguém se chegue à frente, por favor.

segunda-feira, 14 de maio de 2007

No meu copo 113 - Fiúza, Merlot 2000

Foi a primeira vez que apreciei este vinho extreme da casta Merlot da casa Fiúza. Portou-se bem apesar da idade, apresentando uma cor aberta e limpa e aroma moderado. Foi degustado com um prato leve, visto que a Merlot não é propriamente conhecida por fazer vinhos encorpados e que aguentem com pratos mais consistentes. É precisamente aí que penso que mora o calcanhar de Aquiles destes vinhos – têm pouco corpo! É óbvio que nem só de vinhos encorpados se faz o mundo dos vinhos, mas o corpo demasiado delgado deste Merlot fica-me sempre atravessado, como se lhe faltasse qualquer coisa, o golpe de asa para alcançar voos mais altos. E com o corpo delgado vem também um fim de boca demasiado breve...
Apesar destas considerações, não se pense que é um mau vinho. Aliás, já o referi no início, não se portou nada mal. Mas podia ser melhor.

tuguinho, enófilo esforçado

Vinho: Fiúza, Merlot 2000 (T)
Região: Ribatejo
Produtor: Fiúza & Bright
Grau alcoólico: 13º
Casta: Merlot

Preço em feira de vinhos: 7,95 €
Nota (0 a 10): 6,5

sexta-feira, 11 de maio de 2007

No meu copo, na minha mesa 112 - Dão Meia Encosta Garrafeira 73, Quinta de Cabriz Reserva 2003; Curral dos Caprinos



Este restaurante é um clássico. Um nome que é sempre de considerar para uma refeição bem preparada mesmo ao pé da serra de Sintra, a pedir um passeio após o repasto. Para além disso há uma enorme garrafeira onde se podem encontrar verdadeiras relíquias, com mais de 30 anos, em bom estado de conservação sem ser a preços obscenos. Rumando a Sintra, há que tomar a estrada em direcção a Colares e à Praia das Maçãs e pouco à frente sair no cruzamento em direcção a Cabriz e Várzea de Sintra.
Há dois pisos com salas, sendo o piso superior bem mais agradável que o térreo, pois é todo rodeado de janelas, ao contrário do outro que é completamente interior e mais acanhado em termos de espaço.
Uma das especialidades da casa é o cabrito no forno, que vem cortado em pequenos pedaços rodeados de batatinhas e regados com molho do assado. Não é o melhor cabrito que já comi mas cai bem. Existem, contudo, muitas outras opções em duas páginas repletas de especialidades e pratos do dia.
Antes de se escolher a refeição somos quase inundados por uma série de entradas quentes, como rissóis e croquetes, para além de outras frias como o queijo fresco e fatias de presunto. Difícil de resistir quando a fome aperta.
Nas sobremesas também há imensas escolhas, com a curiosidade de algumas terem nomes bem sugestivos como “pijama”, pijaminha” e “cuequinha”, que são pratos com misturas de doces, frutas e gelados, com variadas combinações. Pode-se sempre optar pelos mais tradicionais, como o pudim de gemas ou a mousse de chocolate.
Mas a grande atracção é a garrafeira. Para além de se poder pedir uma garrafa de bom vinho por 13 ou 14 euros, bem longe dos 30 ou 40 que se vêem por aí, ainda encontramos vinhos de Reserva e Garrafeira dos anos 70, 80 e 90 pelo mesmo preço. Não resisti à curiosidade de experimentar uma dessas relíquias e pedi um Dão Meia Encosta Garrafeira de 1973. Foi aberto com todos os cuidados (não sem que a rolha se partisse, mas sem cair na garrafa) e posteriormente decantado. Mostrou uma cor ainda a revelar saúde embora com o acastanhado típico de um vinho desta idade. Houve que deixá-lo respirar algum tempo para vê-lo evoluir, mas estava em plena forma, sem qualquer sinal de declínio nem de estar a ficar “passado”. Claro que um vinho destes não é apreciado por toda a gente, há que conhecer as suas características para poder usufruir de tão nobre envelhecimento. Já não vai melhorar, mas pareceu estar num patamar estável de conservação.
Para compensar a velhice deste Meia Encosta pediu-se um mais novo, um Quinta de Cabriz Reserva de 2003. Trinta anos mais novo e a mostrar bem essa juventude. Uma bela cor rubi ainda fechada, com um aroma pronunciado a frutos vermelhos e silvestres, a fazer lembrar amora e cereja, e uma grande frescura na boca, onde o frutado e a acidez se equilibram bem com um teor alcoólico elevado. O mais curioso é que estes vinhos custaram 14 e 13 €, respectivamente, o que deve ser caso único em Portugal.
À saída ainda houve a oportunidade de trazer a garrafa do Dão Meia Encosta e, no remate da conversa, adquiri outro Garrafeira de 1977 pelo preço módico de 10 euros! Disse-me o chefe que prefere vendê-las baratas, se os clientes as quiserem levar, do que tê-las guardadas a estragarem-se sem que ninguém lhes pegue. E acho que faz bem. Quando quiser outra, já sei onde ir buscá-la. Só espero que esta de 77 esteja com tão boa saúde como a de 73 que lá bebi.
Como nota menos positiva realce-se a demora do serviço, principalmente nos pratos pedidos. Parece que ao fim-de-semana dispensam parte do pessoal e ficam com 3 pessoas a atender uma sala para cerca de 130 clientes. Depois o serviço ressente-se...

Kroniketas, enófilo esclarecido

Restaurante: Curral dos Caprinos
Rua 28 de Setembro, 13
Cabriz - Várzea de Sintra
Telef: 21.923.31.13
Preço médio por refeição: 30 €
Nota (0 a 5): 4

Vinho: Dão Meia Encosta Garrafeira 73 (T)
Região: Dão
Produtor: Sociedade dos Vinhos Borges
Grau alcoólico: 12%
Preço no restaurante: 14 €
Nota (0 a 10): 9

Vinho: Quinta de Cabriz Reserva 2003 (T)
Região: Dão
Produtor: Dão Sul, Sociedade Vitivinícola - Quinta de Cabriz
Grau alcoólico: 13,5%
Castas: Alfrocheiro, Tinta Roriz, Touriga Nacional
Preço em feira de vinhos: 6,98 €
Nota (0 a 10): 7,5

terça-feira, 8 de maio de 2007

Na minha mesa 111 - Estrela do Mar (S. Pedro de Moel)


Um passeio pelo litoral levou-me uma dia até São Pedro de Moel, perto da Marinha Grande, e o guia de restaurantes da Visão levou-me ao restaurante Estrela do Mar, mesmo por cima da praia.
O espaço é amplo, com janelas viradas para o mar, e há um enorme mostruário de peixes à escolha. Na ementa a maior parte das opções giravam à volta disso. Como não sou grande apreciador de peixe grelhado, tentámos qualquer coisa um pouco mais elaborada e pedimos um arroz de marisco e uma açorda de marisco.
Uma desilusão. Nenhum estava nada de especial. Já comi dezenas de arrozes e de açordas de marisco melhores que aqueles. Parece que a grande especialidade serão os enormes peixes para grelhar, mas se é só isso é demasiado redutor para pratos de peixe. Esperava outro tipo de confecção muito mais cuidada, porque para grelhar peixe não é necessário fazer nada de especial.
Para acompanhar pediu-se um vinho verde, o Loureiro de Ponte de Lima, já referido na Prova à Quinta, e caiu muito bem como se esperava.

Kroniketas, enófilo esclarecido

Restaurante: Estrela do Mar
Avenida Marginal
2430-505 S. Pedro de Moel
Telef: 244.599.245
Preço médio por refeição: 20 a 25 €
Nota (0 a 5): 2,5

domingo, 6 de maio de 2007

Krónikas duma viagem a Paris - 2















No último dia em Paris tive oportunidade de deslocar-me a um supermercado para ver os preços dos vinhos. Curiosamente, era de um grupo que também está em Portugal, o Auchan, proprietário dos hipermercados Jumbo.
Se em Portugal a oferta de marcas e regiões já é por muitos considerada excessiva, ao pé do que se vê em França não é nada. As denominações de origem, que aqui são fáceis de identificar, em França têm uma panóplia de variações com as sub-regiões e os tipos de vinho que deixam qualquer um menos informado completamente à nora.
Em Bordéus, por exemplo, podem aparecer vinhos do Médoc ou de Saint-Emilion, duas das sub-regiões. Depois há as várias classificações (como os Premier Cru, Grand Cru, etc), que definem a categoria do vinho, provavelmente como cá os Reserva e os Garrafeira, e que variam conforme a região. Isto só olhando de relance, porque as variantes são imensas. No meio de tantas designações por vezes não é fácil perceber de que região se trata a não ser pela indicação “Appellation Contrôlée”, onde normalmente consta o nome da região a que a denominação de origem se refere.
O mais notável nas centenas de vinhos presentes nas prateleiras foi o nível de preços praticados. Em todas as regiões, com excepção de Champagne, existem vinhos a 2, 3, 4, 6 euros. Brancos, tintos e rose. São poucos os que ultrapassam os 10 euros e ainda menos os que ficam acima dos 20 euros.
Não sei se a imensa galeria de vinhos que encontrei é representativa dos vinhos franceses, pois certamente, lá como cá, haverá garrafeiras especializadas onde se encontram as raridades a preços mais caros. Mas o que mais me surpreendeu foi ver que a percentagem de vinhos acima dos 5 euros é muitíssimo inferior ao que vemos por cá. Ora sabendo-se que se trata do país vinícola mais famoso do mundo, não deixa de espantar que essa fama não seja usada para inflacionar os preços. Pelo menos é a isso que estamos habituados por cá, onde basta um vinho ganhar fama para duplicar o preço, e às vezes já é caro antes de ter fama.
Deste modo, parece-me que não será apenas pelos maiores volumes de produção que os preços são mais baixos, mas antes pela política de preços praticada quer pelos produtores quer pelos revendedores. Sempre me pareceu que em Portugal se exagera nos preços de modo injustificado e não deixa de ser um pouco amargo verificar que para lá dos Pirinéus se pode comprar vinho mais facilmente a preços acessíveis. Talvez os nossos produtores devessem ir lá aprender alguma coisa.
Dadas as limitações agora existentes para o transporte de líquidos nos aviões, e com muita pena minha, não podendo trazer vinho como bagagem de mão limitei-me a comprar duas garrafas de vinho branco da Alsácia, um da casta Riesling e outro da casta Gewurztraminer, a preços entre os 4 e os 6 euros. E vieram bem embrulhadas dentro da mala de roupa, felizmente chegando cá inteiras...
Quero ainda destacar aquilo que vi numa montra, algures por Montparnasse: uma caixa de vinhos com um champanhe Brut Premier e um vinho do Porto 10 anos da Ramos Pinto, por 60 euros. Noutra caixa estão várias bebidas entre as quais um Porto Dow’s 10 anos. É verdade, estão ali as fotos a confirmá-lo. Os franceses consideram o vinho do Porto ao mesmo nível do seu próprio champanhe. É notável.

Kroniketas, enófilo viajante

quinta-feira, 3 de maio de 2007

Prova à Quinta - O quinto


Encostas de Paderne, Alvarinho 2004; Loureiro Ponte de Lima 2005

Para este desafio, há alguns meses esquecido, lançado pelo Pingas no Copo, pedia-nos o Pingus Vinicus para avaliarmos um vinho branco monocasta. Depois de equacionar várias hipóteses, resolvi apresentar uma prova não de um, mas de dois vinhos brancos, neste caso dois verdes, um Alvarinho e um Loureiro, para percebermos que nem sempre os nomes, só por si, valem o que está dentro da garrafa.
Comecemos pelo Alvarinho, um Encostas de Paderne. Tratando-se de um Alvarinho, esperava-se muito melhor. Dum Alvarinho espera-se sempre. Mas a verdade é que este desiludiu. Falta-lhe a elegância e a frescura tão típicas da casta. Pareceu algo rústico, muito longe da generalidade dos Alvarinhos que há por aí. Se tivesse outro rótulo qualquer pensar-se-ia que se tratava de um qualquer verde vulgar.
Terá sido azar com a garrafa? Ficamos sem saber a resposta, mas esta prova não convenceu.
Por sua vez, o Loureiro é um Ponte de Lima. É um dos verdes que conheço há mais tempo e sempre me agradou. Aliás, a casta Loureiro é uma das mais conceituadas da região dos Vinhos Verdes, produzindo vinhos de grande frescura, com um bom equilíbrio entre o álcool e a acidez, predominantemente secos e muito agradáveis. Este mostrou uma bela cor citrina brilhante e um aroma entre o frutado e o floral, um ligeiro gaseificado com bolha muito fina e uma grande leveza na prova que o torna um excelente acompanhante para pratos de marisco. E como é barato, é sempre uma excelente aposta para uma compra rápida sem grande risco.
Esta dupla prova demonstra que há mais vida na região dos Vinhos Verdes para além do Alvarinho. Muitas vezes as outras castas são subalternizadas em favor do Alvarinho, mas é sempre preciso conhecer o produto final e, no caso de castas como a Loureiro e a Trajadura, também se obtêm excelentes vinhos, mais leves e menos alcoólicos mas caracterizados por uma grande frescura, pelo que podem constituir excelentes apostas. No caso vertente, dou preferência a este Loureiro que a este Alvarinho.

Kroniketas, enófilo esclarecido

Vinho: Encostas de Paderne, Alvarinho 2004 (B)
Região: Vinhos Verdes (Monção)
Produtor: Manuel da Rosa
Grau alcoólico: 12,5%
Casta: Alvarinho
Preço em feira de vinhos: 3,79 €
Nota (0 a 10): 5

Vinho: Loureiro Ponte de Lima 2005 (B)
Região: Vinhos Verdes (Ponte de Lima)
Produtor: Adega Cooperativa de Ponte de Lima
Grau alcoólico: 11,5%
Casta: Loureiro
Preço em feira de vinhos: 2,78 €
Nota (0 a 10): 7